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Voltar ao trabalho pode ajudar na recuperação da depressão, sugere uma pesquisa publicada na edição deste mês da revista acadêmica Occupational Medicine . Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :03 Sep, 2008
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Voltar ao trabalho ‘ajuda a recuperar de depressão’

Voltar ao trabalho pode ajudar na recuperação da depressão, sugere uma pesquisa publicada na edição deste mês da revista acadêmica Occupational Medicine .

O estudo acompanhou, por um ano, 555 pessoas que haviam ficado fora do trabalho de 12 a 20 semanas por causa de depressão. Os participantes responderam a um questionário inicial e depois participaram de uma ou duas entrevistas.

A pesquisa concluiu que os que haviam voltado ao trabalho afirmavam ter tido menos sintomas de depressão.

Especialistas afirmam que a explicação pode estar no fato de que a volta ao trabalho ajuda no restabelecimento da auto-estima e fornece ao paciente uma rotina e uma estrutura com as quais ele pode refazer sua vida.

Mas afirmam, também, que os resultados podem ter ocorrido porque, com a melhora dos sintomas de depressão, as pessoas tendem a voltar ao trabalho.

O estudo também sugere que empregadores devem ser flexíveis no que diz respeito às necessidades desses trabalhadores.

Os especialistas avaliaram quais medidas adotadas pelos empregadores tiveram um impacto na recuperação dos funcionários.

Eles descobriram que mudar parte das tarefas desempenhadas pelo trabalhador parece ter um efeito benéfico, contribuindo na recuperação.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 5 de junho de 2008.

Breno Henrique de Sousa comenta*

O trabalho

Houve tempo em que o trabalho era fonte permanente de tormento. Com o surgimento da industrialização, os primeiros trabalhadores não desfrutavam de condição muito diferente da que existia no sistema escravagista. Christophe Dejours, em sua famosa obra A Loucura do Trabalho , fala do sofrimento a que os trabalhadores vêm sido submetidos desde essa época e como o trabalho pode tornar-se algo “enlouquecedor”.

Atualmente, existem diversas formas de exploração do trabalho, mas isso não se compara ao que se viveu nos primórdios do trabalho formal. Hoje, apesar da exploração, sobretudo nos países menos desenvolvidos, já dispomos de leis trabalhistas que garantem direitos nem sonhados na época da Revolução Industrial.

Mas é na Inglaterra, berço desta revolução, que foi feita esta pesquisa mencionada no artigo, mostrando que o ambiente de trabalho é terapêutico. Isso nos leva a refletir que, por se tratar de um país de primeiro mundo, as condições de trabalho oferecidas ali, são tão dignas e de acordo com as leis, que o ambiente laboral cumpre com sua função de terapia ocupacional. Talvez os resultados fossem bem diferentes se os pesquisados fossem os trabalhadores asiáticos que são explorados como mão-de-obra barata e submetidos a longas jornadas de trabalho, ou talvez se os pesquisados fossem imigrantes latino-americanos que vivem em condições ilegais, submetendo-se a todo tipo de exploração e humilhação. Nestes últimos casos, é o trabalho a fonte de estresse e depressão.

À parte das diferenças sociais, e considerando a realidade inglesa, que definitivamente não representa a realidade encontrada mundo afora, o trabalho, quando digno e em condições dignas, exerce mesmo esta função terapêutica, fazendo valer o ditado popular que diz: “mente vazia oficina do diabo”.

Por outro lado, a obsessão pelo trabalho pode ser uma patologia que geralmente ocorre quando o indivíduo tem desajustes em outros departamentos de sua vida e passa a usar o trabalho como fuga de algum conflito.

O Espiritismo considera o trabalho de maneira mais ampla, definindo-o como toda ocupação útil. É uma lei da Natureza e por isso mesmo uma necessidade do ser humano. Através do trabalho, o homem progride e por seus méritos usufrui de tudo que pode edificar através de seus esforços.

À medida que a humanidade progride, o trabalho transforma-se a caminho deste sentido mais amplo e universal. Nos primórdios da civilização, ele pouco se diferencia da escravidão; nas sociedades mais modernas, ele assume um papel essencial para o ajustamento social do indivíduo e a construção de sua auto-estima. De certa forma, enquanto membros de uma sociedade, somos aquilo que fazemos, mas, em sentido mais profundo, é nosso parentesco divino que nos define em essência.

Quando algumas pessoas perdem seu trabalho, costumam entrar em depressão porque acreditam que tudo o que são está em torno do trabalho. É a fuga que mencionamos há uns parágrafos, aonde o sujeito chega ao ponto de se sentir a própria empresa, deixando de lado outros setores de sua vida. Pessoas assim acham-se essenciais e perdem noites pensando em como galgar mais altos cargos ou como bater o recorde de vendas. Estes ficam muito contrariados quando percebem que são substituíveis e que a empresa a que tanto se dedicaram não se importa tanto assim com sua ausência. Apegar-se ao que é efêmero e concentrar toda a vida em um único setor são duas formas de plantar sofrimentos. Isso não significa estar indiferente e não gostar de nada, este seria outro extremo. Apenas devemos seguir a regra do bom senso que nos manda ter moderação em todas as coisas.

Em bom português: trabalhe para viver, mas não viva apenas para trabalhar. Devemos dar atenção a todos os setores da vida com igual importância e sem negligenciar nossas responsabilidades afetivas diante daqueles que amamos.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.