Carregando...

  • Início
  • Estudo indica que Moisés teve ajuda do vento para abrir o Mar Vermelho

Pesquisadores acreditam ter descoberto o exato ponto onde Moisés teria dividido as águas do Mar Vermelho, há 3.000 anos, para que o povo judeu pudesse fugir do faraó egípcio, e também como ele teria conseguido. Jorge Hessen comenta.

  • Data :07 Nov, 2010
  • Categoria :

Estudo indica que Moisés teve ajuda do vento para abrir o Mar Vermelho

WASHINGTON (AFP) - Pesquisadores americanos acreditam ter descoberto o exato ponto onde Moisés teria dividido as águas do Mar Vermelho, 3.000 anos atrás, para que o povo judeu pudesse fugir em segurança do faraó egípcio, e também como ele teria conseguido: com uma ajudinha do vento.

“As pessoas sempre foram fascinadas por essa história do Êxodo, indagando se tinha base em fatos históricos”, estimou Carl Drews, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, principal autor do estudo, publicado no site da Public Library of Science.

“O que este trabalho mostra é que a descrição das águas se abrindo de fato possui uma base nas leis da física”, acrescentou.

A Bíblia descreve como os israelitas “passaram pelo meio do mar no chão seco”, com uma parede de água de cada lado, enquanto um forte vento soprava do leste.

Os pesquisadores não podiam simplesmente usar a Bíblia como referência para deduzir a localização geográfica da travessia, porque “embora o autor do Êxodo tenha tentado de fato apontar o local onde Moisés atravessou, infelizmente os nomes usados não são mais reconhecidos”, disse o cientista à AFP.

Drews e seu coautor, o oceanógrafo Weiqing Han, da Universidade do Colorado, focaram sua busca pelo local onde a travessia poderia ter ocorrido em um ponto onde há uma faixa de terra na água, descartando lugares considerados anteriormente por outros estudos, como o Golfo de Suez ou em um ponto perto de Aqaba, na atual Jordânia.

A dupla descobriu que, quando o vento sopra, a água pode se levantar e se “dividir” no local da faixa de terra, explicou Drews.

“Um monte de refugiados pode correr pelo meio, e quando o vento para, a água subitamente volta a ficar como antes, atingindo quem estiver no caminho”, afirmou.

Drews e Han chegaram a um local no leste do Delta do Nilo, em um sítio arqueológico chamado de Tell Kedua, a norte do Canal de Suez na costa mediterrânea.

Neste ponto, acreditam que um antigo braço do Nilo e uma lagoa costeira um dia tenham formado um  ‘U’ à beira do Mar Mediterrâneo.

Com a ajuda de um satélite, os cientistas fizeram um modelo da área, e modificaram o terreno para que se parecesse com a forma que tinha há 3.000 anos.

Depois, preencheram o modelo com água e fizeram vento soprar.

De acordo com seus cálculos, um vento de 100 km/h soprando durante 12 horas teria sido capaz de empurrar a água em até dois metros de profundidade por cerca de quatro horas - tempo suficiente para que Moisés e seu povo atravessassem para a liberdade.

Notícia publicada no Yahoo! Notícias , em 23 de setembro de 2010.

Jorge Hessen comenta*

O Velho Testamento narra que os hebreus passaram pelo meio do Mar Vermelho, no chão seco, com uma parede de água de cada lado, enquanto um forte vento soprava do leste. A grande controvérsia que persiste até hoje sobre essa travessia é o cenário do acontecimento, o qual não foi possível determinar com mais clareza. Inclusive, afirma-se que a fuga do Egito pelo Mar Vermelho seria menos verossímil do que pelo Mar dos Juncos. Por quê? É simples: analisemos que na Bíblia de Jerusalém(1) 21 (vinte e uma) passagens se reportam à travessia, sendo que em 16 (dezesseis) vezes diz-se que foi no Mar dos Juncos e em apenas 5 (cinco) vezes que foi no Mar Vermelho. Há algo nesses informes desencontrados que está mal explicado.

Há quem afirme que o local da travessia foi mesmo no Mar Vermelho, exatamente na extensão norte do Golfo de Suez, ao sul do atual porto. Talvez na região pantanosa e de lagunas, atravessada hoje pelo canal de Suez. Mas há estudiosos alegando que a localização dessa tal porção de mar é bastante incerta.

Atualmente, é impossível determinar com exatidão o lugar e o modo de como ocorreu o insólito episódio bíblico. Nesse caso, é muito problemático estabelecer uma relação razoável entre o que existe de possibilidade histórica e o que seja fruto de reelaborações épicas.

Carl Drews – do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, principal autor do estudo sobre a suposta travessia, publicado no site da Public Library of Science – e o oceanógrafo Weiqing Han – da Universidade do Colorado – acreditam ter descoberto o exato ponto onde Moisés teria “dividido” as águas do Mar Vermelho, há 3.000 anos. Segundo os pesquisadores, quando o vento sopra na localidade considerada, a água pode se levantar e se “dividir” naquela faixa de terra. Pelos seus cálculos, um vento de 100 km/h, soprando durante 12 horas, teria sido capaz de empurrar a água em até dois metros de profundidade, por cerca de quatro horas – tempo suficiente para que Moisés e seu povo atravessassem para a liberdade. Contudo, Drews e Weiqing só não conseguem explicar como todo aquele povo se deslocaria pelo local sob uma ventania de 100 km/h.

Se a hipótese possui base científica, não se pode inferir seja verdadeira outra hipótese que lhe é contrária. Não há argumento que se possa sobrepor à autoridade dos fatos. Contudo, nesse caso, apesar do episódio impressionar, importa investigar se realmente aconteceu, seja como relatado pelos pesquisadores americanos, ou pelo Velho Testamento, que consigna apenas uma indicação difusa.

Há contradições históricas sobre detalhamento do fato. Observemos que o Velho Texto afirma que Moisés estendeu a mão sobre o mar, enquanto que o historiador Flávio Josefo afirma que “Moisés tocou o mar com sua vara maravilhosa e no mesmo instante ele se dividiu, para deixar os hebreus passar livremente, atravessando-o a pé enxuto, como se estivessem andando em terra firme.”(2). Assim, temos duas versões para o mesmo fato.

Para o Espírito Emmanuel, “na trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres deste povo poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.”(3). O que nos falta, na verdade, é um conhecimento mais aprimorado da Bíblia, que nos possibilite descobrir o que ela mantém sob véu.

De qualquer modo, se houve a travessia, essa só pode ter ocorrido dentro das leis naturais. O espírita jamais endossaria os argumentos que tentam entronizar a travessia à conta de fenômeno sobrenatural (“milagre”), contrariando a ciência, o bom senso e a fé racional. Sabemos também que na Bíblia “a alegoria ocupa considerável espaço, ocultando sob véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece o absurdo.”(4).

O Espiritismo ressalta a cada passo a importância dos textos do Velho Testamento. A Doutrina não vem, pois, destruir a base de qualquer religião, como alguns o supõem, mas, ao contrário, vem legitimá-las, sancioná-las por provas irrecusáveis. “Mas como é chegado o tempo de não mais empregar a linguagem figurada, eles [os Espíritos] se exprimem sem alegoria e dão às coisas um sentido claro e preciso que não possa estar sujeito a nenhuma interpretação falsa. Eis porque, dentro de algum tempo, teremos mais pessoas sinceramente religiosas e crentes que as que não temos hoje.”(5).

Cremos ser importante um estudo sério que contribua para um conhecimento novo em face das verdades veladas inseridas no Velho Texto. A Bíblia está repleta de narrativas que trazem, através dos símbolos, verdades e revelações surpreendentes, tanto quanto passagens e fatos que endossam e comprovam os fenômenos mediúnicos em seus vários aspectos, através dos profetas, que eram na verdade médiuns.

Pelas razões expostas, e por prudência é “no sentido relativo, que [o espírita] deve interpretar os textos sagrados.”(6)

Fontes:

(1) Existem três tipos de Bíblia, a definir: A Bíblia Judaica que para nós constitui o Velho Testamento, ou o Tanách com 24 livros, a Bíblia protestante com 66 livros e a Católica com 73 livros;

(2) Josefo, Flavio. História dos Hebreus. Trad. PEDROSO, V. Rio de Janeiro: CPAD, 1990. pág. 87;

(3) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, pág. 67;

(4) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1974, cap. IV;

(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1878, questão  1010;

(6) Idem, questão 1009.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.