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Pesquisadores da Universidade de York desmentiram a reputação primitiva dos Neanderthais ao descobrir evidências arqueológicas de que, na realidade, eles nutriam um profundo sentimento de compaixão por companheiros. Jorge Hessen comenta.

  • Data :06/12/2010
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Homem das cavernas tinha sentimentos, diz estudo

Pesquisa revela que Neanderthal sentia compaixão por companheiros

por Redação Galileu

Arqueologistas da Universidade de York desmentiram a reputação primitiva dos Neanderthais ao descobrir provas de que, na realidade, eles nutriam um profundo sentimento de compaixão.

Através de evidências arqueológicas, o pesquisadores examinaram primeiro o modo como as emoções emergiram em nossos antepassado seis milhões de anos atrás, quando o ancestral comum dos homens e dos chipanzés vivenciou o despertar dos primeiros sentimentos. Eram eles empatia em relação a outros animais e motivação para ajudá-los, ilustrados por gestos como, por exemplo, mover um galho para que passassem.

Depois, cerca de 1,8 milhão de anos atrás, o Homo erectus integrou o sentimento de compaixão com o pensamento racional através de ações como cuidar dos doentes e dedicar atenção especial aos mortos, demonstrando luto e desejo de suavizar o sofrimento alheio.

Entre 500 mil e 40 mil anos atrás, o sentimento evoluiu e os primeiros seres humanos, como o Homo heidelbergensis e o Neanderthal, já demonstravam compromisso com o bem-estar dos outros, o que pode ser comprovado através de uma adolescência longa e a dependência em caçar juntos.

Algumas evidências que reforçam a tese são os restos de uma criança com anormalidade cerebral que não foi abandonada e viveu até os 5 ou 6 anos de idade, e de um indivíduo com um braço atrofiado, pés deformados e cegueira em um olho que viveu por 20 anos.

De 120 mil anos atrás pra cá, a compaixão dos seres humanos foi estendida para estranhos, animais, objetos e conceitos abstratos, segundo a pesquisa.

Matéria publicada na Revista Galileu , em outubro de 2010.

Jorge Hessen comenta*

Será que os homens pré-históricos tinham consciência íntima? “Pesquisadores da Universidade de York descobriram que o homem de Neanderthal nutria um grande sentimento de compaixão. A conclusão adveio através das evidências arqueológicas e da observação sobre o modo como as emoções emergiram em nossos antepassados há seis milhões de anos, quando o ancestral comum dos homens e dos chipanzés vivenciou o despertar dos primeiros sentimentos. Para os arqueólogos, cerca de 1,8 milhão de anos atrás, o Homo erectus integrou o sentimento de compaixão com o pensamento racional através de ações como cuidar dos doentes e dedicar atenção especial aos mortos, demonstrando luto e desejo de suavizar o sofrimento alheio.”(1)

Cremos que as sepulturas datadas da era paleolítica comprovam já haver naquele período uma crença na vida após a morte e no poder ou influência dos ancestrais sobre a vida cotidiana do clã familiar. Os integrantes do clã obrigavam-se a praticar ritos em homenagem a seus mortos pelo temor a represálias ou pelo desejo de obter benefícios, ou ainda por considerá-los seres divinizados.

Questão instigante é como o primata se tornou hominídeo. A resposta é ainda uma incógnita. Nunca foi encontrado o “elo perdido”, a espécie biológica que represente essa transição. “Pode-se dizer que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual de espíritos mais adiantados [que os antropóides], o envoltório se modificou, embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto. Melhorados os corpos, pela procriação, deu-se origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu.”(2)

Allan Kardec explica que “desconhecemos a origem e o modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que eles são criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento, porém perfectíveis e com igual aptidão para tudo adquirirem e tudo conhecerem.”(3) O Espírito André Luiz argumenta que, “para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser automatizado em seus impulsos, no caminho para o reino angélico, despendeu nada menos que um bilhão e meio de anos.”(4)

Muitas das transformações que se verificaram no “homo” foram promovidas em suas estruturas perispirituais, entre uma existência e outra (ou seja, no plano espiritual). Os Espíritos construtores, sob a supervisão do Cristo, retocavam, em vezes sucessivas, as formas perispiríticas, e estas alterações criariam o campo magnético para as futuras mutações. Experiências múltiplas, no patrimônio genético dos nossos antepassados, coordenadas por geneticistas siderais, foram modelando aquelas formas que deveriam persistir até os tempos atuais. A seleção natural se incumbiria de fazer desaparecer as formas primitivas inaptas.

Conforme afirma Emmanuel, atualmente a ciência procura os legítimos antepassados das criaturas humanas nessa imensa vastidão da arena da evolução anímica. “No período terciário(5), sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de antropóides, no Plioceno inferior [de 5,3 milhões a 1,6 milhão de anos]. Esses antropóides, antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo, tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da atualidade.”(6)

Para o autor de “Renúncia”, não houve propriamente uma “descida da árvore” no início da evolução humana. “As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade dos elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o princípio espiritual encontraria o processo de seu acrisolamento, em marcha para a racionalidade.”(7) Os antropóides das cavernas espalharam-se então aos grupos pela superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus tipos diversificados; a realidade porém, é que as entidades espirituais auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.

Os milênios correram o seu toldo de experiências drásticas sobre a fronte desses seres de “braços alongados e de pêlos densos, até que um dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo perispiritual preexistente dos homens, surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo à elegância dos tempos do porvir.”(8)

Elucida o Espírito Emmanuel que “há muitos milênios, um dos orbes da Capela(9), que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos.”(10)

As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos, “deliberam, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores. Aqueles seres angustiados e aflitos seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura; reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes.”(11)

A Natureza ainda era, para os trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências infinitas; tanto assim que, “se as observações do mendelismo fossem transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não poderia fixar, como hoje, as expressões dos “genes”, porquanto, no laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade, consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às organizações do porvir.”(12)

Apostam os arqueólogos que no interregno de 500 mil e 40 mil anos, o sentimento evoluiu e os primeiros seres humanos, como o Homo heidelbergensis e o Neanderthal , já demonstravam compromisso com o bem-estar dos outros, o que pode ser comprovado através de uma adolescência longa e a dependência em caçar juntos. Cremos que “não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a milênio."(13) Com a conquista da razão, aparecem o raciocínio, a lucidez, o livre-arbítrio e o pensamento contínuo. “Até então, o progresso tinha uma orientação centrípeta [de fora para dentro]; o ser crescia pela força das coisas, já que não tinha consciência de sua realidade, nem tampouco liberdade de escolha. Ao entrar no reino hominal, o princípio inteligente – agora sim, Espírito – está apto a dirigir a sua vida, a conquistar os seus valores pelo esforço próprio, a iniciar uma evolução de orientação centrífuga [de dentro para fora].”(14)

Mas a conquista da inteligência é apenas o primeiro passo que o Espírito vai dar em sua estada no reino hominal. “Ele iniciou na valorosa luta para conquistar os valores superiores da alma: a responsabilidade, a sensibilidade, a sublimação das emoções, enfim, todos os condicionamentos que permitirão ao Espírito alçar-se à comunidade dos Seres Angélicos.”(15) Os sonhos premonitórios, as visões de Espíritos, a audição da voz dos mortos, inclusive nos fenômenos de voz direta – e a materialização de Espíritos, foram fatos concretos, que levaram o homem primitivo à crença na continuação da vida após a morte. Diretamente dos médiuns neandertalenses surgiram os feiticeiros, ancestrais dos sacerdotes de todas as religiões.(16)

Segundo um princípio sofista atribuído a Protágoras – “0 homem é a medida de todas as coisas.” Mas uma medida por assim dizer afetiva, sem o controle da razão. Por isso Herculano Pires afirma que “é pelo sentimento, e não pelo raciocínio, que o homem primitivo humaniza o mundo.”(17) Destarte, ficam ratificadas as teses científicas sobre o homem pré-histórico que integrou o sentimento de compaixão na síntese do pensamento racional através de ações efetivas para o outro semelhante.

Referências bibliográficas:

(1) Publicado na Revista Galileu, disponível no site http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI177412-17770,00-HOMEM+DAS+CAVERNAS+TINHA+SENTIMENTOS+DIZ+ESTUDO.html](http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI177412-17770,00-HOMEM+DAS+CAVERNAS+TINHA+SENTIMENTOS+DIZ+ESTUDO.html)>;

(2) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997, cap.11, a “Hipótese sobre a origem do corpo humano”;

(3) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, § 3º, 1a. Parte;

(4) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994;

(5) As designações terciário e quaternário são resquícios de uma nomenclatura geológica anterior, quando eram usadas para distinguir rochas mais recentes de outras, mais antigas, classificadas então como primárias e secundárias. O terciário subdivide-se em cinco épocas: paleoceno (de 66,4 a 57,8 milhões de anos), eoceno (de 57,8 a 36,6 milhões de anos), oligoceno (de 36,6 a 23,7 milhões de anos), mioceno (de 23,7 a 5,3 milhões de anos) e plioceno (de 5,3 milhões a 1,6 milhão de anos). O período quaternário subdivide-se, por sua vez, em pleistoceno (de 1,6 milhão a dez mil anos) e holoceno ou atual (os últimos dez mil anos);

(6) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(7) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(8) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(9) Capela é magnífico Sol, inúmeras vezes maior que o nosso Sol. Dista da Terra cerca de 45 anos-luz. Conhecida desde a mais remota antiguidade, Capela é uma estrela gasosa, segundo afirma o célebre astrônomo e físico inglês Arthur Stanley Eddington, e de matéria tão fluídica que sua densidade pode ser confundida com a do ar que respiramos.

(10) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(11) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(12) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991;

(13) Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1998;

(14) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994;

(15) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994;

(16) Djalma Argollo, Estudos da Mediunidade antes da Codificação Kardequiana http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/mediunidade/ mediunidade-antes-da-codificacao.html](http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/mediunidade/mediunidade-antes-da-codificacao.html)>;

(17) PIRES J. HERCULANO. O ESPÍRITO E O TEMPO, Introdução Antropológica ao Espiritismo, São Paulo: Edicel, 1979, 3ª edição.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.