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Iniciativas de dentro da escola, como infra-estrutura e professores, representam cerca de 30%, diz pesquisa. A conclusão surgiu de uma revisão da literatura sobre desempenho escolar existente no Brasil. Pedro Vieira comenta.

  • Data :13/12/2008
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Contexto familiar tem peso maior na aprendizagem

Iniciativas de dentro da escola, como infra-estrutura e professores, representam cerca de 30%, diz pesquisa

Simone Iwasso

O contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar de um estudante, restando à escola e suas condições interferir, positiva ou negativamente, nos 30% restantes. A conclusão surgiu de uma revisão da literatura sobre desempenho escolar existente no Brasil realizada pela Fundação Itaú Social. O objetivo do trabalho, que será divulgado hoje em seminário promovido pela instituição, foi orientar gestores a definir políticas públicas na área, tendo como base as evidências que aparecem nas pesquisas acadêmicas, esclarecendo resultados que, isolados, são muitas vezes conflitantes.

“Todas as pesquisas analisadas, nacionais e internacionais, mostram que a maior parte do desempenho escolar é explicada pelas características familiares do aluno. A educação é realmente um bem transmitido de geração para geração, tanto a boa quanto a má educação”, explica Fabiana de Felício, responsável pelo estudo no Itaú Social e consultora do Ministério da Educação (MEC). “São fatores principais o nível de escolaridade do pai e da mãe, a renda familiar, o tipo de moradia e o acesso a bens culturais. Todo o resto acaba sendo derivado disso.”

Segundo a pesquisadora, os levantamentos - feitos tendo como parâmetro os resultados em avaliações nacionais do MEC e os índices de aprovação e evasão - mostram que o aluno já chega à escola com diferenças que fazem com que ele tenha resultados maiores ou menores. Ou seja, sua condição e estrutura familiar já o colocam em vantagem ou desvantagem desde o início do ensino fundamental. No entanto, o fato de ter cursado a educação infantil já reduz ano a ano essas diferenças - dado corrobora a opinião de uma série de organizações e educadores que têm, nos últimos anos, brigado pela valorização do ensino infantil e pela abertura de mais vagas na escola para essa faixa etária, considerada não obrigatória por lei.

“É muito difícil interferir nesses 70%, que são a base, a família e os benefícios que a renda permite. Algumas secretarias estão tentando fazer isso, visitando as casas, oferecendo ajuda, mas ainda é muito complexo. Cabe ao gestor trabalhar para melhorar esses 30% da escola”, diz a pesquisadora. “Até por isso que a maior parte dos trabalhos investiga as variáveis da escola”, explica.

Quando se chega nesse patamar, o trabalho traz algumas luzes - e polêmicas. Enquanto a educação infantil, a presença de professores com curso superior e boa infra-estrutura da escola aparecem como elementos com impactos positivos e significativos, o tamanho das turmas, o uso do computador pelo professor e o número de horas-aula despontam como fatores com impactos relativamente pequenos.

POLÊMICA

Outra discussão gira em torno do real impacto dos programas de formação continuada do professor. O estudo mostra que 88% das pesquisas comprovam o impacto positivo do professor com curso superior. No entanto, os cursos de atualização e formação oferecidos pelas secretarias não têm impacto positivo significativo algum - em alguns casos, chegam a ter influência negativa.

Para o economista da Universidade de São Paulo e do Ibmec São Paulo, Naércio Menezes, o problema está na qualidade e no tipo dos cursos oferecidos. Ele foi um dos primeiros a mostrar, em trabalho elaborado há dois anos, que professores que passavam pelos cursos não conseguiam melhorar o desempenho de seus alunos.

Notícia publicada no estadao.com.br , em 30 de outubro de 2008.

Pedro Vieira comenta*

A reportagem mostra a não impressionante importância do núcleo familiar na formação educacional das crianças (embora devamos considerar números estatísticos com relação a comportamentos humanos com muitas reservas).

Numa época em que nem sempre a família é valorizada, em detrimento do ter desenfreado e do ser descontrolado, essa pesquisa traz o homem de volta a si mesmo e às suas organizações básicas, mostrando sua importância no campo intelectual.

O Espiritismo, mais uma vez, vai mais além: demonstra, desde há 150 anos, a importância da organização familiar na formação do Espírito - intelectual, e, principalmente, moral. Esse compromisso entre almas é tão forte e profundo que os Imortais, em O Livro dos Espíritos, chegam a dizer: ‘Deus colocou a criança sob a tutela de seus pais para que estes o dirijam no caminho do bem (…) entretanto, há os que se preocupam mais em aprumar as árvores de seu jardim e de fazê-las dar muitos bons frutos, do que em endireitar o caráter de seu filho’.

Embora com esse viés positivo e enriquecedor, a abordagem materialista, implícita como princípio no artigo, dá o ar de sua graça pela declaração de uma das responsáveis pelo estudo: ‘A educação é realmente um bem transmitido de geração para geração, tanto a boa quanto a má educação.’, ignorando que ela tem um profundo fator espiritual. Na realidade, dizem os Espíritos, as famílias se formam, o mais das vezes, por Espíritos afins, e não o contrário (a afinidade é sempre resultado da família).

Não podemos, de forma alguma, descartar a influência do meio, mas entre os dois fatores em destaque: influência da família e influência da escola, nós, como espíritas, somos obrigados a colocar um terceiro - que já entra na frente: a influência do Espírito, por meio de sua vontade, agindo em prol de seu próprio progresso.

Nesse terceiro pé do tripé está a contribuição da Doutrina Espírita: a educação do Espírito, com fortíssimo poder influenciador e transformador, embora a importância dos demais considerados pela reportagem.

  • Pedro Vieira é expositor e médium espírita. Colabora com o centenário Centro Espírita Cristófilos e com o Centro Espírita Léon Denis, no Rio de Janeiro, além de algumas outras casas.