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A cada minuto, cerca de 108 pessoas morrem em nosso planeta - mas o que estas pessoas sentem no momento da morte? Alguns afirmaram que estavam cientes de eventos reais ocorrendo ao seu redor - mesmo quando seus corações haviam parado de bater. Jorge Hessen comenta.

  • Data :05/06/2016
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5 de junho de 2016

Estudos científicos explicam como é a sensação de morrer

Yahoo Noticias International A cada minuto, cerca de 108 pessoas morrem em nosso planeta - mas o que estas pessoas sentem no momento da morte? Cientistas e pessoas que estiveram muito perto da morte dizem que a presença de um “túnel longo e escuro” ou de experiências religiosas é apenas uma parte do processo. Alguns afirmaram que estavam cientes de eventos reais ocorrendo ao seu redor - mesmo quando seus corações haviam parado de bater. Outros falam de encontros com amigos e pessoas amadas, como se o corpo estivesse nos preparando psicologicamente para a morte.

O que as pessoas que “morreram” dizem? Muitas pessoas que passaram por paradas cardíacas compartilharam suas experiências online - com uma discussão popular sobre o assunto no site de perguntas e respostas Quora. O aspecto que une muitas das experiências - tanto de pessoas religiosas quanto não religiosas - é uma sensação de calma. Barbara escreveu: “Embora eu pudesse ouvir perfeitamente - o som do monitor quando meu coração parou, o início do procedimento de reanimação, todos falando ao mesmo tempo - eu não tinha nenhuma outra sensação.” “Enquanto eu afundava na inconsciência, eu me sentia muito calma, relaxada, sem a necessidade de respirar, sem motivo para me alarmar, sem sentir nenhuma dor, totalmente em paz. Tudo ficou escuro nos cantos do meu campo de visão, até que havia apenas escuridão.” Terrance escreveu: “Eu tive uma experiência. Não havia uma luz clara. Jesus não apareceu. É apenas uma aceitação da realidade, um fim definitivo, como terminar um livro. Eu senti a vida escapando, fui ficando muito cansado, e só conseguia pensar nas coisas que não tinha conquistado.” Aaron escreveu: “Há muitos anos eu tive uma parada cardíaca no pronto-socorro. Meus sentidos me deixaram, um por um. A primeira coisa que desapareceu foi o tato, seguido pela audição. A última foi a visão, deixando-me com um campo completamente branco, e pensamentos que pareciam estar cada vez mais longe uns dos outros.

Experiências “pré-morte” Muitas pessoas chegando ao fim de suas vidas têm alucinações ou visões envolvendo amigos ou parentes mortos. Pesquisadores da Canisius College, em Nova Iorque, entrevistaram 66 pacientes terminais em um hospício. Eles escreveram: “Conforme os participantes se aproximavam da morte, sonhos/visões reconfortantes de pessoas falecidas se tornavam mais comuns. “O impacto das experiências pré-morte em indivíduos perto de morrer e em seus familiares pode ser profundamente significativo… “Estas visões podem ocorrer meses, semanas, dias ou horas antes da morte, e tipicamente diminuem o medo de morrer, fazendo com que a transição entre a vida e a morte seja mais fácil para aqueles que estão passando por ela.”

O que realmente acontece no cérebro no momento da morte? A atividade cerebral costuma aumentar repentinamente quando um corpo morre - levando a um estado de hiperatividade neural. Alguns pesquisadores acreditam que esta é a razão por trás das experiências de quase-morte. A American Chemical Society diz: “Nos primeiros segundos, a última porção de oxigênio presente no corpo se esgota, e a atividade cerebral aumenta.” “Estudos recentes mostraram que neste momento o cérebro pode entrar em um estado de hiperatividade perceptual neural.”

Você vê um “túnel longo e escuro?” Ver um túnel longo e escuro com uma luz vindo na sua direção enquanto você morre é bem raro, de acordo com um estudo realizado com mais de mil pessoas que passaram por paradas cardíacas. Cerca de 50% dos pacientes se lembraram de algo ocorrido durante o período de parada cardíaca, mas muitas destas experiências são assustadoras, ou envolveram lembranças de eventos reais (de um período em que pensava-se que a pessoa estava morta). Apenas 9% dos entrevistados tiveram algum tipo de “experiência de quase-morte”, e somente 2% tiveram experiências visuais “fora do corpo”. Pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, estudaram 2.060 pacientes que enfrentaram paradas cardíacas e voltaram à vida. Eles concluíram que as pessoas ainda conseguem ver e ouvir - mesmo quando estão “mortas”. Vários pacientes se lembraram de eventos reais da sala de operação após terem “morrido”, de acordo com os cientistas da universidade. O Dr. Sam Parnia disse que em um caso os pesquisadores foram capazes de confirmar que um paciente havia se lembrado de eventos que realmente ocorreram após seu coração parar de bater. O Dr. Parnia disse: “Isso é muito importante, já que temos acreditado que experiências relacionadas à morte são alucinações ou ilusões, ocorrendo antes do coração parar ou após o mesmo voltar a bater, mas não uma experiência que corresponde a eventos ‘reais’ durante o período em que o coração não apresenta batimentos.” Notícia publicada no Yahoo! Notícias , em 23 de maio de 2016.

Jorge Hessen* comenta Em 1998, durante uma regata, Lars Grael, iatista brasileiro, detentor de 2 medalhas olímpicas, teve 2 paradas cardíacas após sua perna direita ter sido decepada por uma lancha que o atropelou quando velejava em Vitória. Ao ser amputada a sua perna e perder muito sangue, Grael teve paradas cardíacas e conheceu uma experiência de quase-morte. Nas palavras do próprio Lars, “foi uma experiência muito difícil de descrever”. O médico José Carlos Ramos de Oliveira, outro sobrevivente de parada cardíaca, endossa a sensação de Lars: “só quem passou por isso sabe o que é uma “experiência de quase morte”. Outro caso foi a de Maria Aparecida Cavalcanti, radialista e professora universitária em São Paulo, que afirma ter passado por 3 “experiências de quase-morte”. O relato abaixo se refere à segunda dessas experiências, ocorrida depois de um desastre automobilístico em Santa Catarina, em 1994. “No momento do acidente, eu me senti tragada por um ‘túnel de vento’. Fiquei flutuando no asfalto e vendo o carro capotar num barranco. Outro carro parou e 3 homens saíram dele. Um deles desceu o morro e disse: ‘Tem uma mulher morta ali’. Era eu. Não tive nenhum choque ao ver o corpo – apenas lamentei, em pensamento, o que tinha sofrido. Fora do corpo, conseguia enxergar em todas as direções ao mesmo tempo. Então eu avistei 2 pessoas flutuando acima do morro. Uma delas era uma mulher morena. A outra, a silhueta de um homem alto, me pareceu conhecida – apesar de ser transparente. A moça esticou o braço direito e disse, sem mexer a boca: ‘tenha calma; isso está na sua programação’. Essa frase funcionou para mim como uma senha. Era como se eu resgatasse toda a minha memória. Deslizei em direção à dupla, mas lembrei que meu único filho de 12 anos estava sozinho num chalé sem vizinhos e sem telefone. Alguém precisava resgatá-lo. Nesse mesmo instante, fui tragada de novo pelo túnel e voltei ao corpo. Daí senti uma dor horrível. Foi o único jeito de avisar a família sobre o acidente e resgatar meu filho."(1) O Dr. Raymond Moody popularizou o termo “experiência de quase-morte” em seu livro “Vida após a vida”, escrito em 1975. Posteriormente, em 1982, o pesquisador George Gallup Jr. e William Proctor publicaram a “Aventuras na imortalidade”, um livro que aborda a “experiência de quase-morte” baseado em duas pesquisas do Instituto Gallup, refletindo especificamente a quase morte e a crença na vida após a morte. Outro distinto estudioso Kenneth Ring, um dos mais prolíficos pesquisadores e autores de estudos sobre “experiência de quase-morte”, relata um grande número de indivíduos que adquiriram autoconfiança e se tornaram mais extrovertidos após a experiência. Kenneth também verificou que as pessoas que passam por “experiência de quase-morte” tendem a perceber um aumento no senso de sentimentos religiosos e crença em um mundo espiritual. As teorias que explicam as “experiências de quase-morte” caem em duas categorias básicas: explicações científicas (incluindo médicas, fisiológicas e psicológicas) e explicações transcendentes (incluindo espirituais e religiosas). Obviamente, essas últimas não podem ser provadas nem negadas. A explicação metafísica mais comum é que alguém que passa por uma “experiência de quase-morte” está, na verdade, experimentando e lembrando de coisas que aconteceram com sua consciência não corpórea (espiritual). É natural que a ciência clássica – cuja realidade só admite o que pode ser observado e medido – não corrobora a retórica mística, mas não oferece meios de resolver essa questão, os cientistas têm tão-somente comprovado que as drogas cetamina(2) e PCP (cloridrato de fenciclidina), por exemplo, podem criar sensações nos usuários que são quase idênticas a muitas “experiências de quase-morte”. Obviamente, isso apenas raspa a superfície das explicações possíveis para uma “experiência de quase-morte”. Relatos sobre visões do que ocorre ‘do lado de lá’ são tão antigos quanto às pirâmides egípcias, às epopéias gregas e aos registros das civilizações indianas e chinesas. Na obra “República”, de Platão narra-se a história de um soldado morto pelo inimigo que viajou para a Terra dos Mortos, mas foi proibido de beber do Rio do Esquecimento porque tinha que retornar à vida. Relatos mais atuais de visões perto da morte foram feitos por Ernesto Bozzano em 1908, descreveu que muitas pessoas, em seu leito de morte, afirmavam ver pessoas conhecidas que já haviam morrido. Em 1927, o físico inglês sir William Barrett, membro da Royal Society, publicou o livro Deathbed Visions, no qual relata que essas pessoas não só viam parentes e amigos falecidos, mas contavam histórias de outros mundos. Na década de 1960, o parapsicólogo americano Karlis Osis fez um estudo-piloto sobre essas visões e encontrou algumas coincidências, como o fato de a maioria dos testemunhos se referir a conversas com pessoas já mortas. Para alguns pesquisadores tais experiências sugerem a existência da mente, ou consciência, independentemente do cérebro, ou mesmo da existência e sobrevivência da “alma”. Obviamente que outros pesquisadores, os materialistas, têm convicção de que tais experiências são apenas o produto de um cérebro em estado fisiológico alterado. Naturalmente isso não invalida suas pesquisas , pois os Benfeitores do Além explicam que “assim como o Espírito atua sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões”.(3) A Doutrina Espírita fornece elementos que permitem concluir que muitas das “experiências de quase-morte” resultam do desligamento parcial do perispírito. Na questão 157 de O Livro dos Espíritos, Kardec indagou: No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo aonde vai de novo entrar? Os Espíritos alumiaram o tema respondendo: “Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”(4) Na questão 407 o Codificador perguntou: É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito? Os Seres do Além responderam: “Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo.”(5) Além disso, na questão 424 o mestre lionês esquadrinhou de forma sutil: Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido? A resposta dos Espíritos: “Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso.”(6) A morte não é mais a mesma. Hoje um coração parado não significa que seu dono vá, necessariamente, passar para o “lado de lá”. Graças a uma série de procedimentos médicos e um aparelhinho chamado desfibrilador, uma parcela razoável de pacientes dados como mortos tem sido “ressuscitada” nas UTIs mundo afora. Várias dessas pessoas têm histórias para contar. São histórias que desconcertam a ciência com perguntas muito difíceis – e que só agora começam a ser respondidas. As “experiências de quase-morte” parecem oferecer alguma esperança de que a morte não é necessariamente algo a ser temido, nem é o fim da consciência. Mesmo a ciência tem dificuldades para lidar com a morte - a comunidade médica tem se debatido por décadas com definições específicas para morte clínica, morte orgânica e morte cerebral.

Nota e referências bibliográficas: (1) Disponível em http://super.abril.com.br/ciencia/na-fronteira-da-morte >, acessado em 21/05/2016; (2) É uma droga dissociativa usada para fins de anestesia, com efeito hipnótico e características analgésicas; (3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 374a, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2001; (4) Idem, questão 157; (5) Idem, questão 407; (6) Idem, questão 424.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.