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  • Conheça a história do soldado alemão que salvou a vida do inimigo

Ao emparelhar o caça com a aeronave americana, Franz estava pronto para disparar. No entanto, percebeu que o avião inimigo voava com dificuldade e que a tripulação agonizava. Que honra haveria nisso? André Henrique de Siqueira comenta.

  • Data :25 Dec, 2013
  • Categoria :

26 de dezembro de 2013

Honra na Guerra – Conheça a história do soldado alemão que salvou a vida do inimigo

Marcel Verrumo

Inglaterra, 20 de dezembro de 1943.

Do campo de aviação RAF Kimbolton, o bombardeiro B-17, da Força Aérea dos Estados Unidos, decolou com a missão de bombardear uma fábrica de aviões em Bremen, na Alemanha. A aeronave carregava 10 tripulantes, comandados pelo tenente Charlie L. Brown. Em poucos minutos, a missão obteve êxito, mas nem tudo saiu como o previsto: tropas alemãs atiraram contra o avião estadunidense, matando o artilheiro, ferindo outros seis tripulantes e destruindo dois motores do avião. Charlie, à frente do grupo e no comando, perdeu a consciência momentaneamente e o veículo começou a perder altitude. Quando recuperou os sentidos, o tenente estabilizou a aeronave, mas percebeu que estava sendo seguido por um caça alemão. Com a tripulação ferida e partes do avião destruídas, não havia o que fazer além de seguir. Sair vivo seria uma questão de sorte.

Mas ele conseguiu. E 4 décadas depois, revelou o que aconteceu.

Em vez de disparar e derrubar a aeronave americana, o piloto inimigo posicionou o caça paralelo a ela, gesticulando. Percebendo que seu inimigo não iria atirar, Charlie ordenou à tripulação que aumentasse a altitude. O grupo se salvou, o avião aterrisou na Inglaterra, e o tenente nunca deixou de se questionar porque o alemão não havia atirado.

Em 1987, Brown foi atrás do homem que poupou sua vida. Pagou a publicação de um anúncio em uma revista de pilotos de combate, dizendo: “Estou buscando o homem que salvou minha vida em 20 de dezembro de 1943.” Recebeu um telefonema. Era Franz Stigler, o piloto alemão. Três anos depois, os dois se conheceram e Charlie, finalmente, teve uma resposta para sua pergunta: “por qual razão você não atirou?”

Franz contou que, ao emparelhar o caça com a aeronave americana, estava pronto para disparar. No entanto, percebeu que o avião inimigo voava com dificuldade e que a tripulação agonizava. Que honra haveria em derrubar um avião nessas condições?

Stigler não era um novato em guerras. Havia servido na África, sob o comando do tenente Gustav Roedel, que, segundo ele, lhe ensinou que, para sobreviver moralmente a uma guerra, era preciso combater com honra e humanidade; se isso não fosse feito, não conseguiriam conviver consigo mesmo ao voltar para casa. Era uma lição que não estava escrita em nenhum lugar, mas o código que guiou Franz e salvou os pilotos estadunidenses naquele 20 de dezembro de 1943.

Os dois pilotos, antes inimigos, tornaram-se colegas e trocaram correspondências por anos. Em 2008, com seis meses de diferença, ambos morrerem. Franz Stigler tinha 92 anos; Charlie Brown, 87.

Fonte: Historias de la Historia

Notícia publicada na Revista Superinteressante , em 28 de janeiro de 2013.

André Henrique de Siqueira comenta*

Honra na Guerra

Sócrates — Certo. Agora, a quem e o que dá a arte que chamamos de justiça?

Polemarco — De acordo com o que afirmamos anteriormente, ela dá benefícios aos amigos e prejuízo aos inimigos.

A República - Livro I

A Républica é uma das mais notáveis obras da literatura mundial. Nesta obra, escrita 400 anos AC, Platão descreve um programa de constituição de uma ordem social baseada na Justiça. É natural, portanto, que suas primeiras dicussões pretendam identificar um conceito sobre o que seja a Justiça.

Distanciados no tempo da atmosfera de reflexões suscitadas por Sócrates, verificamos ainda que a problemática da Justiça permanece no centro de nossas necessidades. Ainda nos sentimos atraídos pela conceituação de Polemarco, filho de Céfalo, de dar aos amigos o benefício e aos inimigos o prejuízo. A palavra amigo tem sua origem no termo amicus, no latim. Em latim, o sufixo icus é utilzado para formar adjetivos, quando adicionada ao substantivos ou verbo, é um equivalente ao nosso sufixo “ável”. Amicus, de ama+icus, significa amável, aquele por quem nutrimos amor, em quem sentimos confiança. Inimicus, ou inimigo, é o seu antônimo, aquele po quem não sentimos amor, aquele em quem não confiamos. Ao longo do tempo, o termo inimigo ganhou a extensão de significar todo aquele por quem sentimos sentimentos negativos, como ódio, desprezo, etc.

A guerra é um estado social que divide os grupos humanos em amigos e inimigos, e invoca em seu desenvolvimento o conceito de Justiça de Polemarco: benefícios aos amigos e prejuízo aos inimigos.

Sócrates insiste que a verdadeira Justiça não depende de a quem ela se aplica, depende de quem a pratica. O homem justo pratica a Justiça. Jesus insiste na necessidade de revisão do conceito de justiça: “Ouviste ou que foi dito pelos antigos: Amarás aos que vos amam e odiarás (não amarás) os que vos odeiam (os que não vos amam).” - correspondendo ao conceito de Justiça de Polemarco, mas acrescenta: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e fazei o Bem (o que é Justo) mesmo àqueles que vos perseguem e caluniam”.

A Justiça está baseada em duas categorias de Leis: a phisis (a lei da natureza) e a nomos (a lei arbitrária, aquela que é estabelecida pelos legisladores para o ordenamento das relações sociais.

No Espiritismo, aprendemos que as Leis Naturais não são apenas aquelas que regulam as relações físicas entre os elementos gerais do universo, mas que ao lado destas existem as Leis Morais, igualmente naturais. A Justiça é uma lei natural que se aplica a todos de igual forma. A sociedade evolui quando sua legislação aproxima-se das Leis Naturais que se aplicam a todos em igualdade de condições.

Amar os nossos inimigos é buscar aplicar para eles a mesma justiça que pretendemos para os nossos amigos. Pelo simples fato de ser justo, pois este é o significado da Justiça, para que as coisas sejam como elas devem ser para o benefício de todos.

  • André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.