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Antigos métodos abortistas utilizados no país foram substituídos nos últimos 20 anos pelo uso do medicamento de venda controlada misoprostol, conhecido como Cytotec. Mário Coelho comenta.

  • Data :01/09/2008
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Medicamento controlado é principal método abortivo no país

Adriana Brendler Repórter da Agência Brasil

Brasília - Venenos, líquidos tóxicos, instrumentos perfurantes e a ação de parteiras, métodos utilizados para realizar abortos no país até a década de 80, foram substituídos nos últimos 20 anos pelo uso do medicamento de venda controlada misoprostol, conhecido como Cytotec.

Indicado para problemas gástricos, a substância capaz de interromper a gestação foi usada por até 84% das mulheres que fizeram abortos no país de 1997 a 2007. Na década de 80, medicamentos eram usados como métodos abortivos apenas entre 10 e 15% dos casos.

As informações fazem parte do Relatório Aborto e Saúde Pública no Brasil, elaborado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) com base em mais de 2 mil pesquisas sobre aborto no país publicadas nos últimos 20 anos.

De acordo com antropóloga Débora Diniz, da Unb, embora o uso da substância tenha reduzido os riscos para a saúde das mulheres associados ao aborto, trouxe outros problemas.

“Nos anos 80, tínhamos mulheres perdendo o útero e com processos infecciosos graves. Com a entrada do misoprostol, o período de internação e as seqüelas associadas ao aborto diminuem consideravelmente no cenário brasileiro. Mas a única experiência verdadeiramente segura para as mulheres praticarem o aborto seria uma lei que o autorizasse, porque todas as outras formas impõem uma série de riscos. Dizer que diminuiu a morbidade não significa ignorar que há riscos numa prática ilegal ”, afirmou.

Entre os novos riscos, ela aponta as evidências de que o Cytotec esteja sendo comercializado por traficantes de drogas, em muitos casos com a composição adulterada, favorecendo a aproximação dos compradores com o mundo do crime.

Além disso, Diniz destacou o uso do medicamento sem orientação médica, que, por ser ingerido em subdoses, exige atendimento médico para completar o abortamento e combater as reações decorrentes do processo inicial, como hemorragias e dores abdominais.

Segundo ela, em doses adequadas, o medicamento pode interromper a gestação em 90% dos casos sem necessidade de atendimento médico. Como exemplo, ela citou a experiência de Cuba, onde o misoprostol vem sendo adotado como método abortivo doméstico por indicação do governo.

As mulheres que responderam as pequisas normalmente procuram os hospitais públicos nas primeiras 24 horas depois de usar o medicamento, com dores abdominais e sangramento. Entre 9,3% e 19% delas apresentavam sinais de infecção. Na maioria dos casos, o tempo de gestação era de até 12 semanas e a internação durou em média um dia.

Além do Cytotec, os estudos também registraram o uso de chás e ervas em até 15% dos abortos induzidos. Os dados do relatório dizem respeito apenas à realidade de grandes cidades onde foram concentradas as pesquisas e incluem somente informações de mulheres que começaram o processo abortivo em casa e acabaram buscando os hospitais públicos para completá-lo.

De acordo com Cristião Rosas, presidente da Comissão Nacional de Violência Sexual e de Interrupção da Gravidez nos Casos Previstos em Lei, da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o misoprostol é contra-indicado para pacientes anêmicas, com problemas hepáticos e cardíacos, que usem anticoagulantes ou que já tenham passado por cesariana.

Ele destacou, no entanto, que, usado sob critérios médicos, o remédio é muito eficiente na área obstétrica em casos de indução do trabalho de parto, abortamentos retidos e hemorragias pós-parto, contribuindo para a redução da mortalidade materna.

Notícia publicada pela Agência Brasil , em 1° de maio de 2008.

Mário Coelho comenta*

A substância Misoprostol, usada inicialmente para os problemas gástricos, ligados a gastrites e úlceras, por terem ação sobre as prostaglandinas, viu-se que poderiam usar para induzir o trabalho de parto e, nos casos terapêuticos, como aborto retido também.

Essa segunda ação caiu em domínio público e muitas mulheres passaram a usá-lo como abortivo, e a comercialização do mesmo foi proibida.

Há quem levante a bandeira de que se deveria fazer igual a alguns países, onde a venda é livre e usado para abortamento doméstico.

Mas, do ponto de vista social, isto resolve o problema da gestação apenas em sua periferia, pois não vai na causa da questão. Agir assim é agir como alguém que espantasse as moscas das feridas, sem tratar da lesão. Digamos mais, teríamos diante de um fato deste buscar os meios para que outros não tivessem lesões. A educação formal já seria um grande passo para que se tratasse o problema. A educação sexual, séria, comprometida com a dignidade humana, e não apenas aquela que ensina a não pegar essa ou aquela doença sexualmente transmissível, também faz parte da solução.

Nós, os espíritas, vemos o aborto como uma interrupção da chegada de um espírito à reencarnação.

Atacam os religiosos de todos os matizes de invibializarem a lei que legalize o aborto, que será mais fácil fazer um aborto sem risco, como se isso fosse solução do problema. Sem contar que acham que a legalização abrirá as portas dos hospitais, dos centros cirúrgicos, das emergências para quem quiser fazer um aborto, quando vemos pessoas esperarem meses, e até anos, por uma cirurgia. Onde vemos pessoas morrendo, porque a ambulância percorreu vários hospitais para encontrar uma vaga na emergência para um paciente grave.

Orientemos portanto a esses que acreditam nestas facilidades, que as que buscarem os hospitais e não encontrarem vagas terminarão caindo nas mãos dos “fazedores de anjos”.

  • Mário Coelho é médico, pós-graduado em Cardiologia. É trabalhador do Centro Espírita Léon Denis, no Rio de Janeiro e colaborador regular do portal Espiritismo.net.