Carregando...

  • Início
  • O renomado neurocientista que não acredita no livre-arbítrio: 'Somos a soma do que não podemos controlar'

Em uma sociedade construída em torno da ideia de que as pessoas deveriam se sentir culpadas pela falta de controle sobre si ou outras coisas, se dar conta de que talvez não exista o livre-arbítrio pode ser um pensamento libertador. É isso que pensa o neurologista americano Robert Sapolsky, professor de Biologia e Neurologia da Universidade de Stanford. Jussara Macabu comenta

  • Data :08/04/2024
  • Categoria :

O renomado neurocientista que não acredita no livre-arbítrio:

“Somos a soma do que não podemos controlar”

A matéria da BBC Mundo entrevistou Robert Sapolsky, neurologista americano e professor de Biologia e Neurologia da Universidade de Stanford (EUA) que não acredita no livre arbítrio porque, segundo o escritor de livros de sucesso, os comportamentos são determinados por algo que se deu antes e assim sucessivamente. Ele deixou de crer no livre arbítrio na adolescência.
Considerado um dos cientistas mais venerados da atualidade pela revista New Scientist, Sapolsky passou três décadas estudando babuínos selvagens no Quênia, o que lhe permitiu descobrir interações sociais complexas.
Seu livro sobre o tema gerou reações distintas.

A íntegra da matéria pode ser acessada no seguinte link https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2qeqq2dnx6o

O comentário a seguir é de Jussara Macabu

O neurologista americano Robert Sapolsky, afirma que o livre-arbítrio é uma ilusão, pois que “detrás de cada pensamento, ação e experiência há uma cadeia de causas biológicas e ambientais… Em nenhuma parte desta sequência infinita há um lugar onde o livre arbítrio pode desempenhar um papel” 1
O debate sobre o livre-arbítrio, não é uma questão contemporânea, ela existe desde a Grécia antiga. Dentro da sociedade grega, a diversidade de opiniões sempre foi uma característica. “Os gregos tinham uma visão complicada de como o mundo funcionava. Por um lado, achavam que os deuses controlavam os atos dos seres humanos ou os afetariam, mas os homens também podiam controlar seus destinos individuais e atrair vários acontecimentos.” 2 Sapolsky acredita que somos resultado do meio que vivemos, que nossos desejos são tão fortes que, seria inconcebível não fazer o que tanto se deseja. Para ele aceitar que não somos responsáveis por nosso destino, seria uma “visão libertadora e humana”. O neurologista americano julga que nossos atos e decisões são determinados por algo que aconteceu anteriormente, e este “por sua vez é determinado por algo que existia antes disso, numa longa cadeia.” 3

O determinismo

Conforme o dicionário Infopedia, o “Determinismo é a doutrina segundo a qual tudo o que acontece tem uma causa… A explicação habitual desta ideia consiste em defender que para qualquer acontecimento existe um estado anterior que lhe está relacionado.” 4
Em decorrência disto, na visão do determinismo tanto as vontades humanas e suas escolhas, quanto os acontecimentos a sua volta, são causados por circunstâncias anteriores. A vontade humana não impera, para o determinismo “O indivíduo faz exatamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra coisa; a determinação de seus atos pertence à força de certas causas, externas e internas.” 5 assim é o pensamento de Sapolsky
Dentro do determinismo absoluto, temos o determinismo materialista e o determinismo religioso; ambos negam o livre-arbítrio e, ao negarem, trazem como consequência, a não responsabilidade da pessoa, por seus atos tanto no bem e quanto no mal.

O Livre-arbítrio

Consta no site de significados, que o “Livre arbítrio é o poder que cada indivíduo tem de escolher suas ações, que caminho quer seguir. A expressão é utilizada por diversas religiões, como o cristianismo, o espiritismo, o budismo etc.” 6
Para Santo Agostinho o livre-arbítrio é um dom de Deus que ele repassa ao homem, permitindo-o, assim agir livremente, segundo a sua vontade. Por ser livre para fazer o bem não é forçado a cometer o mal por nenhuma necessidade. Mas se o homem optar pelo mal a responsabilidade é somente dele.
Já Kardec em “O Livro dos Espíritos”, questiona se nós, seres humanos, temos realmente o livre-arbítrio e recebe a seguinte resposta: “Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre arbítrio, o homem seria máquina.” 7
Se somos seres pensantes, o que nos facilita refletir sobre alguma situação, nos torna seres livres, no sentido afirmado por Sócrates, o qual todo homem livre é aquele que consegue dominar seus sentimentos, pensamentos e a si próprio.
Esse homem livre de Sócrates corrobora com o Artigo da Revista Espírita de 1863, no qual nos sinaliza que “O livre-arbítrio, …, existe realmente no homem, mas com um guia: a consciência.” 8 Com esse mesmo pensamento, temos o judaísmo entendendo que o ser humano não é um joguete nas mãos do destino ou do determinismo histórico e natural. Ele é livre, autoconsciente e responsável por suas opções e atos. 9 Para Leon Denis, “Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões inferiores, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.” 10

Afinal, temos ou não livre-arbítrio?

Leon Denis nos explica que para aclarar esse tema tão complexo, devemos lançar mão da doutrina reencarnacionista, pois só com ela compreenderemos o livre-arbítrio.
Através deste viés verificamos que, ao alargarmos “o círculo da vida e se considerar o problema à luz que projeta a doutrina dos renascimentos” 11, conseguiremos compreender que só com as novas existências corpóreas podemos aprender e melhorar cada vez, dando assim, a cada indivíduo o direito de conquistar a própria liberdade no decurso da sua evolução.
Deus, como Pai Justo e Amoroso, nos fez simples e ignorantes para que pudéssemos evoluir por nosso próprio esforço. A cada reencarnação, a cada renascimento, vamos desenvolvendo a sabedoria e a moral, fatores importantes para nossa evolução. Por conseguinte, o livre-arbítrio se torna cada vez mais forte e mais presente a cada evolução adquirida em cada reencarnação.
Sapolsky afirma na sua entrevista que não somos capazes de resistir aos nossos desejos. Não podemos negar que o desejo pode causar uma influência, mas isso só ocorrerá se não for travada uma luta entre a nossa vontade moral e o desejo que apareceu. Ou seja, temos a capacidade de aceitar ou não aceitar o que o desejo nos impõe.
Portanto só “o homem é obreiro de sua evolução” 12, através das reencarnações e do tempo de retorno à Pátria Espiritual ele vai aprendendo e evoluindo, tendo sempre como instrumento o seu livre-arbítrio, que poderá auxiliar ou comprometer a sua evolução. Tendo sempre em sua consciência que ter livre-arbítrio é saber que a sua liberdade termina quando se inicia a liberdade do seu próximo.
Finalizamos com uma frase de Emmanuel para nossa reflexão: “… entre todas as criaturas viventes, o Homem é o único ser capaz de raciocinar e discernir, assessorado pela vontade e pelo livre-arbítrio, com a possibilidade de realizar prodígios, se quiser trilhar o caminho do bem e aceitar o dever que lhe cabe na condição de filho de Deus.” 13

  • Jussara Macabu é trabalhadora e palestrante da Seara Espírita Campo da Paz – Araruama – RJ e trabalhadora do Espiritismo.net - Rio de Janeiro - RJ

Referências Bibliográficas


  1. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2qeqq2dnx6o  ↩︎

  2. https://filosofia.com.br/imagens_lista.php?pg=2&categoria=Mitologia%20Grega  ↩︎

  3. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2qeqq2dnx6o  ↩︎

  4. https://www.infopedia.pt/artigos/determinismo  ↩︎

  5. https://espirito.org.br/artigos/determinismo-e-livre-arbitrio/  ↩︎

  6. https://www.significados.com.br/livre-arbitrio/  ↩︎

  7. Kardec, Allan – Livro dos Espíritos questão 843 ↩︎

  8. Kardec, Allan – Revista Espírita 1863 – outubro – Espirito Familiar ↩︎

  9. Schlesinger, Hugo – Pequeno ABC do pensamento judaico - Editora B’nai B’rith ↩︎

  10. Denis, Leon – O problema do ser, do destino e da dor – cap. 22 ↩︎

  11. ______ – O problema do ser, do destino e da dor – cap. 22 ↩︎

  12. ______ – O problema do ser, do destino e da dor – cap. 22 ↩︎

  13. Emmanuel – Semente da mostarda – cap. 7 – Discernimento e prodígio ↩︎