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Moran Cerf, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Pasadena, na Califórnia, nos Estados Unidos, após estudo inicial, afirmou que tem planos para criar um dispositivo eletrônico de gravação e interpretação de sonhos. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :06 Dec, 2010
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Máquina para gravar sonhos é possível, diz cientista

Pallab Ghosh Da BBC News

Um pesquisador nos Estados Unidos afirmou que tem planos para criar um dispositivo eletrônico de gravação e interpretação de sonhos.

Moran Cerf, do Instituto de Tecnologia de Pasadena, na Califórnia (oeste do país), afirma que a “leitura dos sonhos” é possível baseada em um estudo inicial que, segundo o cientista, sugere que a atividade de células individuais do cérebro, os neurônios, é associada a objetos ou conceitos específicos.

Em sua pesquisa Cerf descobriu que, quando um dos voluntários estava pensando na atriz Marilyn Monroe, um neurônio em particular foi ativado.

Ao mostrar a voluntários acordados que participaram de seu estudo uma série de imagens, Cerf e seus colegas conseguiram identificar neurônios que eram ativados pelos objetos e conceitos.

Ao observar qual neurônio se ativava e quando isso acontecia, os cientistas construíram uma base de dados para cada paciente.

Com ela, Cerf alega que é, efetivamente, capaz de “ler as mentes” dos voluntários.

Análise do sonho

Há séculos são feitas tentativas de interpretar os sonhos; no Egito antigo, por exemplo, eles eram considerados mensagens dos deuses.

Atualmente, análises de sonhos são usadas por psicólogos como uma ferramenta para compreender o inconsciente. Mas a única forma de interpretar os sonhos é perguntar para as pessoas depois que elas acordam.

O objetivo do projeto de Moran Cerf e sua equipe é desenvolver um sistema que daria aos psicólogos uma forma de corroborar as lembranças destes sonhos com a visualização eletrônica da atividade cerebral durante o sonho.

“Não há uma resposta clara para a razão de os humanos sonharem”, disse Cerf. “E, uma das questões que gostaríamos de responder é quando nós criamos estes sonhos.”

No entanto, o cientista admite que há um longo caminho antes que a simples observação das reações de um neurônio específico possa se transformar em um dispositivo para gravar sonhos. Mas Cerf acredita que existe uma possibilidade e ele gostaria de tentar.

Para isso, o próximo estágio de seu trabalho é monitorar a atividade do cérebro dos voluntários enquanto eles estão dormindo.

Os pesquisadores vão conseguir identificar imagens ou conceitos relacionados com os que estão arquivados em sua base de dados. Mas, esta base de dados pode, na teoria, ser construída. Por exemplo, ao monitorar a atividade dos neurônios enquanto o voluntário está assistindo um filme.

Eletrodos e sensores

Roderick Oner, psicólogo clínico e especialista em sonhos britânico, acredita que este tipo de visualização limitada pode gerar interesse acadêmico, mas, por outro lado, pode não ajudar muito na interpretação dos sonhos ou em terapias.

“Para isso você precisa da narrativa total e complexa do sonho”, afirmou.

Outra dificuldade com a técnica proposta por Moran Cerf é que, para conseguir o tipo de resolução necessária para monitorar neurônios individuais, os voluntários teriam que ter eletrodos implantados profundamente, por um processo cirúrgico, no cérebro.

No estudo publicado na revista Nature , os pesquisadores americanos conseguiram os primeiros resultados ao estudar voluntários com o implante de eletrodos usados normalmente para tratar de convulsões cerebrais.

Mas Cerf acredita que a tecnologia de sensores está se desenvolvendo em um ritmo tão acelerado que, com o tempo, poderá ser possível monitorar a atividade do cérebro sem a necessidade de cirurgias.

“Seria maravilhoso ler as mentes das pessoas quando elas não podem se comunicar, como em pessoas em coma”, disse o cientista.

Interface

Para o professor Colin Blakemore, da Universidade de Oxford, existe uma distância grande entre os resultados limitados obtidos no estudo do cientista americano e a possibilidade de gravar sonhos.

Já foram feitas tentativas de criar interfaces para traduzir pensamentos em instruções para controlar computadores e máquinas.

Mas, a maioria destas tentativas se concentrou em áreas do cérebro envolvidas no controle de movimentos. Os sistemas de monitoramento que Cerf pretende criar visam áreas mais sofisticadas do cérebro para poder identificar conceitos abstratos.

O cientista americano afirma que as pesquisas e usos de um dispositivo que lê a mente de outra pessoa são muitos.

“Por exemplo, em vez de escrever um email, você poderia apenas pensar o email. Ou, outra aplicação futurista, seria pensar em um fluxo de informações e ter estas informações escritas bem à sua frente”, disse.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 29 de outubro de 2010.

Carlos Miguel Pereira comenta*

Será possível algum dia gravar os nossos sonhos para que de manhã, acordados, possamos analisá-los ao pormenor? Com o progresso assinalável que a ciência adquiriu no último século, é temerário negar de forma peremptória essa possibilidade. Como admitir que somos capazes de fotografar galáxias longínquas, manipular complexas sequências de DNA, acelerar partículas subatômicas até muito perto da velocidade da luz, mas inaptos para reproduzir numa tela o conteúdo de um simples sonho, algo que é tão usual em nossas vidas? Até porque, nos últimos anos, importantes avanços surgiram na tecnologia que permite a interação entre o cérebro e os computadores, existindo aparelhos e softwares capazes de decodificarem os impulsos elétricos cerebrais, executando comandos emitidos mentalmente. A tecnologia Emotiv EPOC (http://www.emotiv.com ) é um bom exemplo das inovações que têm ocorrido ao nível da neurotecnologia e que no futuro poderão trazer benefícios enormes à humanidade, por exemplo, ao nível dos indivíduos portadores de incapacidades motoras.

Mas mesmo penetrando em áreas que há alguns anos poucos julgavam possível, a ciência ainda não consegue encontrar explicações sólidas para uma enorme variedade de mistérios da existência humana. Os sonhos são um desses mistérios. Por que sonhamos? O que são os sonhos? Não negando a validade das explicações da ciência convencional em determinados sonhos, a Doutrina Espírita, compreendendo a vida como uma dualidade Corpo/Espírito, dá uma nova amplitude ao ato de sonhar. Durante o sono, à medida que a alma se desprende cada vez mais dos liames da matéria, a ação dos sentidos psíquicos se torna predominante e mais capazes nos tornamos para assumir a plenitude espiritual, transportando-nos a um plano mais ou menos elevado do plano extra-físico, onde, com esses sentidos mais despertos, podemos desfrutar das sensações que esse plano proporciona. O sonho é a vaga lembrança que possuímos desses momentos. Como o cérebro físico é ainda grosseiro para decodificar as sensações sublimes que o Espírito liberto registra, daí alguma incoerência e desordem naquilo que sonhamos.

Um dos obstáculos que a ciência encontra no estudo dos sonhos é o fato de pretender encontrar causas físicas para efeitos não físicos. Ou seja, para a ciência mecanicista o pensamento e as emoções são produtos do cérebro. Existe já um bom entendimento sobre o funcionamento do cérebro, das reações químicas que nele ocorrem e a forma como as informações são processadas e transmitidas. Contudo, a neurociência tem revelado uma enorme dificuldade para conseguir descobrir a fonte dos pensamentos e sentimentos para além dos sinais elétricos provenientes dos neurônios. Se mantiver este caminho monista, continuaremos a assistir à proliferação de mais tecnologias que permitirão a interação cérebro/computador, mas não iremos penetrar na essência que lhes deu origem. E isso acontece porque a mente não é um produto do cérebro. A consciência não é produto do cérebro. O cérebro é uma realidade física que processa os pensamentos e os distribui pelo corpo em forma de sensações físicas. A mente é uma realidade não física de que serve o Espírito, a verdadeira fonte dos pensamentos, emoções e sentimentos.

A tecnologia revolucionou o mundo e a forma como interagimos uns com os outros. As inovações tecnológicas proporcionaram ao Homem novos horizontes, simplificando tarefas fastidiosas e tornando mais acessível e globalizado o acesso à comunicação, aos transportes, à saúde, à investigação científica, ao conhecimento, à cultura e até à diversão. Através do seu inebriante progresso, a tecnologia continua a ajudar a Humanidade a libertar-se das opressões, das superstições e dos erros do passado. É por todos os benefícios trazidos à vida, e pelo potencial ilimitado que revela, que a compreendemos como um dom precioso de Deus, que é preciso aproveitar da melhor forma. A ciência tem centrado a sua área de atuação numa perspectiva meramente física, escapando-lhe por isso toda uma gama de fenômenos que saem dessa esfera materialista. Que mistérios desvendaremos quando colocarmos toda a experiência, conhecimento, inteligência e tecnologia a serviço da descoberta da dimensão não física que nos envolve? Como nos poderemos apelidar de exploradores se queremos alcançar o espaço inter-galáctico e não conhecemos os mecanismos mais básicos que sustentam a nossa vida? Como afirma o físico Freeman Dyson, no seu livro Infinito em Todas as Direções : “Quando olho para o futuro da humanidade para além do século XXI, vejo na minha lista de coisas por acontecer a extensão da nossa curiosidade do domínio objetivo da ciência para o subjetivo do sentimento e da memória. O homo sapiens, o animal explorador, não se satisfará com a exploração meramente física. A nossa curiosidade levar-nos-á a explorar as dimensões da mente tão vigorosamente como exploramos o espaço e o tempo.”

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.