André Biernath - @andre_biernath
Da BBC News Brasil em Londres
11 agosto 2022 - Atualizado 4 junho 2023
“Os atores Robert de Niro, de 79 anos, e Al Pacino, de 83, entraram para o clube da paternidade tardia”
Esta semana, representantes do ator americano Al Pacino, de 83 anos, confirmaram que ele terá um filho com sua namorada, Noor Alfallah, de 29 anos.
Ele se juntará ao clube da paternidade tardia com seu ocasional colega de elenco Robert De Niro, que em maio confirmou que se tornou pai de seu sétimo filho, aos 79 anos de idade.
Os dois certamente não são os primeiros pais idosos: vários outros atores, músicos e até presidentes dos Estados Unidos tiveram filhos tarde na vida.
E a idade média dos novos pais em geral vem aumentando ao longo dos anos. Entre 1972 e 2015, essa taxa aumentou em 3,5 anos: o pai médio nos EUA tem atualmente 30,9 anos, e 9% deles estavam com pelo menos 40 anos quando o filho nasceu.
Mas até quando homens podem ter filhos? E será que a paternidade tardia representa algum tipo de risco à saúde da criança?
Homens que decidem virar pais depois dos 35 anos correm um risco maior de ter filhos prematuros ou com autismo, revelam as pesquisas.
Além disso, a cada ano que passa, os espermatozoides sofrem baixas significativas na quantidade e na qualidade — o que pode dificultar as tentativas de gerar um descendente.
Essas informações são particularmente importantes num cenário em que os planos de ter um bebê são postergados para cada vez mais tarde, por causa dos projetos profissionais e educacionais.
E isso ocorre num contexto em que apenas os riscos da maternidade tardia são bem mais conhecidos entre a população. De forma geral, as mulheres sabem da dificuldade aumentada da gestação após os 35 ou os 40 anos.
Do lado paterno (e pouco conhecido) dessa história, a boa notícia é que existem recomendações, exames e tratamentos que permitem acompanhar cada caso e diminuem os riscos ao bebê, como você confere a seguir.
A médica Karla Giusti Zacharias, que é especialista em reprodução humana e integra o corpo clínico da Rede D’Or - Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo, relata que recebe com frequência no consultório homens mais velhos que desejam ter um filho.
“Vejo pacientes de 50 ou 60 anos que estão num segundo casamento com uma esposa mais jovem, que deseja engravidar”, observa.
A dúvida que eles trazem aos profissionais da saúde envolve justamente os riscos de ser pai mais velho.
Em linhas gerais, o aparelho reprodutor masculino funciona numa lógica completamente diferente do feminino.
A partir da puberdade, que acontece lá pelos 10 aos 14 anos, os homens começam a fabricar os espermatozoides — produção essa que continua a acontecer durante toda a vida.
Já as mulheres nascem com todos os óvulos prontos. Eles são liberados também a partir da puberdade, a cada novo ciclo menstrual.
Só que a quantidade de gametas nelas é limitada — as meninas têm entre 300 mil e 500 mil óvulos no momento da primeira menstruação — e costuma quase acabar quando elas chegam aos 45 a 55 anos, quando ocorre a menopausa.
Ou seja: enquanto novos espermatozoides são produzidos constantemente nos testículos, os óvulos são guardados numa espécie de “poupança”, e liberados aos poucos ao longo da adolescência e da vida adulta.
Mas daí vem a questão importante: embora a fabricação dos gametas masculinos seja constante, a qualidade desse processo não é a mesma após uma certa idade.
Com o passar dos anos, é natural que essas células sejam feitas em menor quantidade e apresentem mais defeitos.
Essas falhas, por sua vez, podem impedir a fecundação (quando um espermatozoide entra no óvulo), o que leva à dificuldade para ter um filho.
Porém, algumas pesquisas indicam que, mesmo quando as tentativas de gerar um descendente são bem sucedidas, existe o risco de que o bebê apresente com mais frequência algumas condições de saúde, como nascimento prematuro, complicações após o parto e até autismo.
Uma investigação feita em 2018 na Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, analisou dados de mais de 40 milhões de partos e descobriu que, de forma geral, quanto mais velho é o pai, maior o risco para a criança.
Homens que têm filhos após os 35 anos correm um risco relativamente mais alto de que o bebê nasça com baixo peso, tenha convulsões ou precise de ventilação mecânica para respirar logo após o parto.
Indivíduos com mais de 45 anos apresentam uma probabilidade 14% maior de que a criança seja prematura (quando ela vem ao mundo antes de 37 semanas de gestação). Naqueles que já passaram dos 50, há um risco 28% mais elevado de o recém nascido precisar ficar um tempo numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal.
À época da publicação do artigo, o médico Michael Eisenberg, professor de urologia e autor principal da pesquisa, esclareceu que números do tipo não devem ser interpretados com alarmismo. Na visão dele, os achados servem para que as famílias se planejem bem e façam os acompanhamentos necessários.
“Há uma tendência de olharmos para os fatores maternos na hora de avaliar os riscos associados ao nascimento. Mas nosso estudo mostra que ter um bebê saudável é um trabalho de equipe, e a idade do pai também contribui para isso”, declarou.
Já um artigo de revisão sistemática e metanálise (um tipo de trabalho científico que compila e organiza várias pesquisas publicadas anteriormente sobre um mesmo tema) publicado em 2017 apontou outro perigo da paternidade tardia: o risco aumentado de autismo.
Como conclusão, o trabalho aponta que, a cada aumento de 10 anos na idade do pai, há uma probabilidade 21% maior de o filho ter esse transtorno no desenvolvimento neurológico, que está relacionado a dificuldades na comunicação, na interação social e no comportamento.
A ciência ainda não sabe responder com certeza o que uma coisa tem a ver com a outra.
O médico Alfredo Canalini, da Sociedade Brasileira de Urologia, aponta que existem evidências de uma relação entre paternidade tardia e maior probabilidade de doenças como esquizofrenia, mas os estudos sobre o tema não são suficientemente sólidos.
O especialista ainda aponta que, mesmo com a queda na qualidade e na quantidade de espermatozoides com o passar dos anos, a tendência é que os gametas mais aptos sejam bem sucedidos e um deles faça a fecundação — o que diminui os riscos à saúde da criança que será gerada.
“O caminho até o óvulo pode ser comparado a uma ultramaratona, e geralmente apenas os espermatozoides capacitados e saudáveis conseguem chegar perto da linha de chegada”, compara.
Mas será que, diante de todos esses perigos, existem meios de minimizar os problemas e garantir uma gestação saudável?
Canalini ressalta que não existe uma receita de bolo para driblar os possíveis perigos da paternidade tardia.
“A biologia do aparelho reprodutor masculino é muito individualizada e cada homem precisa passar por um atendimento para a gente entender o que está acontecendo e o que pode ser feito”, diz.
Uma consulta dessas envolve o clínico geral ou o urologista, médico especialista nas vias urinárias e nos órgãos sexuais e reprodutivos do homem.
Essa avaliação pode ser feita de rotina, a cada ano, quando há o desejo de ter um filho ou se alguns sintomas aparecem, como irritação excessiva, falta de libido, dificuldade para ter ou manter a ereção, além das tentativas frustradas de engravidar.
“E, claro, existem aquelas recomendações clássicas que valem para a saúde do corpo inteiro, como ter uma alimentação saudável, evitar o sedentarismo, fazer atividade física regular, não fumar, manter o peso adequado…”, lista o médico.
Zacharias lembra que, quando as mudanças de estilo de vida não surtiram resultado, é possível partir para exames e tratamentos específicos.
“Se existe um perfil muito ruim dos espermatozoides, podemos propor algumas terapias para melhorar a qualidade ou a quantidade deles”, resume.
Por fim, a especialista destaca um último risco que afeta diretamente os pais mais velhos: a carga de trabalho envolvida com a criação de um filho.
“Não podemos nos esquecer que muitos homens mais velhos estão numa fase da vida em que eles já trabalharam bastante e estão mais cansados”, aponta.
“É preciso colocar na balança e pensar na importância de acompanhar o desenvolvimento da criança, levantar de madrugada para trocar fralda, brincar…”
“Os casais devem conversar sobre isso para que sempre tomem a melhor decisão para eles e para a família”, conclui.
link da matéria: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62478442
Não há como negar: nossa sociedade, felizmente, está mudando, e muitas coisas são para melhor. Os homens estão entendendo que cuidar não é “trabalho de mulher”. É trabalho de quem ama. As mulheres estão entendendo que não precisam abrir mão de uma carreira para ter família, pois com tarefas divididas por todos, não sobrecarrega ninguém. É uma realidade para todos? Ainda não. Mas estamos a caminho.
Com isso, as pessoas estão realmente alterando algumas coisas. Com a expectativa de vida muito maior em quase todo o mundo, a priorização por uma carreira no momento em que a juventude, a disposição física e o brilhantismo intelectual estão no auge, nessa primeira fase de vida adulta, é uma realidade. Poucos optam por começar uma família em paralelo, e muitos o fazem porque “aconteceu”. E até a pessoa se sentir estabilizada e com tempo e disposição para ter filhos, a maturidade já bate ou já bateu às portas há algum tempo.
A medicina avançou de tal maneira que é possível congelar óvulos e esperma para que, quando esse dia chegar, o material biológico à disposição seja o melhor possível, já que na juventude física é que é produzido o material masculino de melhor qualidade, como explicado na matéria, e as mulheres ainda têm os óvulos melhores, pois o corpo libera estes primeiro no decorrer dos ciclos femininos. É uma possibilidade muito válida, embora tenhamos visto casos recentes de gravidez tardia em que este recurso foi tentado e não houve gravidez por inseminação; mas o corpo estava tão preparado pelas “bombas hormonais” que houve fecundação espontânea e a consequente gravidez.
O artigo é bem claro. A gravidez tardia tem muitos riscos físicos de todos os lados da questão (inclusive para a criança), e é preciso lembrar que bebês dão trabalho por algum tempo… dizem os especialistas (pais e mães) que por uns vinte anos, mais ou menos. Alguns um pouco mais. E se há o desejo de mais de uma criança, é preciso planejar tudo isso, também. É… como dizem sempre, a Natureza não dá saltos. A Evolução também não. Nossa sociedade evoluiu e está melhorando ainda, mas nossos corpos físicos ainda não acompanham esta tendência de atrasar nossas vidas por uma década, década e meia. Ou mais.
Mas será que tudo isso é impedimento ou arriscar-se sem ter noção de perigo? Pura vaidade? O risco é real, especialmente numa primeira gravidez, mas com o acompanhamento adequado, continuado, é perfeitamente gerenciável. Porém é interessante lembrar que não é a única opção.
O desejo de ter filhos gerados por seu corpo físico, que herdem nossas características genéticas, é parte de nosso instinto como seres vivos. Mas nós já evoluímos um tanto, e sabemos que o que importa é o Amor, e que núcleos familiares com base de Amor são muito gratificantes. Assim, é também uma opção considerar a adoção, não de bebês, mas de crianças de mais idade e adolescentes. Nas instituições que acolhem estes menores, todos sonham com uma família que os ame, mesmo aqueles que declaram que não estão mais interessados nisso por serem mais velhos, e que sabem que logo terão de deixar para trás esse lar que conheceram e os “irmãozinhos” menores, pois as instituições os abrigam apenas até os 18 anos. E estas crianças maiores já demonstram como é (será) seu caráter, o que não acontece com os bebês.
Este é um assunto onde não há certo ou errado, e a Doutrina dos Espíritos não oferece outro conselho além de: “O que sua alma pede? O que seu coração lhe diz?” O Amor nunca será um erro… Ao seguir nosso coração, sempre encontraremos um caminho a seguir que trará alegrias, e, no caso, o conforto de uma família com bases sólidas de Amor.
Suely Marchesi é espírita e colaboradora do Espiritismo.Net.