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Coordenado pelo professor Marco Antonio de Carvalho Filho, o projeto surgiu da percepção de que os alunos do último ano não estavam à vontade com seus pacientes. Segundo ele, os alunos entram em contato com a morte e ninguém conversa sobre isso no curso. Glória Alves comenta.

  • Data :22/02/2016
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22 de fevereiro de 2016

Medicina da Unicamp cria projeto para ensinar empatia e compaixão a alunos

No início do curso, Rafael Gomes queria ser como Hunter “Patch” Adams, médico americano cuja história virou filme, conhecido por seu estilo baseado no afeto e na proximidade com os pacientes. Com o tempo, viu que o mais provável seria virar um dr. House, personagem do seriado homônimo que sabe tudo de medicina, mas quer distância de gente. “Na faculdade, nossa visão poética é destruída. Aprendemos que ser bom médico é saber resolver problemas”, diz Gomes, 31, formado no ano passado pela Unicamp. Ele não se considera um dr. House e atribui parte disso a um projeto do qual participou no último ano. Coordenado pelo professor Marco Antonio de Carvalho Filho, o projeto surgiu da percepção de que os alunos do último ano não estavam à vontade com seus pacientes. “A faculdade dá conhecimento técnico, mas não ensina a ser médico, a lidar com pessoas, a essência da profissão”, diz Carvalho Filho. Para ensinar empatia e compaixão a futuros médicos, há debates sobre ética e simulação de consultas com atores, de forma a treinar habilidades de comunicação. “O pensamento comum é de que é preciso se afastar do paciente para ter boa conduta. Vou contra essa corrente.” Segundo o professor, os alunos entram em contato com a morte e ninguém conversa sobre isso no curso. “Muitos acham que a solução para não sofrer é se afastar.” Antes de participar das simulações, o recém-formado José Antonio Nadal, 26, tinha medo de ser aquele que dá a pior notícia da vida a alguém. “Depois, entendi que podemos criar vínculo, trabalhar com o paciente e ser lembrado como alguém que o ajudou em um momento crítico.” Mais de 500 alunos passaram pelo projeto. Os resultados foram analisados na tese de doutorado de Marcelo Schweller, médico da Unicamp. Ele constatou que a empatia dos estudantes aumentou. Além disso, 94% dos alunos acharam que sua capacidade de ouvir o doente melhorou. “Quando estão no ambulatório os alunos se preocupam em atender rapidamente. É raro um professor discutir se o paciente saiu satisfeito, se o médico soube ouvir. Na simulação, refletimos sobre isso”, diz Schweller. Carvalho Filho acha que esse é só um começo. “Essa atitude mais humana deveria permear toda a formação, não ser concentrada em projetos ou disciplinas.” A humanização se tornou necessidade, na opinião de Flávia Pileggi Gonçalves, coordenadora do departamento de medicina da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). “Pesquisas mostram que mais coisas interferem no processo saúde-doença que gene ou remédio”, diz. Na UFSCar, onde o currículo já é integrado conforme as diretrizes definidas pelo Ministério da Educação em 2014, os alunos estudam casos clínicos a partir da perspectiva de várias áreas. “Se discutimos um caso de asma, falamos dos fatores psicológicos e sociais envolvidos”, explica Gonçalves. Desde o primeiro ano, os estudantes já atuam no SUS e têm contato com pacientes. “O aluno cria vínculos com as famílias. A metodologia enfocada na prática é um passo em direção a uma medicina mais humanizada”, diz. Na Famema (Faculdade de Medicina de Marília) o aluno também pratica desde o início, em laboratórios com pacientes simulados, e é orientado por médicos e profissionais de comunicação. “Ele vê o paciente como um todo, não apenas a doença”, diz Mercia Ilias, coordenadora do curso. Matéria publicada no Jornal Folha de S.Paulo .

Glória Alves* comenta Essa matéria me fez lembrar do médico norte-americano Hunter Doherty Patch Adams, retratado no filme “Patch Adams - O amor é contagioso”, pelo ator Robin Williams. Logo no início da matéria temos o relato de Rafael Gomes que ao entrar para o curso de medicina queria ser como Hunter “Patch” Adams, cuja história virou filme, conhecido por seu estilo baseado no afeto e na proximidade com os pacientes. Quantas vezes adentramos um consultório médico ou hospital e nos deparamos com uma figura sisuda e que muitas vezes não nos olha direito, não nos toca para fazer qualquer exame e rapidamente nos atende; atendimento frio e distante. O doente procura um médico não somente para resolver o seu problema de dor física imediata, ele procura um aconselhamento, as ponderações e até advertências no sentido de que por ele mesmo possa buscar a sua melhora, o doente sente e percebe o gesto fraterno do verdadeiro médico amigo. O doente pode até não mais encontrar aquele profissional, mas fica a lembrança boa do atendimento e a confiança que se estabeleceu entre médico e paciente. Para acabar ou tentar acabar com a frieza e a distância, e humanizar a relação entre médico e paciente, a Faculdade de Medicina da Unicamp e outras Faculdades citadas na matéria, criam projetos e cursos, para ensinar empatia e compaixão aos alunos. Empatia e compaixão se aprende ou já nascemos com essas virtudes? Empatia é sentir-se como se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por uma outra pessoa; compaixão é o sentimento de simpatia ou de piedade para com o sofrimento alheio, associado à vontade ou ao desejo de auxiliar de alguma forma; esses são os significados encontrados nos dicionários de língua portuguesa. Compaixão e piedade são virtudes que trazemos em gérmen e como semente divina deve brotar, desenvolver e crescer em nós; e o Espírito Miguel, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, nos dá a compreensão dessas virtudes, quando em sua mensagem nos diz que “a piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. A piedade, a piedade bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por excelência, a que em toda a sua vida praticou o divino Messias e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime”.(1) Jesus, o Mestre Incomparável, demonstrou pessoalmente quando aqui esteve, através dos seus ensinos, de suas palavras e de seus atos, o caminho que devemos percorrer para desenvolver as virtudes divinas em nós. Para o Espírito Emmanuel, a “virtude é sempre sublime e imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio”.(2) Podemos e devemos desenvolver - e é um dever para conosco mesmo - as virtudes pelo trabalho da autoiluminação espiritual; é necessário, então, educar a nossa vontade, trabalhando o autoconhecimento, curando as enfermidades psíquicas que trazemos de outras existências, como culpar os outros pelos nossos erros, do mal que ainda existe em nós; importante que nos disciplinemos e busquemos a moderação em nossos impulsos, nossos pensamentos e em nossos desejos. “O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições.”(3) O projeto proposto pela Faculdade de Medicina da Unicamp é ajudar aos alunos a desenvolver a empatia e a compaixão pelos doentes, pois conhecimento técnico todos aprendem, mas “ser médico, a lidar com pessoas, a essência da profissão, a Faculdade não dá”, diz o professor coordenador do projeto, Marco Antonio de Carvalho Filho. O Mundo evolui e se transforma; nós, Espíritos, também progredimos, pois o progresso é lei divina. “O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social”,(4) e entre esses professores médicos, e aqui sem nos referirmos a nenhuma religião, há aqueles que já desenvolveram espiritualmente sua percepção para o outro, compreendem que só há um caminho para um bom trabalho, para ser um bom médico, e assim passam suas experiências e seus aprendizados a outros que vão chegando. A compaixão e a empatia são partes do amor cristão. Se identificar e compreender o outro, e, como dizem os ingleses, colocar seus pés nos sapatos dos outros, porque só vestindo o sapato do próximo saberemos onde aperta ou não, se machuca aqui ou ali, e então poderemos compreender e tomar atitudes eficientes para consolar e auxiliar. Conforme afirmou Ambroise Paré, cirurgião francês do século XVI, “curar ocasionalmente, aliviar frequentemente e consolar sempre”. “A medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades superiores, constitui uma nobre missão espiritual. O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem, é um apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a precisa assistência e inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na vida.”(5) Rafael Gomes, hoje médico formado pela Unicamp, relata na matéria que queria ser como o Doutor Hunter Doherty “Patch” Adams, médico norte-americano, famoso e conhecido por seu estilo baseado no afeto e na proximidade com os pacientes. Patch Adams trabalha em seu Instituto Gesundheit, fundado em 1972, onde atende pacientes de graça. A clínica se tornou referência para milhares de profissionais interessados em aprender com o seu trabalho. Ele tem por opinião que o objetivo do médico não é curar e sim cuidar. Cuidar com muito amor, tocando nos doentes, olhando em seus olhos, sorrindo. Patch influenciou o surgimento de vários grupos no mundo, como por exemplo aqui em nosso país, os “Doutores da Alegria”, a Associação Viva e Deixe Viver e o Projeto Saúde e Alegria. Patch destacou-se por defender a ideia de que princípios como alegria, amor, humor, cooperatividade e criatividade devem estar presentes no exercício da medicina. Hoje ele é considerado um dos principais nomes na luta pela humanização na saúde. O instituto promove cursos voltados para a humanização do atendimento à saúde, com a participação de profissionais vindos de vários países para aprender com Patch Adams. Temos um outro exemplo de generosidade, compaixão e empatia com seus doentes, é o Doutor José de Jesus Camargo, escritor pertencente a Academia Nacional de Medicina e palestrante gaúcho. Em um Curso de Atualização da ANM, no dia 5 de novembro de 2015, para alunos do curso de Medicina, ele relata suas experiências com os doentes e chama a atenção de todos para a importância de atitudes mais humanas por parte dos médicos. O Doutor J. J. Camargo conta a história de uma de suas experiências vivida com uma pessoa com câncer e que se tornou muito amigo dele. “O paciente chegou, na primeira consulta, com muita angústia e desespero. A atitude inicial do Acadêmico foi levantar-se da sua cadeira, contornar a mesa e sentar-se ao lado do paciente. Conversaram e analisaram os exames ali. No fim do tratamento, já em fase terminal, o paciente disse: “Doutor, eu fui muito bem tratado, estamos chegando ao fim, foi uma parceria que valeu a pena. A melhor coisa que recebi durante todo o tratamento foi aquele dia em que o senhor contornou a mesa para se sentar ao meu lado.”(6) O recém-formado José Antonio Nadal, que tinha medo de ser aquele que dá a pior notícia da vida a alguém, muda de opinião ao passar pelas aulas do projeto compaixão e empatia: “Entendi que podemos criar vínculo, trabalhar com o paciente e ser lembrado como alguém que o ajudou em um momento crítico.” Importante também é o trabalho feito com os alunos da Faculdade de Medicina de Marília. Segundo Mercia Ilias, coordenadora do curso, “o aluno vê o paciente como um todo, não apenas a doença”. Precisamos olhar o outro, aquele que está ao nosso lado, ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, como disse Jesus. Sentir com e ouvir com – sentir com o coração e ouvir com a alma o nosso irmão. Hoje ele sofre, amanhã podemos ser nós. Tratar o próximo como eu gostaria que ele me tratasse; fazer pelo outro aquilo que eu gostaria que ele me fizesse; enfim, amar ao próximo como a mim mesma, e assim estarei amando a Deus sobre todas as coisas. Porque Deus está presente no coração de todos nós. Concluímos nosso comentário com as palavras do Ministro Clarêncio, da Colônia Espiritual “Nosso Lar”: “Como reconhece agora, o médico não pode estacionar em diagnósticos e terminologias. Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas. Muitos profissionais da Medicina, no planeta, são prisioneiros das salas acadêmicas, porque a vaidade lhes roubou a chave do cárcere. Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para essas exceções, reservam-se as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros.”(7)

Bibliografia: (1) O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XIII, item 17; (2) “O Consolador” – Espírito Emmanuel – Francisco Xavier - Q. 253; (3) Idem (1) - Introdução XVII; (4) O Livro dos Espíritos - Lei do Progresso – Q. 779; (5) Idem (2) - Q. 94; (6) Academia Nacional de Medicina – Rio de Janeiro; (7) Nosso Lar – Cap. 14 - Elucidações de Clarêncio.

  • Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk.