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O estudo é um verdadeiro balde de água fria no chamado ‘genismo’, que apregoa os ‘genes disso’ ou ‘gene daquilo’. Não é apenas possuir ou não um determinado gene ativado ou não que importa. Bárbara Paracampos comenta.

  • Data :09/07/2010
  • Categoria :

O que nos torna únicos? Não são apenas os nossos genes

Redação do Diário da Saúde

Gene do quê?

Quando o genoma humano foi sequenciado, em 2001, começou uma caçada pelos genes que tornam cada um de nós um ser único. E também dos genes causadores de doenças.

A partir daí, foi uma lista interminável de genes, incluindo gene da obesidade, gene do envelhecimento, gene da imunodeficiência, gene do autismo, gene da calvície, gene da gagueira e até um “gene brasileiro” do glaucoma.

Os estudos também serviram para contrapor as ideias de raças, mostrando que grupos étnicos são formações sociais, e não genéticas. Mas também levaram a conclusões como a de que emoções dos pais são passadas para os filhos por meio dos genes.

Mistérios do ser humano

Mas agora os cientistas acabam de descobrir que a principal causa de sermos diferentes uns dos outros não está propriamente em nossos genes, mas em como nossos genes são regulados - ligados ou desligados, por exemplo.

O estudo, feito por pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), em Heidelberg, na Alemanha, e das universidades de Yale e Stanford, nos Estados Unidos, acaba de ser publicado na revista Science.

Este é o primeiro estudo que compara genomas humanos completos, definindo quais as mudanças nos trechos de DNA que se situam entre os genes fazem a regulação gênica variar de uma pessoa para outra.

A descoberta muda a forma de pensar sobre nós mesmos e sobre nossas doenças que vinha sendo disseminada desde a chamada “revolução genômica”, quando o sequenciamento do DNA chegou a ser visto como a chave final para desvendar os “mistérios do ser humano.”

Sequenciamento genético

Os avanços tecnológicos nos últimos 10 anos foram tão grandes que os cientistas agora podem obter as sequências genéticas - o genoma - de várias pessoas em uma fração do tempo e por uma fração do custo que levou para desvendar o primeiro genoma humano.

Além disso, esses avanços agora permitem que os pesquisadores entendam como os genes são regulados nos seres humanos.

O grupo de cientistas, liderados por Jan Korbel e Michael Snyder, foi o primeiro a comparar genomas humanos sequenciados individualmente para procurar o que causa diferenças na regulação dos genes entre dez pessoas diferentes.

Eles se concentraram em regiões não-codificadoras, trechos do DNA que se encontram entre os genes e, ao contrário dos próprios genes, não possuem as instruções para produzir proteínas.

Essas sequências de DNA, que podem variar de pessoa para pessoa, podem funcionar como âncoras para que as proteínas reguladoras, conhecidas como fatores de transcrição, liguem-se à molécula de DNA para ligar ou desligar genes.

Diferenças entre seres humanos

Os cientistas descobriram que cerca de um quarto de todos os genes humanos são regulados de forma diferente de pessoa para pessoa.

Isto é mais do que as variações que existem entre os genes de um indivíduo para outro.

O estudo também revelou que muitas dessas diferenças no modo como as proteínas reguladoras funcionam devem-se a mudanças nas sequências de DNA às quais elas se ligam.

Em alguns casos, estas mudanças podem estar na diferença de uma única letra do código genético, enquanto em outros pode haver uma alteração em uma grande seção do DNA.

Diferenças inexplicáveis

Mas, surpreendentemente, os cientistas descobriram um número ainda maior de variações que não podem ser facilmente explicáveis.

Eles levantaram a hipótese de que algumas destas diferenças por enquanto inexplicáveis podem surgir se as proteínas reguladoras não agirem sozinhas, mas interagirem umas com as outras.

“Nós desenvolvemos uma nova abordagem que nos permitiu identificar casos onde a capacidade de uma proteína para ligar ou desligar um gene pode ser afetada pela interação com outra proteína ancorada em uma área próxima do genoma,” explica Korbel. “Com isso, nós podemos começar a compreender onde tais interações acontecem, sem ter que estudar cada proteína reguladora individualmente.”

“Genismo”

Os cientistas descobriram que, mesmo que diferentes pessoas possuam cópias idênticas de um gene - o ORMDL3 por exemplo, um gene que se sabe estar envolvido na asma em crianças - a maneira como as células de cada uma dessas pessoas regulam esse gene pode variar.

Isto é um verdadeiro balde de água fria nas divulgações de pesquisas que apregoam os “genes disso” ou “gene daquilo”. Não é apenas possuir ou não um determinado gene ativado ou não que importa - a forma como ele é regulado pode fazer uma enorme diferença entre os indivíduos.

“Nossos resultados podem ajudar a mudar a maneira como nós pensamos sobre nós mesmos e sobre as doenças, assim como sobre a procura por genes de doenças,” afirma Snyder. “Nós podemos começar a olhar como os genes são regulados, e como as variações individuais na regulação genética podem afetar as reações dos pacientes.”

Primas leveduras?

Finalmente, os cientistas compararam a informação genética dos seres humanos com a de um chimpanzé.

Eles constataram que, no que diz respeito à regulação dos genes, parece haver tanta variação entre um ser humano e outro, como entre nós e nossos primos.

Em um outro estudo, publicado na revista Nature, um grupo de pesquisadores liderados por Snyder e por Steinmetz Lars descobriu que diferenças similares na regulação genética também podem ocorrer entre os humanos e um organismo que está muito distante de nós na árvore evolutiva: a levedura, ou fermento de padaria.

Um outro estudo demonstrou que cada pessoa possui tantas mutações genéticas que, na verdade, nós já somos todos mutantes.

Notícia publicada no Diário da Saúde , em 9 de abril de 2010.

Bárbara Paracampos comenta*

Estamos em constante evolução. No decorrer de milênios, o homem vem se desenvolvendo moralmente e intelectualmente, fazendo descobertas, adentrando nos mistérios da criação. Assim, na medida em que novos conhecimentos são adquiridos, mudam-se os conceitos e ideias, tal como ocorreu agora com o quanto fora previsto quando do sequenciamento do genoma humano.

Chegou-se a acreditar que a descoberta de um gene que causa determinada doença pudesse fazer com que a enfermidade fosse anulada, simplesmente com o isolamento desse gene. Porém, vimos que agora a situação muda de contexto, pois meramente detectar o gene não mais importa, é necessário mais. E quem diria, há dez anos, que estaríamos recebendo notícias como essa.

Trata-se da natural evolução científica, que aumenta a média de vida do ser humano, cria vacinas e curas para doenças antes aterrorizantes, como a hanseníase. O homem vem buscando a perfeição. Futuramente, seremos perfeitos. Estamos fadados ao crescimento não apenas na esfera da ciência, como na espiritual e, principalmente, moral.

Notícias como a que ora analisamos nos faz meditar, ainda, sobre imperiosas decisões que são tomadas em sociedades. A decisão, por exemplo, de se legalizar a eutanásia. Ou, ainda, de se utilizar células-tronco advindas de embriões humanos, dentre muitas outras.

Com essa avalanche de descobertas e constantes mudanças nas concepções científicas, temos que redobrar nosso cuidado na defesa dessa ou daquela tese.

Precisamos ter equilíbrio e discernimento para perceber que todo o desenvolvimento genético trará as alterações sociais necessárias ao nosso crescimento e que nossos passos são muito importantes, devem ser tomados com cautela.

Reavaliar concepções formadas a respeito de questões que podem mudar substancialmente a vida de uma pessoa ou da coletividade é fundamental, pois a ciência tem aberto muitos caminhos. Meditemos a respeito e tenhamos sempre fé e a certeza de que nosso Pai Eterno está no comando de tudo.

  • Bárbara Paracampos reside em Salvador, na Bahia, é espírita e colaboradora regular do Espiritismo.net.