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O ‘pam-pam-pam-pam’ que abre uma das mais famosas composições da História seria capaz de matar células tumorais - em testes de laboratório, descobriu uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ. Jorge Hessen comenta.

  • Data :15 Apr, 2011
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Células tumorais expostas à “Quinta Sinfonia”, de Beethoven, perderam tamanho ou morreram

**Renato Grandelle **

RIO - Mesmo quem não costuma escutar música clássica já ouviu, numerosas vezes, o primeiro movimento da “Quinta Sinfonia” de Ludwig van Beethoven. O “pam-pam-pam-pam” que abre uma das mais famosas composições da História, descobriu-se agora, seria capaz de matar células tumorais - em testes de laboratório. Uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7, ligadas ao câncer de mama, à meia hora da obra. Um em cada cinco delas morreu, numa experiência que abre um nova frente contra a doença, por meio de timbres e frequências.

A estratégia, que parece estranha à primeira vista, busca encontrar formas mais eficientes e menos tóxicas de combater o câncer: em vez de radioterapia, um dia seria possível pensar no uso de frequências sonoras. O estudo inovou ao usar a musicoterapia fora do tratamento de distúrbios emocionais.

  • Esta terapia costuma ser adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos, situações que envolvam um componente emocional. Mostramos que, além disso, a música produz um efeito direto sobre as células do nosso organismo - ressalta Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do estudo.

Como as MCF-7 duplicam-se a cada 30 horas, Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos seus efeitos. Neste prazo, 20% da amostragem morreu.

Entre as células sobreviventes, muitas perderam tamanho e granulosidade.

O resultado da pesquisa é enigmático até mesmo para Márcia. A composição “Atmosphères”, do húngaro György Ligeti, provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven. Mas a “Sonata para 2 pianos em ré maior”, de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais populares em musicoterapia, não teve efeito.

  • Foi estranho, porque esta sonata provoca algo conhecido como o “efeito Mozart”, um aumento temporário do raciocínio espaço-temporal - pondera a pesquisadora. - Mas ficamos felizes com o resultado. Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações metabólicas, não a morte de células cancerígenas.

“Atmosphères”, diferentemente da “Quinta Sinfonia”, é uma composição contemporânea, caracterizada pela ausência de uma linha melódica. Por que, então, duas músicas tão diferentes provocaram o mesmo efeito?

Aliada a uma equipe que inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos, Márcia, agora, procura esta resposta dividindo as músicas em partes. Pode ser que o efeito tenha vindo não do conjunto da obra, mas especificamente de um ritmo, um timbre ou intensidade.

Em abril, exposição a samba e funk

Quando conseguir identificar o que matou as células, o passo seguinte será a construção de uma sequência sonora especial para o tratamento de tumores. O caminho até esta melodia passará por outros gêneros musicais. A partir do mês que vem, os pesquisadores testarão o efeito do samba e do funk sobre as células tumorais.

  • Ainda não sabemos que música e qual compositor vamos usar. A quantidade de combinações sonoras que podemos estudar é imensa - diz a pesquisadora.

Outra via de pesquisa é investigar se as sinfonias provocaram outro tipo de efeito no organismo. Por enquanto, apenas células renais e tumorais foram expostas à música. Só no segundo grupo foi registrada alguma alteração.

A pesquisa também possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células. Como ficou provado que o efeito das músicas extrapola o componente emocional, é possível que haja uma diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de ouvido.

  • Os resultados parciais sugerem que, com o fone de ouvido, estamos nos beneficiando dos efeitos emocionais e desprezando as consequências diretas, como estas observadas com o experimento - revela Márcia.

Notícia publicada no Jornal O Globo , em 29 de março de 2011.

Jorge Hessen comenta*

Em interessante estudo realizado pela pesquisadora Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a cientista expôs por 30 minutos uma cultura de células MCF-7 (vinculadas ao câncer de mama) à série hamônica do primeiro movimento da “Quinta Sinfonia” de Beethoven(1) e observou que 20% delas morreram. A experiência pode abrir uma nova frente de combate contra o câncer, por meio de timbres e frequências sonoras. De forma inusitada, o estudo inovou ao utilizar a música como elemento terapêutico à margem do tratamento de distúrbios emocionais. A composição “Atmosphères”, do húngaro György Ligeti, também provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com a “Quinta Sinfonia”.

Sabe-se hoje que o efeito das músicas extrapola o componente emocional. Márcia afirma que a música produz um efeito concreto sobre as células físicas, tanto nas alterações metabólicas quanto na morte de células cancerígenas. Para a pesquisadora, quando se conseguir identificar o que anulou a vitalidade das células renais e tumorais expostas à música, poderá ser construído um mapeamento para sequência sonora especial para o tratamento de tumores.

Para muitos estudiosos, a música é a ciência das medidas, da modulação, razão pela qual concebe-se que as séries harmônicas comandem a ordem do cosmo, a ordem humana e a ordem instrumental. Os historiadores louvam a Pitágoras, que inventou um monocórdio para determinar matematicamente as relações dos sons.

Ela [música] será “a arte de atingir a perfeição.”(2) Há uma curiosa teoria na física, ainda não conclusiva, que diz que as partículas primordiais são formadas por energia (não necessariamente um tipo específico de energia, como a elétrica ou nuclear) que, vibrando em diferentes tons, formaria diferentes partículas. De acordo com a teoria, todas as partículas que eram consideradas como elementares, como os quarks e os elétrons, são na realidade filamentos unidimensionais vibrantes, a que os físicos deram o nome de  Teoria das Cordas.

Sabe-se hoje que há intervenção das notas musicais nas moléculas da água. No livro As Mensagens da Água , Massaro Emoto demonstra o resultado de sua pesquisa, em que as moléculas da água são profundamente alteradas da sua forma utilizando da técnica de ressonância. Em seus experimentos, conseguiu identificar como a água é influenciada por alguns fatores, como a música por exemplo, que pode alterar sua estrutura molecular.(3)

A música é um invento antiquíssimo. Entre os gregos, atribui-se sua invenção a Apolo, a Cadmo, a Orfeu e a Anfião. Entre os egípcios, a Tot ou a Osíris; entre os judeus, a Jubal. Em torno do ano de 2.697 a.C., entre os celtas, a música tradicional se tocava na harpa, sendo os sopros reservados para a diversão e a guerra. Sabe-se que Saul, em suas crises nervosas, chamava Davi, que através dos sons de sua harpa acalmava a irritação do monarca. A tradição cristã reteve grande parte do simbolismo de Pitágoras, interpretado por Santo Agostinho e por Boelcius.

“Na idade média, pode-se ver o homem voltado para Deus e a música é um instrumento de fé. O cristianismo trouxe ao homem um mundo que ele desconhecia.

Movidos por essa nova visão, os primeiros cristãos criaram sua própria característica musical.”(4) Atualmente, a ciência, sobretudo no campo da medicina e da psicologia, vem redescobrindo verdades e conhecimentos que os antigos sábios detinham sobre o poder oculto da música. Ela pode influenciar no comportamento de toda uma nação, como por exemplo ocorreu com o rei George III, na Abadia de Westminster, durante uma apresentação de Handel. A certa altura da apresentação da obra O Messias (o coro da Aleluia), o rei se pôs em pé, sinal para que todo o público se levantasse. Ele estava chorando. Nada jamais o comovera tão vigorosamente. Dir-se-ia um grande ato de assentimento nacional às verdades fundamentais da religião.

Em contatos com Allan Kardec, nas reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o espírito do músico e compositor clássico Gioachino Rossini, por solicitação do codificador, falou sobre alguns aspectos espirituais da música e sua influência no comportamento humano. O espírito propõe um novo conceito sobre a expressão harmonia, comparando-a com a luz. Para ele, ambas são uma espécie de sentidos íntimos da alma, estados transcendentes do ser. Rossini afirma que “a harmonia, a ciência e a virtude são as três grandes concepções do espírito: a primeira o arrebata, a segunda o esclarece, a terceira o eleva. Possuídas em toda a plenitude, elas se confundem e constituem a pureza".(5)

Na Revista Espírita , de maio de 1858, Kardec entrevista o compositor Mozart, que declarou o seguinte: “Quando estou em boas disposições e inteiramente só, durante o meu passeio, os pensamentos musicais me vêm com abundância. Ignoro donde procedem esses pensamentos e como me chegam; nisso não tenho a mínima vontade, a menor intervenção.” Habitante do planeta Júpiter, o genial músico revelou: “Onde habito, há melodia em toda parte: no murmúrio das águas, no ciciar das folhas, no canto dos ventos; as flores rumorejam e cantam.”

Os Benfeitores espirituais fazem referência aos encantos da música celeste, praticada nas esferas espirituais elevadas, como sendo “tudo o que de mais belo e delicado pode a imaginação espiritual conceber”. (6) Poetas afirmam que é com a música que fazem as suas declarações de amor o rouxinol e o grilo, a cigarra, o golfinho, o cisne e a águia. Aldous Huxley disse que “depois do silêncio, aquilo que mais aproximadamente exprime o inexprimível é a música.”

O Espírito André Luiz narra, no livro Nosso Lar , que o “Governador da Colônia Espiritual determina a utilização da música a fim de intensificar o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo.”(7) O livro revela o Campo da Música, em cujas extremidades há melodia para todos os gostos. Impera, porém, no centro a música universal e divina, a arte santificada por excelência, que atrai multidões de Espíritos, ao contrário do que se verifica na Terra. Descreve um gracioso coreto (um corpo orquestral de reduzidas figuras) que executa música ligeira.”(8)

Os antepassados ensinavam que a música é uma lei moral. Dá alma ao universo, asas ao pensamento, saída à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as coisas. É a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, e do qual ela é a forma invisível, mas, no entanto, deslumbrante, apaixonada, eterna.

“Assim como a arte cristã sucedeu a arte pagã, transformando-a, a arte espírita será o complemento e a transformação da arte cristã.”(9) Plenamente justificada, então, a utilização da música, em qualquer de suas manifestações, desde que consonante com os objetivos superiores a que nos dediquemos, notadamente no ambiente espírita, resguardadas as devidas cautelas na seleção das melodias a serem entoadas, de modo a conduzir a um clima mental satisfatório tanto os desencarnados quanto os encarnados, no que tange aos ajustes harmônicos das forças psíquicas e físicas. E, consoante demonstram as pesquisas de Massaru, é importante lembrar que no plano físico os encarnados somos compostos de partículas subatômicas que estruturam as cidadelas celulares e cada célula contém um volume de 70% de água que dissolve e transporta materiais e participa de inúmeras reações bioquímicas do corpo biológico.

Fontes de Referência:

(1) Beethoven afirmava que a música é o único acesso espiritual nas esferas superiores da inteligência;

(2) CHEVALIER, Jean, GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1988;

(3) Emoto, Massaru. “As Mensagens da Água”, SP: Editora Isis, 2004;

(4) Disponível no blog Utopia Capital, do músico Edu Hessen, http://utopiacapital.blogspot.com/2010/06/capitulo-iii.html , acessado em 11/04/2011;

(5) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001 - “Música Espírita”;

(6) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 1992, perg. 251;

(7) Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2001, págs 67 e 68;

(8) Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB 2001, Cap. 45;

(9) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2001.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.