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Um médico que ficou cego após dois derrames sucessivos participou de um experimento, onde teve de percorrer um trajeto com obstáculos - um corredor com coisas espalhadas. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :28/02/2009
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Cego, mas enxergando: o sentido visual subconsciente do cérebro

The New York Times Benedict Carey

O homem, um médico que ficou cego após dois derrames sucessivos, se recusava a participar do experimento. Ele não podia ver nada, disse, e não tinha interesse em percorrer o trajeto com obstáculos - um corredor com coisas espalhadas - em prol da ciência. Por que se dar ao trabalho?

Quando ele finalmente tentou, algo incrível aconteceu. Ele percorreu em ziguezague o corredor, evitando uma lata de lixo, um tripé, uma pilha de papel e várias caixas como se pudesse ver tudo claramente. Um pesquisador permaneceu próximo dele caso tropeçasse.

“Era preciso ver para acreditar”, disse Beatrice de Gelder, uma neurocientista de Harvard e da Universidade de Tilburg, na Holanda, que com uma equipe internacional de pesquisadores do cérebro relatou sobre o paciente na segunda-feira (22), na revista “Current Biology”. Um vídeo está disponível online em www.beatricedegelder.com/books.html .

O estudo, que incluiu abundantes imagens do cérebro, é a demonstração mais dramática até o momento da chamada visão cega, a habilidade natural de sentir as coisas usando o sistema visual primitivo, subcortical - e inteiramente subconsciente - do cérebro.

Os cientistas informaram previamente casos de visão cega em pessoas com danos parciais nos lobos visuais. O novo relato é o primeiro a mostrá-la em uma pessoa cujos lobos visuais - um em cada hemisfério, sob o crânio na parte posterior da cabeça - foram completamente destruídos. A descoberta sugere que as pessoas com lesões semelhantes podem ser capazes de recuperar certo sentido visual rudimentar com a prática.

“É um relatório feito com muito rigor e a primeira demonstração disto em alguém com aparente ausência total do córtex estriado, a região de processamento da visão”, disse o dr. Richard Held, um professor emérito de cérebro e ciências cognitivas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que juntamente com Ernst Poeppel e Douglas Frost, escreveu o primeiro relato publicado da visão cega em uma pessoa, em 1973.

O homem no novo estudo, um africano que vivia na Suíça na época, sofreu dois derrames quando estava na faixa dos 50 anos, em um intervalo de semanas, e era profundamente cego segundo qualquer medição habitual. Diferente de pessoas que sofrem com lesões nos olhos, ou cegueira congênita na qual o sistema visual se desenvolve de forma anormal, seu cérebro era fora isso saudável, assim como seus olhos, de forma que dispunha das ferramentas necessárias para processar a visão subconsciente. O que ele carecia era dos circuitos que formam uma imagem clara e consciente.

A equipe de pesquisa empregou tomografias do cérebro e imagens de ressonância magnética para ver as lesões, não encontrando evidência de atividade visual no córtex. Ela também não encontrou evidência de que o paciente estava se locomovendo por ecolocalização, como fazem os morcegos. Tanto o paciente, T.N., quanto o pesquisador que o acompanhou, percorreram o trajeto em silêncio.

O próprio homem ficou tão surpreso quanto todo mundo por ter conseguido percorrer o trajeto de obstáculos.

“Segundo minha experiência, quanto mais instrução a pessoa tem”, disse De Gelder, “mais difícil é acreditar que possui esses recursos de que não está ciente para evitar obstáculos. E essa era uma pessoa com formação elevada”.

Os cientistas há muito sabem que o cérebro digere o que entra pelos olhos usando dois conjuntos de circuitos. As células na retina projetam não apenas para o córtex visual - as regiões destruídas neste homem - mas também para áreas subcorticais, que em T.N. estavam intactas. Eles incluem o colículo superior, que é crucial para o movimento dos olhos e pode ter outras funções sensoriais; e, provavelmente, os circuitos que correm pela amídala, que registra a emoção.

Em uma experiência anterior, um dos autores do novo trabalho, o dr. Alan Pegna, dos Hospitais Universitários de Genebra, apontou que o mesmo médico africano tinha visão cega emocional. Quando colocado diante de imagens de rostos atemorizantes, ele contraiu os músculos subconscientemente, da mesma forma que a maioria das pessoas, apesar de não poder ver conscientemente os rostos. O sistema visual primitivo, subcortical, aparentemente registra não apenas objetos sólidos, mas também fortes sinais sociais.

Held, o neurocientista do MIT, disse que nos mamíferos inferiores, estes sistemas parecem exercer um papel maior na percepção. Em um estudo envolvendo ratos publicado na revista “Science” da última sexta-feira, os pesquisadores demonstraram que as células nas profundezas do cérebro eram na verdade especializadas em registrar certas qualidades do ambiente.

Elas incluem células de localização, que disparam quando um animal passa por certos marcos terrestres, e células de direção da cabeça, que rastreiam para onde o rosto está apontado. Mas o novo estudo também encontrou forte evidência do que os cientistas, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim, chamam de “células de fronteira”, que disparam quando um animal está próximo de uma parede ou algum tipo de fronteira.

Todos esses tipos de neurônios, que existem em alguma forma nos seres humanos, também podem ter auxiliado T.N. em seu percurso do trajeto com obstáculos.

Com o tempo, e prática, pessoas com lesões cerebrais podem aprender a fazer maior uso desses sistemas subconscientes ou semiconscientes, e talvez até mesmo começar a construir uma certa visão consciente a partir deles.

“Não se sabe quão aguçada poderia ser”, disse Held. “Provavelmente seria um senso espacial vago, de baixa resolução. Mas poderia lhes permitir se movimentar de forma mais independente.”

Notícia publicada no Portal UOL , em 23 de dezembro de 2008.

Claudia Cardamone comenta*

Em O Livro dos Espíritos , Kardec perguntou:

“420. Os Espíritos podem comunicar-se, se o corpo estiver completamente acordado?

  • O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor; eis por que poderá comunicar-se com outros Espíritos, mesmo no estado de vigília, embora o faça mais dificilmente.”

“245. A vista dos Espíritos é circunscrita como nos seres corpóreos?

  • Não, é uma faculdade geral.”

“248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?

  • Mais distintamente, porque a sua vista penetra o que a vossa não pode penetrar; nada a obscurece.”   Na questão 420, os Espíritos nos mostram que nós podemos nos irradiar para além do nosso corpo, isto demonstra que não estamos presos dentro dele, que como espíritos também podemos interagir com o mundo ao nosso redor.

Nas questões, eles ensinam que os espíritos podem ver, mas que a vista não é tão restrita, ela é mais abrangente. Bom, sabemos que o médium vidente pode ver os Espíritos mesmo de olho fechado, porque ele não os vê pelos olhos materiais, mas vê através do perispírito.

A visão do espírito, através do perispírito, não poderia ser esta “visão cega”? Talvez pessoas que possuam esta faculdade mais desenvolvida, ou simplesmente possuam organismos que facilitem a manifestação deste, podem usá-la para compensar a perda ou danificação dos órgão material da visão.

A dúvida fica quanto ao depoimento daquele que perdeu a vista. Será que ele viu os objetos ou suas silhuetas, ou apenas sentiu a presença? Não é algo muito difícil, ver indivíduos com deficiências visuais pararem antes de uma parede ou desviarem de um objeto sólido, e afirmam que sentem o objeto e neste caso, o perispírito como se irradia ao redor do corpo, não vê o objeto mas sente sua presença antes que o corpo o toque.

Quando eles colocam a possível evidência de neurônios especializados em enviar informações de localização de um objeto externo, em nenhum momento contrariariam a explicação espiritual, pois os neurônios não são células especializadas em captar sensações ou percepções, mas de processá-las e transmití-las. Assim, o perispírito pode sentir a parede, avisar o cérebro e este enviar a ordem de parar evitando um choque.

Esta última frase pode dar um certo ar esotérico à coisa, ou mesmo dar a sensação de um novo sentido inerente ao corpo.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.