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  • 'Tenho medo do meu vizinho': crimes de ódio em alta nos EUA de Trump têm minorias como alvo

Um estudo do Centro para Estudo de Ódio e Extremismo, da California State University, aponta um aumento de dois dígitos no número de casos em muitas regiões metropolitanas no ano passado - uma tendência que parece continuar em 2017. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :11/11/2017
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Valeria Perasso

Repórter especial do Serviço Mundial da BBC

“Ei, idiota… a eleição acabou… você perdeu de todos os lados”, dizia a carta que chegou à caixa de correio de John Gascot. Também acusava ele e seu marido de viverem em uma “casa gay”, decorada com uma bandeira de arco-íris para “provocar estranhos”. A correspondência era anônima.

“Eu estava com raiva (do resultado da votação). Minha primeira reação foi pintar a minha casa com as cores do arco-íris. Foi um ato de covardia”, diz Gascot, que é artista e membro ativo da comunidade LGBT no Estado americano da Flórida.

Três anos atrás, ele se mudou com seu companheiro de 20 anos para o bairro onde vivem em São Petersburgo, na Flórida, e sempre sentiu que “as pessoas eram muito acolhedoras com os vizinhos”. Apesar disso, a “carta de ódio” anônima recebida em dezembro, poucas semanas após a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, os deixou em alerta.

“(A carta) era de um vizinho, alguém que nos vê diariamente, porque detalhava a que horas nosss luzes se acendiam e se apagavam, quando nós levávamos nosso lixo para fora, quando colocávamos a decoração de Natal”, diz Gascot. Na época, o casal ainda tinha um poster “Vote em Hillary Clinton” no jardim.

“Nós queremos viver com medo dos nossos vizinhos? Há definitivamente um elemento de medo. Nós consideramos nos armar para nos proteger.”

A história do casal é apenas uma de muitas. São Petersburgo é lar de uma comunidadde LGBT vibrante, e estão se multiplicando ameaças relacionadas à discriminação. Na verdade, atitudes desse tipo estão se tornando mais frequentes em todo o país, somando 11% de todos os “crimes de ódio”.

Muitos - tanto observadores como vítimas - culpam o clima político atual nos Estados Unidos por essa escalada do ódio. “Desde as eleições, as pessoas sentem-se encorajadas a manifestar seu ódio ou desagrado”, diz Gascot. “(Os republicanos) fizeram uma campanha baseada no medo. Então, como algo assim não iria ocorrer?”

Dois dígitos

No fim de semana passado, confrontos em uma manifestação de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, chocaram os Estados Unidos - e o mundo - em um dos episódios recentes mais violentos no país. Uma mulher foi morta quando um carro avançou sobre pessoas que participavam de um protesto antirracista.

Crimes de motivação ideológica estão em destaque nos Estados Unidos desde a vitória de Trump, em novembro de 2016. Um estudo do Centro para Estudo de Ódio e Extremismo, da California State University, aponta um aumento de dois dígitos no número de casos em muitas regiões metropolitanas no ano passado - uma tendência que parece continuar em 2017.

Na cidade de Nova York, esse aumento foi de 24%, o maior em mais de uma década. Em Chicago, de 20%. Na Filadélfia, de 50%. Em Washington, de 62% - o mais acentuado entre as 25 maiores cidades pesquisadas.

A lista de ocorrências vai de ataques físicos a grafites racistas, depredação de sinagogas e cemitérios judeus, insultos contra imigrantes e afro-americanos. Abusos contra muçulmanos, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros contribuem muito para esse crescimento.

Apesar das conclusões do estudo serem preliminares e parciais - alguns Estados não forneceram dados -, elas permitem vislumbrar uma tendência que também foi observada por outras pesquisas.

A Liga Anti-Difamação relata, por exemplo, que o número de incidentes antissemitas quase dobraram no primeiro trimestre de 2017. Outros especialistas falam em um aumento de 106% nos episódios de ódio nas escolas.

‘Ódios Unidos da América’

Ânimos inflamados durante a campanha presidencial, que foi marcada por temas raciais, bem como uma disposição das vítimas de não recuarem podem estar por trás do aumento, segundo pesquisadores.

Ao destacar temas como raça, religião e nacionalidade, o tom da última campanha presidencial americana pode ter influenciado os crimes de ódio, levando à ação “indivíduos de motivações diversas, desde fanátivos *hardcore * até aqueles que apenas buscam uma emoção”, opina o diretor do Centro de Estudo do Ódio e Extremismo, Brian Levin.

O pesquisador não está sozinho ao apontar uma relação entre as explosões de violência e a retórica polarizada de Trump - apesar de não haver prova estatística de uma correlação entre os dois fatores.

“Ódio e extremismo ganharam muita atenção”, escreve Benjamim Henning, professor de Geografia da Universidade da Islândia e pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “A eleição de Trump também se deve a sua retórica, que aproximou extremistas de direita dos Estados Unidos.”

Um estudo realizado três meses após o dia da eleição americana oferece mais evidências de uma espécie de “efeito Trump”. O Southern Poverty Law Center (SPLC), organização que monitora extremistas nos Estados Unidos, contabilizou 1.094 incidentes de ódio entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017, como parte do projeto #ReportHate (denuncie o ódio, em inglês).

Destes, 37% se referiram abertamente a Trump, seus slogans de campanha ou políticas. Outro esforço de rastreamento do site de notícias *ThinkProgress * aponta que esse número seria de 42%. O fato de que diferentes organizações americanas sentem que há uma necessidade de uma base de dados de crimes de ódio é um sinal dos tempos.

O SPLC foi fundado por advogados de direitos humanos para monitorar grupos supremacistas brancos como a Ku Klux Klan, mas depois ampliou seu alcance. Agora, mapeou todos os grupos de ódio nos Estados Unidos: eram 917 em atuação no país em 2016. Dois anos antes, eram 784. O Estado da Califórnia (79) tem o maior número, seguido pela Flórida (63).

O SPLC também está construindo um mapa de crimes de ódio, no qual Califórnia, Nova York e Texas concentram o maior número de incidentes.

Os crimes de ódio são difíceis de rastrear. O FBI, que deveria acompanhar essas ocorrências, computa certa de 6 mil casos anualmente. Mas um relatório do Escritório de Estatísticas de Justiça, de junho, estima 250 mil. Por que essa diferença?

Uma das razões, dizem os especialistas, é que as agências legais não têm de se reportar ao FBI. Então, os números do FBI podem estar desatualizados. Além disso, 46% das vítimas não procuram a polícia.

“Incidentes de ódio não parecem seguir um padrão único, todas as minorias são afetadas”, afirma Heidi Beirich, diretor do Projeto Inteligência do SPLC. Alguns tipos de crimes, Beirich afirma, são mais subestimados que outros.

Números contestados

Em um ambiente polarizado, não chega a ser uma surpresa que alguns desses números sejam contestados e que algumas vozes críticas rejeitem a ideia de que exista um pico de crimes de ódio nos Estados Unidos de Trump.

Eles argumentam que a proliferação de grupos de ódio é um fenômeno que começou antes da candidatura do atual presidente - na virada do século, motivada em parte pela rejeição da imigração latina e por projeções demográficas que mostravam que os brancos deixarão de ser maioria nos Estados Unidos a partir de 2040.

Consequentemente, afirmam, não se pode afirmar que um aumento nas taxas de crimes de ódio resultem do discurso inflamado da campanha de Trump.

Na verdade, os números atuais de grupos de ódio em atuação, medidos pelo SPLC, estariam abaixo do recorde registrado em 2011.

Além disso, o SPLC tem sido criticado por ter ido longe demais na classificação de grupos e indivíduos como extremistas. E também por não ter dados históricos suficientes que mostrem se a tendência de crescimento apresentada é de fato sólida.

Outros dizem que os ataques contra minorias têm ocorrido em grandes números há muito tempo - sem que ninguém estivesse observando ou contando. O movimento ativista “Black Lives Matter” (vidas negras importam), por exemplo, afirma que os negros são vítimas “regularmente, diariamente”.

“Enquanto o presidente (Trump) e seus conselheiros contribuem significativamente para a falta de segurança que os negros vivenciam e são responsáveis por incríveis danos infligidos em comunidades negras, há sintomas de que a supremacia branca e a xenofobia são inimigos muito maiores do que um governo”, escreveu o movimento em um post no Facebook, depois dos confrontos violentos em Charlottesville, sábado passado.

Então, se trataria apenas de uma maior cobertura da mídia sobre os crimes de ódio? Alguns acreditam que sim: vozes conservadoras acusam a mídia tradicional, bem como organizações à esquerda, de estarem “exagerando”.

“Os chamados crimes de ódio são, em muitos casos, exagerados e até mesmo falsificados por indivíduos e uma mídia cúmplice”, escreveu o controverso jornal American Free Press , que já foi criticado por ter conteúdo racista e ultranacionalista.

O pesquisador Brian Levin não concorda. “Eu não acho que a gente possa explicar o aumento (no número de crimes de ódio) pelo aumento da cobertura da mídia”, afirma.

Mais numerosos e mais visíveis, os crimes de ódio também têm inspirado uma contrarreação na sociedade. Redes de apoio cresceram em alguns bairros de minorias. O SPLC publicou um “guia de resposta da comunidade”, com alguns conselhos práticos: pegue o telefone, assine uma petição, pesquise sobre seus direitos…

O artista John Gascot sentiu a necessidade de “transformar algo feio em algo legal”, depois de receber a carta de ódio anônima. Decidiu realizar um workshop gratuito para jovens LGBT, para oferecer um espaço seguro para estudantes que geralmente são marginalizados e têm medo de se expressar.

“A arte ajuda, mas não se trata apenas de arte. Se trata de ajudá-los a se sentirem confortáveis a serem quem são, oferecendo às gerações futuras aquilo que nós não tivemos”, comenta Gascot.

“Essa eleição tirou muita gente da complacência. E isso é positivo, apesar de tudo.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 20 de agosto de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Levando em consideração essa matéria, nos deixa bem claro o potencial do preconceito.

O preconceito é um habito extremamente primitivo que demonstra ainda o atraso da nossa sociedade.

Temos hoje preconceitos de diversos tipos, como: cor de pele, intolerância religiosa, nível cultural, forma física, entre outros.

A Doutrina Espírita é uma religião científico-filosófica que nos elucida, nos conscientiza que somos responsáveis pelos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes. É de nossa inteira responsabilidade efetuar os esforços necessários, através da vontade firme, do exercício do pensamento positivo, construir um “eu” melhor, e, para isso, reencarnamos quantas vezes forem necessárias para alcançarmos a nossa meta que é a perfeição relativa.

Não temos ainda a capacidade de compreender a natureza humana. Em vista disso, temos duas situações a considerar. A primeira é que cada pessoa reage de um jeito particular às ações de outrem segundo aquilo que aprendeu na vida atual, e além dela; cada indivíduo é um universo muito particular, com sua própria história, com suas pendências, limitações, necessidades e capacidades. Assim, o amor, o ódio, o carinho, a agressividade, cada sentimento que trazemos em nós depende do que fomos capazes de colher durante nossa trajetória.

Todos nós somos filhos de Deus, com iguais possibilidades de crescimento e donos do nosso destino, pois o Pai quando nos criou nos deu o livre-arbítrio para que as escolhas do caminho fossem nossas; não nos criou para sofrer, mas nossas escolhas fazem-nos encontrar pedras e espinhos em nossa estrada, provocando sofrimentos e angústias dolorosas. A responsabilidade da colheita é nossa, pois só colhemos o que plantamos. No entanto, se Deus nos possibilitou a consciência da responsabilidade, também mostrou a solução para os equívocos praticados por nós.

Vejamos com atenção, este Espírito Joanna de Ângelis, que nos confirma no Livro “O Despertar do Espírito”, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco:

“O crescimento interior é, definitivamente, a grande meta a que devem aspirar todos os seres humanos. As heranças negativas que o agrilhoam aos transtornos psicológicos e sentimentos perturbadores fazem parte do seu processo evolutivo, mas não devem permanecer enquanto se realiza, lutando pela conquista de mais elevados propósitos de emancipação emocional e espiritual.”

A vida é luta e ela nos levará ao encontro de nós mesmos.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo , cap. IX, item 9, um Espírito Protetor, falando sobre a cólera, tece as seguintes considerações:

“O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? - Entregais-vos à cólera.

Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.

Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade.

Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, devera contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!

Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se pela dominar. O espírita, ao demais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. - Um Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)”

Todos os espíritos sentem ou sentiram amor, raiva, ódio, alegria, inveja, medo, paixão, ciúme, entre outros, porque todos eles fazem parte da natureza humana. À medida que o espírito progride, vai se desligando da matéria e estes sentimentos materiais não o influenciam mais.

A vida é intenso processo de desenvolvimento intelectual e moral, de construção e fortalecimento do amor e da caridade em nossos corações. Portanto, não vacilemos na certeza de que Deus conhece as nossas necessidades e as provê, conforme for necessário. Ele disponibiliza a cada um de nós e que são necessários para que se consiga superar os problemas. Estes recursos são: o amor, a boa vontade, a fé, o trabalho, a organização, enfim, tudo de que o Espírito precisa para se realizar e encontrar a paz.

  • Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.