Carregando...

  • Início
  • Por que fazer uma vasectomia aos 29 anos foi a melhor coisa que fiz

Paul Pritchard tem 29 anos e faz parte de um movimento polêmico que tem crescido no Reino Unido, dos jovens que optam por ser esterilizados porque têm certeza de que não querem ter filhos. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :18/06/2017
  • Categoria :

Paul Pritchard tem 29 anos e faz parte de um movimento polêmico que tem crescido no Reino Unido, dos jovens que optam por ser esterilizados porque têm certeza de que não querem ter filhos.

*Pritchard é um dos jovens entrevistados para um documentário da BBC sobre o movimento childfree * - “sem crianças” em tradução livre.

Veja abaixo o seu depoimento:

“Desde os 18 anos que sabia que não queria ter filhos.

E, desde então, todos os anos perguntava ao meu médico sobre vasectomia (cirurgia contraceptiva em que o canal que leva espermatozoides do testículo ao pênis é interrompido). Mas o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido negou-me o procedimento durante 11 anos, alegando que eu era jovem demais para tomar uma decisão que afetaria o resto da minha vida.

Finalmente, aos 29, eles deram a luz verde. Fiquei feliz quando o médico finalmente me disse que eu poderia fazer uma vasectomia.

Algumas pessoas podem considerar a esterilização uma opção extrema.

Mas eu não sou o único. No Reino Unido, há um número crescente de jovens da minha idade ou mais jovens que estão escolhendo serem esterilizados.

Concordei em participar de um documentário da BBC sobre jovens que fizeram a mesma escolha e deixei inclusive que filmassem minha operação.

Quando chegou o dia da vasectomia eu estava nervoso.

Não porque era o momento que acabaria com qualquer chance de paternidade no futuro, mas pelo receio de ter um bisturi cortando meus testículos.

A vasectomia bloqueia os canais deferentes, impedindo que os espermatozoides cheguem ao esperma. É um procedimento relativamente rápido que é feito com anestesia local e é considerado permanente.

Tão logo terminou a operação, senti um grande alívio. E esse sentimento permanece.

Quando as pessoas me perguntam sobre a minha escolha, a pergunta mais comum é: por que você fez isso?

Os motivos são diferentes em cada caso; eu tinha vários. Um deles tem a ver a ver com genética.

Tenho diabetes tipo 1 e sofri de depressão. Minha esposa também tem doenças crônicas.

Eu já passei por momentos terríveis devido a diabetes e depressão, e meus pais também sofreram muito por causa da minha doença.

Eu não quero que meu filho passe pelo mesmo sofrimento.

Outra razão é que eu sou uma espécie de ‘babaca egoísta’. Eu gosto do meu dinheiro, do meu tempo e de fazer o que quiser da minha vida.

Simplesmente não quero gastar tempo e esforço para criar uma criança.

Felizmente, minha esposa sente o mesmo. Eu a amo, mas eu suspeito que nossa relação não teria durado se não fosse a decisão comum de não ter filhos.

Relacionamentos anteriores com outras mulheres acabaram precisamente por essa razão. Elas queriam ter filhos, mas sentia arrepios só de pensar nessa possibilidade.

Então, por que passar por todas as complicações da contracepção, quando se tem tanta certeza do que você quer?

Eu entendo que a vasectomia não é a opção ideal para muitos e é bom que o Serviço Nacional de Saúde seja cauteloso.

Como a Leonora Butau, especialista em fertilidade e bioética, disse: ‘A esterilização é basicamente um procedimento que danifica um órgão perfeitamente saudável. É um procedimento drástico. A essência da medicina é curar, e estes tipos de operações são um desafio para esta filosofia’.

Mas eu não tenho nenhuma dúvida de que a esterilização é a escolha correta para mim.

Eu amo minha esposa e poder ter relações sexuais desprotegidas com ela é importante para mim.

Também sou feliz demais por ter o apoio de amigos e familiares que respeitam a minha decisão.

O que parece surpreender muitas pessoas é o fato de eu trabalhar com crianças. Trabalho em uma fábrica de brinquedos onde produzimos, por exemplo, soldados de brinquedo usados em jogos de tabuleiro. Eu ensino jogos a grupos de pessoas, muitas delas são crianças.

É um trabalho que eu gosto, especialmente quando interagimos com crianças autistas.

Então, eu não odeio crianças. Pode ser que eu não goste muito de bebês que não param de chorar, carrinhos ou pais um pouco incômodos, mas não odeio crianças.

Eu só não quero ter uma.

Às vezes, pessoas pensam que têm o direito de comentar sobre a vida dos outros.

Pessoas estranhas têm me perguntado diretamente: por que não quer ter filhos?

E eu combato isso com perguntas.

Eu pergunto, por exemplo, por que você sente que sabe o que eu devo fazer? Por que os meus testículos são tão importantes para você?

Como não sou muito ativo nas redes sociais, não recebi muitos comentários negativos.

Mas eu sei de outros casos, como o de Holly Brockweel, que travou uma batalha de quatro anos com o Serviço Nacional de Saúde até que concordaram em esterilizá-la aos 30 anos. Ela sofria ataques terríveis na internet.

Eu acho que, em geral, o estigma e o preconceito são maiores quando se trata de uma mulher.

A pressão que a sociedade exerce sobre as mulheres para que tenham filhos é maior e isso é muito injusto.

Após 11 anos de tentativas, eu finalmente estou no controle da minha própria fertilidade e o sentimento é fantástico.

Agora posso desfrutar de minhas desventuras sexuais sem ter que pagar um preço por isso.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 4 de abril de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Na literatura básica do Espiritismo não há referência específica sobre os métodos contraceptivos da vasectomia e da laqueadura de trompas. Analisando O Livro dos Espíritos , no capítulo sobre a “Lei de Reprodução”, encontramos alguns subsídios importantes para discutir o tema.

Ao reencarnarmos, trazemos conosco os compromissos que assumimos no plano espiritual, referentes às várias circunstâncias de nossas vidas. Um desses compromissos, sem dúvida nenhuma, é o compromisso decorrente do planejamento familiar que projetamos para a nossa nova experiência no corpo material.

A questão da vasectomia deve ser examinada à luz da intenção de quem o pratique. Se a intenção for de seguir um planejamento familiar que atenda às realidades do casal, inclusive de ordem econômica e social, nada conhecemos no Espiritismo que o reprove. Se, porém, a intenção é meramente física, de manter a sensualidade, de ter uma atividade sexual voltada unicamente para o prazer, aí é diferente. Neste caso, estará sendo contrariada a Lei Natural e a consequência será a necessidade de retificação numa existência física futura, de forma geralmente dolorosa.

Chico Xavier, que não era avesso aos anticoncepcionais, disse: “Acreditamos que o anticoncepcional é um recurso que nos foi concedido na Terra pela Divina Providência para que a delinquência do aborto seja sustada, uma vez que a criatura humana, por necessidade de revitalização de suas próprias forças orgânicas, naturalmente precisará do relacionamento sexual entre os parceiros que estão compromissados no assunto, mas usarão esse agente anticoncepcional para que o crime do aborto seja devidamente evitado em qualquer parte do mundo.” (1)

Ele também afirmou que “os anticoncepcionais não estarão invadindo a Terra sem finalidade justa. Pessoalmente, acreditamos que o casal tem direito de pedir a Deus inspiração para que não venha a cair em compromissos nos quais eles, os cônjuges, permaneçam frustrados” .(2)

Analisando sobre o assunto, cada caso é um caso. Todavia, desaconselhamos a utilização rotineira e indiscriminada de medidas contraceptivas, exceto que haja um pretexto lícito e doutrinariamente aceitável, lembrando, nesse contexto, que os ditames da Lei de Deus encontram-se no âmago da consciência de cada um.

Referência bibliográficas:

(1) <http://www.oconsolador.com.br >;

(2) Chico Xavier em Goiânia, págs. 49, 64, 65 e 66.

  • Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.