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Em tempos de Copa do Mundo, futebol é o que mobiliza os corações em todo o planeta. A mídia internacional esquadrinha cada palmo do país-sede do evento, ávida por revelar todas as nossas facetas. The New York Times, o prestigioso jornal norte-americano, deu destaque a um time pouco conhecido da maioria dos brasileiros: Urece Esporte e Cultura. Esses atletas do Rio de Janeiro desafiam todas as adversidades ao tomar parte e vivenciar a paixão nacional: eles jogam futebol de cegos. Usando uma venda nos olhos, para que não pairem dúvidas sobre a sua deficiência visual, conquistaram o campeonato regional este ano e tiveram dois jogadores convocados para a seleção brasileira paralímpica. Jogam com tal desenvoltura e habilidade, que provocam gracejos: Esses caras enxergam!

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Em tempos de Copa do Mundo, futebol é o que mobiliza os corações em todo o planeta. A mídia internacional esquadrinha cada palmo do país-sede do evento, ávida por revelar todas as nossas facetas. The New York Times, o prestigioso jornal norte-americano, deu destaque a um time pouco conhecido da maioria dos brasileiros: Urece Esporte e Cultura.

Esses atletas do Rio de Janeiro desafiam todas as adversidades ao tomar parte e vivenciar a paixão nacional: eles jogam futebol de cegos. Usando uma venda nos olhos, para que não pairem dúvidas sobre a sua deficiência visual, conquistaram o campeonato regional este ano e tiveram dois jogadores convocados para a seleção brasileira paralímpica. Jogam com tal desenvoltura e habilidade, que provocam gracejos: “Esses caras enxergam!”

Um dos craques da Urece e da seleção é Liwiston Costa, o Didiu. Aos oito anos, ele caminhava para a escola, quando foi atropelado por uma moto. Esse acidente lhe custou a visão. Começou a jogar futebol de cegos aos 13 anos e hoje sonha ser campeão na Paralimpíada do Rio de Janeiro em 2016. Para isso, treina forte de manhã e de tarde. “No treino, é hora de errar, é hora de acertar, é hora de se esforçar, de cair, de levantar; a competição é só o espelho do que você faz no treino”, filosofa. Outro destaque do time é Eduardo Júnior, o Dudu. Ele teve sífilis congênita, transmitida por seus pais, o que lhe causou cegueira de nascença. “Deus me fez assim e eu vou querer ser assim pra sempre, para o resto de minha vida”, afirma com serenidade e resignação. Sobre as dificuldades de acessibilidade, ele sorri, dizendo: “A gente se ajuda; é um cego guiando o outro”.

A Urece é uma associação criada, dirigida e dedicada a pessoas com deficiência visual. Atua na inclusão social e no crescimento pessoal dos cegos, por meio de aulas, treinamentos esportivos, oficinas e projetos especiais. Um dos fundadores é Marcos Lima, jornalista formado na UFRJ, cego desde os cinco anos de idade, por glaucoma. É autor do blog semanal “Histórias de Cego”, onde narra, com boas doses de humor, as suas aventuras cotidianas, no intuito de aproximar o público comum e diminuir o preconceito com os deficientes. Um dos episódios que conta: certa vez ele andava de madrugada numa região deserta e perigosa da cidade, quando se aproximaram duas pessoas e lhe ofereceram ajuda para atravessar a rua. A certa altura, um deles diz: “Sabe quem tá te guiando? Dois ladrão”. Ele responde: ”Estou me sentindo bem protegido, então!” Em outro episódio, ele conta que um grande número de cegos descia do ônibus diariamente em frente ao Instituto Benjamim Constant, uma escola para deficientes visuais. Ele, não, porque cursava a UFRJ e tinha de descer um ponto antes. Os passageiros julgavam-no equivocado e ficavam indignados com o motorista do ônibus: “Por que você deixou o ceguinho descer no ponto errado? Vai atrás dele!”

Todos nós nascemos com algumas limitações, sejam pequenas ou grandes, que fazem parte da conjuntura das nossas provas ou expiações planejadas antes de cada reencarnação. Podem ser limitações de ordem intelectual, cultural, socioeconômica ou física. Nesta última categoria, encontram-se, por exemplo, os casos de doenças congênitas ou acidentes que acarretam perda da visão ou da locomotividade. A Doutrina Espírita ensina que a escolha das provas pelas quais temos de passar em nossas existências terrenas é feita por cada um de nós que tenha o devido discernimento. As provas e todas as limitações inerentes são escolhidas visando ao maior benefício possível para o espírito que reencarna, ou seja, aquilo que o leve a progredir mais depressa.

Por isso, Jesus utilizava uma figura de linguagem enérgica: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o”, cujo significado à luz do Espiritismo é arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa que possa levar à queda. Para o homem, mais vale ficar privado da vista, do que lhe servirem os seus olhos para conceber maus pensamentos. O Espírito Jean-Marie Baptiste Vianney, pároco de Ars, assim consola os que passam pela provação da cegueira: Bem-aventurados os que têm fechados os olhos. “Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão! Confiem no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza”.

A resignação é uma grande virtude, a qual não deve ser confundida com comodismo ou inação. O exemplo e a lição que os irmãos da Urece nos trazem é o da resignação aliada ao esforço para aliviar as aflições e tornar o mundo melhor.

11 de agorsto de 2014