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Preocupações com o meio ambiente mudam hábitos de pessoas e empresas, que passaram a incorporar um estilo sustentável de viver e trabalhar. Muitos brasileiros percebem os impactos de longo prazo nas decisões de consumo. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :12/08/2009
  • Categoria :

Pegadas verdes no planeta

As preocupações com o meio ambiente vencem modismos e afetações e mudam hábitos de pessoas e empresas, que passaram a incorporar um estilo sustentável de viver e trabalhar

Verônica Mambrini

O estudante de direito Rafael Poço, 22 anos, começou a pensar cedo no impacto de suas ações no meio ambiente. “Desde os 14 anos, leio sobre o tema. A primeira mudança foi parar de comer carne”, diz Poço. O estudante foi incorporando soluções verdes por toda parte. No guardaroupa, destacam-se camisetas feitas de garrafas PET e calças de lona de caminhão reciclada. Na decoração, móveis usados ganharam vida nova depois de uma reforma. Na hora de se deslocar por São Paulo, Poço dá prioridade à bicicleta e ao transporte público, mas também usa o carro quando precisa. E faz questão de consumir produtos de empresas que fornecem o máximo possível de informações ao consumidor. “É possível fazer consumo sustentável, mas, como a demanda é pequena, quase não existe marketing ambiental dos produtos”, afirma.

“Pelo menos 33% dos brasileiros percebem os impactos coletivos ou de longo prazo nas decisões de consumo”, diz Heloísa Torres de Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, organização que estimula o consumo consciente. De acordo com uma pesquisa da instituição, o número de consumidores que no ano passado privilegiaram empresas com boas práticas socioambientais em suas decisões de compra cresceu 7%, em relação ao estudo anterior, de 2003.

“É uma tendência que veio para ficar”, acredita a gerente do Akatu.

Do ponto de vista empresarial, as soluções ecológicas faziam parte até agora das megacorporações, que muitas vezes as utilizaram como mera estratégia de marketing, ou de lojas muito pequenas, que atuavam num incipiente nicho de consumo. Mas a prova de que o modismo virou uma onda irreversível pode ser vista em atitudes do comércio de bairro. A rede de padarias paulista Dona Deôla, cerca de 430 litros de óleo de cozinha das quatro unidades. Eles agora viram sabão e detergente. “Temos mudado várias práticas, na tentativa de fazer nossa parte. Não dava para jogar o óleo direto no ralo, é um crime ambiental”, diz Vera Helena, proprietária da Dona Deôla. Em setembro, a padaria lançou suas próprias ecobags.

As 800 unidades vendidas em três meses já geraram redução de 20% no consumo de sacolas plásticas. Outra substituição quase invisível foi a troca dos jogos americanos de papel por versões em plástico reciclável, poupando o descarte de 150 mil folhas.

“Estamos estudando formas de reduzir o uso de materiais antiecológicos, como isopor, e utilizar biodegradáveis, por exemplo”, diz Vera.

Um dos pilares da mudança no curto prazo é o aumento da reciclagem de materiais. “O uso de isopor, que tem uma reciclagem difícil, deve diminuir, assim como o uso de matérias-primas com substâncias tóxicas”, diz Rafael Tannus, sócio da Agência Verde, consultoria socioambiental e em desenvolvimento sustentável. Tannus ressalta também o aumento de importância que selos de fair trade (comércio justo) devem ganhar. Esse tipo de certificação garante que as empresas mantenham boas práticas com o meio ambiente e com as comunidades ligadas à produção. “Selos assim já estão consolidados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, deve crescer a demanda por produtos certificados nos próximos anos”, afirma Tannus.

É justamente esse tipo de critério que define o que vai para a ecobag da bióloga Paula Signorini, 27 anos. “Procuro comprar produtos com selos de orgânicos e do Procel, e evito os com selos de transgênicos. Mas ainda falta um selo para empresas sustentáveis”, diz a bióloga, dona do blog Rastro de Carbono, sobre responsabilidade ambiental. Além da reciclagem, ela passou a evitar excesso de embalagens, a reduzir o consumo de carne e a economizar energia elétrica e água.

O próximo passo é transformar o lixo orgânico em adubo. “Estou montando uma composteira no apartamento”, diz Paula. A preocupação faz sentido: cada pessoa produz cerca de 25 quilos de resíduos orgânicos por mês. “Outras medidas, como painéis termossolares, são um sonho de consumo, mas a estrutura do meu apartamento não permite. No futuro, pretendo ir para um prédio mais verde ou para uma ecovila”, afirma a bióloga.

A arquitetura sustentável é um setor que ainda precisa de critérios mais precisos, mas já atrai interessados.

A ideia de prédios verdes surgiu na década passada, nos Estados Unidos.

Na época, estava ligada a dois aspectos fundamentais: consumir menos recursos, como gás e energia, e dar um novo tipo de tratamento para o lixo.

De acordo com Cláudio Boechat, pesquisador da Fundação Dom Cabral, outras características devem se tornar importantes. “Tintas menos poluentes e materiais de construção reciclados são tendências”, diz Boechat. A Ecosfera, construtora especializada no nicho, está de olho no interesse crescente da classe média, ao oferecer imóveis de valores entre R$ 80 mil e R$ 350 mil, com itens como aproveitamento de energia solar e estrutura de reúso da água. “Sustentabilidade foi o fator que definiu a compra de 80% dos clientes da construtora”, diz Luiz Fernando Lucho do Valle, presidente da Ecosfera. Por tabela, prédios verdes trazem um benefício financeiro - o condomínio é em média 30% mais barato.

Em termos de economia, o geógrafo Luciano Legaspe consegue ser ainda mais radical: a chácara onde mora, em Cotia, a 30 quilômetros de São Paulo, nem sequer tem conta de água. A água potável vem de um poço e a da chuva é usada na irrigação e lavagem. Os painéis termossolares reduziram a conta de energia elétrica em 30%. Praticamente não há desperdício: os restos orgânicos alimentam a criação de galinhas e coelhos, além da cabra e da vaca que fornecem laticínios para a família. O lixo que sobra fertiliza a horta e o pomar. “Quando eu morava em apartamento, já fazia reciclagem, guardando os resíduos orgânicos em tambores, que eu trazia para a chácara”, diz Legaspe. “É preciso mudar a cultura do brasileiro. O governo da Bélgica, por exemplo, fornece composteiras de graça, porque menos lixo reduz os gastos públicos”, conclui.

Se falar em coleta de água da chuva parecia conversa de hippie há alguns anos, hoje a tecnologia está a favor do meio ambiente. A Acqua Brasilis, que projeta os sistemas de captação de água da chuva e reúso de água para projetos de grandes construtoras, lançou este ano sistemas para residências. “Clientes finais são 5% do nosso público hoje, mas, em cinco anos, esperamos que esse número chegue a 50%”, diz Paulino de Almeida, engenheiro de projetos da Acqua Brasilis. Com tantas tecnologias se tornando mais acessíveis e mais pressão social por produtos sustentáveis e boas práticas ambientais, é possível antever um horizonte verde. “Muita gente ainda age como se o problema fosse do governo ou das empresas, mas a escolha de uma empresa é uma premiação e faz diferença”, diz Heloísa Torres de Mello, da Akatu. Rafael Tannus, da Agência Verde, completa: “Nos próximos anos, até será possível sobreviver sem atender a critérios de sustentabilidade, mas crescer e aparecer, não.”

Matéria publicada na Revista ISTOÉ , em 23 de dezembro de 2008.

Breno Henrique de Sousa comenta*

Consciência Ecológica Crescente

Diz o ditado popular que o ponto mais sensível do corpo do homem é o bolso. Infelizmente, as pessoas mudam seus maus hábitos principalmente quando isso passa a provocar-lhes algum prejuízo financeiro, ou também quando esta mudança representa algum lucro, e em um regime capitalista, deixar de lucrar é o mesmo que ter prejuízo.

É principalmente por isso que as empresas têm se tornado sócio-ambientalmente mais responsáveis. Na qualidade de empresas, elas visam o lucro, e isso não é uma coisa demoníaca. A cada dia, adequar-se ao “ecologicamente correto” se torna mais necessário e lucrativo. Necessário por causa das multas e sanções nacionais e internacionais e lucrativo por causa dos consumidores que se tornam mais conscientes e criam um novo nicho de mercado. Acredito mesmo que os empresários ficam felizes em poder lucrar sendo mocinhos que protegem a natureza, do que sendo vilões. Afinal, quem quer aparecer, prefere as colunas sociais às páginas policiais.

Os ecologistas mais radicais não acreditam nos slogans de responsabilidade sócio-ambiental das empresas, nem nos “eco-selos” que certificam os produtos ecologicamente corretos. Dizem que tudo isso é uma fachada, uma forma do capitalismo apoderar-se e manipular os ideais ecológicos. De fato, têm-se encontrado empresas que apresentam uma maquiagem de politicamente corretas, mas, por “debaixo dos panos”, lucram de forma inescrupulosa, através do trabalho infantil, comprando matéria prima de origem duvidosa ou realizando outros processos degradação ambiental.

O fato é que o cidadão comum só sabe destas falcatruas quando elas vêm à tona pela mídia. Porém, algumas irregularidades podem ser descobertas facilmente através de uma simples pesquisa na internet. Devemos usar as informações disponíveis para escolher melhor os produtos que consumimos, pois o consumo consciente é a única força que pode realmente mudar a lógica perversa do capitalismo. Não acredito no poder de mudança efetiva pelos métodos dos eco-xiitas que endemonizam tudo. Neste aspecto, os Espíritos que acompanham a codificação lembram que a Lei do Progresso é irremediável, cabe a nós sermos artífices desta lei, mas a natureza não dá saltos e as mudanças ocorrem sempre no ritmo que devem ocorrer e não no ritmo que gostaríamos que ocorressem.

Me lembro de uma confraternização de uma turma de Educação Ambiental para qual fui professor. O esposo de uma das minhas alunas demonstrava respeitosamente, porém, sem constrangimento, a sua descrença em relação à Educação Ambiental. Falava do panorama de degradação no Brasil e no mundo e que estes Educadores Ambientais não poderiam fazer nada de significativo. Eu o fiz perceber que sua visão era muito imediatista e que estamos sempre a medir o valor das coisas pelo resultado imediato que elas nos oferecem, mas as coisas realmente importantes, boas ou más, não nos trazem benefícios ou danos imediatos, tais coisas apresentam efeitos sempre a médio e longo prazo, mas para tal, é necessário um começo. Viemos de cinco séculos de degradação ambiental, os movimentos ambientalistas só começaram a surgir de maneira mais efetiva a partir da segunda metade do século XX e apenas bem recentemente é que eles tem ganhado força e influência a ponto de formar uma massa crítica e ecologicamente consciente, capaz de criar um nicho de mercado, que criou leis mais severas, que resultam em reportagens como esta que se tornam cada vez mais frequentes. Estes já são os primeiros frutos dos movimentos ambientalistas que ganharam força nas décadas de 1960 e 1970. Este ambientalismo moderno tem influência do movimento Hippie, de diversas escolas espiritualistas e esotéricas e até mesmo do Espiritismo, que em O Livro dos Espíritos , nos capítulos que tratam da Lei de Conservação e da Lei de Destruição, abordam de maneira mais direta essa questão que também está disseminada em toda obra de Allan Kardec.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.