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  • 76% das famílias adotivas só querem meninas brancas de até 3 anos

As cerca de 26,938 famílias que estão na fila de adoção restringem de tal forma sua procura, que apenas 3,6% das crianças se encaixam no perfil buscado pela maioria dos pais adotivos, o que dificulta o processo de adoção. Reinaldo Monteiro Macedo comenta.

  • Data :01/08/2011
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76% das famílias adotivas só querem meninas brancas de até 3 anos

As cerca de 26,938 famílias que estão na fila de adoção restringem de tal forma sua procura, que apenas 3,6% das crianças se encaixam no perfil buscado pela maioria dos pais adotivos

Redação ÉPOCA, com Agência Brasil

76% dos inscritos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) querem adotar apenas crianças brancas, do sexo feminino e menores de 3 anos de idade. As cerca de 26.938 famílias que estão na fila de adoção restringem de tal forma sua procura, que apenas 3,6% das crianças se encaixam no perfil buscado pela maioria dos pais adotivos, o que dificulta o processo de adoção.

Segundo o CNA, existem hoje no Brasil 4,583 crianças e adolescentes vivendo em abrigos, a grande maioria fora do perfil mais procurado. Para contornar a questão, a organização não governamental (ONG) Aconchego e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República lançaram uma campanha com histórias bem-sucedidas de homens e mulheres que acolheram crianças que não se encaixam nesse perfil.

É o caso da bancária Rita Cássia da Rocha, de 46 anos. Há quatro anos ela adotou Patrícia, que à época tinha 5 anos e é negra. A menina também tinha um problema de saúde, a síndrome do alcoolismo fetal, causado pelo abuso de álcool cometido pela mãe biológica durante a gravidez.

Rita conheceu Patrícia ao participar de um projeto da ONG Aconchego com crianças que vivem nos abrigos do Distrito Federal. “Desde que a gente se conheceu, o amor foi crescendo e aí a gente resolveu que ia passar por cima de todas as dificuldades, até financeiras, e adotá-la. Sempre quisemos adotar uma menina e pensamos em dar uma chance a uma criança que tinha menos chances de ser adotada”, afirma Rita.

Assim como Patrícia, muitas outras crianças na espera de uma família adotiva têm algum problema de saúde (21,5%), embora poucas famílias tenham a disponibilidade para aceitar filhos com essas condições.

“As pessoas têm a ilusão que podem controlar o desenvolvimento e o crescimento da criança se acompanhá-la desde bebê. Mas a gente não tem essa certeza com filho biológico. Ninguém garante que um filho acompanhado desde o início não terá dificuldades lá na frente, não vai desenvolver uma patologia”, afirma Soraya Pereira, presidente da ONG Aconchego.

Apesar disso, Soraya acredita que o perfil da família adotiva esteja mudando. “Hoje, as pessoas já conseguem entender que o foco da adoção não é uma criança para uma família, mas uma família para uma criança”, disse. Por isso foi lançada a nova campanha de adoção, com o intuito de “chamar a atenção para essas crianças esquecidas” e levar informações às famílias paras desmistificar esse processo.

A bancária Rita concorda com o argumento e recomenda às famílias que pensam em adoção que ampliem o perfil da criança procurada. “Essas pessoas estão se privando de uma experiência maravilhosa. Se hoje eu tivesse um pouco menos idade, adotaria outra criança”, afirma.

Apesar dos esforços, hoje ainda há pouco interesse na adoção de crianças maiores de 5 anos, embora já haja mais espaço para a adoção de crianças negras.

Dados de maio do CNA mostram que São Paulo é o estado com maior número de crianças e adolescentes em condições para a adoção: 1.221. Em seguida vêm o Rio Grande do Sul (758), Minas Gerais (562) e o Paraná (433).

LH

Matéria publicada na Revista Época , em 25 de maio de 2011.

Reinaldo Monteiro Macedo comenta*

Esta é uma realidade dura que ainda temos no Brasil, 76% (segundo o Cadastro Nacional de Adoção - CNA) é uma cifra que se expressa suficientemente clara. Isso ainda é produto de preconceito, ainda mais se associarmos ao fato de que apenas 3,6% de crianças disponíveis para adoção encontram-se nessa faixa etária e são as mais procuradas para adoção (basta lermos meninas e brancas).

São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas e Paraná são os estados que mais dispõem de crianças e adolescentes para adoção, conforme informação do CNA.

A ONG Aconchego e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República lançaram até uma campanha com histórias bem-sucedidas de homens e mulheres que acolheram crianças que não se encaixam nesse perfil, mas foram bem-sucedidas.

“Soraya Pereira, presidente da ONG Aconchego, acredita que as famílias estão cada vez mais abertas a adotar crianças com perfil diferente daquele tradicionalmente procurado. Segundo ela, o objetivo da campanha é chamar a atenção para essas crianças esquecidas e levar informações às famílias para desmistificar esse processo. Hoje, as pessoas já conseguem entender que o foco da adoção não é uma criança para uma família, mas uma família para uma criança”.

Com essas informações, já podemos, entretanto, notar que alguns movimentos, visando a adoção de crianças, começam a ser feitos, ainda timidamente, com base na realidade dos números.

Analisando sob a ótica espírita, temos de avaliar os fatos pelo ângulo da moral predominante na população. Sabemos que o amor dedicado a um filho também é uma caridade que fazemos ao próximo, tal como nos recomenda Jesus, além de ser um forte elemento de responsabilidade geradora de evolução espiritual daqueles que tomam essa iniciativa.

Saber que 26.938 famílias restringem suas adoções a essas características (meninas brancas e menores de 3 anos), nos faz refletir quanto ao estágio evolutivo da maioria das pessoas interessadas em adoção em nosso país e, portanto, nos leva a pensar que ainda somos preconceituosos, apesar de sermos um país onde existe um índice expressivo de miscigenação.

Pessoas não são objetos, se a genética humana atingir um determinado grau, começaremos a pensar que haverá casais escolhendo cor dos cabelos, olhos, peso, sexo, estatura e até determinadas características intelectuais herdadas para os seus filhos… e isso é uma continuação do “ter” e não do “ser”…

Aqui nos lembramos que esse ato de amor ainda é mais um paradigma que precisamos vencer, basta nos lembrarmos de um ensinamento de Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

  • Reinaldo Monteiro Macedo é aposentado, administrador e analista de sistemas de formação, expositor de estudos e colaborador do Centro Espírita Nair Montez de Castro no Rio de Janeiro/RJ e de algumas outras Casas.