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  • Falhas na memória podem ser importantes para funcionamento do cérebro, diz estudo

Um estudo de cientistas canadenses sugere que o esquecimento pode ser importante para a manutenção da memória. O argumento é que ‘deletar’ informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia. Glória Alves comenta.

  • Data :01/03/2018
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Qual foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1972? *

Se você acertou de primeira, sem apelar para o Google, parabéns. Mas poderia ser melhor não ter lembrado: um estudo de cientistas canadenses sugere que o esquecimento pode ser importante para a manutenção da memória.

O argumento é que “deletar” informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia.

“O verdadeiro papel da memória é otimizar o processo decisório”, diz Blake Richards, cientista da Universidade de Toronto e principal autor do novo trabalho.

Segundo Richards, o grosso das pesquisas em neurobiologia relacionadas à memória prioriza os mecanismos celulares de armazenamento de informações pelo cérebro, um processo conhecido como persistência. E pouca atenção é dada ao mecanismos responsáveis pelo processo de esquecimento (transiência).

Também é comum que a falta de habilidade para lembrar seja atribuída a uma falha no armazenamento e acionamento de informações pelo cérebro.

“Encontramos bastante evidência de que há mecanismos promovendo a perda de memória e que são distintos dos envolvidos no armazenamento de informações”, diz Paul Frankland, outro cientista participando do estudo.

Frankland explica que um outro experimento realizado por seu laboratório no hospital infantil SickKids constatou que o crescimento de novos neurônios no hipocampo (estrutura cerebral considerada a principal sede da memória) parece promover o esquecimento. Em pessoas jovens, essa é area do cérebro que gera mais células.

Tal mecanismo pode explicar por que adultos normalmente não têm memórias para eventos ocorridos antes dos 4 anos de idade.

Em um texto publicado na revista científica Neuron , os cientistas canadenses fazem também referência a um experimento em ratos colocados em labirintos, que tiveram menos dificuldades para encontrar saídas diferentes quando foram drogados para esquecer a localização da saída anterior.

Richards explica que há duas grandes razões para explicar por que o cérebro gasta energia para deletar informações depois de também consumir reservas para armazená-las. A primeira é a necessidade de eliminar informações ultrapassadas.

“Se você está navegando pelo mundo e seu cérebro está constantemente carregando memórias conflitantes, isso tornará mais difícil tomar uma decisão consciente”.

A outra razão está ligada a um conceito usado em projetos de inteligência artificial, a regularização. Consiste em tentar fazer com que computadores aprendam a fazer generalizações com base em grande quantidade de dados. Para fazer isso, é necessário esquecer detalhes nos dados para priorizar a informação necessária para decisões.

“A melhor coisa para a memória não é guardar absolutamente tudo”, diz Richards. “Se você está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é constantemente bombardeado com informações inúteis.”

O cientista canadense questiona ainda o que chama de “idealização” de pessoas com boa memória.

“O objetivo da memória não é ser capaz de lembrar quem ganhou o quê em 1972”, ressalta.

*O Oscar para Melhor Filme em 1972 foi para “Operação França”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 22 de agosto de 2017.

Glória Alves** comenta

A pergunta da matéria: “qual foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1972?”, somente os cinéfilos, acredito eu, ou o Google, podem responder. Perguntas como: “que dia é hoje?”, “o que foi que você comeu ontem?”, muitos de nós na hora pode não lembrar.

O esquecimento é algo que perturba e muitas vezes nos deixa angustiados. Quando esqueço alguma coisa, e isso acontece quase sempre, fico preocupada. As falhas da memória são horríveis, às vezes nos deixam em situações difíceis, como, por exemplo, quando nos encontramos com um conhecido e não nos lembramos do nome dele e ficamos disfarçando o esquecimento; quando não nos lembramos onde colocamos algum objeto; e aquele livro, como é mesmo o título? Você sai de casa para ir ao Banco e no meio do caminho percebe que esqueceu o cartão ou a conta que era para pagar. Pior mesmo é quando num meio de uma conversa esquecemos o que íamos falar. Nossa!, é angustiante!

Quando o esquecimento acontece com os mais jovens, logo temos uma explicação que parece pronta: “Ah, ele é desligado, não presta atenção em nada, só não esquece a cabeça porque está grudada no pescoço.” Agora, quando se trata dos mais idosos, a coisa muda de figura, a reação dos outros e deles mesmos é diferente.

Nas últimas décadas, a população de pessoas acima dos 60 anos aumentou muito, algumas delas ultrapassam os 80, 90 anos, outras chegam aos 100 anos, e de acordo com o processo do envelhecimento vivem em condições clínicas satisfatórias, mas quando se trata da memória, raras são as que não apresentam dificuldades com as recordações. Em geral, as recordações do passado permanecem vivas, com todos os seus pormenores, mas a memória falha, quando querem lembrar de acontecimentos recentes. Isso desconcerta um pouco os familiares. Outro dia escutei alguém dizer que sua mãe estava esquecida porque fez a mesma pergunta mais de três vezes.

“Todavia, muitos creem que a velhice é sinal de perda de memória, de deterioramento do raciocínio, do desequilíbrio das emoções… Sem dúvida, com o suceder dos anos, a maquinaria orgânica experimenta desgaste e, certamente, diminui a capacidade de produção e eficiência de resultados.”(1)

“Entretanto, a perda de memória não é sintoma exclusivo do envelhecimento, porquanto muitos fatores contribuem para essa ocorrência em qualquer idade, como as enfermidades sutis, quais sejam as infecções urinárias, as intoxicações por medicamentos, a depressão, o mal de Alzheimer, etc. O importante, desse modo, é o estado psíquico do indivíduo, que lhe determina qual a fase em que se encontra e lhe apraz permanecer; se na juventude que se alonga ou na velhice que lhe chega precocemente.”(2)

Existem várias matérias na Internet sobre pesquisas e estudos sobre o cérebro, mas, como leigos, precisamos entender um pouco sobre o seu funcionamento. O cérebro humano é hoje conhecido como um extraordinário e incomum conjunto harmônico de setenta e cinco a cem bilhões de neurônios em circuito especializado e complexo, como o mais notável computador que a mente ainda não pode conceber. Ele é responsável pelas ações voluntárias e involuntárias do nosso corpo, é formado por diferentes estruturas, com funções diferentes, como o córtex cerebral, parte externa, que todos chamam de ‘massa cinzenta’, responsável pela nossa capacidade de pensamento, movimento voluntário, linguagem, julgamento e percepção; cerebelo, responsável pelas funções de movimento, equilíbrio e postura; tronco encefálico é a parte mais primitiva do nosso sistema nervoso central, também é conhecida como cérebro reptiliano, responsável pelas funções involuntárias, respiração, ritmo dos batimentos cardíacos e pressão arterial e o hipocampo, responsável pelas funções de novas memórias e também está associado com a aprendizagem e emoções. Em contrapartida, o armazenamento da memória de longo prazo está relacionado ao córtex cerebral.

A nossa matéria de hoje trata de um estudo realizado por cientistas canadenses; eles sugerem que o esquecimento pode ser importante para a manutenção da memória.

O médico e pesquisador do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, Doutor Wilson Jacob Filho, esclarece que “o esquecimento é parte da formação da memória e está relacionado à aprendizagem, mas ainda não temos clareza de como funciona esse processo no cérebro. Sabe-se, no entanto, que a memória tem caráter seletivo, isto é, o cérebro escolhe o que lembrar. Para aprender alguma coisa, temos que esquecer outras.”(3)

“Existem ainda os chamados lapsos de memória, aqueles momentos em que alguma palavra ou nome nos escapam, eles são bastante comuns e podem acontecer em qualquer idade, podendo ser apenas uma distração ou mesmo sintoma de cansaço”.(4)

Os cientistas canadenses, citados na matéria da BBC, em suas pesquisas, concluíram que “o esquecimento pode ser importante para a manutenção da memória, e que “deletar” informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia.” Blake Richards, cientista da Universidade de Toronto e principal autor do novo trabalho, diz que “o verdadeiro papel da memória é otimizar o processo decisório”. “Se você está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é constantemente bombardeado com informações inúteis”, diz Richards.

Segundo o dicionário de significados, otimizar significa tornar ótimo ou ideal. Otimizar o cérebro é extrair o melhor rendimento possível dele no dia a dia, criando condições favoráveis para seu desempenho, dar um upgrade no cérebro. Focar no que nos interessa, naquilo que é importante reter para realizarmos o aprendizado. “A melhor coisa para a memória não é guardar absolutamente tudo”, diz Richards. “Se você está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é constantemente bombardeado com informações inúteis. O objetivo da memória não é ser capaz de lembrar quem ganhou o quê em 1972”, ressalta.

Ocupar a memória com informações importantes, como nos celulares, onde arquivamos ou baixamos aplicativos que realmente nos interessam e são úteis, respeitando a quantidade de memória disponível. Quando uma nova atualização precisa ser baixada, importante para o funcionamento de um aplicativo, se não tivermos o espaço necessário na memória do celular, não conseguiremos realizar essa atualização, só nos resta deletarmos alguns itens que já não são tão importantes para nós.

Uma das fases da memória é a aquisição, antes de recordar temos de aprender, sem aprendizagem não há memória. A aprendizagem pode ocorrer de diferentes formas e depende da atenção que damos ao evento ou acontecimento. Através da atenção, ignoramos os estímulos que não têm interesse para nós e retemos os que consideramos importantes, mas para os conservar é necessário à sua codificação, isto é, à forma como um item de informação é colocado na memória.

Em outros estudos, pesquisadores americanos da Universidade da Califórnia, descobriram que, durante o sono, os neurônios fazem novas conexões cerebrais, estimulando a solução de problemas. Sabemos que uma das funções do sono se destina à recuperação pelo organismo de um possível débito energético estabelecido durante a vigília; outras funções ocorrem na fase do sono REM (sigla em inglês para o movimento rápido dos olhos), como por exemplo: manutenção do equilíbrio geral do organismo, das substâncias químicas no cérebro que regulam o ciclo vigília-sono, consolidação da memória e a regulação da temperatura corporal.

“Esse estudo reforça outros trabalhos”, disse à ISTOÉ o psicólogo americano John M. Grohol, um dos entusiastas da tese. “Já existiam evidências de que, quanto mais pensamos sobre um assunto, pior a decisão tomada. No sono, o inconsciente trabalha sem teorias preconcebidas.” A pessoa encontra uma saída melhor para a dúvida se parar de pensar nela exaustivamente. Dormir é o descanso ideal para o cérebro ativar a criatividade na fase REM.(5)

À luz do Espiritismo, entende-se que a memória é patrimônio da alma, pois “é a alma quem pensa”.(6) A memória da aprendizagem e dos fatos jamais se perde porque esta não é patrimônio do cérebro físico, instrumento que traduz a mente, está incorporada no períspirito. “O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é também ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo o santuário da memória, em que o ser encontra os elementos comprobatórios da sua identidade, através de todas as mutações e transformações da matéria.”(7)

E concluindo esse tema complexo que é ainda para nós o cérebro, trazemos os esclarecimentos do Espírito André Luiz: “Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultaneamente. Temos apenas um que, porém, se divide em três regiões distintas. No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos e sede das atividades subconscientes; figuremo-lo como sendo o porão da individualidade, onde arquivamos todas as experiências e registramos os menores fatos da vida. Na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do nosso modo de ser. Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução.”(8)

Bibliografia:

(1) “Vida: Desafios e Soluções - Espírito Joanna de Ângelis - Divaldo Franco;

(2) idem (1);

(3) “Revista pré.univesp” - Nº.61 UNIVERSO Dez 2016 - Jan 2017 <http://pre.univesp.br/lapsos-e-lembrancas#.WoXOEainHDc>;

(4) Idem (3);

(5) “Revista Isto É” - A Arte de Decidir - João Loes e Suzane G. Frutuoso <https://istoe.com.br/8268_A+ARTE+DE+DECIDIR/>;

(6) “O Livro dos Espíritos” - Allan Kardec - Q. 89.a;

(7) “Emmanuel” - Espírito Emmanuel - Chico Xavier - Cap. XXIV - O Corpo Espiritual;

(8) “No Mundo Maior” - Espírito André Luiz - Chico Xavier - Cap. 3 - A Casa Mental.

** Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk.