Carregando...

  • Início
  • Seu filho desenvolve o senso de justiça a partir dos quatro anos

O senso de justiça está na natureza humana, ou é um produto sociocultural? A resposta não é simples. Há uma parte natural que se desenvolve espontaneamente nas crianças de quatro anos de qualquer sociedade. Mas também há outro componente que só aparece aos oito anos. Claudio Conti comenta.

  • Data :19/06/2016
  • Categoria :

19 de junho de 2016

Seu filho desenvolve o senso de justiça a partir dos quatro anos

Experimento sobre a psicologia da equidade revela diferenças nítidas entre sociedades Javier Sampedro O senso de justiça está na natureza humana, ou é um produto sociocultural? A resposta não é simples. Há uma parte natural que se desenvolve espontaneamente nas crianças de quatro anos de qualquer sociedade. Mas também há outro componente que só aparece aos oito anos e que depende drasticamente do ambiente cultural: desenvolve-se melhor nas crianças ocidentais que nas de países em desenvolvimento. Uma exceção notável é Uganda, que se agrupa entre os primeiros. Estes são os resultados do primeiro estudo multicultural sobre o desenvolvimento do senso de justiça nas crianças. Os psicólogos e antropólogos Peter Blake, da Universidade de Boston; Katherine McAuliffe, de Yale e Harvard, e seus colegas de Salk Lake City, Columbia Britânica e Nova Escócia, no Canadá, e Dakar Fann, no Senegal, apresentam a pesquisa na revista Nature. Foram analisadas 1.732 crianças de 4 a 15 anos de idade em sete sociedades: Canadá (falantes de inglês de Antigonish, católicos), Índia (falantes de telugu de Andhra Pradesh, hinduístas), México (falantes de maia de Xculoc, católicos), Peru (falantes de espanhol de San Pedro de Saño, católicos), Senegal (falantes de wolof de Dakar, muçulmanos), Uganda (falantes de rutooro do Fort Portal, católicos e anglicanos) e Estados Unidos (falantes de inglês de Boston, protestantes e católicos). A forma de medir as duas partes do senso de justiça requer uma explicação técnica. O parâmetro chave, muito consolidado na psicologia experimental, chama-se “aversão à injustiça” (inequity aversion), e é medido em dois tipos de experimento. No primeiro, um dos dois meninos (ou duas meninas, sem misturar os sexos) tem que aceitar ou recusar uma distribuição de recompensas obviamente injusta para ela. Por exemplo, um recebe uma maçã, e o outro quatro. Se recusar, evita a injustiça, mas perde sua maçã. Essa prova mede a “aversão à injustiça em desvantagem”. E esse é o parâmetro que se desenvolve espontaneamente nas crianças de quatro anos, e em todas as sociedades. O segundo experimento mede a “aversão à injustiça em vantagem”. Neste caso, uma criança recebe quatro maçãs, e a outra uma. Se recusar, recusa uma situação injusta para a outra, ainda que signifique perder suas quatro maçãs. Este é um grau superior, aparentemente altruísta, de aversão à injustiça. Só se desenvolve por volta dos oito anos e é mais frequente nas sociedades ocidentais (Canadá e Estados Unidos), mas também em Uganda. As crianças da Índia, México, Peru e Senegal não desenvolvem esta característica. Até aqui os dados. Agora o contexto. Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que os dois testes não quantificam o egoísmo e o altruísmo, respectivamente. Na realidade, ambas representam uma aversão à injustiça, e têm um sentido evolutivo nas espécies sociais. A aversão à injustiça em desvantagem (a que se desenvolve aos quatro anos em todas as sociedades) implica um custo imediato (perde sua única maçã), mas contribui com benefícios a longo prazo: manda a outros o sinal de que não está disposto a tolerar abusos similares. E além disso impede que o outro obtenha benefícios excessivos. É um característica que compartilhamos com primatas não humanos e outras espécies sociais. Por outro lado, a segunda característica, a aversão à injustiça em vantagem tampouco significa altruísmo, apesar das aparências. É verdade que implica um sacrifício imediato maior (renunciar a nada menos que quatro maçãs!), mas manda um sinal que pode ser muito útil a longo prazo em uma espécie social como a nossa: quer dizer que é um bom cooperador, alguém em quem se pode confiar no futuro. É fome para hoje e pão para amanhã. E, por tudo o que sabem os evolucionistas, parece ser um característica exclusivamente humana. Em todo caso, a primeira característica parece estar (em boa parte) na natureza humana, e é óbvio que a segunda está na cultura. Sobre os fenômenos concretos do entorno que causam a diferença entre sociedades – educação, insistência dos pais no comportamento justo, ambiente com transações mais frequentes – só cabe especular no momento, e o leitor é tão livre para fazê-lo como os autores do trabalho. Muitos desses detalhes são suscetíveis de pesquisa psicológica, e os cientistas já planejam mais experimentos para tentar esclarecê-los. Notícia publicada no Jornal El País , em 19 de novembro de 2015. Claudio Conti* comenta O resultado do estudo ao qual se refere o artigo em questão conduz a conclusões muito interessantes e que, de certa forma, seria o esperado conforme o que nos ensina a Doutrina Espírita. Primeiramente, o estudo dividiu o senso de justiça em dois tipos diferentes: 1) o de desvantagem, no qual o indivíduo reage quando se considera receber menos que o outro; 2) o de vantagem, no qual o indivíduo recebe mais que o outro. O senso de justiça tipo 1, segundo os autores do estudo, surge no indivíduo por volta dos quatro anos de idade, portanto teria origem evolutiva; enquanto que o tipo 2 seria decorrente da educação recebida, isto é, interiorização de normas e valores que guiam o comportamento humano e se desenvolve um pouco mais tarde, por volta dos oito anos de idade. Os autores ressaltam que o senso de justiça dos dois tipos podem ser o suporte para a cooperação em uma sociedade. Donde se pode conceber que sejam mais pronunciadas nas sociedades mais organizadas e, com isso, melhor impacto sobre a qualidade de vida. O artigo em análise afirma que o desenvolvimento do senso de justiça tipo 2 ocorre mais frequentemente em países ocidentais, todavia, não é bem isto que é apresentado no artigo original do estudo que foi publicado na revista científica Nature. No estudo original, os autores dizem que o tipo 2 se desenvolve mais frequentemente em sociedades pertencentes aos denominados países WEIRD, sigla em inglês composta da primeira letra das palavras que significam: ocidental, educada, industrializada, rica e democrática. O resultado acima é compatível com o comportamento de adultos nos países tipo WEIRD. Percebe-se, desta forma, o efeito do exemplo para espíritos nos estágios iniciais da reencarnação. Em O Livro dos Espíritos encontramos, na resposta à questão 383, sobre a infância, a seguinte informação: “o espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo”. Importa ressaltar que os países WEIRD são desta categoria porque os seus habitantes desenvolveram a capacidade de convivência justa, priorizando a cooperação, e não ao contrário. Todavia, em um mundo de expiação e provas, como o planeta Terra, não existe ainda sociedade perfeita. Não poderemos terminar este comentário sem comparar o resultado dos estudo com a parábola de Jesus “Os Trabalhadores de Última Hora”. Nesta parábola, Jesus fala sobre um senhor que contrata trabalhadores para sua plantação e, para tanto, em determinado dia ele sai a cada hora para buscar aqueles que estejam disponíveis para o trabalho. Ao final do dia, ele paga a cada um o mesmo valor, independentemente da quantidade de horas trabalhadas. Diante daquela situação, os que foram contratados logo no início do dia reclamaram, pois acreditavam merecer mais do que aqueles que chegaram ao final do dia. Foi quando o senhor os questionou o motivo da reclamação, pois havia pago o valor acertado desde o início. Importa ressaltar, ainda, que em Instruções dos Espíritos, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontra-se a explicação de que “o obreiro da última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade”. Nesta parábola, Jesus trabalha o conceito de que a justiça é necessária e não pode ser cega. A partir do momento que o indivíduo se coloca à disposição para trabalhar, ele será merecedor do salário justo, pois aguardar o empregador não deixa de ser parte do trabalho, diferentemente do preguiçoso, ao qual poderá se aplicar a Parábola dos Talentos, que, com relação ao preguiçoso, diz: “e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes”.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .