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Um estudo conduzido por pesquisadores americanos da Universidade Ohio sugere que pessoas que controlam o sentimento de raiva se recuperam mais rapidamente de cirurgias. Bianca Cirilo comenta.

  • Data :14/03/2008
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Conter a raiva acelera processo de cura, diz estudo

Pesquisadores avaliam que hormônio do estresse pode causar retardamento da cura.

Da BBC

Um estudo conduzido por pesquisadores americanos sugere que pessoas que controlam o sentimento de raiva se recuperam mais rapidamente de cirurgias.

O estudo, publicado na revista especializada Brain Behavior and Immunity, indica que o estresse provocado pela raiva tem um impacto direto na velocidade com a qual o organismo se restabelece.

Os pesquisadores da Universidade Ohio monitoraram 100 pessoas que foram submetidas a um questionário para medir como controlavam seu temperamento.

Os autores do estudo observaram, então, com que velocidade eles se recuperaram de um ferimento no braço.

Os especialistas observaram que os voluntários de “cabeça quente” tinham quatro vezes mais chances de demorar mais do que quatro dias para sarar a ferida.

Hormônio do estresse

No questionário, os participantes responderam sobre as formas que usavam para expressar sua raiva: externamente, gritando com as pessoas, ou internamente, quando a pessoa fica remoendo o sentimento, sem aparentar a raiva.

De acordo com os pesquisadores, o fato de a raiva ser interna ou externa pouco influenciou na rapidez da cura. O que foi crucial, no entanto, foi a capacidade de controle dos voluntários sobre seus sentimentos.

O estudo mostrou que os voluntários com baixo controle da raiva produziram altos níveis de cortisol, o hormônio do estresse que pode estar ligado ao retardamento da cura.

“A influência do estresse pode atrasar a cura, aumentando a chance de infecção no local do ferimento e retardando ainda mais a velocidade de recuperação do organismo”, disse Jean-Philippe Gouin, coordenador da pesquisa.

A equipe de pesquisadores procurou confirmar que a associação entre controle da raiva e cura não poderia ser explicada por outros fatores como o sono, a quantidade de exercício físico e o consumo de álcool.

O estudo sugere que o uso de técnicas terapêuticas, como relaxamento, poderia ajudar a controlar o sentimento de raiva.

Notícia publicada no Portal G1 , em 20 de fevereiro de 2008.

Bianca Cirilo comenta*

Assistimos, gradativamente, a um processo preocupante de distanciamento do homem da sua condição humana, na medida em que, o contexto histórico pós-moderno parece abafar a possibilidade de expressão dos sentimentos, afetos, emoções e todas as categorias que dão essência ao indivíduo como espírito imortal.

A pós-modernidade parece estar esgotando, substancialmente, os potenciais criativos do ser humano, na medida em que ele se consome no próprio consumismo capitalista reinante e facilmente exaure os seus recursos naturais que lhe foram disponibilizados por Deus.

Surge, como efeito, um esvaziamento dos valores reais em detrimento daquilo que é permanente, devido a transitoriedade desenfreada da busca do TER, para parecer o que não se é, como diz Joanna de Ângelis (1990) e, desta forma, torna-se comum o aparecimento do estresse como resposta emocional coerente com os excessos a que o homem se submete.

Nesse contexto, aumenta-se a dificuldade de entrar em contato consigo mesmo, já que existe uma lógica atual das relações sociais que tem se sustentado no afastamento do homem de sua vida íntima, a fim de aproximá-lo dos bens materiais, garantindo uma maior identificação com a sociedade de consumo.

Certamente, desconhecido de si, o indivíduo torna-se um estranho dentro de seu mundo interior e transforma-se em presa fácil dos impulsos emocionais que o assaltam e com os quais não sabe lidar.

Um exemplo deles seria a raiva, sentimento comum como todos os outros, considerando nossa condição evolutiva atual, mas que merece compreensão de suas origens, análise cuidadosa de seus efeitos e esforço para modificação de tal estado de espírito.

Na obra “Quando a raiva dói”, os autores Matthew Mc Kay, Peter D. Rogers e Judith Mc Kay analisam alguns aspectos sobre a raiva que são de suma importância para nosso entendimento. Eles destacam a necessidade de superação de alguns mitos sobre esta emoção, que facilitam a forma como lidamos com a mesma. Eles nos dizem que são quatro mitos a serem superados:

1- “A raiva é um evento determinado bioquimicamente”. 2- “A raiva e a agressão são instintivas no homem”. 3- “A frustração leva à agressão”. 4- “É saudável extravasar”.

Analisando cada uma dessas crenças, encontramos o seguinte: primeiramente, de acordo com esses pesquisadores, sentir raiva não é um instinto, produzido pela nossa bioquímica; em segundo lugar, nem sempre responderemos agressivamente frente ao que nos causa contrariedade; podemos, neste caso, demonstrar até mesmo submissão, por exemplo. Por fim, alguns estudos revelaram que o ato de extravasar a raiva costuma gerar um aumento desse sentimento e não o contrário: aqueles que extravasam tendem a sentir mais raiva e aqueles que são atingidos, geralmente, ficam muito machucados; em resumo, não é resolutivo.

Concluindo, esses autores destacam que tais mitos funcionam, na realidade, como reforçadores da idéia de que a raiva é um fenômeno necessário no ser humano.

Lembrando o que nos diz o Espiritismo, propriamente em “O Livro dos Espíritos”, no capítulo sobre a Lei de Conservação, pergunta 716, sabemos que a necessidade é tudo aquilo que é indispensável ao homem, em todos os sentidos: moral, físico, intelectual, social, etc. As necessidades básicas obedecem às Leis Divinas e nós, seres humanos, criamos tantas outras necessidades que, na verdade, são desejos e caprichos pós-modernos dos quais não queremos abrir mão e com os quais nos relacionamos, muitas vezes, de forma doentia e desequilibrada. Cultivar a raiva seria mais um exemplo desses aspectos.

Como nos diz a pergunta 907 de “O Livro dos Espíritos”, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade . Deus não nos impede de buscar satisfação e prazer, ao contrário, Ele criou suas Leis para alcançarmos felicidade, entretanto, distorcemos o conceito de bem-estar e nos condicionamos a precisar do que é descartável, escravizando-nos à sensações funestas, estranhas e mórbidas.

A raiva seria o resultado compreensível, mas não natural, da relação equivocada que estabelecemos com nós mesmos, com os outros e com a própria vida, quando as coisas não saem da maneira que esperamos. Geralmente, ela surge como reflexo de alguma contrariedade ou como frustração de alguma expectativa, mas como vimos, não é uma regra reagir agressivamente ao que nos desagrada. Em resumo, a raiva parece surgir quando nos deparamos com o NÃO, a impossibilidade de ter ou viver tudo, o limite natural e organizador da dinâmica da existência.

Como a raiva não é a única resposta emocional possível, podemos aprender a lidar com imprevistos sem ter que forçosamente se desequilibrar a tal ponto de perder o controle. Certamente, não se atinge isso instantaneamente, exige esforço, empenho e acima de tudo coragem para se conhecer.

Ainda com base na obra “Quando a raiva dói” (1989), encontramos uma observação importante a fim de desfazer o mito de que a raiva é necessária. Nesta obra, os autores comentam que a raiva é uma questão de escolha que se relaciona muito mais com nosso sistema de crenças e pensamentos do que com nossa fisiologia ou bioquímica.

Seria confortador encontrarmos uma desculpa no organismo para nossos desatinos emocionais e dificuldade de auto-superação, tendo em vista nossa dificuldade arraigada de assumir a responsabilidade com o que nos acontece.

Contudo, não há uma postura de condenação da raiva como emoção que surge, mas isso não significa que ela seja incontrolável ou que tenhamos que nos tornar reféns desse sentimento sem buscar transformá-lo e nos tornarmos mais senhores de nós mesmos.

A grande relevância dessa discussão é justamente perceber a raiva como indicador, como uma espécie de recado que avisa algo sobre mim que precisa ser cuidado, revisto, trabalhado.

Nesta perspectiva, sabemos que a manifestação da raiva em seu aspecto sinalizador pode ser útil no que tange ao alerta frente a alguma ameaça física ou frente a algum tipo de relação pessoal abusiva, onde o indivíduo não consegue estabelecer limites saudáveis ao seu bem-estar e a convivência social.

O grande problema ainda reside na resistência rebelde que o homem tem quanto ao autoconhecimento e esforço em aprofundar para si mesmo a forma como funciona nos diferentes setores da atividade humana.

Quando nos propomos a fazer uma auto-análise real, vamos descobrir as razões que nos levam ao estresse, a raiva, ao desequilíbrio, etc. É preciso que saibamos compreender que nosso organismo funciona em conexão com nossa mente, entretanto, não basta saber isso, é preciso incorporar esse conhecimento como algo que faça sentido em nossa vida e aprendermos a nos sentir de acordo com essa realidade.

Evidentemente, que tal  transformação só se realiza gradativamente. E é a partir desse processo que o homem vai compreendendo que neste auto-exame existem os chamados pensamentos-gatilho 1, que são verdadeiros disparos que acionam toda uma série de reações emocionais e comportamentais padronizadas, condicionadas a velhas crenças geradoras de sofrimento.

O estresse é um exemplo desse acúmulo de tensão, muitas vezes, inconsciente, onde a pessoa naturaliza toda uma gama de excessos e atitudes descontroladas que, em muitos casos, ela só se dá conta do risco de pifar numa fase mais avançada do problema, que é chamada de Exaustão. Nesta fase, o risco de enfartos, mortes súbitas é significativo.

Reconhecer que a saúde é favorecida pela diminuição da taxa de estresse e pelo controle da raiva representa confirmar o que a Doutrina Espírita já trouxe no que tange a evidência da relação entre espírito e matéria.

Não se trata, porém, de apenas controlar a raiva, a questão seria verificar suas origens, conhecer as fontes estimuladoras dessa emoção, aprender a verificar o nível de expectativa com relação ao que não depende de si, transformar padrões de crenças equivocadas, em suma, desenvolver a coragem do autoconhecimento, estabelecendo consigo um diálogo franco, transparente, sem culpas, mas de forma responsável.

Sem dúvida, a saúde integral depende de um conjunto de fatores, onde o espírito – o ser inteligente, o construtor de seu próprio destino e responsável pela condução de seu veículo físico - ganha ascendência. Nossa mente, nosso atributo essencial, comandada pelo ser imortal que somos, produz uma grande teia de associações múltiplas com pessoas, fatos, situações, emoções e reflete o padrão vibratório em que ainda estagiamos.

Precisamos resgatar nossa vida mental, tomando-a de volta e definitivamente, parar de viver como um estranho em nossa própria casa, recuperando as rédeas daquilo que nos singulariza, auscultando-se. Mas, para isso, é necessário aceitar que, de fato, só podemos viver a nossa vida, modificar apenas a nós mesmos, ser interdependente sem ser dependente das pessoas, situações e fatos, a fim de não mais deixarmos que aquilo que acontece fora defina o que deverá ocorrer dentro de nós.

1 Vide a obra “Quando a raiva dói – acalmando a tempestade interior”.

Referências Bibliográficas

  • FRANCO, D. P. (1990). O Homem Integral . Pelo Espírito de Joanna de Ângelis. Salvador (BA): Livraria Espírita Alvorada.
  • KARDEC, A. (1944). A Lei de Conservação, cap.V. In O Livro dos Espíritos . 81ª edição; Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.
  • MC KAY, M e outros (1989). Quando a raiva dói .  São Paulo: Summus editorial.
  • Bianca Cirilo é psicóloga há 14 anos, estudiosa da Terapia de Vida Passada e funcionária pública com experiência em grupos. Atua como médium do Centro Espírita Léon Denis, do Rio de Janeiro/RJ, na área de divulgação doutrinária.