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Um número cada vez maior de pessoas – milhões delas – acredita que definitivamente a vida acaba depois da morte e que não existe Deus nem um plano divino. Esse movimento parece estar ganhando força. Aliás, em alguns países, o ateísmo assumido nunca foi tão popular. Jorge Hessen comenta.

  • Data :27/02/2015
  • Categoria :

27 de fevereiro de 2015

As religiões vão desaparecer no futuro?

Rachel Nuwer Da BBC Future

Um número cada vez maior de pessoas – milhões delas, em todo o mundo – diz acreditar que a vida definitivamente acaba depois da morte e que não existe Deus nem um plano divino. Esse movimento parece estar ganhando força. Aliás, em alguns países, o ateísmo assumido nunca foi tão popular.

“Há muito mais ateus no mundo hoje do que jamais houve, tanto em números absolutos quanto em porcentagem da humanidade”, diz Phil Zuckerman, professor de sociologia e estudos seculares no Pitzer College, na Califórnia, e autor de Living the Secular Life (“Vivendo uma vida secular”, em tradução livre).

Segundo uma pesquisa do instituto Gallup International, que entrevistou mais de 50 mil pessoas em 57 países, o número de indivíduos que se dizem religiosos caiu de 77% para 68% entre 2005 e 2011, enquanto aqueles que se identificaram como ateus subiram 3%, elevando a 13% a proporção dessa parcela.

Acadêmicos ainda estão tentando destrinchar os fatores complexos que levam um indivíduo ou uma nação ao ateísmo, mas existem alguns pontos em comum. Parte do apelo das religiões está na segurança que ela oferece em um mundo de incertezas.

Por isso, não por acaso, nações que registram maiores taxas de ateísmo tendem a ser aquelas que oferecem a seus cidadãos uma estabilidade econômica, política e existencial relativamente alta. Para Zuckerman, o capitalismo e o acesso à tecnologia e à educação também parecem ter relação com o declínio da religiosidade em algumas populações.

Sentido ao sofrimento

Japão, Grã-Bretanha, Canadá, Coreia do Sul, Holanda, República Tcheca, Estônia, Alemanha, França e Uruguai (onde a maioria dos cidadãos tem raízes europeias) são países onde a religião era importante há apenas um século, mas que agora mostram os menores índices de crença religiosa no mundo.

Mesmo assim, o declínio da fé parece ser global, inclusive em países que ainda são fortemente religiosos, como o Brasil, a Jamaica e a Irlanda.

Já os Estados Unidos estão entre os países mais ricos do mundo, mas também apresentam altas taxas de religiosidade. (Ainda assim, uma pesquisa recente da Pew revelou que, entre 2007 e 2012, o número de americanos que se declararam ateus subiu de 1,6% para 2,4%.)

“Declínio, no entanto, não quer dizer desaparecimento”, argumenta Ara Norenzayan, psicólogo social da Universidade da Columbia Britânica em Vancouver, no Canadá, e autor de Big Gods (“Grandes Deuses”, em tradução livre).

Para ele, a segurança existencial é mais vulnerável do que parece. E conforme as mudanças climáticas trouxerem destruição e os recursos naturais forem escasseando, o sofrimento e as dificuldades podem inflamar a religiosidade. “Por alguma razão, a religião parece dar um sentido ao sofrimento, muito mais do que qualquer ideal secular”, diz o especialista.

Instinto religioso

Mas mesmo se os problemas do mundo fossem milagrosamente resolvidos e todos nós vivêssemos em paz e igualdade, as religiões ainda estariam entre nós. Isso porque um “buraco na forma de Deus” parece existir na neuropsicologia da nossa espécie, graças a uma falha na nossa evolução.

Para entender isso, é preciso investigar a teoria que estabelece que o homem tem duas formas de pensamento básicas: o Sistema 1 e o Sistema 2. O Sistema 2 evoluiu recentemente. É a voz na nossa cabeça que nos permite planejar e pensar logicamente.

O Sistema 1, por outro lado, é intuitivo, instintivo e automático. Essas capacidades se desenvolvem regularmente nos seres humanos, independentemente de onde nascerem. São mecanismos de sobrevivência.

O Sistema 1 nos faz buscar padrões para entender melhor o mundo e procurar o sentido de eventos aparentemente aleatórios, como desastres naturais ou a morte de um ente querido.

Além de nos ajudar a evitar os perigos e a encontrar um parceiro, alguns acadêmicos acreditam que o Sistema 1 também permitiu que as religiões surgissem e se perpetuassem.

Ele nos prepara para instintivamente notar forças naturais, mesmo quando elas não estão ali.

Milênios atrás, isso provavelmente ajudou o homem a evitar alguns perigos, como um leão escondido atrás de um arbusto. Mas isso nos tornou vulneráveis a supor a existência de agentes invisíveis – como um Deus benevolente olhando por nós.

Superstições e derivados

Ateus têm que lutar contra toda essa bagagem cultural e evolucionária. Seres humanos querem naturalmente acreditar que fazem parte de algo maior, que a vida não é completamente inútil. Nossas mentes têm fome de propósito e de justificativas.

Da mesma maneira, em todo o mundo, muitas das pessoas que dizem não acreditar em Deus ainda têm algum tipo de crença supersticiosa, como fantasmas, astrologia, karma, reencarnação ou telepatia.

Outros, para guiar seus valores, tendem a se apoiar no que pode ser interpretado como “representações religiosas”, como a ioga, os esportes de equipe, a natureza e outros elementos. Um exemplo disso é o fato de a bruxaria estar ganhando popularidade nos Estados Unidos, enquanto o paganismo ser a religião que mais cresce na Grã-Bretanha.

As experiências religiosas também têm se manifestado das maneiras mais estranhas.

O antropólogo Ryan Honrbeck, do Fuller Theological Seminary, em Pasadena, na Califórnia, descobriu indícios de que o videogame online World of Warcraft está assumindo uma importância espiritual para alguns jogadores na China. “O game parece oferecer oportunidades de desenvolver alguns traços morais que a vida comum na sociedade contemporânea não consegue”, afirma.

Medo ou adoração

Além disso, a religião promove coesão e cooperação em grupo.

A ameaça de um Deus todo-poderoso observando qualquer pessoa que sair da linha ajudou a manter a ordem em sociedades antigas. E, novamente, insegurança e sofrimento podem ter ajudado a incentivar a consolidação de religiões com códigos morais mais rígidos.

Há ainda uma explicação puramente matemática por trás da aptidão das religiões para prevalecerem.

Em várias culturas, as pessoas que são mais religiosas tendem a ter mais filhos. Acrescente a isso o fato de que, normalmente, as crianças seguem o exemplo dos pais em sua decisão sobre a religião, e um mundo completamente secular parece cada vez mais impossível.

Por todos esses motivos – psicológicos, neurológicos, históricos, culturais e logísticos -, especialistas acreditam que as religiões provavelmente nunca desaparecerão.

Sejam elas mantidas pelo medo ou pela adoração, as religiões conseguem muito bem se perpetuar. Senão, não estariam mais entre nós.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 31 de dezembro de 2014.

Jorge Hessen comenta*

A ameaça de um Deus todo-poderoso observando qualquer pessoa que sair da linha ajudou a manter a ordem em sociedades antigas. E novamente, insegurança e sofrimento podem ter ajudado a incentivar a consolidação de religiões com códigos morais mais rígidos. Por inúmeros motivos – psicológicos, neurológicos, históricos, culturais e logísticos – especialistas acreditam que a ideia e crença em Deus provavelmente nunca desaparecerão.

A obra “Essência do Cristianismo”, publicada em 1841, por Ludwig Feuerbach, entusiasmou filósofos como Engels, Marx, David Strauss e Nietzsche. Feuerbach considerava que Deus é uma invenção humana e que as atividades religiosas são usadas para a realização de desejos.(1) Karl Marx e Friedrich Engels argumentaram que a crença em Deus e na religião são funções sociais, utilizadas para narcotizar a mente. Marx procurou “alforriar” o homem de Deus, entretanto algemou-o ao materialismo.

Nos dias atuais tem crescido o número de pessoas que se declaram sem religião. No Brasil, até os anos 70, elas eram menos de 1% da população. Nos anos 90, 5,1%; em 2013 mais de 15 milhões de brasileiros (em torno de 13% da população) dizem não ter religião, conforme o IBGE. Segundo dados da Enciclopédia Britânica, em 1994 cerca de 240 milhões de pessoas declaravam-se ateístas e mais de 900 milhões diziam-se não religiosas. Hoje, o grupo dos que se declaram ateus, agnósticos(2) ou sem religião em todo o mundo, só fica atrás daqueles que se dizem cristãos (2,2 bilhões de pessoas) e muçulmanos (1,5 bilhão).

“Segundo uma pesquisa do instituto Gallup International, que entrevistou mais de 50 mil pessoas em 57 países, o número de indivíduos que se dizem religiosos caiu de 77% para 68% entre 2005 e 2011, enquanto aqueles que se identificaram como ateus subiram 3%, elevando a 13% a proporção dessa parcela”.(3) As nações que registram maiores taxas de ateísmo tendem a ser aquelas que oferecem a seus cidadãos uma estabilidade econômica, política e existencial relativamente alta. Paradoxalmente, os Estados Unidos estão entre os países mais ricos do mundo, mas apresentam altas taxas de religiosidade.(4)

Acadêmicos ainda estão tentando destrinchar os fatores complexos que levam um indivíduo ou uma nação ao ateísmo, entretanto existem alguns pontos em comum. Parte do apelo das religiões está na segurança que ela oferece em um mundo de incertezas.(5) Para Phil Zuckerman, professor de sociologia e estudos seculares no Pitzer College, na Califórnia, autor de Living the Secular Life (“Vivendo uma vida secular”, em tradução livre), “há muito mais ateus no mundo hoje do que jamais houve, tanto em números absolutos quanto em porcentagem da humanidade”.(6) Será mesmo? Quem sabe Zuckerman esteja equivocado!

Carl Gustav Jung, num programa da televisão americana, disse que não acreditava em Deus porque sabia que Ele existia!!! Voltaire afirmou que não acreditava nos deuses criados pelos homens, mas sim no Deus Criador do homem. Sócrates nomeava Deus como “A razão perfeita”, e o seu educando Platão O designava por “Ideia do bem”. “Sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber”.(7)

Porém, Mikhail Bakunin, da Rússia, sob a inspiração dos ideários do francês Proudhon, afirmava que “a ideia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas. É a negação mais decisiva da liberdade humana e, necessariamente, termina na escravização do homem. O anarquista inverteu o aforismo voltairiano – “se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo” – afirmando que se “Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo”. Seguindo essa linha de crença pessoal, Stephen Hawking, um dos mais citados físicos teóricos desde Einstein, confinado a uma cadeira de rodas por conta de uma Doença Neuronal Motora (MND), tem asseverado insistentemente que não há a necessidade de invocar Deus para explicar a existência do Universo. Garante que “não existe nenhum paraíso e/ou vida após a morte”.(8) Sob o deslumbramento de sua estranha argúcia acadêmica, jaz continuamente negando a existência de Deus.

No século XIX, Allan Kardec, o extraordinário filho de Lyon, indagou aos Benfeitores do além: “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?”(9) Os Sábios espirituais responderam: “Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá”.(10) Desde o século XIX o Espiritismo tem confirmado pelos fatos as relações entre o mundo material, o além-túmulo e Deus. Nova luz tem despertado consciências humanas. A Fé e a Razão são as duas asas pelas quais o coração se ergue para confirmar a existência de Deus.

O Criador assentou no coração humano o anseio de conhecer a verdade e de compreendê-Lo, para que admitindo-O e amando-O alcance aproximar-se da verdade plena sobre si próprio. A fé precisa da razão tanto quanto esta necessita da fé, a fim de que o ateísmo seja definitivamente debelado.

Por mais que os descrentes procurem justificar seu ateísmo, este só pode subsistir em palavras desocupadas, ocas, desprovidas de qualquer substância moral, filosófica e científica. Os Espíritos asseguram que “nunca houve povos de ateus. Todos seres compreendem que acima de tudo há um Ente Supremo.”(11) Para Allan Kardec, “sempre houve e haverá cada vez mais espiritualistas do que materialistas e mais devotos do que ateus”.(12) Certa vez o mestre de Lyon consultou a condição espiritual de um ateu desencarnado. Este revelou o seu estado psicológico no além, nos seguintes termos: “Sofro pelo constrangimento em que estou de crer em tudo quanto negava. Meu Espírito está como num braseiro, horrivelmente atormentado”.(13)

Notas e Referências bibliográficas:

(1) Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ate%C3%ADsmo >. acessado em 09/02/2015;

(2) Enquanto os ateus negam a existência de Deus, os agnósticos garantem não ser possível provar a existência divina;

(3) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141230_vert_fut_ religiao_futuro_ml#share-tools >, acessado em 09/02/2015;

(4) Idem;

(5) Idem;

(6) Idem;

(7) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2001, Cap. II - A Providência, item 3;

(8) Disponível em http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/stephen-hawking-%E2%80%9Cvida-apos-a-morte-e-um-conto-de-fadas%E2%80%9D , acessado em 04/10/2014;

(9) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1994, Questão 4;

(10) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1994, Questão 4;

(11) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 651, RJ: Ed. FEB, 2001;

(12) Kardec, Allan. A Gênese, Cap. XI, item 4, RJ: Ed. FEB, 2001;

(13) Kardec, Allan. O Céu e o Inferno, Segunda Parte, Cap. V, RJ: Ed. FEB, 2001.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.