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Primeiros humanos modernos da Alemanha produziram instrumentos. Matéria-prima foi osso e marfim; pesquisadores da equipe de Nicholas J. Conard, arqueólogo da Universidade de Tübingen, na Alemanha, dizem ser a origem da música. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :25/05/2010
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Flauta de 35 mil anos é mais antigo instrumento musical do mundo

Primeiros humanos modernos da Alemanha produziram instrumentos. Matéria-prima foi osso e marfim; para pesquisadores, é a origem da música.

Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo

A asa de um abutre e presas de mamute serviram de matéria-prima para produzir os mais antigos instrumentos musicais do mundo, afirma um estudo na edição desta semana da revista científica “Nature”. São flautas encontradas em cavernas do sudoeste da Alemanha, testemunhas de uma aparente explosão de criatividade que tomou conta dos primeiros seres humanos a colonizarem a Europa.

As flautas de osso (a mais completa e bem preservada) e de marfim foram encontradas e analisadas pela equipe de Nicholas J. Conard, arqueólogo da Universidade de Tübingen (Alemanha) que é um dos maiores especialistas nessa aparente Semana de Arte Moderna que aconteceu há cerca de 35 mil anos, na Europa da Idade do Gelo.

Depois de remontada, a flauta de osso de abutre revelou ter quase 22 cm de comprimento (embora ela não esteja inteira, até onde os pesquisadores podem estimar; pode ser que ela fosse ainda mais comprida). Com cinco buracos para os dedos, os arqueólogos estimam que ele pudesse produzir uma variedade de notas tão grande quanto a da maioria das flautas modernas.

Antes da descoberta, alguns pesquisadores tinham proposto que os neandertais, nossos parentes extintos mais próximos, também tinham tradições musicais. No entanto, os instrumentos alemães apresentam a primeira prova inequívoca da existência de música entre seres humanos modernos ou seus parentes. Na mesma época, artes como a pintura e a escultura também estavam emergindo na Europa.

Notícia publicada no Portal G1 , em 25 de junho de 2009.

Carlos Miguel Pereira comenta*

“O papel fundamental da arte é exprimir a vida em toda a sua potência, em sua graça e em sua beleza.” (Léon Denis, em O Espiritismo na Arte .)

A revelação de que há 35 mil anos os nossos antepassados, para além dos instrumentos que lhe permitiam caçar e sobreviver, também possuíam preocupações de caráter artístico, lúdico e criativo, é uma notícia que nos empurra para preciosas reflexões sobre a natureza humana e suas aspirações mais profundas. Já éramos conhecedores de que a arte era uma realidade na vida dos homens pré-históricos, comprovado pelas pinturas rupestres que ao longo dos séculos foram sendo encontradas nos tetos e paredes das grutas que serviam de guarida ao homem primitivo. Com esses desenhos, eles procuravam representar a Natureza que os rodeava, exaltando os seus feitos, conquistas e a forma como enxergavam um mundo desconhecido.

A descoberta das flautas, que a notícia refere, no sudoeste da Alemanha, vem reafirmar o papel que a arte e a sedução pelo belo sempre exerceram sobre o homem, mesmo nos remotos tempos em que ainda dávamos os primeiros passos na construção daquilo que hoje chamamos civilização. A beleza é um dos atributos de Deus que podemos distinguir em todas as suas criações. A Natureza é uma obra de arte transcendente e de transformação. Como ficar indiferente ao entusiasmo de um pôr-do-sol de verão, esborratado por suas cores florescentes contra o azul limpo do céu? Como impedir que a música de uma cascata amparando a harmonia da revoada nos encante até às lágrimas? E o cântico das gotas de chuva na calçada, o afago do vento sobre as folhas de uma árvore, o despontar de um botão de rosa, o mágico oceano, o mistério de uma noite estrelada sobre a escuridão? Não existem palavras ou imagens físicas que consigam descrever as sensações e os sentimentos que o contato com esta arte natural nos impele. É por isso que se afirma que a arte é a forma de comunicação mais completa que existe, pois ela transmite não apenas palavras ou ideias, mas sobretudo emoções e sentimentos.

As criações artísticas de inspiração divina exercem sobre nós um fascínio indescritível empurrando-nos à sublimação. A beleza ilumina os nossos dias, impele-nos à admiração, ao êxtase. Cativado pelo belo, fazendo da arte um processo de iluminação, o homem ousa chegar a Deus pela expressão da sua criatividade, pela criação e exaltação da Beleza, para que esta o eleve, o transforme, para que o ajude a sublimar o mundo e aqueles a quem essa arte possa alcançar.

Por tudo isto, e também porque uma criação artística genuína é aquela que é expressão da alma do artista, a arte é um caminho por excelência para a espiritualidade. O Espiritismo, alargando os horizontes do homem com os seus conceitos de Deus como Inteligência suprema, a sua ideia de uma imortalidade ativa e transformadora, e não apenas contemplativa, o papel da própria vontade na conquista dos elevados graus de sublimação, as vidas sucessivas, a vivência no mundo espiritual, pode servir de inspiração à arte em todas as suas expressões: literatura, teatro, música, poesia ou pintura, etc. São temas que a Arte Espírita pode e deve abraçar, ajudando a consolidar e a difundir estes conceitos por todos os que se dispuserem a ouvi-los e a percebê-los, contribuindo para a transformação do mundo em que vivemos.

Allan Kardec, em várias passagens da sua obra, adverte para a chegada da “Arte Espírita”. Eis um dos exemplos, na Revista Espírita , de Dezembro de 1860:

“Sim, nós o repetimos, o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso, e ainda inexplorado, e quando o artista trabalhar com convicção, como trabalharam os artistas cristãos, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações. Quando dizemos que a arte espírita será um dia uma arte nova, queremos dizer que as ideias e as crenças espíritas darão, às produções do gênio, um cunho particular, como ocorreu com as ideias e as crenças cristãs, não que os assuntos cristãos jamais caiam em descrédito, longe disso, mas, quando um campo está respigado, o ceifeiro procura colher alhures, e colherá abundantemente no campo do Espiritismo.”

Desde o tempo em que os homens faziam sair a música das suas flautas feitas de ossos até aos requintados instrumentos modernos do século XXI, muitos anos decorreram, incontáveis vidas se passaram. Crescemos muito, aprendemos ainda mais, sabemos expressar com mais verdade aquilo que nos vai dentro do peito, conseguimos perceber melhor os fios de teia que regulam este mundo, sabemos nos relacionar com mais responsabilidade com o invisível e com o que nos transcende, mas algo se mantém inalterável: A vontade que ainda temos de nos deixarmos encantar pela beleza, a sensibilidade cada vez mais sublimada para nos emocionarmos com a arte pura que a criatividade de Deus coloca à disposição do nosso coração.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.