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Você bebe? Vive estressado? Já ouviu falar em epigenética? Pois devia. Ela é o ramo da ciência que pretende mostrar que hábitos como fumar podem causar distúrbios como a obesidade em nossos filhos, e estresse gera estresse. Sonia Maria Ferreira da Rocha comenta.

  • Data :03 Mar, 2010
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Epigenética: a culpa é dos seus pais

Você bebe? Vive estressado? Já ouviu falar em epigenética? Pois devia. Ela é o ramo da ciência que pretende mostrar que hábitos como fumar podem causar distúrbios como a obesidade em nossos filhos

Juliana Tiraboschi

Você pode culpar o azar por não ter herdado os lindos olhos azuis da sua mãe. Ou agradecer por não sofrer da mesma tendência a engordar que o seu pai. Afinal, sabemos que nosso código genético é formado pela mistura do DNA dos nossos genitores.

Mas e se fosse possível transmitir aos filhos as características adquiridas em vida? E se os traumas por que passamos se mostrassem tão grandes a ponto de alterar nossa composição genética?

Cientistas já notaram que crianças nascidas de mulheres que presenciaram o 11 de Setembro demonstram mais chance de desenvolver estresse. E que filhos de fumantes têm maior probabilidade de apresentar obesidade.

A ideia de que o ambiente pode alterar nossa herança celular não é nova e tem nome: epigenética. Nos últimos dez anos, a palavra vem se tornando uma das áreas mais promissoras e intrigantes da ciência. Por trás desse conceito, pode estar a chave para descobrir a influência do ambiente e da nossa rotina na carga genética que passamos para frente.

Por isso, antes de fumar feito uma chaminé, de se enfiar numa guerra ou de levar um dia-a-dia turbulento, continue lendo e descubra como você é o que come, o que bebe, o que experimenta, o que faz. E seus filhos podem ser também.

Estresse gera estresse

A psiquiatra e professora da Escola de Medicina de Monte Sinai Rachel Yehuda nem pensava na palavra epigenética quando abriu em Nova York uma clínica para o tratamento de sobreviventes do Holocausto nazista, em 1992. Em pouco tempo, e para sua surpresa, ela notou que muitos dos filhos das vítimas, nascidos anos depois do fim da Segunda Guerra, também apresentavam sintomas de estresse acima do comum, mesmo que suas vidas tivessem pouco dos horrores vividos por seus pais.

“No primeiro momento, eu fiquei convencida de que crescer ouvindo as histórias dos pais havia sido a causa dessa anomalia”, diz Rachel no documentário The Ghost in Your Genes (O fantasma nos seus genes), lançado pela BBC em 2006. Porém, as pesquisas de Jonathan Seckl, professor de medicina molecular da Universidade de Edimburgo, na Escócia, jogaram luz sobre outra hipótese.

Ele realizou experimentos com ratos. Os testes mostraram que fêmeas grávidas expostas a hormônios reguladores do estresse geravam filhotes com respostas alteradas a estímulos violentos. Na prática, filhotes de mães estressadas eram mais ansiosos. Para comprovar que a raiz desses efeitos estava nos genes e não na exposição dos ratinhos no útero da fêmea, Seckl prosseguiu seu trabalho com os filhos desses roedores que não foram submetidos diretamente aos hormônios.

O resultado foi a mesma resposta alterada. Os “netos” também apresentavam sinais de estresse. Para o pesquisador, a única explicação plausível é a de que os hormônios mexeram com o “interruptor” de alguns genes e que esse padrão foi transmitido pelo menos até a terceira geração de ratos.

Rachel Yehuda e Jonathan Seckl uniram-se, então, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 para estudar as consequências do evento traumático nos filhos de mulheres que estavam grávidas na época. Até agora, a dupla descobriu um traço intrigante. As crianças apresentam um nível de cortisona (hormônio ligado ao estresse) no sangue mais alto do que a média da população. Daqui a alguns anos eles pretendem examinar os filhos dessas crianças e avaliar se o mesmo ocorrerá.

Como os genes funcionam?

O conceito da epigenética se traduz pelas adaptações que animais e plantas podem sofrer em seus genes sem que eles tenham alteradas suas “letras”, ou nucleotídeos, que dão a receita para o organismo produzir as proteínas reguladoras das funções do corpo.

Confuso? Pense no seu rosto. Você pode cortar o cabelo curtinho ou deixá-lo crescer. Sua aparência mudará, mas os traços - formato do nariz, cor do olho - continuarão os mesmos. Uma marca epigenética funciona mais ou menos assim.

Ela é diferente de uma mutação, que é a mudança na sequência das letras, na essência do gene, e pode ser desencadeada por um fator externo (exposição a químicos, por exemplo) ou por “acidente”, quando um nucleotídeo desaparece ou é trocado por outro durante o processo de duplicação do genoma.

A epigenética é uma mudança não na ordem das letras, mas na maneira como um gene é “ligado” ou “desligado”. Todas as nossas células contêm exatamente o mesmo código genético. Mas a maneira como ele é “expressado” varia conforme o tecido. Um exemplo: nas células do fígado o gene da proteína responsável pela produção de esperma está inativo, pois não há necessidade de funcionar naquele órgão. Mas ele existe.

Fatores ambientais, como alimentação, poluição, uso de drogas, prática de exercícios, contato com substâncias tóxicas, podem alterar esse padrão de liga e desliga, deixando uma “marca” epigenética que é transmitida a cada nova divisão celular no mesmo corpo. Em algumas espécies de animais a herança desses traços através de gerações foi comprovada em laboratório. Em humanos foi observado um mecanismo semelhante. Agora, cientistas tentam encontrar sua comprovação.

Uma pesquisa realizada em 2006 com 14 mil homens na Inglaterra concluiu que aqueles que começaram a fumar antes dos 10 anos geraram crianças com risco elevado de serem obesas. Isso indica que substâncias tóxicas do cigarro podem ter provocado alterações na expressão genética do fumante mirim. Ou seja, em tese, ele desenvolveu uma marca epigenética que, quando formou família, foi transmitida às futuras gerações. Esse efeito foi observado somente em crianças do sexo masculino.

O fato fez com que Marcus Pembrey, da Universidade College, na Inglaterra, e colegas da Universidade de Umëa, na Suécia, especulassem que a transmissão de características foi mediada pelo cromossomo Y, que determina o gênero masculino. A mesma linha de pensamento foi aplicada a outro estudo, que cruzou dados entre homens nascidos no vilarejo de Överkalix, na Suécia, e seus descendentes.

Desta vez, a relação identificada foi positiva: maior longevidade para os netos de indivíduos que passaram fome durante a infância. Esse mecanismo faz sentido cientificamente. “Em estudos com minhocas foi demonstrado que uma restrição dietética faz com que elas comecem a expressar uma proteína ligada à longevidade, talvez para defender a espécie da extinção”, diz Salmo Raskin, da Sociedade Brasileira de Genética Clínica.

O que surpreende é o homem ser o transmissor. Acreditava-se que as marcas epigenéticas no espermatozoide eram apagadas quando ele fertilizava um óvulo. “Ainda estamos longe de entender como elas podem passar de pai para filho”, diz Mariana Brait, pós-doutoranda em genética humana na Universidade Johns Hopkins, EUA.

“E outros fatores podem explicar os resultados”, afirma Daniel de Carvalho, pesquisador da Universidade do Sul da Califórnia. O cigarro pode, teoricamente, ter afetado os espermatozoides dos pais e causado mutações nos genes que controlam o peso. Mas novas pesquisas indicam que parte das marcas não são anuladas. São passadas para frente.

E você com isso?

O estudo da epigenética passou por uma retomada desde a publicação do genoma humano, em 2001. “Isso aconteceu porque muitas respostas que esperávamos sobre doenças multifatoriais - como obesidade, diabetes, câncer e esquizofrenia - não vieram”, afirma Salmo Raskin. Alguns estudos argumentam que a exposição masculina a estímulos influencia diretamente o desenvolvimento dos filhos. “Isso é raramente considerado”, diz Emma Whitelaw, do Instituto de Queensland, na Austrália.

Para Emma, essas descobertas podem contribuir para uma divisão de responsabilidade pela gestação entre homens e mulheres. Na verdade, os machos poderiam carregar um peso muito maior do que aquele sustentado pelas grávidas durante nove meses. O modo como eles vivem seria mais determinante para um bebê saudável do que uma gravidez tranquila.

Mesmo sem entrar no mérito da questão de gênero, essas pesquisas devem estimular epidemiologistas e biólogos a procurarem outros efeitos transgeracionais. E à medida que os estudos se consolidem, talvez sejamos obrigados a repensar nossos hábitos não somente para preservar a própria saúde, mas também a de nossos filhos e netos.

Matéria publicada na Revista Galileu , em agosto de 2009.

Sonia Maria Ferreira da Rocha comenta*

Cuidar do nosso corpo material é mais do que um ato de vaidade. É se responsabilizar pelo futuro por mais de uma geração e por suas consequências.

Mais uma vez, vemos a ciência se manifestar em paralelo com a nossa Doutrina, o que não pode ser diferente, pois a Fonte é a mesma, chamando a nossa atenção para o compromisso que devemos ter com o corpo físico e diria, mais do que isso, com o futuro da humanidade.

Esse bem que recebemos pela misericórdia divina deve ser respeitado com o mesmo amor e confiança que o Pai nos presenteia. Porque é através dele, como instrumento de evolução, juntamente com o nosso espírito, que evoluímos na nossa trajetória em direção ao Pai.

Por isso, como auxiliares da Criação, somos responsáveis pelas reencarnações, subsequentes à nossa, direta ou indiretamente, construindo, dessa forma, a evolução das nossas sociedades e, consequentemente, do nosso planeta.

Assim, devemos nos preocupar com a nossa reencarnação como um benefício precioso que recebemos, não só para guardar o nosso espírito, mas, para acima de tudo, valorizar a responsabilidade que Deus nos delegou.

Enquanto seres encarnados, somos compostos de três elementos: o corpo físico, a alma e o perispírito, fazendo, assim, uma tríplice aliança inseparável nas nossas reencarnações, todas importantes, e que devem ser vistas com a mesma responsabilidade.

O equilíbrio das nossas emoções, evitando o stress, equilibrando a alimentação, evitando o uso de quaisquer substâncias que transformam nossos sentidos, é o caminho que devemos seguir para conservar nosso corpo físico, proteger nosso perispírito, nosso espírito e não prejudicar o nosso progresso espiritual.

Respeitando todos os nossos limites, evitando vícios e as más influências, que nos ligam ao mundo inferior, que nos aproximam de irmãos que ainda vivem longe da luz e na ignorância, estaremos construindo e colaborando para a evolução espiritual da humanidade.

No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo , Cap. XVI, Parábolas dos Talentos, temos como ensinamento os servos que multiplicaram o que lhes foi dado como responsabilidade e compromisso.

Nossos filhos, principalmente, são os talentos que devem ser encaminhados, construídos e multiplicados no bem. É essa a responsabilidade que temos com o Pai na construção de um futuro melhor para a nossa morada chamada Terra.

Guardar e multiplicar os exemplos que Jesus deixou, quando da sua estada entre nós, na nossa família e, acima de tudo, no altar dos nossos sentimentos, que é o nosso espírito, deve ser a nossa meta principal.

Eis a herança que devemos deixar para nossos descendentes e que a ciência, por intermédio da epigenética, vem demonstrar o que a nossa Doutrina há muito nos orienta: a nossa responsabilidade, como auxiliares do Pai, para um futuro melhor.

  • Sonia Maria Ferreira da Rocha reside em Angra dos Reis, RJ, estuda o Espiritismo há mais de 30 anos e é colaboradora regular do Espiritismo.net.