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Dor de cabeça, dor na coluna e outros males crônicos podem estar com os dias contados. Cientistas estão próximos de acabar com essas sensações. Eles criaram uma forma de ligar e desligar a dor com a ajuda de um simples feixe de luz fluorescente. André Henrique de Siqueira comenta.

  • Data :17 May, 2014
  • Categoria :

17 de maio de 2014

Cientistas descobrem como desligar a dor

Vanessa Daraya , de INFO Online

Dor de cabeça, dor na coluna e outros males crônicos podem estar com os dias contados. Uma equipe de cientistas da Universidade de Stanford está próxima de acabar com essas sensações. Os pesquisadores criaram uma forma de ligar e desligar a dor com a ajuda de um simples feixe de luz fluorescente.

Um artigo sobre o assunto foi publicado na revista científica Nature Biotechnology . Com ajuda de uma terapia genética conhecida como optogenética, os cientistas inseriram proteínas sensíveis à luz – as opsinas – nas terminações nervosas de camundongos.

Após algumas semanas, esses nervos ficaram sensíveis à luz. Então, os animais foram colocados um por um em uma pequena câmara de acrílico com um chão transparente.

Quando a luz azul brilhou através do chão, os ratos se encolheram ou gritaram sinalizando que sentiam dor. Mas a dor logo foi interrompida quando os camundongos foram banhados pela luz amarela, que foi projetada para bloquear os impulsos nervosos.

A descoberta tem implicações em diversos campos da ciência e pode, no futuro, ajudar milhões de pessoas e animais que sofrem com dores crônicas. A dor é a principal razão para pessoas procurarem médicos. E os médicos não podem fazer muito além de receitar analgésicos que podem ter péssimos efeitos colaterais.

No entanto, ainda existem muitos obstáculos antes de liberar um tratamento optogenético para a sociedade. Isso porque pode ser difícil atingir algumas células nervosas diretamente com a luz. Os cientistas precisam fazer novos experimentos de modificação genética antes de que qualquer tratamento esteja disponível.

E o fim da dor não é o único benefício da optogenética. Recentemente, cientistas descobriram como controlar a fome usando as opsinas e o tratamento com a luz. A tendência é que os cientistas descubram cada vez mais benefícios nesse tipo de tratamento genético.

Matéria publicada na Revista Info , em 24 de fevereiro de 2014.

André Henrique de Siqueira comenta*

Carlos Drummond de Andrade foi um poeta especial. Pensou e sentiu o mundo à medida em que o criou na representação de sua poesia. Em seu livro Sentimento do Mundo ele declara em trecho do poema Mundo Grande: “Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores.”

A autoria de sentimento do mundo é garantida. Mas há outro poema, chamado Definitivo, atribuído a Drummond e com autoria não comprovada. Neste, o autor (talvez outro que não o Carlos) reflete com dramaticidade: A dor é inevitável. O sofrimento é opcional…

Uma investigação do laboratório Bio-X, na Universidade de Stanford, indica que é possível controlar a intensidade da dor através da inclusão de proteínas sensíveis à luz no nervo. A alteração genética permite que se utilize a luz para controlar a intensidade da dor… A pesquisa foi conduzida pelo Dr. Scoot Delp em conjunto com seus alunos Shrivats Ier e Kate Montgomery e publicada na edição de fevereiro de 2014 na Nature Biotechnology (IVER, 2014). O experimento foi realizado em ratos modificados por engenharia genética, que sentem mais ou menos dor dependendo da cor à qual se expõe. O processo é possível devido à opsina, uma proteína sensível à luz. A técnica foi desenvolvida, também em Stanford, por um professor de bioengenharia, Karl Deisseroth. Como resultado das pesquisas, os doutores Delp e Deisseroth estão iniciando uma companhia chamada Circuit Therapuetics, para desenvolver técnicas de terapias baseadas na optogenética.

Indicada a possibilidade de desligar os processos fisiológicos da dor, cabe refletir: Será que doravante a dor é opcional? O sofrimento seria inevitável?

Uma avaliação analítica da dor aponta que se trata de fenômeno sensorial múltiplo “que envolve aspectos emocionais, sociais, culturais, ambientais e cognitivos” (Oliveira et all, 1997). O estudo descreve a dor como uma “entidade sensorial” que possui um caráter muito específico, variável para cada pessoa. A dor sofre a influência do aprendizado cultural, do significado que é atribuído às diferentes experiências e às recordações destas, além de estar relacionada com a capacidade humana de compreender suas causas e consequências.

Os autores do estudo fazem uma descrição elucidativa:

“A dor invoca emoções e fantasias, muitas vezes incapacitantes, que traduzem o sofrimento, incerteza, medo da incapacidade, da desfiguração e da morte, preocupação com perdas materiais e sociais são alguns dos diferentes componentes do grande contexto dos traços que descrevem a relação doente com sua dor. Por sofrer dessas várias e essencialmente individuais influências, não se pode traçar uma relação constante e previsível entre a dor e lesão orgânica, apesar de essa relação parecer, geralmente, tão evidente. Há muitas situações onde a relação entre a intensidade da dor e a gravidade de uma lesão não existe, ou a lesão pode ocorrer sem dor ou a dor sem lesão orgânica notável. Observa-se casos, por exemplo, de lesões sem dor onde o valor adaptativo da dor é perdido, porque não se consegue assegurar as reações necessárias para se previnir inflamações e/ou infecções. Pacientes que não sentem dor adicionam frequentemente novas agressões às suas lesões, chegando não raro a mostrar quadros clínicos extremamente graves.” (Oliveira et all, 1997, p. 3).

A dor é resultado de uma transformação de estímulos ambientais que são detectados pelas ramificações periféricas das fibras nervosas e encaminhadas ao cérebro por suas vias mediadoras: a paleo-espinotalâmica (responsável pela reação de defesa e fuga) e a neo-espinotalâmica (que permite a caracterização do local e intensidade da dor - somatotopia).

Definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como “uma experiência sensorial e emocional desagradável que é associada a lesões reais ou potenciais” (SBED, 2014), a dor é um tipo de sofrimento, mas não é o único.

De uma forma didática, propomos que o sofrimento possa ser compreendido sob três aspectos diferentes:

a) O sofrimento da aflição - decorrente do incômodo causado por interações sociais.

b) O sofrimento da angústia - causado pelos transtornos psicológicos que afetam a estabilidade emocional e provocam desconforto afetivo e cognitivo.

c) O sofrimento da dor - decorrente da transformação de estímulos fisiológicos em uma experiência sensorial associada a lesões reais ou potenciais.

À luz do Espiritismo, compreendemos a vida como uma escola de almas. A experiência na matéria é um laboratório de aprendizagem para inscrever no espírito, princípio inteligente do Universo, as leis da natureza. Na medida em que assimila as Leis Naturais, o espírito consolida-se como individualidade e transforma-se em Espírito - individualidade caracterizada pela consciência de Si mesmo e pela capacidade de pensar em Deus.

No trajeto de aprendizado, o Espírito utiliza a experiência, a razão como ferramentas que lhe facilitam o entendimento das leis da vida. Pela experiência, ele faz um mapeamento de como a realidade é e de como ela se comporta. Pela razão, ele desenvolve modelos explicativos que lhe permitem reconhecer e mapear os padrões da lei que apreende e lhe facilitam a interação com estas mesmas leis pelo uso da tecnologia.

Quando a experiência e a razão não são suficientes para o desenvolvimento do entendimento das Leis Morais da Vida, então aparece o sofrimento, como recurso educador. Primeiro na forma de aflição. A aflição apresenta-se como o incômodo social que indica que algo está errado em torno e com o indivíduo. É a primeira oportunidade de identificar que alguma coisa não está indo bem… A segunda manifestação do sofrimento é a angústia. Sintoma de um desequilíbrio psicológico, a angústia se expressa no incômodo interior a indicar que dentro do indivíduo alguma coisa o está alertando para uma mudança de conduta, de ideia, de postura… A terceira manifestação do sofrimento é a Dor. A sua presença indica a necessidade de aprendizado de lições redentoras nas lutas da vida. A dor é um instrumento biológico para sinalizar uma situação de risco à integridade física. O sofrimento é um instrumento da vida para sinalizar uma situação de risco à integridade espiritual do Ser. Mesmo que superado o mecanismo da dor, o sofrimento ainda parece uma necessidade para os que insistem em negligenciar o aprendizado pela razão e pela experiência. Podemos nos aprimorar em nosso entendimento intelectual e moral e ajustar a nossa conduta aos imperativos de equilíbrio perante a vida. Ante o desenvolvimento que a biotecnologia nos oferece, parece correto afirmar: a dor é opcional, o sofrimento, também.

Referências:

OLIVEIRA, C. et all. A dor e o controle do sofrimento. REVISTA DE PSICOFISIOLOGIA, 1(1), 1997. Disponível em http://www.icb.ufmg.br/lpf , acessado em 01/05/2014;

SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA DOR (SBED). 2. Hospital sem dor, diretrizes para implantação da dor como 5º sinal vital. Disponível em http://www.dor.org.br/profissionais/5_sinal_vital.asp , acessado em 30/04/2014;

IYER, Shrivats Mohan, et all. Virally mediated optogenetic excitation and inhibition of pain in freely moving nontransgenic mice. Nature Biotechnology. Vv. 32. Is.3. p 274-278. Nature Publishing Group, a division of Macmillan Publishers Limited. 2014.

  • André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.