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Pesquisa desenvolvida no Hospital São Francisco, do Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, mostra a relação entre a medicina e a espiritualidade. O estudo foi feito com 260 pacientes; 84% acredita que fé faz bem à saúde. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :16/10/2012
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20 de outubro de 2012

Pesquisa feita no RS mostra relação entre medicina e espiritualidade

Estudo foi feito com 260 pacientes; 84% acredita que fé faz bem à saúde. Quem vê doença como ‘castigo’ tem menos chance de cura, diz pesquisa.

Roberta Salinet Da RBS TV

Uma pesquisa desenvolvida por dois médicos no Hospital São Francisco, do Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, mostra a relação entre a medicina e a espiritualidade. No levantamento feito com 260 pacientes desde maio deste ano, a conclusão foi que a fé tem influência no tratamento de doenças. Os números da primeira fase do estudo serão apresentados no 67º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que será realizado de 14 a 17 de setembro em Recife (PE).

“Nós temos a presença de Deus no nosso dia a dia. Eu tenho inúmeras histórias na minha vida de cirurgião cardíaco em que a gente sente a presença de Deus”, diz o cirurgião cardiovascular Fernando Lucchese, que é católico. Ele e o cardiologista Mauro Pontes, seu parceiro na pesquisa e espírita, fazem parte de uma parcela de pesquisadores que crê em Deus. “Milagre para nós é quase que um fato diário”, diz Pontes.

Na primeira etapa, o estudo conduzido pelos dois médicos procurou saber o que os doentes e médicos pensam sobre a espiritualidade e perceber como a religião ajuda a superar as doenças. Entre os 260 pacientes ouvidos, todos disseram que acreditam em Deus. Quando questionados sobre a crença na vida depois da morte, 71,1% dos participantes da pesquisa disseram acreditar. Quando se cruzam as perguntas sobre religião e saúde, fica evidente a importância da espiritualidade: mais de 84% acredita que ter fé faz bem à saúde e 88,2% usa a fé como conforto na doença.

“Eu sempre tive fé, desde o ambiente familiar me criei com fé. Respeito Deus, gosto de Deus, acredito em Deus, tenho fé em Deus”, diz Antônio Gilberto Lehnen, que passou por um transplante de coração há 10 anos. “Eu devo a minha saúde a duas situações. Uma é a competência médica, a ciência. De outro lado está a oração, muita oração”, conta ele, que é um dos pacientes de Lucchese.

Para surpresa dos pesquisadores, mais da metade dos pacientes gostaria que o médico falasse sobre espiritualidade. Mais de 70%, no entanto, diz que o médico nunca falou sobre o assunto. Outro dado chamou a atenção dos médicos: 16% dos pacientes acham que a doença é um castigo de Deus.

“Eles têm a crença de que o comportamento deles foi inadequado. Acham que tiveram culpa pelo desenvolvimento da doença e acham que Deus está punindo eles por causa desse comportamento”, explica Pontes. Esses pacientes, diz o cardiologista, têm um índice de mortalidade 50% maior, mas o motivo ainda não foi descoberto. “O mecanismo que associa essa crença com o aumento da mortalidade ainda está sendo esclarecido”, conclui.

Outro aspecto que está sendo estudado é a influência do comportamento e do estado de espírito dos pacientes na cura. “Estamos chegando progressivamente à bioquímica das doenças da alma. Por exemplo, um sujeito que é raivoso, explosivo, a gente não pode dizer que seja doente mental, ele tem uma doença da alma, a raiva”, diz Lucchese.

Por meio de exames de sangue, foi verificado que as pessoas raivosas têm maior nível de interleucina 6 no sangue. “Nós somos corpo, mente e espírito. Nestes indivíduos se detectou que no sangue deles há um produto em nível mais alto, que é chamado marcador de inflamação. É a interleucina 6, proteína C reativa ultrassensível, são marcadores que indicam no organismo alguma coisa que vá nos levar à doença”, explica o médico.

Por outro lado, há estudos demonstrando que em comunidades religiosas os integrantes têm índices mais baixos de interleucina 6 no sangue. “Nossa próxima fase na pesquisa será exatamente isso. Estudar a bioquímica nos procedimentos cardiovasculares”, conclui.

Notícia publicada no Portal G1 , em 10 de setembro de 2012.

Breno Henrique de Sousa comenta*

Medicina e espiritualidade

Nas últimas décadas, cresceram exponencialmente o número de estudos que relacionam espiritualidade e saúde. Esses estudos apontam para os benefícios da vivência espiritual em nossas vidas, quer seja através de uma religião formal ou não.

Algumas conclusões, ainda que inicialmente óbvias, escondem reflexões importantes aos menos atentos. Parece-nos claro que ter algum tipo de fé ou explicação sobrenatural para os desafios e ameaças da vida nos faz pessoas mais tranquilas, por acreditar que tudo o que acontece tem um sentido. As pessoas que têm fé e confiança na vida são, por isso, mais tranquilas, se estressam menos e, consequentemente, desfrutam de melhor saúde.

Cabe aqui refletir que os benefícios “físicos” para a saúde, advindos da religião, não estão vinculados a nenhuma religião específica, ou seja, pesquisas dessa natureza são feitas em todo o mundo, com pessoas de todas as religiões. Esse fato sinaliza que nenhuma religião cura mais que outra. Os seus benefícios, pelo menos no que se refere ao aspecto da saúde, se nivelam, ou, diria melhor, dependem antes da fé do sujeito do que da denominação religiosa que ele professa. Como dizia Jesus: “A tua fé te curou”.

Ainda vou mais além, e sou capaz de afirmar que muitos dos que se dizem religiosos o são apenas formalmente, sem que suas crenças particulares os tornem pessoas mais otimistas e saudáveis, Da mesma forma, um outro que não tem religião, que se afirma agnóstico, ou mesmo ateu, pode trazer em si um patrimônio espiritual que lhe permite ser uma pessoa tranquila e, por consequência, saudável. Essas duas situações me parecem, no entanto, menos frequentes. Pelo menos é o que apontam a maioria dos estudos desse gênero, que evidenciam que a religião é um poderoso auxiliar da saúde física e mental.

Uma falsa conclusão desses estudos é a de que eles são uma prova da existência de Deus ou da vida espiritual. Não o são. Essa é uma conclusão forçada e baseada nas expectativas daqueles que creem na vida espiritual. Antes, esses estudos revelam os benefícios pessoais de uma crença sobre a saúde de alguém, sem, contudo, confirmar se essas crenças são falsas ou verdadeiras. De outra maneira, não faria sentido que as pessoas sejam igualmente beneficiadas por ter uma fé, mesmo quando cada um acredita em doutrinas e religiões diferentes e até mesmo discordantes.

Ainda assim os resultados são uma resposta àqueles que dizem que as religiões trouxeram apenas malefícios para a humanidade, quando essa é uma afirmação muito distante da verdade. As instituições religiosas trouxeram, sim, muitos malefícios ao longo da história, mas também proporcionaram, dentre outros, o benefício da fé, e essa é uma evidência mensurada e palpável desse benefício.

Os céticos criticam esses estudos dizendo que eles não cumprem com o rigor da ciência, utilizando metodologias como as provas em duplo cego e, de fato, alguns não o são, não por falta de honestidade, competência e conhecimento dos pesquisadores, como supõem a maioria, mas por falta de financiamentos em função dos preconceitos dominantes nas agências de fomento que possuem visão reducionista e materialista. Alguns estudos, porém, cumprem a todas essas exigências, sendo ignorados pela maioria ou tratados com o silêncio e a indiferença.

Dizem também os céticos que os benefícios da religião são meramente psicológicos e não por uma causa divina. Que poderiam ser substituídas por qualquer outro tipo de crença que oferecesse os benefícios da tranquilidade. Aqui é preciso separar com a lâmina da razão. É verdadeiro afirmar que existem benefícios psicológicos, mas é uma presunção afirmar que esses benefícios são “apenas” psicológicos. Cabe aqui refletir que em toda a sua existência o materialismo não ofereceu nada no sentido de tornar as pessoas mais tranquilas, bondosas, perseverantes e esperançosas. Tudo o que o materialismo propõe é o nada, o niilismo, a destruição de qualquer forma de crença, deixando o vazio existencial como proposta do que “acredita” ser a realidade. E aqui eu destaco a palavra “acredita” para frisar que isso se trata de uma crença materialista, sem nenhuma comprovação científica e, como crença, não vale mais do que qualquer outra.

É possível outra suposição ao invés daquela que diz que o ser humano é pré-disposto a crer em coisas espirituais pelo seu medo existencial ou pela necessidade mental programada pela natureza de dar sentido as coisas que não tem sentido. De outra maneira, acredito sim, que essa predisposição seja antes uma bússola que Deus nos colocou, que nos permitiu chegar até aqui e nos permitirá seguir ao seu encontro.

Ainda não é aqui que temos a prova da existência de Deus e da imortalidade da alma, mas aquele que busca essas evidências encontrará no Espiritismo um poderoso auxiliar. Os fatos da mediunidade são muito contundentes e têm resistido aos ataques inócuos dos críticos ao longo dos tempos. Não faltarão respostas aos que buscam sincera e desinteressadamente.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.