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  • Espiritismo e Ciência da Informação

A necessidade de conhecimento modificou a cultura do século XXI. O surgimento da internet e a criação da World Wide Web criaram um panorama de integração em que a comunicação tornou-se o mais importante instrumento de compreensão e representação do mundo. A quantidade e diversidade de informações – falsas e verdadeiras – torna o acesso a elas uma necessidade e um perigo. As instituições que não se preparam para lidar com a informação e incorporá-las aos seus processos de desenvolvimento e melhoria, pagam hoje o preço da obsolescência… E o movimento espírita não está ausente nisto.

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“Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras.” – foi assim que Allan Kardec(1) inaugurou a formulação do Espiritismo, definido por ele como uma ciência que tem por objeto o estudo da origem, natureza e destinação do espírito e de suas relações com o mundo corporal.

O critério de distinção proposto por Kardec encontra alguma dificuldade na designação do termo Ciência da Informação, em particular no contexto brasileiro. Traduzido originalmente do inglês Information Science – uma linha de conhecimento que tem por objeto a informação científica, sua análise, sua classificação, sua manipulação, seu armazenamento, recuperação, disseminação – o termo Ciência da Informação é a mesma tradução para Science of Information – outra disciplina que tem por objeto de estudo a informação, sua natureza, seus fenômenos e suas manifestações. Neste texto trataremos a Ciência da Informação como sinônimo de Science of Information, para designar o estudo abrangente da informação, desde sua origem até os diferentes fenômenos em que participa e dá causa.

A informação tem sido alvo de diferentes abordagens. A polissemia de que se reveste o termo é outra causa de profunda confusão quando se pretende responder à pergunta: “O que é a Informação?” De um modo geral a informação pode ser compreendida: a) como ente metafísico – parte da estrutura ontológica do universo; b) como ente fenomênico – parte da interpretação que um sujeito faz de uma observação da realidade; c) como ente matemático – parte de uma cadeia de probabilidades que define uma singularidade numa cadeia de sinais. A resposta para a pergunta “O que é informação?” tem sido alvo da exploração de uma disciplina específica: a Filosofia da Informação, e até o momento suas definições são de natureza postular – um conceito para o qual se pede aceitação antes do início da argumentação.

É notável, o crescimento do acesso humano aos registros do entendimento. Livros, fotografias, artigos, filmes, gravações de áudio e tabulações de observações têm sido geradas desde que o homem aprendeu a representar sinais, numa tentativa constante de ampliar o entendimento humano sobre a natureza das coisas e sobre seu funcionamento. O aumento singular destes registros, ocorrido depois da segunda guerra mundial, fez surgir a Ciência da Informação e deu origem ao que se convencionou chamar de Era da Informação – um período cultural em que o volume de informações cresce velozmente e incorpora-se aos valores sociais. Este período também é chamado de A Era do Conhecimento.

Os estudiosos espíritas recordar-se-ão da referência feita por Allan Kardec quando em interessante artigo sobre as Aristocracias(2) avalia o que lhe parece uma sequencia natural de progresso: idade, força, herança, riqueza, inteligência e inteligência acrescida de moralidade.

A Era da Informação parece desenhar o momento em que o homem reconhece o valor do entendimento e, ao mesmo tempo, enfatiza a necessidade da humildade, pois com o crescimento dos conhecimentos produzidos por outros, aumenta o tamanho de nossa própria ignorância. A era do conhecimento para a humanidade é a era da ignorância para o homem. Contudo, conhecendo a natureza das coisas o homem adianta-se no entendimento das leis que regem o universo. E pelo entendimento ele desenvolve comportamentos que lhe possibilitam a convivência com as Leis Universais. O progresso intelectual engendra o progresso moral uma vez que torna acessível o entendimento das coisas. O entendimento gera mudanças emocionais e afetivas pois altera o modo como o homem percebe a realidade. O entendimento educa o homem para novas formas de comportamento. A ignorância do todo transforma a cooperação em elemento de subsistência social. À medida que compreende a natureza, o homem se sente integrado a ela e desperta-lhe o dever de cooperar para a sua manutenção e desenvolvimento. Primeiro em seu próprio interesse – por manifestação egoística; depois para integra-se ao conjunto de leis que regem o universo inteiro – por compreensão das leis naturais.

A necessidade de conhecimento modificou a cultura do século XXI. O surgimento da internet e a criação da World Wide Web criaram um panorama de integração em que a comunicação tornou-se o mais importante instrumento de compreensão e representação do mundo. A quantidade e diversidade de informações – falsas e verdadeiras – torna o acesso a elas uma necessidade e um perigo. Vivendo no mundo que é capaz de compreender, o homem percebe que o erro lhe dificulta a ação. Pensar errado é agir errado. Agir errado é mais caro que agir corretamente e diminui suas possibilidades de vitória num mundo de competitividade acirrada e de cooperação ajustada entre aqueles que se complementam nos conhecimentos, nas habilidades, nas atitudes. As instituições que não se preparam para lidar com a informação e incorporá-las aos seus processos de desenvolvimento e melhoria, pagam hoje o preço da obsolescência…

E o movimento espírita não está ausente nisto. Desde a recomendação de Kardec para que se observe o progresso da ciência para avaliar se o espiritismo está equivocado em algum ponto, para modificando-o seguir com a ciência, o Codificador refletia sobre a necessidade do conhecimento contínuo, do estudo sério e sistematizado para que o conhecimento engendre o progresso tanto intelectual, quanto moral. A estruturação dos núcleos educacionais – propiciados nas tarefas da evangelização, do estudo sistematizado e do estudo da mediunidade, para citar alguns – tem sido o mecanismo pelo qual o movimento espírita tem buscado alinhar-se á era do conhecimento. Mas é sempre oportuno lembrar que conhecer é o primeiro passo, porém mais importante é vivenciar aquilo que se compreende. Pela vivência é que o conhecimento se incorpora ao nosso patrimônio de entendimento através da força do hábito, do hábito do bem – na proposta espírita.

A informação é um padrão de organização da natureza. Equivale ao princípio inteligente que Kardec denomina espírito, na primeira parte de O Livro dos Espíritos. É o ente metafísico estudado pelos pesquisadores no campo da Science of Information. Por isto o espiritismo tem a contribuir na discussão em curso. O materialismo falhou em sua proposta positivista quando não foi capaz de explicar os fenômenos da natureza. A perspectiva espírita de centrar o universo sobre as bases de uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, é uma indicação da importância da informação na proposição espírita de constituir uma metafísica que envolve matéria e espírito como princípios fundamentais do universo.

A manifestação da filosofia espírita desperta o interesse pelas comunicações espíritas. E na medida em que os jovens se aproximam pelas vias da comunicação mediatizada – em redes sociais, em fóruns de debates eletrônicos e sites especializados na cooperação funcional – como no caso dos jogos em rede, o homem compreende que a mente manifesta-se através de diferentes mecanismos materiais, preparando a Era do Espírito, como uma sequencia natural da Era da Informação.

Referências:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 76ª. Ed. Rio de Janeiro: FEB. 1995 - p. 13. (1)

  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução Guillon Ribeiro. 14ª. Ed. Rio de Janeiro: FEB. 1975 - p. 293-300. (2)

  • HOFKIRCHNER, Wolfgang. The Quest for a unified theory of information: proceedings of the Second International Conference on the foundations of Information Science. 1st. ed. Amsterdam: Gordon and Breach Publishers. 1999.

  • FLORIDI, Luciano. The Blackwell Guide to the Philosophy of Computing and Information. 1st. ed. Victoria: Blackwell Publish Ltd. 2004.

  • BATES. Marcia J. FUNDAMENTAL FORMS OF INFORMATION. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 57(8) (2006): p.1033-1045. Disponível em: http://pages.gseis.ucla.edu/faculty/bates/articles/NatRep_info_11m_050514.html . Acessado em: 18/12/2011.

20 de maio de 2014