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Sempre falamos em ‘seguir o que o coração manda’. A noção já era antiga, mas só recentemente pesquisadores começaram a entender como o órgão contribui para as nossas emoções e o misterioso sentimento de intuição. Claudio Conti comenta.

  • Data :08/04/2015
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8 de abril de 2015

Homem ‘com dois corações’ ajuda cientistas a estudar a depressão

David Robson Da BBC Future

A cada segundo, aproximadamente, Carlos (nome fictício) sentia um “tum-tum” dentro da barriga, bem na altura do umbigo. Eram as batidas de seu “segundo coração”.

A pequena bomba artificial foi implantada para aliviar o esforço realizado pelos enfraquecidos músculos cardíacos do paciente.

Mas, para Carlos, os batimentos do aparelho pareciam ter substituído sua própria pulsação, provocando uma estranha sensação que acabou distorcendo a imagem que ele tinha de si mesmo. Era como se seu peito tivesse ido parar no abdômen.

Quando conheceu Carlos, o neurocientista Agustín Ibañez, da Universidade Favaloro, em Buenos Aires, logo suspeitou que outros efeitos estranhos estavam por acontecer. Para Ibañez, ao mudarem o coração daquele homem, os médicos também mudaram sua cabeça.

Carlos agora pensava, sentia e agia de maneira diferente por causa do implante.

Sintonia corporal

Sempre falamos em “seguir o que o coração manda”, mas só recentemente pesquisadores começaram a entender como o órgão contribui para as nossas emoções e o misterioso sentimento de intuição.

A noção já era antiga - basta lembrar que, ao embalsamar corpos, os egípcios mantinham o coração intacto enquanto não viam problemas em retirar do morto seu “recheio craniano”.

William James, fundador da psicologia moderna, ajudou a formalizar essas ideias no século 19, ao sugerir que os sentimentos fazem parte de um ciclo de comunicação entre o corpo e o cérebro.

Ele levantou também a seguinte questão: se cada pessoa tem uma consciência corporal diferente, elas também sentiriam emoções de maneira diferente?

Suas ideias foram colocadas à prova recentemente por um grupo de cientistas da Universidade de Munique, na Alemanha. Eles pediram que voluntários contassem seus batimentos cardíacos apenas com o que sentiam no peito, sem tocá-lo. Um em cada quatro acertou metade da contagem, enquanto outro quarto conseguiu 80% de precisão.

Depois disso, os voluntários foram submetidos a vários testes cognitivos. E foi aí que as teorias de James se comprovaram: aqueles com mais consciência de seus corpos tenderam a ter reações mais intensas a imagens emotivas, além de descreverem melhor seus sentimentos. Eles também reconheciam mais as emoções em outros rostos e eram mais rápidos ao reagir a uma ameaça.

Em outras palavras: as pessoas que estão sintonizadas com seu corpo tendem a ter uma vida emocional mais vívida, tanto nos bons quanto nos maus momentos.

Esses sinais secretos do corpo também podem estar por trás da nossa intuição – aquela sensação indefinível de que algo está prestes a acontecer.

Um estudo na Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, examinou voluntários enquanto eles jogavam cartas. O autor da pesquisa, o psicólogo Barney Dunn, afirma que aquelas pessoas que conseguiam contar seus próprios batimentos cardíacos com mais precisão tendiam a fazer escolhas que indicavam que eles seguiam mais sua intuição.

Por isso, pode ser verdadeira a noção de que as pessoas mais “sintonizadas” a seus corações tendem a se guiar mais por instinto.

Cura para a depressão?

Voltemos então a Carlos. O que acontece com esses sentimentos quando você tem um coração artificial? Será que o fato de ele ter percebido mudanças em sua vida pode ser uma prova de que nossas mentes vão além do cérebro?

O neurocientista Ibañez conseguiu observar exatamente isso. Carlos só conseguia descrever as batidas do aparelho como sendo as pulsações que ele percebia. Ele também parecia não reagir com empatia quando via imagens de pessoas envolvidas em um grave acidente.

Carlos ainda teve dificuldades em perceber as emoções e intenções de outros indivíduos e, fundamentalmente, parecia ter perdido a capacidade de tomar decisões intuitivamente – tudo conformado à ideia de que o coração comanda a cognição emocional.

Infelizmente, Carlos morreu por causa de complicações em outros tratamentos, mas Ibañez espera poder continuar seus estudos em outros pacientes.

Ele atualmente está fazendo testes em pessoas que receberam transplante completo de coração e investigando se um defeito na ligação entre o corpo e o cérebro poderia levar a um transtorno da despersonalização - que faz com que pacientes tenham a estranha sensação de não viverem em seus próprios corpos.

Já o psicólogo britânico Barney Dunn acredita que as pesquisas do argentino podem ser importantes para o tratamento da depressão. “Atualmente, as terapias se concentram demais em tentar mudar a maneira de um paciente pensar, e esperar que isso transforme também suas emoções”, afirma.

Mas mesmo quando alguns pacientes passam a pensar positivamente, muitos têm dificuldade em sentir alegria, por exemplo – um problema que Dunn atribui a uma deficiência no sistema de comunicação entre as sensações e o cérebro.

Os cientistas acreditam ainda que pessoas com depressão profunda não conseguem achar seu próprio batimento cardíaco facilmente. Mas, para Dunn, isso pode ser aprendido com muita prática.

“Ouvir o que o coração diz” pode ser mais que apenas poesia, ou jogo de palavras. É uma atitude que pode enriquecer a vida emocional de uma pessoa.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 17 de fevereiro de 2015.

Claudio Conti comenta*

A questão das reações do coração nas várias situações do cotidiano é um motivo de atenção e comentários dos mais diversos. Acreditamos que isto ocorra devido ao fato de, primeiramente, ser um órgão “nobre”, isto é, estaria ligado diretamente com a vida e, também, o coração foi utilizado ao longo do tempo para representar coragem, amor, etc, portanto, é um componente arquetípico na mente humana.

Sob o ponto de vista material, as sensações e emoções causam um efeito quase imediato nos batimentos cardíacos, levando o indivíduo a reações específicas, tal como levar a mão à região do peito.

Independentemente deste fato, existem reações que são inerentes a várias partes do corpo, tais como pernas bambas (quanto se está diante da amada/do amado), frio no estômago (quando se está com medo), etc.

Tempos atrás, se acreditava que os neurônios, células responsáveis pelo processamento de informação no corpo físico e as consequentes reações do organismo, estavam restritas à região do cérebro. Todavia, atualmente já se considera que células desta especialização se encontram em várias partes do corpo, incluindo intestinos, por exemplo.

Desta forma, podemos considerar que há processamento de informação por todo o corpo. Obviamente que o cérebro ainda é o principal.

Ao se considerar o ser vivente como sendo o espírito, e não o corpo, que possui uma vida que transcende a experiência carnal, a abordagem necessita ser reavaliada.

O espírito traz consigo todas as mazelas e todas as virtudes desenvolvidas e elaboradas ao longo das várias encarnações que podem ser “impressas” no novo corpo que é elaborado ao longo da gestação materna. Portanto, o corpo irá reagir nas várias experiências em conformidade com o espírito que gerenciou sua formação.

No livro O Céu e o Inferno, no capítulo VII, temos que “dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio…”

Afinal, caso as reações do corpo diante de estímulos fosse uma questão puramente material, todos reagiriam, ao menos, de forma semelhante, pois, afinal, no caso em questão, todos possuem um coração, ao menos enquanto vivos.

Desta forma, podemos, em uma análise à luz do Espiritismo, dizer que o corpo irá reagir diante de uma situação qualquer em conformidade com a natureza do espírito, e não em conformidade com a natureza do corpo, pois é o segundo que reflete o primeiro, e não o contrário.

Com relação à depressão em si, encontra-se no próprio “site” Espiritismo.net o texto intitulado A Depressão na Visão Espírita, de autoria de Dr. Wilson Ayub Lopes www.espiritismo.net/materias/depressao/a_depressao_na_visao_espirita , que retrata esta enfermidade sob a ótica médica em contraposição com a espiritual, demonstrando que o ser em sofrimento é o espírito devido sua postura diante da vida.

Contudo, o importante nos casos de depressão é o tratamento do paciente. Juntamente com o tratamento médico, o Espiritismo fornece uma terapêutica muito eficaz devendo, para isso, o empenho do paciente para que haja a cura completa como espírito imortal, e não apenas paliativos.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .