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  • O limpador de janelas que caiu 47 andares e sobreviveu para contar a história

Só metade das pessoas que caem de uma altura de três andares sobrevivem. Se forem dez andares, quase ninguém resiste. Mas, incrivelmente, um limpador de janelas de Nova York sobreviveu a uma queda de 47 andares. Jorge Hessen comenta.

  • Data :19/04/2017
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Harry Low

Da BBC News

Só metade das pessoas que caem de uma altura de três andares sobrevivem. Se forem dez andares, quase ninguém resiste. Mas, incrivelmente, um limpador de janelas de Nova York sobreviveu a uma queda de 47 andares.

“Amo ver as janelas bem limpas. Adorava fazer isso”, diz o equatoriano Alcides Moreno, que, junto com seu irmão, Edgar, lavaria a fachada do edifício Solow Tower, em Manhattan, na manhã de 7 de dezembro de 2007.

Momentos após eles chegarem ao terraço do arranha-céu, algo saiu errado. Após subirem na plataforma suspensa usada na limpeza, os cabos “saíram do eixo de sustentação”, segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos.

O primeiro lado a se desprender foi o esquerdo, onde estava Edgar. Ele caiu 144 metros, a uma velocidade de quase 200 km/h. O lado onde estava Alcides se soltou pouco depois, e ele também despencou indo parar no beco, 47 andares abaixo.

Ao chegarem, bombeiros e paramédicos encontraram uma cena terrível. Edgar havia caído sobre uma cerca de madeira, que cortou seu corpo ao meio. Não havia mais o que fazer por ele.

Mas viram Alcides caído em meio a uma pilha de metais retorcidos, ainda agarrado aos controles da plataforma e respirando. Ele ainda tentou se levantar, sem sucesso.

Os bombeiros o moveram com cuidado, como “se fosse um ovo frágil”, pois qualquer passo em falso poderia matá-lo, e o levaram ao hospital, onde ele foi colocado em coma.

Alcides tinha lesões no cérebro, coluna, tórax e abdômen. Suas costelas, braço direito e ambas as pernas estavam quebrados. Ele passou por várias cirurgias, teve um catéter inserido na cabeça para reduzir o inchaço cerebral e recebeu mais de 13 litros de sangue em transfusões.

“É um milagre”, disse então Herbert Pardes, então presidente do Hospital Presbiteriano de Nova York, onde Alcides foi atendido.

‘Intervenção divina’

Glenn Asaeda, do Departamento de Bombeiros da cidade, disse acreditar ter havido uma “intervenção divina”. Alcides acordou três semanas depois, no dia de Natal, sem lembrar-se do que havia ocorrido. “Estava tudo embaralhado na cabeça”, conta ele.

Alcides não sabia o que tinha acontecido com seu irmão. “Cheguei à conclusão que Edgar tinha morrido, porque olhei em volta e só vi minha mulher.”

Os dois haviam se mudado para os Estados Unidos nos anos 1990 em busca de trabalho. “Perdê-lo foi horrível. Morávamos em Nova Jersey e estávamos sempre juntos. Ele trabalhava comigo e morreu trabalhando comigo.”

Alcides diz ficado muito triste por cerca de três anos. “Foi o tempo que levei para me recuperar e aceitar sua morte. Foi como perder um filho, porque ele era mais novo do que eu.”

Até hoje se especula como Alcides não morreu. Teria a plataforma absorvido a maior parte do impacto? Ou batido na fachada do edifício, o que teria desacelerado a queda?

Uma investigação identificou que a plataforma não havia recebido a manutenção adequada e que os cabos motorizados não estavam presos corretamente ao topo do prédio.

Depois da queda, foram encontrados no terraço um balde com água quente e sabão além de coletes e cabos de segurança, que deveriam estar sendo usados pelos irmãos. Mesmo que tenham subido na plataforma sem isso, não foi provado que haviam se recusado a usá-los.

Como o material de limpeza também não tinha sido levado a bordo, concluiu-se que poderiam ter a intenção de voltar para pegar isso e colocar os equipamentos de segurança antes de começar a trabalhar.

Vida nova

Alcides foi indenizado e mudou-se com sua família para Phoenix, no Estado do Arizona, onde o clima quente faz bem a sua saúde. Hoje, aos 46 anos, diz que limparia janelas de novo se pudesse, mas não trabalha por razões médicas.

“Tenho cicatrizes pelo corpo e, por causa da coluna não posso correr, só caminhar. Quando pergunto alguma coisa, não termino a frase. Há outras coisas que não faço bem. Deve ser consequência do acidente”, afirma.

“Não sou como antes, mas agradeço a Deus por ainda andar. Isso é incrível.”

Sua vida mudou de outras formas. “Costumava pensar só em mim. Sustentava minha família e achava que era suficiente. Então, percebi o quão importante minha mulher e meus filhos eram para mim.”

No ano passado, ele tornou-se pai pela quarta vez. E fica radiante ao falar de seu filho de oito meses de idade. “Fico me perguntando por que sobrevivi. Tenho um novo bebê - deve ser a razão: criar essa criança e contar a ele minha história.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 9 de março de 2017.

Jorge Hessen* comenta

Conforme reportagem, só metade das pessoas que caem de uma altura de três andares sobrevivem. Se forem dez andares, quase ninguém resiste. Mas, incrivelmente, o equatoriano Alcides Moreno, um limpador de janelas de Nova York, sobreviveu a uma queda de 47 andares do edifício Solow Tower, em Manhattan, na manhã de 7 de dezembro de 2007. “É um milagre”, disse Herbert Pardes, então presidente do Hospital Presbiteriano de Nova York, onde Alcides foi atendido. Os espíritas não acreditamos em “milagres”.(1)

Consideremos outros fatos mais assombrosos. James Boole, Nicholas Alkemade, Vesna Vulóvic e Alan Magee também desafiaram as leis naturais conhecidas pela ciência ao escaparem da “morte” física a quedas de alturas elevadíssimas.

James Boole saltou na Rússia do avião, seu paraquedas não funcionou e caiu sobre pedras cobertas de neve, a uma velocidade de 160 km/h – mesmo assim Boole não desencarnou, e apenas fraturou uma costela.

Nicholas Alkemade, sargento e membro da RAF, estava voando pela Alemanha quando seu avião foi atacado. A aeronave logo virou uma bola de fogo em queda livre. Como seu paraquedas foi destruído pelo fogo, Alkemade resolveu ter uma “morte” rápida saltando do avião para não sofrer sendo queimado lentamente. Ele caiu 5500 metros, mas o impacto foi absorvido por árvores e pela neve que cobria o chão. Nicholas sofreu apenas uma torção na perna.

Vesna Vulóvic, uma aeromoça que sobreviveu uma queda de dez mil metros. Com 22 anos, Vesna era comissária de bordo da Yugoslav Airlines. Mas no seu voo havia uma bomba instalada por terroristas croatas. Como a parte em que estava do avião caiu em uma encosta coberta de neve, Vesna foi a única sobrevivente do acidente. 28 pessoas, incluindo pilotos, comissários e passageiros, desencarnaram.

Alan Magee – 6,5 km, um piloto americano que sobreviveu a uma queda de mais de 6500 metros enquanto estava sob ataque, na Segunda Guerra Mundial. Ele caiu sobre o vidro da Estação de Trem St. Nazaire, em uma missão na França. De alguma forma, o vidro amorteceu sua queda. Ele foi capturado por tropas alemãs, posteriormente, que ficaram impressionadas com o feito.

Como notamos supra, os personagens são pontos fora da curva - ou seja, não desencarnaram. Será que há alguma explicação espírita para os fatos? Das leis naturais ignoramos seus meandros, sobretudo considerando a gravitação. Recordemos que na época das “mesas girantes” os espíritos conseguiam promover a levitação de objetos pesados, desafiando, pois, as leis da física conhecida (gravidade).

Há pessoas que sobrevivem a um perigo mortal, mas em seguida “morrem” noutro. “Parece que não podiam escapar da “morte”. Não há nisso fatalidade?, perguntou Allan Kardec aos Espíritos. Estes foram categóricos: “Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele não podeis furtar-vos.”(2) O Codificador insistiu: “Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da “morte” ainda não chegou, não morreremos? Os Benfeitores pacificaram: “Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas.”(3)

Reflitamos o seguinte: Por não ter chegado a hora da “morte” de Moreno, Boole, Alkemade, Vulóvic e Magee, considerando as situações extremas vividas, seria admissível que eles fossem resguardados por intervenções do além, numa espécie de “anulação” da lei da gravidade conhecida? Não é simples responder tais questões. O senso comum diz que ninguém “morre” de véspera. Ora, se só “morremos” quando é chegada a hora, então uma pessoa assassinada “morre” na hora certa? Como fica o livre-arbítrio do assassino nesse caso?

Importa acender a luz para uma boa discussão aqui. Por diversas razões, e é natural que alguém possa ter a vida interrompida antes do tempo tanto quanto possa ter a vida delongada durante o transcurso de uma existência.

Será que o Espírito que comete um assassinato sabia que reencarnou para matar? “Não! Responderam os Benfeitores. Escolhendo uma vida de lutas, sabe que terá ensejo de matar, mas não sabe se matará, visto que ao crime precederá quase sempre, de sua parte, a deliberação de praticá-lo. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de fazê-la, ou não. Se soubesse previamente que teria que cometer um crime, o Espírito estaria a isso predestinado. Ora, ninguém há predestinado ao crime e todo crime, como qualquer outro ato, resulta sempre da vontade e do livre-arbítrio.”(4)

O tema parece simples, porém apresenta as suas complexidades. E para complicar um pouquinho, os Espíritos reenfatizam - “venha por um flagelo a “morte”, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de “morrer”, desde que haja soado a hora da partida.”(5) Será que tudo que se relacione à “morte” esteja “escrito” (assassinato, por exemplo)? Onde encaixar o livre-arbítrio aqui?

Reconheço, com muita humildade, que há “mistérios” inexplicáveis muito além da minha nanica razão. E mais, “do fato de ser infalível a hora da “morte” poder-se-á deduzir que sejam inúteis as precauções que tomemos para evitá-la?” Os Espíritos dizem que “não!, visto que as precauções que tomamos são sugeridas com o fito de evitarmos a morte que nos ameaça. São um dos meios empregados para que ela não se dê”.(6)

No caso dos personagens que protagonizam este artigo, considerando as condições extremas, diria quase que surreais que sucederam, como sobreviveram? Foi porque não “soou a hora da partida” deles? Hum!?…

Quanto ao “milagre” citado por Herbert Pardes, presidente do Hospital Presbiteriano de Nova York, esclarecemos que o Espiritismo considera de um ponto mais elevado a religião cristã; dá-lhe base mais sólida do que a dos “milagres”: as imutáveis leis de Deus, a que obedecem assim o princípio espiritual, como o princípio material. Essa base desafia o tempo e a Ciência, pois que o tempo e a Ciência virão sancioná-la.(7)

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em <http://www.bbc.com/portuguese/geral-39216175 >, acessado em 10/04/2017;

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 53, RJ: Ed. FEB, 2000;

(3) Idem, perg. 53-a;

(4) Idem, perg. 861;

(5) Idem, perg. 738;

(6) Idem, perg. 854;

(7) Kardec, Allan. A Gênese, “Os milagres segundo o Espiritismo”, Capítulo XIII, RJ: Ed. FEB, 2000.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.