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Para dar confiança a alunos, projeto prevê conversas sobre funcionamento do cérebro, meditação e oficinas para pais. “Se não ensinarmos caráter explicitamente, não podemos esperar que os alunos adquiram isso”, afirmou a diretora da escola. Jorge Hessen comenta.

  • Data :27/08/2014
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27 de agosto de 2014

Escola nos EUA inclui aula de caráter no currículo

Para dar confiança a alunos, projeto piloto prevê conversas sobre funcionamento do cérebro, meditação e oficinas para pais

POR TATIANA KLIX

A rede de escolas charter KIPP (Knowlegde is Power Program), fundada em 1994 nos Estados Unidos, tem como meta levar seus alunos – 86% são de famílias pobres – até a universidade. Para garantir que todos tenham confiança de que são capazes de aprender, não aposta apenas no rigor acadêmico, mas promove diferentes atividades para despertar entusiasmo, perseverança, autocontrole, gratidão, otimismo, inteligência social e curiosidade em seus alunos. Dentro desse contexto, uma de suas 141 escolas, a KIPP Infinity Middle School, no Harlem, em Nova York, decidiu radicalizar o ensino de competências socioemocionais e criou, há dois anos, uma aula diferente: de caráter.

“Nós sentimos que, se não ensinarmos caráter explicitamente, não podemos esperar que eles [os alunos] adquiram isso”, afirmou ao Porvir a diretora da escola e professora dessas classes, Leyla Bravo-Willey.

O projeto desenvolvido pela professora em parceria com um centro de estudos de socioemocionais da Universidade da Pensilvânia ainda está em fase piloto e estabelece um currículo abrangente. Para desenvolver o caráter dos alunos, a escola aposta no ensino de habilidades não cognitivas – como comunicação, resiliência e determinação – em todas aulas, oficinas para pais e momentos de trocas entre os estudantes chamados de Kipp Circles.

As classes de caráter acontecem duas vezes por semana para as 5ª e 6ª séries e nelas Leyla dá aulas expositivas para mostrar aos alunos como eles são capazes de aprender, como podem enfrentar seus pontos fracos, como devem estabelecer relações saudáveis com outras pessoas e como podem usar a mente para conseguir o que querem. Não se trata de uma simples lição de autoajuda, garante a professora, mas momentos para se fazer conexões com a ciência e explicar como o cérebro funciona, desenvolver técnicas de meditação, concentração e até praticar yoga. “Primeiro, eu explico os conceitos e depois faço com que eles pratiquem”, conta a diretora da Infinity Middle School.

Em uma aula sobre como enfrentar pontos fracos, por exemplo, a professora perguntou como os alunos se sentiam quando eram os últimos a serem escolhidos para formar um time de basquete. Alguns responderam algo como “Que saco, eu de novo no fim”, mas alguém disse “Não tô nem aí, sou bom mesmo no futebol”. Segundo Tonia Casarin, mestranda brasileira em educação na Universidade de Columbia que acompanha o projeto piloto na escola de Nova York, as diferentes reações fazem os alunos se darem conta de como podem pensar diferente. “As conversas ajudam a desenvolver a autoestima das crianças, elas aprendem a mudar a própria perspectiva”, diz.

Esse tipo de reflexão não acontece apenas nas classes específicas de caráter, mas durante todas as atividades da escola. Os professores da Infinity Middle School são preparados a relacionar questões socioemocionais com conteúdos cognitivos. Assim, numa aula de inglês, os alunos analisam as características dos personagens dos textos que leem, e nas de história, discutem motivações por trás de fatos importantes. Além disso, antes mesmo da criação das aulas de caráter, já ocorriam os Kipp Circles, períodos de 20 a 30 minutos em que as turmas são divididas em grupos e os alunos devem trocar ideias e ajudar uns aos outros a melhorar suas atitudes e resultados acadêmicos. “Nos círculos os alunos discutem o que entenderam das minhas aulas e se estão aplicando o que aprenderam”, explica Leyla.

Como resultado, a expectativa é que as crianças mudem de atitude também em casa. Por isso, os pais são chamados no início do ano para um workshop em que são apresentados ao conteúdo que será ensinado e como isso será feito. A professora também dá dicas de como eles podem dar suporte aos seus filhos. “Alguns pais ajudam, outros não. Mas a nossa missão é fazer com que mesmo os que são oriundos de famílias disfuncionais saibam lidar melhor com isso. O fato de uma criança não ser incentivada a estudar em casa não significa que ela não deva ter acesso a boa educação. Nossa meta é garantir que todos tenham acesso”, diz a diretora.

Primeiros resultados

Embora a implantação desse currículo socioemocional na Kipp Infinity Middle School ainda esteja em fase de testes e os dados sobre o impacto no desempenho acadêmico não tenham sido computados, a diretora tem convicção de que os alunos estão aprendendo mais e que estão mais tranquilos e confiantes. “Estamos ansiosos pelos resultados para seguir em frente”, afirmou. No próximo ano letivo, o plano é preparar outros professores para ministrarem as aulas de caráter e passar a incluí-las na grade de mais séries.

Leyla diz que foi possível perceber avanços, principalmente, pela mudança de atitude da turma antes da última prova estadual (avaliação externa) a que foram submetidos. “Normalmente, eles ficam muito nervosos e acham que vão se dar mal. Dessa vez, passaram a dizer que estão preparados, que trabalharam duro e estão prontos para o teste”, conta orgulhosa.

Notícia publicada no Portal Porvir , em 16 de junho de 2014.

Jorge Hessen comenta*

Efetivamente não ponderamos bastante sobre a educação moral, mesmo neste século, ou nas últimas duas décadas. Somente agora psicólogos pesquisam sobre a “inteligência emocional” e pedagogos timidamente começam a falar sobre autoconhecimento, mesmo assim atrelados à “sociedade do conhecimento”, dando mais ênfase ao intelectual que ao moral.

Algumas propostas pedagógicas atuais são elogiáveis para instruir o homem, porém “é pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade”.(1) A Educação do Espírito é o núcleo da lição espírita. “O Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral oferecido à Humanidade para a sua formação moral e espiritual na Escola da Terra”.(2) A Doutrina dos Espíritos, sem sombra de dúvida, é uma súmula cultural, compreendendo diversos campos da ciência, tendo como ponto de aliança a Pedagogia. Não foi por acaso que o professor Rivail embrenhou-se pela educação após receber profundo legado de Pestalozzi, a representação mais poderosa da Pedagogia mundial.

Na máxima “fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão.”(3) A caridade legítima, sob qualquer aspecto, que o cristão deve procurar realizar, não pode restringir-se somente ao importante e imprescindível assistencialismo material (às vezes circunscritos e improfícuos), contudo sim a caridade da Educação.

Para o ínclito pedagogo lionês, “há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o CARÁTER, aquela que cria os hábitos adquiridos”.(4) O empenho pela Educação integral não pode resvalar pelos sofismas materialistas, utilitaristas e de usuras vazias, que são atualmente o mote da maior parte das ideologias dominantes. O cerne da pedagogia espírita é uma proposta de educação do espírito. Nesse sentido, entendemos ser na ESCOLA DA FAMÍLIA que podemos e devemos em primeiro lugar conquistar e exercitar virtudes fundamentais da educação espiritual, como altruísmo, paciência, amor ao próximo, e ao mesmo tempo o empenho de contribuirmos para o progresso do semelhante.

Trata-se, pois, A FAMÍLIA de um universo permanente e fecundo para a Educação Plena. O mais forte impulso que o Espiritismo ajusta na relação entre os elementos de uma mesma família é o rompimento de hierarquias de funções. Cabe aos pais a missão de educar os filhos e na verdade trata-se de empreitada de amplo encargo moral. Todavia, pai, mãe, filho, filha, esposo, esposa, avó, avô, neto e neta são invariavelmente Espíritos andantes da evolução humana, cada qual transportando sua herança pregressa e seu mandato atual, necessariamente análogos, e dignos todos de respeito e amor, sejam velhos, adultos, jovens, crianças, homens e mulheres.

Lamentavelmente, hoje as obras cinematográficas, os programas de TV, a Internet, as revistas em quadrinhos, que veiculam violências com heroísmo, inventando universos fantasiosos além do mundo real, decretando que os “mocinhos” usem as mesmas estratégias dos bandidos, como se a harmonia pudesse ser apropriada através do uso da truculência. Muitas escolas e grupos familiares instruem autoritariamente, sem o exercício do diálogo, do trabalho construtivo, obstinando em empregar aprendizados acabados, fórmulas fechadas e preleções recorrentes. Nesse caso, quem pode ser apontado como culpado das misérias morais na sociedade? Respondem os Espíritos que é “a sociedade”, e rematam: “é frequentemente a má educação que falseia o critério dessas pessoas, em lugar de asfixiar-lhes as tendências perniciosas.”(5)

No debate, há os que acodem a ideia de se levar a filosofia espírita da educação para os educadores e para a escola formal. Defendem que somente a filosofia espírita pode impulsionar o fazer educacional para fins superiores. Afiançam que é numa instituição de ensino primário, secundário ou superior, que devemos colocar em prática a Educação segundo o Espiritismo.

Defendem que é preciso criar espaços institucionais, onde as crianças, os adolescentes e os jovens possam receber uma Educação integral; ser amados e observados como Espíritos imortais e reencarnados; ser estimulados a se autoeducarem. Para tais arautos, a cultura, tanto objetiva como subjetiva, da “Era do Espírito”, não pode ser transmitida às novas gerações através dos limitados recursos da Educação Cristã ou da Educação Laica, ambas superadas. O conflito materialismo versus espiritualismo, que gerou essas duas formas de educação, não tem mais possibilidade de sobreviver na cultura atual. A nova concepção do homem e do mundo, que marca o nosso tempo, exige uma nova educação de dimensões cósmicas e espirituais.

Sob esse argumento, evoca-se como justificativa Eurípedes Barsanulfo, que fundou e dirigiu o Colégio Allan Kardec em Sacramento, MG, lá pelos idos de 1909. Após essa empreitada do apóstolo mineiro, afirmam os causídicos da educação espírita nas escolas regulares que ninguém mais pode deter a marcha da escola formal de ensino espírita. Só confiamos que eles não ignorem que a humanidade não se converterá ao Espiritismo dessa forma.

Quem sabe o argumento seja até instigante, analisado sobre a plataforma da educação espírita nas escolas particulares. Todavia optamos por considerar a contestação, levando-se em conta o ensino público, onde pugnamos pela ideia de que educação Laica, do ponto de vista do Estado e dos direitos de cidadania, deve ser mantida como tema de foro íntimo do indivíduo, alojado ali, junto à liberdade de consciência e de opinião.

Diante da diversidade existente no Brasil, por exemplo, é central que esta questão seja novamente discutida, no sentido de que não haja mais nas escolas públicas espaços para a pregação/ensino de quaisquer crenças religiosas patrocinadas pelo poder público. Não cabe ao Estado destinar energia e dinheiro para esse fim, sendo isso uma responsabilidade das instituições religiosas e da família.

Considerando a posição assumida pelo Conselho Federativo Nacional, em reunião plenária de 9 de novembro de 1997, a Federação Espírita Brasileira propôs que o ensino religioso deve ser ministrado no lar e no Centro Espírita tão somente; recomendou ainda que as Instituições Espíritas de todo o país orientassem os pais para que declarem expressamente, no ato da matrícula dos alunos espíritas, nas escolas públicas de ensino fundamental, que eles não assistirão às aulas de ensino religioso, sob qualquer hipótese.

Perfilhamos ao lado do mesmo pensamento febiano, pois admitimos que a educação espírita deve ser mantida restrita aos centros espíritas (para os espíritas), ao lar e, sobretudo, desprovida da roupagem imprópria do sectarismo. O núcleo familiar é o primeiro grupo social do qual participamos e recebemos, não somente, herança genética ou material, mas principalmente moral. A educação espírita aí tem um papel importantíssimo na formação do CARÁTER do indivíduo, ou melhor, na formação da pessoa como um todo.

Salvo melhor juízo, recusamos qualquer ensino de “Espiritismo” nos currículos das escolas e faculdades formais (públicas e ou privadas).

Referências bibliográficas:

(1) Kardec ,Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed. FEB 1980, página 384;

(2) Pires, J. Herculano. Pedagogia Espírita. São Paulo, Edicel, 1985;

(3) Kardec Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. cap. XV, “Instruções dos espíritos”, item 10, ditado pelo Espírito Paulo, o apóstolo (Paris, 1860.), RJ: Ed. FEB, 1990;

(4) Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2000, questão 685-A:

(5) Idem, questão 813.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.