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O importante, segundo pesquisadores em genética da Universidade de Washington, são os genes que comandam um tumor, não o tecido ou o órgão – como fígado, cérebro ou medula óssea – onde o câncer se origina. André Henrique de Siqueira comenta.

  • Data :19/06/2013
  • Categoria :

29 de junho de 2013

Mapeamento genético aprimora e individualiza tratamento de câncer

O importante, segundo pesquisadores, são os genes que comandam um tumor, não o tecido ou o órgão – como fígado, cérebro ou medula óssea – onde o câncer se origina

The New York Times

O fato de um pesquisador em genética da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, ter desenvolvido uma forma rara de leucemia fez com que uma nova linha de tratamento de câncer fosse descoberta. Pesquisadores em genética da mesma universidade, considerada um dos principais centros de trabalho com o genoma humano do mundo, ficaram devastados ao descobrir que o médico Lukas Wartman, um colega jovem, talentoso e querido, desenvolveu justamente o câncer sobre o qual passou toda sua carreira pesquisando.

Não havia nenhum tratamento para salvá-lo e ninguém havia feito o mapeamento genético completo desse tipo de câncer. Até que em julho de 2011 o doutor Timothy Ley, diretor do instituto de genoma da universidade, reuniu sua equipe e resolveu usar todo o seu conhecimento e o que tinham à disposição para encontrar o gene que estava estimulando o câncer de Wartman – a leucemia aguda linfoblástica. “É agora ou nunca. Nós teremos uma única chance”, disse ele, que tinha consciência de que a doença evoluía rapidamente.

A equipe de Ley fez um tipo de análise que nunca havia feito antes. Eles descreveram a sequência completa tanto das células cancerígenas quanto das saudáveis do corpo de Wartman. Ao mesmo tempo analisaram o seu RNA – para encontrar pistas sobre o que os genes dele estavam fazendo.

E eles encontraram um culpado – um gene normal que estava produzindo enormes quantidades de uma proteína que parecia estar estimulando o crescimento do câncer.

E foram além: descobriram que já havia uma nova droga promissora que poderia “desligar” o gene que estava trabalhando de forma errada – uma droga que tinha sido testada e aprovada somente para tratar um câncer avançado de rim. Wartman se tornou a primeira pessoa com leucemia a tomá-la.

Agora, contra todas as probabilidades, o câncer está em remissão e tem estado assim desde o fim de 2011. Mesmo que ninguém possa dizer que Wartman está curado, depois de encarar a morte certa no ano passado, ele está vivo e se sentindo muito bem. É o pioneiro em uma nova forma de parar o câncer. O importante, segundo os pesquisadores, são os genes que comandam um câncer, não o tecido ou o órgão – como fígado, cérebro, medula óssea, sangue ou cólon – onde o tumor se origina.

O câncer de mama de uma mulher, por exemplo, pode ter comandos genéticos diferentes do tumor de mama de outra pessoa. Na verdade, ele pode ter mais em comum com o câncer de próstata de um homem ou com o câncer de pulmão de outro paciente.

Com essa nova abordagem, pesquisadores esperam que o tratamento seja adaptado para as mutações do tumor de cada indivíduo, com drogas que atinjam uma série de genes defeituosos de uma vez. Os coquetéis de medicamento seriam análogos aos do tratamento para HIV, que usa várias drogas diferentes de uma única vez para atingir o vírus em numerosas áreas críticas.

Uma vida pela Medicina

Durante a faculdade de Medicina, o oncologista Lukas Wartman se apaixonou pelo estudo do câncer – aquele que atacava o sangue lhe interessava em particular. Só não imaginava que, em 2003, ano de sua formatura, receberia aos 25 anos o diagnóstico de leucemia, doença que tanto o fascinava. Foram 24 meses de quimioterapia enquanto fazia a residência. Cinco anos após a suposta cura, o câncer voltou. Ele então fez novas sessões de quimioterapia e passou por um transplante de medula, mas, sete meses depois, o câncer voltou, pela segunda vez, quando o médico descobriu que o remédio para câncer de rim pode curá-lo. Agora, deposita no medicamento a última esperança de sobreviver e voltar a fazer o que sempre amou: desvendar os mecanismos da leucemia sem o medo de, mais dia, menos dia, ser vencido por ela.

Sequenciamento ainda é caro e inacessível

Os pesquisadores divergem sobre quando o método, conhecido como sequenciamento completo do genoma, estará disponível para todas as pessoas e pago pelos planos de saúde – as estimativas variam de poucos anos a uma década ou mais. Eles acreditam que o mapeamento é uma enorme promessa, embora ainda não tenha curado ninguém.

Com uma queda abrupta nos custos do sequenciamento genético e na explosão da pesquisa com genes, médicos esperam que análises genéticas de cânceres se tornem rotina. “Até se descobrir o que está comandando o câncer de um paciente, realmente não existe nenhuma chance de acertar”, disse doutor Timothy Ley, diretor associado do instituto de genoma da Universidade de Washington.

Por enquanto, o sequenciamento do genoma completo é complexo e ainda engatinha. As sequências genéticas estão somente no começo – elas vêm em bilhões de pequenos pedaços, como um enorme quebra-cabeças.

Até o momento, a maioria dos pacientes que escolheram esse caminho é rica e bem influenciada. Quando Steve Jobs esgotou suas opções de combate contra o câncer de pâncreas, ele consultou médicos que coordenaram o seu sequenciamento genético e o analisaram. Isso custou 100 mil dólares.

A Escola de Medicina de Harvard espera oferecer o sequenciamento completo do genoma para ajudar pacientes com câncer a identificar tratamentos, segundo Heidi L. Rehm, que lidera o laboratório de Medicina Molecular em Harvard. Ainda neste ano, eles darão um passo mais modesto, oferecendo a sequência completa do genoma a pacientes com suspeita de desordem hereditária, na esperança de identificar mutações que podem estar causando a doença.

Colaborou Vanessa Fogaça Prateano, tradução: Kamila Mendes Martins

Notícia publicada na Gazeta do Povo , em 24 de setembro de 2012.

André Henrique de Siqueira comenta*

Em 4 de setembro de 2007, o pesquisador Sam Levy publicou a primeira sequência completa do Genoma de um ser humano. Contendo seis bilhões de letras, a sequência do genoma pertencia ao Dr. Jonh Craig Venter. O Dr. Venter foi o cientista chefe do Projeto Genoma Humano (PGH), um projeto que consistiu “num esforço internacional para o mapeamento do genoma humano e a identificação de todos os nucleótidos que o compõem."(1) Resultado de um consórcio internacional, o Projeto Genoma Humano foi desenvolvido em 17 países (Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, República Popular da China, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, México, Países Baixos, Reino Unido, Rússia e Suécia) a um custo de 3 bilhões de dólares americanos, aproximadamente 6,5 bilhões de reais. Para se ter uma ideia, o projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica entre 1940 e 1942, custou 76 milhões de dólares americanos. Acreditava-se que o mapeamento da posição de cada gene e sua composição, poderia servir para fazer diagnóstico e desenvolver a cura de muitas doenças. A empresa Celera, um empreendimento criado pelo Dr. Venter, foi responsável pelo mapeamento de 6500 genes e requereu a patente deles, o que gerou um problema para a produção e uso de medicamentos gerados a partir destes mapas. Em 25 de junho de 2000, o então presidente dos Estados Unidos da América, o primeiro ministro britânico Tony Blair e acompanhados pelos doutores Francis Collins e Craig Venter anunciaram a conclusão do sequenciamento do genoma humano: “O anúncio de hoje representa o início de uma nova era da medicina genética. Decodificar o genoma humano nos conduzirá a novas formas para prevenir, diagnosticar, tratar e curar doenças” - diz o pronunciamento.(2)

Dez anos depois, em 2010, o New York Times fez uma análise sobre os impactos do projeto sobre os avanços da medicina.(3) Os resultados não pareciam muito satisfatórios. “A genômica é um caminho para a Ciência, não para a Medicina” - afirmou Harold Varmuns, presidente do Memorial SLoan-Kettering Cancer Center e diretor do Nacional Cancer Institute, em Nova Iorque. O projeto Genoma, que foi desenvolvido entre 1989 e 2000, recebeu muitas críticas devido ao alto valor dos custos envolvidos e aos poucos resultados derivados dele no campo da Medicina. O artigo no New York Times conclui sua avaliação com um ar de profunda desconfiança: “A medida que mais pessoas tenham seus genomas decodificados, as causas de doenças genéticas devem ser eventualmente compreendidas, mas neste ponto não existe nenhuma garantia de que um tratamento possa ser desenvolvido. Se as doenças comuns são causadas por um conjunto de variações genéticas raras isto não deve ser passível de tratamento por remédios. A única resposta honesta é que não há um modo para garantir isto. Podemos preferir ser um otimista ou um pessimista, mas a melhor abordagem é sermos empiristas."(3)

E os experimentos empíricos continuam.

A ideia de que o corpo humano é completamente definido pela constituição genômica foi, de certo modo, descartado. Ainda existem muitos aspectos que precisam ser esclarecidos, mas a contribuição do mapeamento genético tem se mostrado efetiva na prevenção de alguns problemas, como é o caso do oncologista Lukas Wartman, que se identificou com uma rara forma de leucemia(4) e se submeteu a um experimento de desenvolvimento de fármacos por parte da equipe do doutor Timothy Ley, diretor do instituto de genoma da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

A ideia de que o corpo humano é uma máquina foi desenvolvida originalmente pelo francês Julien Offray de La Mettrie, em 1748.(5) A intenção original do projeto Genoma era mapear toda a sequência do genoma humano e, a partir disto, seria possível comprovar o modo como os genes poderiam determinar todas as características do corpo humano e interferir no modo como ele é constituído, mantido e recuperado. Ficaria provado que o corpo é uma máquina.

Mas não parece ser tão simples assim…

O Espiritismo, acompanhando o progresso científico, tem interesse na relação entre os genes e o corpo humano, pois é a partir dele que se pode observar a constituição do nosso mais valioso instrumento de progresso espiritual. O tema é mesmo antigo no âmbito dos estudiosos espíritas. No capítulo 12, do livro Missionário da Luz,(6) André Luiz narra a sua visita no mundo espiritual ao Departamento de Planejamento da Reencarnação e, a certo momento da descrição, descreve o amigo espiritual tomado de surpresa: “Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena.”

Vale a pena destacar que “os pequenos mapas de formas orgânicas” referem-se ao plano para as futuras organizações físicas dos reencarnantes - e isto descrito em 1945!!! Certamente por isto, André Luiz pergunta: – “E a lei da hereditariedade fisiológica?” Para receber a esclarecedora resposta de Alexandre, o instrutor espiritual: – “Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral. Além do mais,  quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços “intercessórios”, as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção.” E mais adiante completa: “(…) o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a extensão de semelhante débito.”

O corpo é a nossa herança das eras de burilamento que se inscreve em nossa história genética e que sofre, igualmente, a interferência da nossa constituição espiritual. Somos Espíritos individualizados que retornam à experiência corporal para a continuidade de nossos esforços no progresso intelecto-moral. A grande contribuição do Espiritismo foi descortinar a realidade espiritual como fator de relação com a realidade material. Não se trata de uma anomalia da natureza. O Espírito é uma potência natural. Ao lado dos progressos do conhecimento científico esperamos o engendramento dos interesses sociais pela construção do amor e da verdade como fundamentos da justiça. A intervenção do conhecimento na possibilidade de corrigir as doenças é a realização moderna do elixir da eternidade. Mas o corpo é um instrumento, uma habitação transitória que embora mereça toda a nossa atenção e cuidado não resume a extensão daquilo que somos.

Os requisitos empiristas permanecem. Precisamos da continuidade das pesquisas para compreender a essência de nossa natureza e o conhecimento derivado deste esforço se transformará em arsenal tecnológico para a melhoria de nossa qualidade de vida. Entretanto é preciso incluir no rol de nossos interesses o aspecto espiritual pois é isto que nós somos: Espíritos encarnados em corpos.

Referências

  1. http://en.wikipedia.org/wiki/Craig_Venter >;

  2. http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/project/ clinton1.shtml >;

  3. http://nytimes.com/2010/06/13/health/research/13genome.html?pagewanted=all&_r=0 >;

  4. http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1300380&tit=Mapeamento-genetico-aprimora-e-individualiza-tratamento-de-cancer >;

  5. http://www.earlymoderntexts.com/pdf/mettmanm.pdf >;

  6. XAVIER, F. Missionários da Luz (André Luiz, espírito). Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1935.

  • André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.