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Segundo estudo publicado na revista Nature, crânios fossilizados mostram que pelo menos três espécies distintas pertencentes ao gênero Homo existiram entre 1,7 milhão e 2 milhões de anos atrás, estabelecendo um debate na paleoantropologia. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :01/11/2012
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3 de novembro de 2012

Fósseis apontam para uma grande família de ancestrais humanos

Crânios fossilizados mostram que pelo menos três espécies distintas pertencentes ao gênero Homo existiram entre 1,7 milhão e 2 milhões de anos atrás, estabelecendo um longo debate na paleoantropologia.

Por Matt Kaplan - The New York Times News Service/Syndicate

Um estudo publicado na revista Nature centra-se na espécie Homo rudolfensis, um hominídeo com uma face relativamente plana, que foi primeiramente identificado por um único grande crânio em 1972. Vários outros fósseis de grandes crânios têm sido vinculados à espécie desde então, mas nenhum deles possuía face e maxilar inferior. Essa tem sido a problemática: na paleoantropologia, faces e mandíbulas são como impressões digitais para a identificação de um espécime em uma espécie particular (o que é indicado pela segunda palavra na classificação taxonômica de Lineu, tal como “rudolfensis”), em oposição ao agrupamento por gênero, que é mais amplo (a primeira palavra, como ‘Homo’).

Sem crânios completos, tem sido difícil chegar a um consenso sobre se os espécimes atribuídos à espécie H. rudolfensis são genuinamente membros de uma espécie distinta, ou se pertencem a outras espécies de Homo que viveram na mesma época, como o Homo habilis ou Homo erectus. Compreender quantas espécies diferentes de Homo havia, e se elas viviam na mesma época, ajudaria a determinar se o histórico da linhagem humana passou por uma concorrência feroz entre múltiplos hominídeos, ou se as espécies sucederam uma à outra continuamente.

Mas o resultado mais recente dissipou grande parte dessa incerteza. Trata-se de três fósseis – duas mandíbulas inferiores e a parte inferior da face de um jovem – que foram encontrados em uma área desértica chamada Koobi Fora, no norte do Quênia. A equipe que os tirou do solo, liderada por Meave Leakey, paleontóloga do Instituto Bacia Turkana, em Nairóbi, descreve como a arcada dentária, o arco criado pelos dentes da frente da boca, é quase retangular, assim como a estrutura do palato do crânio de 1972. Em contraste, a boca do humano moderno médio tem uma arcada dental curvada.

Outra evidência vem da face do juvenil, onde os ossos se juntam ao palato muito mais à frente. “Foi uma grande emoção quando a face juvenil emergiu lentamente da rocha em que estava confinada, e sua semelhança com o espécime de 1972 foi muito marcante”, lembra Leakey.

No entanto, em muitos aspectos, os resultados da equipe geraram mais perguntas que respostas.

Um outro conhecido espécime com mandíbula, apelidado KNM-ER 1802 e amplamente considerado como um indivíduo pertencente à espécie H. rudolfensis, parece ter uma arcada dentária mais arredondada do que a desses últimos fósseis. O fato levou Leakey e seus colegas a propor que o espécime KNM-ER 1802 pertence a uma espécie diferente do gênero Homo – possivelmente H. habilis. Mas até que mais ossos da espécie H. habilis sejam encontrados, a equipe não pode ter certeza. ‘Pode ser um Homo habilis, mas também pode ser outra espécie’, disse Bernard Wood, paleontólogo da Universidade George Washington, em Washington, Distrito de Colúmbia.

Com até quatro espécies Homo (H. rudolfensis, H. habilis, H. erectus e o que quer que seja o KNM-ER 1802) coexistindo em um período da história evolutiva, os pesquisadores estão se perguntando como diferentes hominídeos se comportaram na companhia um do outro.

‘Como a datação geológica é muito imprecisa, ainda não podemos ter total certeza de que essas espécies estavam nos mesmos lugares ao mesmo tempo’, disse Wood. “Mesmo assim, é perfeitamente possível que eles tenham interagido – e se isso aconteceu, será que não gostaríamos de saber como eram essas interações?”

No entanto, Tim White, paleontólogo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, afirma que Leakey e seus colegas estão colocando a carroça na frente dos bois. ‘Como profissionais dessa área esperam ser capazes de identificar com precisão as espécies de fósseis baseados somente em alguns dentes, mandíbulas e partes inferiores da face, diante do que sabemos sobre a grande variação encontrada entre diferentes indivíduos de uma só espécie?’, pergunta ele.

Leakey mantém sua posição. ‘Eu desafio Tim a encontrar qualquer primata com os mesmos graus de variação que estamos vendo entre os nossos novos fósseis e o KNM-ER 1802,’ ela responde.

Notícia publicada em The New York Times .

Cristiano Carvalho Assis comenta*

Quando lemos a reportagem, ficamos a perceber que a ciência ainda necessita de muitos elos para decifrar por completo a história e evolução dos nossos ancestrais. E sabemos o quanto é lento e dependente de um processo incerto. Imaginemos a dificuldade de encontrar fósseis escondidos na porção profunda do planeta Terra. E, após isso, não ultrapassar o limite do bom senso com o pouco que encontramos.

A presença de poucos exemplares para justificar espécies distintas coexistindo parece ser uma conclusão por demais apressada. Pode até ser verdadeira, no entanto, há necessidade de maiores pesquisas e descobertas para embasar todas essas conclusões. Caso contrário, seremos cegos guiados por outros cegos empolgados, chegando a cair mais cedo ou mais tarde no buraco da verdade. Há a necessidade de um universo bem maior de ossos para se chegar à verdade e concluir se as ideias apresentadas estão certas, se são de uma mesma espécie com diferença de gêneros, ou espécies de épocas distintas.

É mais ou menos o que ocorre no Espiritismo, atualmente. Há muito que se descobrir do plano espiritual e no desenvolvimento das ideias espíritas, mas muitos estão empolgados em tirar por base apenas comunicações de um espírito por apenas um médium, ou de alguns espíritos por vários médiuns, vindo apenas de um Centro Espírita. E deles considerar novas bases de conhecimentos e buscando implantar esses novos conceitos nos Centros Espíritas e nos postulados da Doutrina Espírita.

Muitas editoras, médiuns e alguns Centros Espíritas deixaram de utilizar o Controle Universal do Ensino dos Espíritos (O Evangelho Segundo o Espiritismo , Introdução, item II), que deveria ser lido e aprendido por todos nós espíritas e que foi desenvolvido por Allan Kardec para analisar as mensagens mediúnicas:

“A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no entanto, que ela se dê em determinadas condições. A mais fraca de todas ocorre quando um médium, a sós, interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que, se ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade que apresente o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo centro, porque podem estar todos sob a mesma influência.

Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.”

Percebamos que este Controle Universal não funciona apenas para comunicações de espíritos desencarnados, mas também para as dos encarnados na figura de cientistas, religiosos, jornalistas, escritores, ou seja, em qualquer tipo de formadores de opinião.

Muitos estão se equivocando com falsos conceitos e divulgando apressadamente antes de comprovar sua veracidade ou esperar a comprovação de suas ideias por outras pesquisas (no meio cientifico) ou por outros Centros Espíritas e médiuns sérios do mundo todo (no meio espiritista). Sigamos o conselho de Allan Kardec:

“Também ressalta que as instruções dadas pelos Espíritos sobre os pontos ainda não elucidados da Doutrina não constituirão lei, enquanto essas instruções permanecerem insuladas; que elas não devem, por conseguinte, ser aceitas senão sob todas as reservas e a título de esclarecimento. Daí a necessidade da maior prudência em dar-lhes publicidade; e, caso se julgue conveniente publicá-las, importa não as apresentar senão como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, porém, carecendo sempre de confirmação. Essa confirmação é que se precisa aguardar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, a menos se queira ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.”

O mesmo poderíamos aconselhar aos cientistas da reportagem e ao atual Espiritismo. Tenhamos cautela, discernimento e utilização da razão com humildade. Fazendo isso, normalmente nos livraremos de situações vexatórias que não haveria necessidade de passar. No entanto, nossa vaidade e orgulho, às vezes, querem falar mais alto para conseguirmos destaque no meio em que vivemos.

Procuremos não ser do grupo dos equivocados. Se não formos, não nos preocupemos. “Os conflitos que daí decorrem são consequência inevitável do movimento que se opera; eles são mesmo necessários para maior realce da verdade e convém se produzam desde logo, para que as ideias falsas prontamente sejam postas de lado. Os espíritas que a esse respeito alimentassem qualquer temor podem ficar perfeitamente tranquilos: todas as pretensões insuladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do enorme e poderoso critério da concordância universal.” A verdade sempre imperará por cima de qualquer modismo, “as últimas descobertas” do plano espiritual ou sobre a vaidade dos homens, se tivermos por base o conselho dado por Emmanuel a Chico Xavier: “Se algum dia, eu disser algo diferente do que disse Jesus e Kardec, fique com Eles e abandone-me.”

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.