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  • Como ser feliz sem dinheiro? Os povos indígenas podem ter a resposta

O dinheiro, por si só, não traz felicidade, mas permite realizar coisas que fazem as pessoas se sentirem melhor. Uma das formas de alcançar isso, tanto para ricos quanto para pobres, é gastar dinheiro com outras pessoas. Obviamente, os ricos podem fazer isso em maior escala. Outro fator relacionado ao bem-estar subjetivo são boas relações sociais, e parece que é mais fácil tê-las com um status socioeconômico elevado. Selma Trigo comenta

  • Data :03/03/2024
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“Como ser feliz sem dinheiro? Os povos indígenas podem ter a resposta.”

Em matéria do jornal El Pais veiculada no Brasil pelo “O Globo”, o jornalista Daniel Mediavilla traz um dado interessante: há um percentual significativo da população global para o qual ganhar acima de um valor monetário anual não faz diferença alguma em termos de felicidade. A matéria reflete sobre a relação desproporcional de tempo dedicado à geração de riqueza frente àquele investido na família e na própria saúde. A matéria traz dados ainda mais surpreendentes sobre sociedades que vivem à margem do mundo globalizado e com recursos econômicos muito limitados, mas cujo nível de felicidade está entre os maiores do planeta – fatores como “forte senso de comunidade, estreito vínculo com a natureza e espiritualidade profunda” podem explicar o bem-estar além do dinheiro.

A íntegra da matéria pode ser acessada em:
https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2024/02/25/como-ser-feliz-sem-dinheiro-os-povos-indigenas-podem-ter-a-resposta.ghtml

O comentário a seguir é de Selma Trigo

A reportagem nos remete à terceira parte de “O Livro dos Espíritos” referente às Leis Morais, em que podemos pinçar algumas questões que respondem de forma significativa os fatores que levam o homem a viver numa busca constante por dinheiro, como necessidade incontestável para ser feliz e o quanto isso não o completa.
O progresso material é uma realidade, mas traz necessidades imaginárias pela força dos desejos individuais. Podemos observar a questão 716 de “O Livro dos Espíritos” onde Kardec perguntou: “A Natureza, através da nossa organização, não traçou o limite das nossas necessidades?” E os espíritos responderam: “Sim, mas o homem é insaciável. A natureza traçou o limite de suas necessidades por meio de sua organização; os vícios, porém, alteraram sua constituição e criaram para ele necessidades que não são reais.” O homem prudente conhece o limite do necessário (informação extraída da questão 715 de “O Livro dos Espíritos”). A questão é que o ser humano permanece vivendo numa sociedade em que poder e prazer são metas definidoras do viver bem e ser feliz, mantendo-o numa prisão adoecida do egoísmo, cedo para o limite em si mesmo. Destrói seu corpo - com doenças de vários matizes -, sua família passa a não ser a prioridade de vida, e tenta suprir suas carências afetivas com bens materiais de todas as espécies. O, então, “buraco do afeto” vai ficando cada vez mais profundo e adoecido, promovendo um vazio existencial que toma conta do contexto, e tudo se transforma em sofrimento que dinheiro algum é capaz de comprar e suprir.
Na questão 717 de “O Livro dos Espíritos”, o codificador Allan Kardec traz algo muito relevante: “O limite do necessário e o supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que o selvagem [termo usado quando se referenciava ao povo indígena no final do século XIX] não possui (…) Aquele que vive à custa das privações dos outros exploram em seu proveito, os benefícios da Civilização (…).”
Nesse aspecto o que Allan Kardec nos faz refletir é que os bens materiais nada têm de errado. A questão está na forma como é utilizado, e no quanto é importante saber contribuir junto ao contexto social, para que os indivíduos menos favorecidos possam ter uma vida digna e mais humanizada. “Deus fez o homem para viver em sociedade (…)” (questão 766 de “O Livro dos Espíritos”).
O povo indígena, neste aspecto, nos exemplifica bem a vida em uma sociedade onde todos pensam coletivamente. Valorizar a vida em comunidade, buscando atender a todos, respeitando o individual e o coletivo. - haja visto o cuidado com a natureza, como um templo sagrado de sua morada maior.
Atualmente o povo indígena está em busca de novos conhecimento e se juntando à sociedade dos chamados por eles, ‘homens brancos’, buscando levar ‘voz’ às necessidades da sociedade de origem, conclamando o respeito e direitos humanos para que suas tribos possam ter as vantagens de qualquer sociedade sem perder suas marcas de origem muito preservadas por esta população, e que os homens da chamada civilização, vem tentando destruir e reprimir por interesses financeiros.
Allan Kardec afirma, em um trecho de seu comentário à questão 783 de “O Livro dos Espíritos”: “(…) as revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram, pouco a pouco, nas ideias; estas germinam durante séculos; depois, de repente, irrompem e fazem desmoronar o edifício corroído do passado, que não está mais em harmonia com as necessidades novas nem com as novas aspirações (…)”. E complementando o comentário de Kardec, os Espíritos orientam que o homem não passa, subitamente, da infância à idade madura. (questão 790 de “O Livro dos Espíritos”), e a civilização se depura conforme o moral se desenvolve tanto quanto a inteligência. Afinal, o fruto não pode vir antes da flor (questão 791 de “O Livro dos Espíritos”). Assim novas gerações de Espíritos, trazem no bojo de si, no campo do pensar coletivo, novas visões significativas das relações entre os seres, respeitando a diversidade. Buscando a prática do bem viver, no amor ao próximo sem hipocrisia, mas com verdades que libertam.

  • Selma Trigo é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.