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  • Vigia põe fogo em crianças em creche de Janaúba, em Minas, e ao menos sete morrem

O vigia noturno da creche Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente ateou fogo em dezenas de crianças entre quatro e seis anos que estavam no estabelecimento na manhã desta quinta-feira, 5 de outubro. Márcia Rodrigues comenta.

  • Data :10 Oct, 2017
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As vítimas até o momento são cinco crianças e a professora. O agressor também morreu. No total, 22 foram queimados e casos graves foram levados para hospitais da região

EL PAÍS

Uma tragédia abalou a pequena cidade mineira de Janaúba, a 557 km da capital Belo Horizonte. O vigia noturno da creche Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente ateou fogo em dezenas de crianças entre quatro e seis anos que estavam no estabelecimento na manhã desta quinta-feira, 5 de outubro. De acordo com a Prefeitura de Janaúba, quatro crianças morreram no local. Outras 22 foram socorridas e levadas para hospitais da região, sendo que nove delas estão em estado grave com queimaduras em mais de 20% do corpo, de acordo com um boletim divulgado pelo Corpo de Bombeiros. Após o socorro, mais uma criança, uma professora e o agressor morreram, totalizando sete mortos na tragédia. No fim da noite de ontem, as autoridades haviam divulgado que mais uma criança havia morrido, porém depois o hospital retificou a informação. Ela havia sofrido uma parada cardíaca e sobreviveu.

Segundo informações dos jornais locais, o agressor seria Damião Soares dos Santos, de 50 anos, que havia sido afastado do cargo após alegar problemas de saúde. Ele jogou álcool sobre as crianças e sobre seu próprio corpo e em seguida acendeu o líquido inflamável. O teto de material inflamável da sala onde o crime ocorreu teria ajudado a espalhar as chamas. Santos também chegou a ser internado em estado grave, mas morreu durante a tarde.

O G1 divulgou uma lista com o nome dos mortos. A fonte, de acordo com o portal, seria o Instituto Médico Legal da cidade. Seriam: Ana Clara Ferreira Silva, Luiz Davi Carlos Rodrigues, Juan Pablo Cruz dos Santos, Juan Miguel Soares Silva, Renan Nicolas Santos, todos de quatro anos; Helley Abreu Batista, a professora, de 43 anos, além de Damião.

O crime ocorreu no horário do intervalo da creche, e no momento cerca de 50 pessoas, entre crianças e funcionários, estavam no local. Helicópteros da Polícia Militar de cidades vizinhas foram deslocados para Janaúba para auxiliar na remoção de vítimas para hospitais de referência no tratamento de queimados, como o João XXIII, na capital mineira, e a vizinha Montes Claros. Nas redes sociais, moradores da cidade pedem doações de material hospitalar e de sangue para o Hospital Regional, que recebeu a maioria dos feridos. Quinze pessoas deram entrada no local em estado de choque, mas já foram liberadas.

O presidente Michel Temer, que está em Belém, disse “lamentar imensamente” a tragédia em Janaúba. “Eu que sou pai, naturalmente muitos dos senhores e das senhores também o são. Deve ser uma perda dolorosa. Quero expressar minha solidariedade às famílias, lamentar esse acontecimento", afirmou, em seu perfil no Twitter. O peemedebista disse ainda que o mundo está “muito convulsionado (…) e muitas vezes ocorrem lamentáveis acontecimentos”. O governador do Estado, Fernando Pimentel (PT), divulgou nota afirmando ter determinado “a mobilização de todas as forças de Saúde Pública e de segurança (…) nas operações de resgate e salvamento” na creche. Ele declarou luto oficial de três dias em razão da tragédia. A assessoria de imprensa do petista afirmou que ele se dirigiu a Janaúna no início da tarde.

O prefeito da cidade, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), comparou o ocorrido a um conflito armado. “Eu nunca vi uma guerra, mas a situação aqui parece ser igual. É catastrófica”, afirmou o tucano. A prefeitura criou uma conta corrente para receber doações em dinheiro para ajudar as vítimas.

Em entrevista a um jornal local, o tenente Diego Prates, do sétimo batalhão dos Bombeiros, afirmou que testemunhas afirmaram que o homem entrou com um galão de gasolina ou álcool, e ateou fogo. “Em seguida ele saiu abraçando as pessoas, para que todos pegassem fogo”, disse. De acordo com Prates, existe a suspeita de que o homem sofresse de algum distúrbio mental.

Notícia publicada no Jornal El País , em 6 de outubro de 2017.

Márcia Rodrigues* comenta

Essa é uma daquelas histórias que tem todos os ingredientes de uma obra de ficção: um vilão, as vítimas inocentes, a heroína, e muita gente emocionada. Mas não é ficção, é uma história real, com todas as dores e tristezas reais…

Quando acontecem fatos que nos chocam tanto, podemos nos questionar se a humanidade está de fato progredindo; alguns acham que o mundo está piorando e está mais violento.

O progresso tecnológico é mais óbvio, quanto ao progresso moral precisamos olhar para o passado para conseguirmos entender o que está acontecendo. Se compararmos o que acontece hoje com aquilo que ocorria na época de Kardec, por exemplo, perceberemos que avançamos moralmente sim.

Estamos progredindo sempre, é da natureza humana e convivemos em sociedade para nos ajudarmos mutuamente. “O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social.”(1)

Vivemos num planeta de provas e expiações, que está em transição para mundo de regeneração. Nesse momento temos pessoas que se posicionam em diversos pontos da escala evolutiva. Existe também um certo desequilíbrio emocional, já que todos estamos em processos intensos de reparação por desvios cometidos perante as leis divinas em tempos passados e somos submetidos a uma pressão extrema, que faz com que nos desequilibremos, alguns perdem completamente o controle sobre suas emoções.

O processo de encarnação da humanidade tem suas finalidades. “Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea; nisto é que está a expiação.”(2)

Portanto, a Doutrina Espírita nos explica que tudo que nos acontece é uma forma de caminharmos rumo à perfeição. Vamos sendo submetidos a situações que nos proporcionarão oportunidades do aprendizado que precisamos, ainda que essas situações sejam dolorosas.

Neste acidente, as pessoas envolvidas estavam de alguma forma conectadas pela necessidade de se submeterem a uma situação com aquelas características para saírem da experiência, modificados de alguma forma.

Quando reencarnamos trazemos na nossa programação, os gêneros das provas que iremos passar, provas essas escolhidas por nós mesmos, usando nosso livre-arbítrio, e com isso podemos passar por grandes desafios. Experiências bem difíceis como a perda de um filho, de uma mãe, acidentes que nos tragam alguma limitação física, podem fazer parte desse contexto.

Alguns têm perguntado o motivo de acontecer algo tão impactante com crianças, uma vez que não tiveram tempo de errar nessa existência, não “mereciam” esse castigo. Precisamos lembrar que se a causa das vicissitudes não está nesta existência, então estará em existências anteriores, porque não existe efeito sem causa.

Essas crianças são Espíritos em processo de aprendizagem, que no momento do acidente ainda contavam poucos anos nesta vida material, é fato, mas que como Espíritos imortais tiveram outras existências, acumulando assim erros e acertos, também estando sujeitas ao processo de reparação perante as leis divinas como qualquer ser humano encarnado.

O fim da vida material dessas crianças, em tão tenra idade, não foi em vão ou não foi uma injustiça. “A duração da vida da criança pode ser, para o seu Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, e sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais.”(3)

Ninguém nasce fadado a cometer um crime. O homem que foi o responsável por esse escândalo não era um destinado a fazê-lo, não nasceu com essa missão. Mas para Deus tudo tem uma utilidade, até mesmo o mal. A partir da situação criada pelo seu ato impensado, alguns Espíritos tiveram a oportunidade de expiar erros passados.

Sempre temos a escolha de não desviarmos do caminho do bem, as leis divinas estão na nossa consciência e sabemos o que é o bem e o mal, sempre seremos responsáveis por todos nossos equívocos “porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!”(4)

Esse homem é um Espírito criado por Deus, como todos nós, que está no caminho da perfeição. Nesse caminho existe a possibilidade de equívocos, e, como toda a humanidade, ele também é merecedor da misericórdia divina.

Ele se ajustará perante a justiça divina passando pelos processos de arrependimento, expiação e reparação desse ato equivocado, no momento oportuno. Não cabe o nosso julgamento nesse momento.

Aos parentes e amigos, caberá a compreensão de tudo que ocorreu, buscando em Deus o alento e o conforto. “Bem-aventurados os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a submissão à vontade de Deus, porque eles terão as alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho virá o repouso.”(5)

Sempre recorremos ao entendimento na doutrina espírita para diminuir nosso espanto quando esse tipo de situação insiste em nos surpreender.

Ainda que possamos compreender que tudo está de acordo com os desígnios divinos, ficamos tocados perante a dor do próximo, e somos lembrados nesses momento que nós também não temos controle diante do inesperado.

Não sabemos o que o futuro nos reserva, por isso precisamos tentar fazer o melhor em cada momento, pois não sabemos se ele será o último.

Podemos ajudar a essas pessoas, mesmo distantes. Temos o recurso da oração, em intenção a todos aqueles que estão envolvidos; roguemos pela misericórdia divina, que essas pessoas possam ser auxiliadas para que suas dores sejam suavizadas. Que possam exercitar o perdão, não alimentando a mágoa e o rancor que os prenderiam por muito mais tempo a dor desse momento tão difícil.

Que possam guardar a lembrança suave e doce dos momentos que tiveram essas pessoas junto a si.

Fontes de Referência:

(1) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – questão 779;

(2) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – questão 132;

(3) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – questão 199;

(4) Mateus, 18:7;

(5) “O Evangelho segundo o Espiritismo” - Allan Kardec - Cap. V - Bem-Aventurados Os Aflitos, item 18.

  • Márcia Rodrigues nasceu em 30 de outubro de 1967, na cidade do Rio de Janeiro. Engenheira Civil, com especialização em Gestão de Projetos e Processos. É espírita e trabalhadora da Fraternidade Espírita Amor e Paz (FEAP). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line.