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A desigualdade entre ricos e pobres nos países mais ricos do mundo aumentou em 7% no período que vai de 1985 a 2005, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :23 Feb, 2009
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Desigualdade entre ricos e pobres aumentou, diz OCDE

A desigualdade entre ricos e pobres nos países mais ricos do mundo aumentou, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Dados disponíveis dos 30 países da organização indicaram que a desigualdade aumentou em 7% no período que vai de 1985 a 2005.

O documento diz que os salários das 10% de pessoas mais ricas do bloco eram, em média, nove vezes maiores que os rendimentos das 10% pessoas mais pobres.

Essa diferença é bem maior em países como México, Turquia e Estados Unidos, e menor em países nórdicos como Dinamarca, Suécia e Finlândia.

Polarização

As informações sobre distribuição de renda cobrem pela primeira vez todos os países da OCDE até a metade da primeira década do século 21.

No lançamento do relatório nesta terça-feira em Paris, o secretário-geral da organização, Angel Gurría, alertou para os perigos que a desigualdade entre ricos e pobres pode representar.

“A crescente desigualdade traz discórdia. Polariza sociedade, divide regiões dentro de países e modela o mundo entre ricos e pobres”, afirmou. “A maior desigualdade de renda reprime a mobilidade para cima (na sociedade) entre as gerações, tornando mais difícil para pessoas talentosas e trabalhadoras conseguirem as recompensas que merecem.”

“Ignorar a crescente desigualdade não é uma opção”, acrescentou Gurría.

Crescimento econômico

O relatório Growing Unequal ? (“Crescendo en Desigualdade?”, em tradução livre) afirma que o crescimento econômico das últimas décadas beneficiou mais os ricos do que os pobres.

Um dos fatores que alimentou a desigualdade de renda foi o número de pessoas menos qualificadas e com nível educacional mais baixo que não estão empregadas. Mais pessoas vivendo sozinhas ou casas lideradas por pais ou mães solteiras também contribuíram para o aumento.

Em países desenvolvidos, os governos vinham adotando uma política de cobrar mais impostos dos mais ricos e gastar mais com benefícios sociais, como uma forma de fomentar uma sociedade mais igualitária.

Mas a eficácia dessa política decaiu, diz a OCDE. Países da organização, por exemplo, gastam três vezes mais em benefícios do que gastavam há 20 anos, mas, mesmo assim, famílias de pais solteiros têm chances três vezes maiores de serem pobres.

De acordo com o secretário-geral Angel Gurría é preciso encontrar novas formas de enfrentar a desigualdade.

“Apesar do papel dos impostos e dos sistemas de benefício na redistribuição de renda e na diminuição da pobreza ainda ser importante em muitos países membros da OCDE, nossos dados confirmam que sua efetividade diminuiu nos últimos dez anos”, afirmou.

“Tentar cobrir as desigualdades na distribuição de renda apenas aumentando os gastos sociais é como tratar apenas os sintomas ao invés da doença.”

“A maior parte do aumento na desigualdade vem de mudanças nos mercados de trabalho. Aí os governos precisam agir. Trabalhadores com pouca qualificação estão enfrentando muitos problemas para encontrarem trabalho. Aumentar o emprego é a melhor forma de diminuir a pobreza”, afirmou.

Aposentados

Nos 20 anos computados pela pesquisa, alguns grupos foram mais bem sucedidos do que outros. As pessoas em idade de aposentadoria foram as que tiveram os maiores aumentos de renda - e o grau de pobreza entre aposentados caiu na maioria dos países pesquisados.

Por outro lado a pobreza entre crianças aumentou. A OCDE define como pobre uma pessoa que vive em uma residência com menos da metade da renda média, ajustada de acordo com o tamanho da família.

Crianças e jovens adultos atualmente têm uma chance 25% maior de serem pobres do que a população como um todo. Residências lideradas por pais solteiros têm três vezes mais chances de serem pobres do que a média da população.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 21 de outubro de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

O problema das desigualdades sociais e da distribuição de riqueza remonta ao desenvolvimento das primeiras civilizações. Então, como agora, enquanto uns poucos viviam, sem complexos, na opulência, desperdiçando recursos e alimentos, a maior parte padecia numa miséria que muitas vezes não permitia a satisfação das suas necessidades mais básicas. Da mesma forma, na sociedade atual, enquanto uma boa parte da população mundial não dispõe das mais básicas condições de higiene, saúde e alimentação, outra grossa fatia padece de doenças relacionadas com os excessos alimentares: obesidade, diabetes, hipertensão, altos níveis de colesterol, etc.

Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, questionou os Espíritos sobre esta situação:

“811. A igualdade absoluta das riquezas é possível e existiu alguma vez?

– Não, não é possível. A diversidade das faculdades e dos caracteres se opõe a isso.”

“811-a. Há homens, entretanto, que creem estar nisso o remédio para os males sociais; que pensais a respeito?

– São sistemáticos ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade seria logo rompida pela própria força das circunstâncias. Combatei o egoísmo, pois essa é a vossa chaga social, e não correi atrás de quimeras.”

“812. Se a igualdade das riquezas não é possível, acontece o mesmo com o bem-estar?

– Não; mas o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem. (…) Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo e é o homem quem o perturba.”

O que este trecho de “O Livro dos Espíritos” nos esclarece é que é impossível haver uma igual distribuição da riqueza devido às diferentes capacidades individuais, condições morais, heranças culturais e oportunidades existentes em cada indivíduo, e que um sistema político, econômico e social assente nesta igualdade absoluta era uma utopia que seria corrompida por aqueles fatores.

Mas se a desigual distribuição de riqueza nos surge como natural e inevitável, já a desigualdade de bem-estar e de condições básicas de vida, sobretudo a miséria a que está votada uma grande parte da população mundial não é compreensível e necessita de uma resposta urgente: Não é aceitável que 30 milhões de crianças passem fome apenas na África Subsaariana; Não é admissível que morram cerca de 6 milhões de crianças por ano com fome, ou através de doenças de tratamento fácil como diarreia, pneumonia, malária ou sarampo; Causa repulsa saber que todos os anos morrem milhares de cidadãos Africanos a tentar fazer perigosas travessias do Atlântico, em embarcações frágeis e condenadas ao fracasso, preferindo arriscar a vida e tentar entrar de forma clandestina em algum dos países do sul da Europa onde enfrentarão o drama do trabalho ilegal, do que viverem em miséria e sem acesso a qualquer oportunidade nos seus países.

Tudo isto deveria merecer uma cuidada reflexão de todos: Se o sistema socialista mostrou os resultados catastróficos que todos conhecemos, o sistema capitalista liberal, onde o lema cada um por si, tudo pelo capital e pelo lucro exponencial, empurrou-nos para uma crise econômica global, com efeitos imprevisíveis, e uma crise de valores éticos e morais ao nível social que urge colocar um ponto final: A prosperidade, o desenvolvimento e a riqueza de uns não podem ser conseguidos à custa do esmagamento e da exclusão de muitos. Não é moralmente compreensível que empresas possuidoras de lucros astronômicos atirem para o desemprego milhares e milhares de empregados, alguns com uma idade que não lhes permite o acesso fácil ao mercado de trabalho, justificando-o com a crise econômica. É necessário resgatar os valores éticos e morais, retirá-los do baú poeirento a que foram empurrados por uma sociedade ávida de êxito fulminante e prazer imediato e aplicá-los a tudo o que nos rodeia, inclusive ao mundo econômico e empresarial.

Para podermos caminhar gradualmente para um mundo mais justo, pacífico e livre do drama da pobreza extrema, precisamos criar novos paradigmas comportamentais, reorientar o fim último do indivíduo e a sua responsabilidade social. Hoje, é o dinheiro e o poder que exercem esse lugar, mas precisamos colocar o servir, a partilha, a solidariedade e a consciência de dever cumprido no lugar que são seus por direito. O que posso fazer pelos outros? A quem eu estou sendo útil? A quem eu posso ajudar com o meu conhecimento? No modelo capitalista liberal, onde o lucro financeiro é o “Summum Bonum”, estas perguntas simples soam a ridículas, mas é assim mesmo, não nos podemos esquecer da lei de Russel: “A resistência a uma ideia nova aumenta na proporção do quadrado de sua importância.”

O dinheiro não precisa de desaparecer da face da Terra, mas ser encaminhado para o seu devido lugar: Não ser um fim, mas um meio, servir de instrumento patrocinador das nossas causas íntimas, usado com critério e assente em princípios éticos firmes e estruturados.

Não se pense é que estas modificações poderão ser uma consequência de profundas e pensadas estratégias políticas ou econômicas, nada disso! Quem dispõe do capital não está receptível a abrir mão do poder que ele possui na sociedade atual, nem dos lucros que retira do desejo que os outros têm de o possuírem. Estas modificações sociais só poderão ser efetuadas à medida que individualmente as incorporarmos ao nível íntimo da nossa consciência, e as implementarmos na nossa vida, ou seja, pelo exemplo que fornecermos. Hoje já existem alguns destes pioneiros, que vivem em função do servir dos que necessitam e da partilha de recursos e conhecimentos, sendo olhados como extraterrestres por aqueles que fazem de cada dia uma competição pela conquista de mais e mais dinheiro, ao bom estilo das grandes corridas por terras no Oeste Americano. Mas à medida que estes últimos começarem a perceber a essência da vida dos pioneiros, como eles conseguem expressar o seu amor e partilhar a sua luz, como não são afetados pelo medo e pelas necessidades fictícias infligidas, como apreciam e entram em comunhão com a Natureza e todas as suas manifestações; quando perceberem que estes pioneiros não negligenciam o dinheiro e as comodidades da sociedade atual, apenas não vivem em função delas; quando compreenderem que por causa da inexistência de ansiedade, a sua vida é muito mais saudável, tranquila, pacífica e harmoniosa, com tempo para trabalhar, servir, educar, cultivar-se, amar, meditar e divertir-se…, inevitavelmente o mundo irá ver crescer o número de pioneiros e os que vivem voluntariamente de forma simples.

São necessários pioneiros! Pessoas inconformadas com as profundas desigualdades existentes, que ousem ser diferentes, que sejam originais, que estejam dispostas a criar novos paradigmas para a construção de um mundo novo, para podermos iniciar a transformação gradual desta sociedade injusta e profundamente desigual, e dar seguimento à revolução espiritual que o nosso mundo necessita e onde cada um de nós terá um papel preponderante e fundamental.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.