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  • Individualismo e otimismo irrealista dificultam combate ao coronavírus em países ocidentais, diz pesquisador

Jorge Hessen comenta notícia da BBC News Brasil sobre o individualismo e o ‘otimismo irrealista’ em relação aos riscos de contágio que dificultam a prevenção ao coronavírus em países ocidentais, conforme a avaliação do psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França.

  • Data :15/05/2020
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Daniela Fernandes

De Paris para a BBC News Brasil

O individualismo e o “otimismo irrealista” em relação aos riscos de contágio dificultam a prevenção ao coronavírus em países ocidentais, avalia o psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França.

O comportamento dos franceses em relação à epidemia da covid-19 levou o presidente Emmanuel Macron a decretar, na noite do último dia 16, o confinamento da população por um período de pelo menos 15 dias. Apesar das restrições impostas no final de semana que antecedeu o anúncio da quarentena, como o fechamento de restaurantes, bares, cinemas e comércios não essenciais, muitos franceses continuaram a viver normalmente, passeando em parques e ruas do país e evitando o isolamento social recomendado.

“Enquanto se alertava sobre a gravidade da situação, vimos pessoas se reunirem em parques, em feiras lotadas e em restaurantes e bares que não respeitaram a ordem de fechamento. Como se, no final das contas, a vida não tivesse mudado”, disse Macron em discurso, no qual repetiu seis vezes que a “a França está em guerra” contra o coronavírus.

Na avaliação de Raude, que é especialista em doenças infecciosas emergentes, existem diferenças culturais que explicam a falta de preocupação demonstrada por parte da população, apesar do número crescente de casos de coronavírus na França.

Até 21/3, a França registrou cerca de 20 mil casos, sendo mais de 3,1 mil nas últimas 24 horas, e 862 mortes (186 a mais em apenas um dia). Há quase 8,7 mil pessoas hospitalizadas, sendo mais de 2 mil em estado grave, segundo dados do ministério da Saúde francês.

“Na Europa, as sociedades são mais individualistas, e vemos os efeitos disso nessa pandemia. Em países da Ásia, o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual”, diz o psicólogo francês, que também desenvolve trabalhos em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, sobre a zika.

Ele acrescenta que em situações de tensão social na França, como guerras, atentados e grandes greves, se cria um sentimento de solidariedade nacional no país, que deve ressurgir na atual epidemia, reduzindo o individualismo. “A solidariedade é ativada em momentos extremos e tende a se dissipar depois. Já na Ásia, o espírito coletivo é algo mais permanente.”

A forma de prevenção também é focada em ações individualistas em países ocidentais como a França, onde é raro ver pessoas usando máscaras, mesmo em períodos de surto de gripes sazonais, por exemplo. A proteção coletiva é bem mais difundida na Ásia, afirma Raude.

“O uso de máscaras serve para proteger os outros quando estamos contaminados. Isso é algo pouco frequente na França, enquanto na Ásia é praticamente banal. Não temos consciência de que a proteção coletiva é tão importante quanto ou até mais do que a individual” diz o psicólogo, acrescentando que essa visão “deverá mudar radicalmente no país com essa nova epidemia.”

Outro fator que explicaria o descumprimento, até este último fim de semana, das recomendações de isolamento social, é o que Raude chama de “otimismo irrealista” face a ameaças, um fenômeno observado em todas as culturas.

“As pessoas tendem a subestimar os riscos para si”, afirma Raude, citando o exemplo do fumante que não pensa ser mais vulnerável do que outros a desenvolver um câncer.

Um estudo realizado por ele com dados de quatro países europeus (França, Itália, Reino Unido e Suíça), antes do forte aumento do número de casos de coronavírus na Europa, revelou uma grande diferença entre as projeções de especialistas sobre a evolução da epidemia no mundo e a percepção da população em relação aos riscos reais.

Notícia publicada na BBC News Brasil, em 24 de março de 2020.

Jorge Hessen* comenta:

Há estudiosos que atestam que o SARS-CoV-2 se originou através de processos naturais. Os vírus não são organismos vivos, portanto, não se pode matá-los com antibióticos, apenas se pode desintegrar sua estrutura com os diversos métodos higiênicos. O SARS-CoV-2 se expande com muita rapidez entre os humanos, por isso o isolamento social tem sido a solução admissível. Apesar de a longa quarentena ocasionar múltiplos efeitos colaterais, com agravos na economia e nos recursos financeiros para países, empresas e pessoas, até agora, esta é a principal medida exequível adotada por quase todos os países do planeta.

Obviamente, as estratégias de confinamento não afiançam que a pandemia não ocorra em algum lugar, porém desacelera seu processo de expansão, ocasionando uma incidência menos drástica e mais gradual, permitindo que as instituições de saúde garantam o atendimento médico.

Para o psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, especialista em doenças infecciosas emergentes e professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França, o individualismo e o “otimismo irrealista” em relação aos riscos de contágio dificultaram o confinamento social para a prevenção ao coronavírus em países ocidentais. É verdade, por displicência, tanto na Europa quanto nos EUA, onde as sociedades são bastante individualistas, causou devastadores efeitos diante da Covid-19. Em países da Ásia, o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. Por exemplo, o uso de máscaras é habitual para proteger os outros quando alguém está contaminado. Isso é algo pouco frequente no Ocidente, enquanto na Ásia é praticamente corriqueiro.

No Brasil, algumas vezes ocorreram as displicências das doenças emergentes, decorrentes das diferentes epidemias dos últimos anos. Atualmente, já bastante afetado pelo novo coronavírus, o comportamento dos brasileiros está mudando ante o crescente número de contaminações e óbitos no país.

Em que pese a estatística, a despeito de tudo e de poucos desajuizados, há os brasileiros “destemidos irrealistas” que não levam a sério a devastadora pandemia, batizando-a de “gripezinha”. (Pasmem!) Uma “gripezinha” que já matou no Brasil mais de 15 mil pessoas em menos de 90 dias. Uma “gripezinha” que em menos de 90 dias matou quase 90 mil pessoas nos Estados Unidos, portanto, mais do que os 58 mil soldados americanos que morreram no Vietnã durante os 9 anos da guerra.

Para nós, espíritas, o fato de não se temer a morte não significa que não damos valor à vida física, tanto que Kardec, na RE de 1865, cita categoricamente que devemos seguir as medidas sanitárias, ou seja, o espírita segue as diretrizes e as normas das autoridades públicas, visando prolongar a vida, não por apego, mas por desejo de progredir e ponto!

É mais do que óbvio que o conhecimento espírita propicia uma força moral capaz de nos preservar de muitas doenças, porquanto essa força moral repercute no corpo físico, inclusive no sistema imunológico. Há diversos estudos que correlacionam o binômio fé/saúde, que não se limita, é claro, apenas na crença espírita.

Urge aqui refletir na questão solidária em que o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente” (1). Mas, ainda vivemos num ambiente social de ilusões, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de manchas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades modernas, isoladas nas teias do “ego” glacial. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica.

A pandemia que hoje aflige a Humanidade é resultante do orgulho, do egoísmo e da ausência de solidariedade. A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de doenças, delírios e paixões desajustantes.

O Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos. Deste modo, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” (2). A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(3) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens.

Em época de pandemia ou não, a solidariedade na vida social é como o ar para uma aeronave, pois o avião, com toda tecnologia, não voa se não tiver o ar.

A prática desse sentimento vivifica e fecunda os germens que nele existem em estado latente nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercido na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.

Referências bibliográficas:

[1] Cf. Dicionário Caldas Aulete

[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799

[3] Jo 15.12

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros “eletrônicos” publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.