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‘Crise conjugal não é maldição, mas uma oportunidade’, diz Papa - Suely Marchesi comenta.

  • Data :01/02/2024
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‘Crise conjugal não é maldição, mas uma oportunidade’, diz Papa

Em Vaticano 06/11/2021 12h48

O papa Francisco afirmou neste sábado (6) que as crises, principalmente as conjugais, não são uma maldição, mas sim uma oportunidade de melhorar as relações.

A declaração foi dada durante encontro na Sala Paulo VI com membros da Associação Retrouvaille, um serviço oferecido a casais ou conviventes que sofrem graves problemas de relacionamento e que estão prestes a se separar ou já divorciados, mas que pretendem reconstruir o relacionamento.

“Me encontro em sua experiência, que nos convida a considerar a crise como uma oportunidade, neste caso uma oportunidade de dar um salto qualitativo na relação”, disse o Pontífice.

Francisco fez referência à exortação Amoris Laetitia, na parte dedicada às crises familiares, e levou em consideração, com base nas experiências dos casais, a outra palavra-chave: “feridas”.

“As crises das pessoas produzem feridas, chagas no coração e na carne. ‘Feridas’ é uma palavra-chave para vocês, faz parte do vocabulário diário da Retrouvaille. Faz parte da sua história: de fato, vocês são casais feridos que passaram pela crise e estão curados; e precisamente por isso são capazes de ajudar outros casais feridos. Vocês não abandonaram, você não foram embora. Vocês pegaram nas mãos a crise para buscar uma solução”, enfatizou.

Para o líder da Igreja Católica, “hoje há tanta necessidade de pessoas, de cônjuges que saibam testemunhar que a crise não é uma maldição, faz parte do caminho e constitui uma oportunidade”.

O Papa recorda o valor das feridas familiares que, se colocadas a serviço dos outros, ajudam a curar quem as vivencia e ressalta que a crise faz parte da história da salvação.

“O que devemos temer é cair no conflito porque é difícil encontrar uma solução no conflito. Por outro lado, a crise te faz dançar um pouco, às vezes te faz ouvir coisas ruins, mas da crise se pode sair, desde que dela se saia melhor”, acrescentou o argentino.

Jorge Bergoglio lembrou que dificilmente se pode sair sozinho da crise. Portanto exorta, saindo do discurso escrito, a não ter medo da crise, mas sim temer o conflito “Ouvir sua crise os convida a contar, a se expressar. E então os desperta de sua insensatez, surpreende-os revelando-lhes uma perspectiva diferente, que já existia, já estava escrita, mas eles não tinham entendido: eles não tinham compreendido que Cristo tinha que sofrer e morrer na cruz, que a crise faz parte da história da salvação”, explicou.

Por fim, o Papa insistiu que a “crise faz parte da história da salvação” e enfatizou que “a vida humana não é uma vida de laboratório, nem uma vida asséptica, como que banhada em álcool”. “A vida humana é uma vida de crise com todos os problemas de cada dia”.

Suely Marchesi* comenta

Relacionamentos são uma experiência que na história da humanidade foram - e serão sempre - desafios que nos impomos, já que somos seres que precisam dos outros para viver, mas precisamos muito de aprender como com-viver. Esse aprendizado é contínuo, e ensina a Doutrina dos Espíritos que faz parte de nosso processo evolutivo desde nossa criação até os pontos mais altos a que chegaremos um dia.

Aqui a discussão é a respeito de casamento, relacionamento de afetividade. Mas talvez devamos pensar de um modo mais amplo, a princípio. Todo relacionamento (especialmente o de afetividade, claro) exige de nós aquilo que também queremos receber: respeito; ternura; que o outro nos coloque em prioridade, mesmo que seja às vezes; que aconteça comunicação, de modo que não haja espaço para assumir como verdades coisas que talvez nunca nem passaram pela cabeça do outro; honestidade; transparência; confiança e muito mais.

Num relacionamento matrimonial costumam haver laços financeiros, que geram por si só muitos problemas ou muita paz, dependendo de como isso funciona. E, para não dizer que não falamos nisso, há as famílias dos dois lados.. Ah, as famílias.

O que nos leva a pensar se o problema de todos estes processos de mágoas, hostilidades, alfinetadas, irritações, descasos e tudo mais que leva um relacionamento a desandar, não estariam na expectativa de cada um com relação ao(s) outro(s) envolvido(s), seja direta ou indiretamente. Infelizmente, temos todos uma cultura de expectativa de príncipe ou princesa encantada, perfeitos, lindos, que não soltam pum nem ficam descabelados; que são pessoas ponderadas, amorosas e apaixonadas por nós, não importa se nós estivermos descabelados.. ou soltarmos um pum sem querer. Essa cultura horrível faz que tratemos o outro como se estivesse numa caixa de jóias ou numa lâmina de laboratório, ao invés de procurarmos ver outra pessoa, com medos, expectativas, sonhos, ternuras, acertos e erros como todos.

E o que fazer com isso, depois que o relacionamento já foi para o brejo?

Há o caminho de ir embora. E há o caminho de tentar reconstruir, desta vez com as fundações adequadas, sem sarcasmo, sem acusações, sem mentiras, com respeito, comunicação e real esforço pessoal. Não parece, mas ambos são muito duros. Reconstruir é um trabalho dolorido. E ficar só, pode ser tão estressante quanto, e sem o final feliz, ainda por cima, só remoendo suas mágoas sem tréguas. Muitos passam a ter pets e ficar nisso. É confortável, já que o tutor, na verdade, tem o controle do animalzinho. O que não vai acontecer com outra pessoa.

Escolher se relacionar, e trabalhar nisso – praticamente para sempre – para que este relacionamento permaneça saudável é algo que não pode ser forçado ou exigido, nem por nós mesmos. Nunca funciona. Tem de ser ofertado livremente, e correspondido. O que pode ser mais belo?

A Doutrina Espírita nos oferece muitos conselhos a respeito em “O Evangelho segundo o Espiritismo” e em livros de André Luiz, Joanna de Ângelis, Hammed e outros. Conselhos muito sábios, e às vezes duros, aparentemente. Será?

É ler com olhos de aprender, talvez, e fazer um esforço de coração aberto para ouvir o que o outro tem a nos dizer, de bom e de ruim, e oferecer sua versão, não como retaliação ou vingança, mas como contribuição para o bem comum. Pode ser um caminho.

A fórmula correta e certa, ninguém tem. Que bom. Assim, cada um pode criar a sua, a que lhe faz bem e lhe traz paz.. e um relacionamento saudável e feliz. E quem sabe até duradouro.

Suely Marchesi é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.