“A crença espírita no ‘Vale dos Suicidas’ que angustia parentes em luto”

A matéria publicada pela BBC News Brasil faz parte da série “Suicídio & Fé” e aborda o tema do suicídio sob o aspecto do ‘tabu religioso’. Reportagens anteriores já mostraram a visão da equipe jornalística sob a ótica da Igreja Católica e da Igreja Evangélica. Embora inicie afirmando que “O suicídio é visto no espiritismo como um ato repreensível – embora se admita algumas atenuantes”, a mesma matéria pontua que em obras como “O Céu e o Inferno e - a Justiça Divina Segundo o Espiritismo”, seriam usadas palavras frequentes como ‘castigo’ e ‘pena’ para quem se mata e que, em “O Livro dos Espíritos”, a Espiritualidade Superior teria informado que o suicida seria um ‘louco que se mata’ e ‘não sabe o que faz’. A matéria entrevistou a professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Celia Arribas, que entende que o livro “Memórias de um suicida” retrata um cenário bastante excessivo que condena aqueles que cometem suicídio.

A íntegra da matéria pode ser acessada em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2jy66r70eo

O comentário a seguir é de Ana Claudia Marino e Jussara Macabu

Antes de adentrarmos no tema, gostaríamos de pontuar alguns aspectos importantes:
- Não é nosso intento rebater ou criticar a matéria da BBC News;
- Agradecemos profundamente ao portal e sua equipe pela matéria publicada pois possibilita aos Espíritas estudarem mais e ao leigo em ler as obras citadas a fim de entender como a falta de conhecimento descontextualiza e desvirtua um conhecimento que é de todos e para todos, pois a mensagem Espírita é universal e fala de Vida!

Sim, a Doutrina Espírita trata da Vida!
Somos Seres Imortais vivenciando uma jornada em um corpo físico que é apenas um veículo emprestado que nos ajuda a atravessar a reencarnação. Se a verdadeira vida é a espiritual, por que precisamos viver a existência em um corpo físico? Sendo nosso único determinismo a evolução, a reencarnação é um meio que Deus nos concede para progredirmos, nos elevando moralmente e nos reajustando conforme vencemos os desafios que encontramos.
A Doutrina Espírita tem em seu pilar a crença em Deus que é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom ¹. Deus é a inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas ². Ele criou o Universo que compreende todos os seres animados e inanimados que podem ser visíveis ou invisíveis. Na introdução de “O Livro dos Espíritos” encontramos, além destas informações, um conceito fundamental: “O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.”
Nesta mesma introdução entendemos que os Espíritos são todos diferentes, cada qual com seu saber, sua inteligência, sua moralidade, seus sentimentos e sua proximidade de Deus. Cada um é uma individualidade e, como tal, cada um com sua história. E, como Deus é só misericórdia e bondade, todos estamos fadados à evolução: todos, absolutamente todos nós, pela Lei de Progresso, alcançaremos nossas consciências plenas e seremos somente Amor.
A partir destes princípios norteadores, constata-se que a Doutrina Espírita, então, se dirige a cada um de nós. Baseada no Evangelho que Jesus Cristo nos legou, o Espiritismo nos ajuda a sermos melhores a cada dia, trabalhando o Amor potencial que trazemos em nós e abandonando nossas más inclinações ainda muito ligadas ao egoísmo, ao orgulho, ao ciúme, ao ódio, ao mal.
Portanto, a Doutrina Espírita fala de “Vida em abundância” como nos ensinou Jesus, no Evangelho de João, capítulo 10, versículo 10.
Hoje, com o advento da ciência como conhecemos, sabemos que a vida em nosso planeta é regida pelas Leis da Física, não é verdade?
O Universo todo, criado por Deus, está sujeito às Leis Divinas ou Naturais. Para saber mais, recomendamos a leitura de “O Livro dos Espíritos”.
Ocorre que, quando encarnamos na experiência do mundo material, muitas vezes nos esquecemos da realidade espiritual e passamos a ignorar a magnitude e profundidade da Vida, e passamos a desejar fugir das ocorrências enriquecedoras e, na maioria das vezes, antagônicas aos nossos desejos ainda muito egoístas e orgulhosos. Dualidades como êxito e fracasso, conquista e perda, bem e mal, alegria e tristeza, saúde e enfermidade, podem deixar de resultar em vivências evolutivas positivas e passarem a se tornar conflitos tão instransponíveis que, em muitos casos, a busca pelo suicídio seria a solução que se apresenta aos nossos olhos.
Mas como já dissemos, a verdadeira vida é a Espiritual. O suicídio encerra apenas o corpo físico. A psiquê está no Espírito como bem explica a benfeitora espiritual Joanna de Ângelis em suas várias obras, cuja leitura recomendamos. Assim, a mesma mente que ocupa o corpo físico seguirá na vida espiritual.
Se eu me encontro em um estado de profundo sofrimento, com uma tristeza profunda, sentindo um vazio existencial, após a morte do corpo físico, eu continuarei me sentindo da mesma forma. É isto que o livro “Memórias de um Suicida” retrata. A história do Espírito Camilo Castelo Branco mostra a grandeza da Misericórdia Divina para aqueles que se aprofundaram a tal ponto em sua dor, possibilitando o trabalho interno da mudança necessária em busca da oportunidade de conhecer o Universo e a Vida em sua integral dimensão. E, como Deus, como bem pontua “O Livro dos Espíritos”, é soberanamente justo e bom, cada um de nós recebe a ajuda de uma legião de Espíritos mais elevados do que nós que, de forma muito benevolente e caridosa, nos ajudam na cura de nossas doenças da alma.
Não há castigo e nem punição na visão da Doutrina Espírita porque Deus é só benevolência. Ele oportuniza a todas as suas criaturas o aprendizado pelo trabalho interior e não viola, jamais, o livre arbítrio de ninguém. Assim, quando nos equivocamos em nossas decisões, Deus nos possibilita que façamos a correção de nossa rota por um ciclo de reparação muito bonito pelo arrependimento. É disto que trata a obra “Memórias de um Suicida”: não importa o desacerto de nossas escolhas, sempre há um caminho de reconstrução.
Vida é esperança! E é isto que não somente esta obra, mas todas as obras espíritas abordam: todos estamos destinados a sermos plenamente bons. E Deus, em sua misericórdia, nos concedeu um guia e modelo de Vida – Jesus, o Cristo. O Espírito mais puro que já encarnou em nosso planeta.
No livro “Boa Nova”³, o Espírito Humberto de Campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, nos relata que Judas Iscariotes, ao perceber que havia sido traído pelos fariseus (Judas apenas queria apressar o triunfo do Cristianismo no Mundo – ele amava profundamente Jesus) e, ao assistir às cenas do calvário, sentiu profundo remorso e, sozinho em sua dor de sentir-se como que traidor d’Aquele que tanto o ensinou, Judas não conseguiu recorrer à prece e, nem tão pouco, lembrar das lições do Cristo sobre perdão e sobre o amor. Ele só escutava uma voz tenebrosa em seu interior e, vencido pela dor, cometeu suicídio.
Imediatamente após a morte, Jesus, tocado de compaixão por Judas, porque sentiu a dor que o amigo de outrora trazia em seu coração ainda mergulhado na tristeza e na amargura, foi ao encontro de Judas, que não reconheceu Jesus. O Cristo, então, afagou o amigo amado, aliviando sua dor imensa e permaneceu com ele até que adormecesse. Somente após este gesto de amor e de perdão é que Jesus aparece a Maria Madalena, segundo nos narra João em seu Evangelho, no capítulo 20, versículos 11 a 18.⁴
Como podemos falar em castigo e punição, quando o plano Espiritual nos ensina somente Amor?
Por isso, leitor Amigo, é de Vida que tratamos. E, justamente porque falamos de Vida é que, independente da crença de cada um, o importante é como lidamos com as dificuldades que a vida corpórea nos apresenta e como aproveitamos destas dificuldades para sermos melhores a cada dia.
Convidamos você a refletir sobre o que tem feito de sua jornada até este momento. Como tem lidado com as situações?
Se você sente dificuldade perante os desafios da jornada, recomendamos que procure ajuda profissional e, nos momentos mais difíceis, busque uma conversa fraterna – independente da crença, todas as instituições religiosas possuem o recurso do atendimento fraterno. No Espiritismo.net, você encontra na abinha amarela no rodapé do site.
Você pode ligar para o SOS Preces https://sospreces.org.br/ que funciona 24 horas por dia. Ou discar 188 e falar com um atendente do Centro de Valorização da Vida (CVV).
O importante é buscar ajuda porque Deus não nos desampara e nós nunca estamos sós – como já dissemos, vivemos com uma legião de Espíritos encarnados e desencarnados sempre prontos a nos ajudar, livres de julgamento!

• Ana Claudia Marino e Jussara Macabu são colaboradoras do Espiritismo.Net