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A maioria dos abortos no país é feito por mulheres de 20 a 29 anos de idade, que trabalham, têm pelo menos um filho e usam métodos contraceptivos. Sergio Rodrigues comenta.

  • Data :16/07/2008
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Levantamento revela perfil das mulheres que praticam aborto no país

Adriana Brendler Repórter da Agência Brasil

Brasília - A maioria dos abortos no país é feito por mulheres de 20 a 29 anos de idade, que trabalham, têm pelo menos um filho, usam métodos contraceptivos, são da religião católica e mantêm relacionamentos estáveis. Elas têm até oito anos de escolaridade e estão no mercado de trabalho com renda de até três salários mínimos, exercendo funções como as de doméstica, manicure e cabeleireira.

O perfil foi traçado por um estudo que reuniu resultados de mais de 2 mil pesquisas sobre o aborto no Brasil, elaboradas nos últimos 20 anos, com base principalmente em informações de mulheres atendidas em serviços públicos de saúde de grandes cidades depois de induzir o aborto em casa.

O levantamento realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com financiamento do Ministério da Saúde e das Organizações Pan-Americana e Mundial de Saúde, aponta o uso do medicamento de venda controlada misoprostol, conhecido como Cytotec, como principal método abortivo utilizado no país.

De acordo com uma das coordenadoras do estudo, Débora Diniz, o perfil apontado não traz surpresas, pois reproduz as características gerais das brasileiras em idade reprodutiva. A antropóloga da Unb destacou, no entanto, o fato de mais de 70% das mulheres que abortaram serem mães.

“Essas mulheres decidem pelo aborto já tendo um filho. Diferente do que vulgarmente poderia se imaginar, são mulheres já com experiência de cuidado com filhos. Elas tomam a decisão pelo aborto do alto da responsabilidade da maternidade”, ressaltou.

Para Débora, o uso de métodos contraceptivos por cerca de 70% das mulheres que abortaram indica que eles podem estar sendo utilizados inadequadamente ou de forma descontínua, mas também que o aborto está sempre no horizonte das escolhas reprodutivas femininas.

”Mesmo para as mulheres que se referem ao uso contínuo de métodos anticonceptivos, dado o índice de falha possível deles, o aborto está dentro do horizonte das práticas reprodutivas”, afirmou.

Segundo ela, o uso dos contraceptivos foi registrado na maior parte dos estudos da Região Sudeste, principalmente em São Paulo, onde mais se conhece a realidade do aborto no país. Já no Nordeste, onde menos pessoas foram pesquisadas, a situação é oposta: mais de 50% das mulheres que interromperam a gestação não usaram métodos anticoncepcionais.

O relatório mostra que cerca de 200 mil mulheres foram hospitalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de tentativas de aborto em 2005. Os pesquisadores consideram que o número representa 20% do total de casos ocorridos no país e assim estimam mais de 1 milhão de abortos para aquele ano. A estimativa, no entanto, fica prejudicada, pois não há dados sobre interrupções induzidas de gestação fora das grandes cidades, em casa e ou em clínicas particulares.

De acordo com coordenadora, os dados mais confiáveis sobre o aborto no Brasil são de uma pesquisa realizada nos anos 90 e reaplicada em 2000 pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), pois foram obtidos em levantamentos domiciliares, utilizando o método de urna, que garante sigilo às mulheres e, conseqüentemente, melhora a qualidade da informação. Segundo o estudo, cerca de 3,7 milhões de brasileiras entre 15 e 49 anos já induziram aborto, aproximadamente 7,2% das mulheres em idade reprodutiva no país.

Notícia publicada pela Agência Brasil , em 01 de maio de 2008.

Sergio Rodrigues comenta*

Temos aí expostos pela pesquisa em questão vários fatores que contribuem para a ocorrência deste grave ilícito.

A faixa etária das mulheres que se deixam envolver na prática do aborto, constatada pela pesquisa, não chega a ser novidade. Vemos que são mulheres ainda jovens e em plena capacidade reprodutiva, que se encontram em pleno vigor de suas aptidões sexuais. Sendo assim, é perfeitamente compreensível que seja esta a faixa etária com maior índice de incidência da prática abortiva, pois também maior o universo de risco.

O perfil traçado começa a ganhar contornos relevantes quando revela que são mulheres que trabalham, com renda de até três salários-mínimos, que já têm pelo menos um filho e que mantêm relações estáveis com seus pares. Vemos aí o problema social despontando. A necessidade de trabalharem para a garantia da manutenção da família exerce forte pressão que leva a mulher à opção abortiva. Embora a baixa renda auferida, sem ela, certamente, a sobrevivência familiar estaria em risco. A estabilidade provisória assegurada por lei, não impede que os empregadores, na maioria, optem por não manter em seu quadro funcional a mulher com filho recém-nascido, promovendo sua dispensa tão logo a garantia legal chegue ao seu término, pois, na avaliação deles, estão mais sujeitas à falta ao trabalho. Esta circunstância gera o temor do desemprego, com o conseqüente aumento das dificuldades de sobrevivência do núcleo familiar. Ante a ameaça, a mulher se deixa levar pela ilusão de que o aborto seria a solução, eliminando uma circunstância que poderia levá-la ao desemprego.

Outro fator detectado pela pesquisa é a opção dessas mulheres pelo formalismo religioso. Sabemos que a religião dominante,  embora possa ter cumprido um papel importante em determinado momento histórico do país, hoje já não atende aos anseios das pessoas, por não esclarecer, racionalmente, as grandes questões que envolvem a nossa existência. Desconhecendo as reais conseqüências do ato e premidas pelo problema social, a mulher adota a prática do aborto sem saber dos comprometimentos espirituais que está assumindo ao impedir que um ser retorne à vida física para dar continuidade à sua evolução.

Por fim, é importante a revelação de que a medicamento cuja utilização está sujeita a controle é o principal instrumento da prática do aborto. É a omissão do poder público dando sua parcela de contribuição para a ocorrência desse flagelo. O resultado dessa soma de fatores é o assustador número de duzentas mil mulheres hospitalizadas no ano de 2.005 após a tentativa do ato abortivo, apenas nas unidades hospitalares da rede pública, fora os casos em que não são registrados atendimento médico, segundo informa o relatório da pesquisa.

  • Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.