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Apenas uma célula foi retirada de um embrião. Avanço é mais uma promessa da área que dispensaria a polêmica religiosa. Márcia do Vale Cordeiro comenta.

  • Data :25 Feb, 2008
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Cientistas criam células-tronco embrionárias sem destruir o embrião

Apenas uma célula foi retirada de um embrião. Avanço é mais uma promessa da área que dispensaria a polêmica religiosa

Da France Presse

Em um avanço que poderia pôr fim ao debate ético sobre o uso de embriões humanos na pesquisa médica, cientistas desenvolveram uma maneira de criar células-tronco embrionárias humanas sem causar danos ao embrião.

Isso foi possível a partir da extração de apenas uma célula do embrião seguindo o procedimento utilizado nas clínicas de fertilização in vitro para a realização de testes de detecção de falhas genéticas.

Uma vez extraída a célula, inseriram uma simples molécula, denominada laminina, de maneira que esta preservasse a pluripotência que caracteriza as células-tronco embrionárias.

O desenvolvimento do embrião não foi afetado pelo procedimento e pôde se desenvolver normalmente, segundo o estudo divulgado pela revista americana “Cell Stem Cell”.

A nova técnica promete, assim, acelerar as possíveis aplicações clínicas de terapias com células-tronco para uma ampla variedade de doenças.

Estas células pluripotentes têm a capacidade de se converter em qualquer tecido do organismo e oferecem, por isso, a esperança de cura para várias doenças atualmente incuráveis, além da possibilidade de reparar órgãos destruídos por um câncer ou um acidente.

Este novo procedimento pode dar fim ao debate sobre a questão moral da utilização de embriões humanos para a pesquisa médica. A polêmica gerada em torno destas pesquisas reside no fato de que, com as técnicas atuais, os embriões são destruídos no processo de extração de células-tronco.

Duas equipes de cientistas superaram recentemente este problema ao conseguirem transformar células de pele humanas em células-tronco.

As células de pele devem se tornar na fonte mais comum de células-tronco, afirmou o pesquisador australiano Alan Trounson, que lidera o maior projeto mundial de pesquisa de células-tronco, no Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia.

As células da pele, contudo, ainda não estão prontas para um uso clínico porque o processo de transformação introduz alterações genéticas e vírus potencialmente mortíferos.

Isso significa que as células-tronco embrionárias, que não possuem o mesmo risco de mutação, são atualmente a única opção para aplicações terapêuticas, afirmou Trounson.

“Também vai haver muita gente interessada nas células-tronco embrionárias porque são de qualidade de ouro”, disse à AFP, explicando que as células-tronco derivadas da pele ainda não foram completamente estudadas.

O cientista pioneiro em células-tronco, Robert Lanza, conta que a nova técnica que ajudou a desenvolver para preservar o embrião, incentivará as autoridades americanas a liberarem fundos para investigar novas linhas de células-tronco embrionárias.

O presidente americano George W. Bush proibiu em 2001, em nome da proteção da vida desde a concepção, o uso de verbas federais em pesquisas com novas séries de células-tronco embrionárias humanas.

Em outros países a pesquisa com células-tronco foi proibida por preocupações éticas.

“Nos próximos meses, poderíamos fazer tantas células destas quanto quiséssemos”, disse Lanza, pesquisador da Advanced Cell Technology.

“Elas são utilizáveis (as células-tronco derivadas da pele). Não estão geneticamente modificadas. Estão aqui”, destacou.

Um dos principais opositores à pesquisa com células-tronco, no entanto, estimou que o método de Lanza - “apesar de moralmente plausível” - “ainda não traz uma solução ética”.

“Qualquer procedimento que ponha em risco a saúde e a vida de um embrião humano para propósitos que não beneficiem diretamente ao embrião é moralmente inaceitável”, opinou o pastor Tadeusz Pacholczyk, diretor da educação do National Catholic Bioethics Center.

Notícia publicada no Portal G1 , em 10 de janeiro de 2008.

Márcia do Vale Cordeiro comenta*

A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS PODE CONTRIBUIR COM A BIOÉTICA?

Introdução

Recentemente, a mídia noticiou a possibilidade de utilização de uma célula embrionária, sem dano ao embrião, nas pesquisas de utilização de células-tronco com finalidade terapêutica.

A notícia contribui para a polêmica da utilização de embriões humanos na pesquisa científica.

Conceitos científicos

Segundo a Dra. Mayana Zatz, médica geneticista da USP, células–tronco são “células com capacidade de auto-replicação, isto é, com capacidade de gerar uma cópia idêntica a si mesma e com potencial de diferenciar-se em vários tecidos.”

Classificadas em totipotentes, pluripotentes ou multipotentes, oligopotentes e unipotentes , são diferenciadas pela capacidade de dar origem a todos os tecidos humanos, inclusive a placenta e anexos do embrião (totipotentes), ou a quase todos os tecidos humanos, com exceção da placenta e anexos embrionários (pluri ou multipotentes). As células totipotentes são encontradas nas primeiras fases da divisão celular do embrião, por volta de 3 a 4 dias de vida.

As células internas do blastocisto (5º dia de vida embrionária) são pluripotentes.

Células embrionárias podem ser obtidas de embriões desenvolvidos para reprodução assistida, congelados, ou inviáveis para implantação uterina. Podem resultar de clonagem terapêutica, “técnica de manipulação genética que fabrica embriões a partir da transferência do núcleo da célula já diferenciada, de um adulto ou de um embrião, para um óvulo sem núcleo.”

A possibilidade de estudo dessas células, a partir dos avanços das técnicas de manipulação celular desenvolvidas pela reprodução assistida, abriu novas linhas de pesquisa de tratamento para doenças genéticas, oncológicas, distúrbios metabólicos raros, etc.

Células poderiam ser manipuladas para a obtenção de tecidos sadios, em substituição a tecidos doentes, sem possibilidade de realizar suas funções, sem risco de rejeição, obtidas do próprio doente (Podem ser obtidas células-tronco adultas de alguns tecidos: medula óssea, epitélio, etc). Mas no caso de doenças genéticas as células do doador são portadoras de defeito que se reproduz em todas as sua células.

Inicia-se a polêmica entre cientistas, juristas, correntes religiosas, políticos, sociedade em geral.

É lícito a manipulação extra-uterina do embrião não implantado sem finalidade de auxílio à reprodução?

É ética e moral essa conduta científica?

O embrião não implantado é um ser humano?

Se é um ser humano, que legislação deve protegê-lo, assim como os pesquisadores?

A opinião dos especialistas

Por todo o mundo surgem opiniões a favor e contra a clonagem terapêutica.

Em nosso país, o Dr. Herbert Praxedes, professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFF e do Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP), opina contra a pesquisa com células-tronco embrionárias argumentando:

“Que a extração de células-tronco embrionárias implica na morte do embrião, enquanto as células-tronco adultas são obtidas de um ser já formado, sem possibilidade de dano;

“Que no ovo ou embrião unicelular existe vida humana;

“Que o ovo de nada mais necessita para o seu desenvolvimento além de oxigênio e nutrientes obtidos do útero materno;

“Que o ser humano unicelular possui em seu código genético informações que dirigirão seu desenvolvimento futuro (altura, cor dos olhos, características psíquicas, temperamento, aptidões), não sendo, portanto, parte do corpo da mãe;

“Que as intervenções no embrião humano devem ter finalidades terapêuticas para o próprio embrião, defendendo sua integridade.”

Membros titulares da Academia Brasileira de Ciências: Prof. Dr. Marco Antonio Zago, Professor titular de Clínica Médica da USP, Prof. Dra. Mayana Zatz, Professora Titular do Instituto de Biociências da USP, Prof. Dr. Antonio Carlos Campos de Carvalho, Professor Titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro comparam a utilização de células de embrião não implantados ao uso de órgãos de pacientes em morte cerebral, para transplantes. Argumentam que “o ovo ou o blastocisto não pode ser considerado um ser humano, se não tem a possibilidade de ser implantado em útero. Sem a implantação uterina, o ovo é apenas um conjunto de células que não se distingue, do ponto de vista biológico, de uma cultura ou colônia de animais ou plantas (…).” Fazendo uma analogia com o critério de morte cerebral (cessação da atividade neural em um indivíduo que possui órgãos vivos e funcionantes), lembram que a inexistência de atividade cerebral autoriza a retirada dos órgãos funcionantes do doador . Recordam que tanto no doador quanto no embrião até o 14º dia de vida não há atividade neural, não se justificando a designação de ser humano para o embrião não implantado. Daí os direitos do ser humano não devem ser atribuídos a esse conjunto celular.

Revelações da Doutrina dos Espíritos

A Doutrina dos Espíritos revela que:

“O homem é formado de três partes essenciais: “1º) – O corpo, ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; “2º) – A alma, Espírito encarnado cujo corpo é a habitação; “3º) - O princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e une a alma ao corpo. Tais são, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.”  (LE 135, a)

“Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo (…). A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado da vida orgânica.” (LE 136, a)

“O nosso corpo, se não tivesse alma, seria uma massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.” (LE 136, b)

“A separação definitiva da alma e do corpo pode acontecer antes da cessação completa da vida orgânica. (…) O corpo é uma máquina que o coração faz funcionar; ele existe, enquanto o coração faz circular o sangue nas veias, e para isso, não necessita da alma.”   (LE 156)

“Há crianças que, desde o seio materno, não são viáveis, (…) porque nunca tiveram um Espírito destinado para seus corpos: para eles, nada devia se cumprir. (…) Um ser dessa natureza pode vir a nascer, algumas vezes; mas, então não sobrevive. (…) Toda criança que sobrevive após o seu nascimento tem, portanto, necessariamente, um Espírito nela encarnado. (…) Sem isso, não seria um ser humano.” (LE 355; 356, a e b)

Conclusão

Poderemos daí deduzir que o ovo, fora do organismo materno, não está destinado a encarnação de um Espírito?

Referências:

  • Márcia do Vale Cordeiro é médica, titulada em Ginecologia e Obstetrícia pela Associação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, assim como especialista em Patologia do Trato Genital Inferior e Genitoscopia pela Associação Brasileira de Genitoscopia. É trabalhadora do Centro Espírita Léon Denis e da Obra Social Antonio de Aquino, no Rio de Janeiro, além de colaboradora regular do portal Espiritismo.net.