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A palavra crise vem geralmente ligada a uma idéia negativa, destrutiva. Não é essa a única acepção encontrada no Dicionário da Academia Francesa em sua 6ª edição, de 1835, vigente à época da codificação espírita, onde se pode ler: Momento arriscado ou decisivo de uma atividade.

A palavra “crise” vem geralmente ligada a uma idéia negativa, destrutiva. Não é essa a única acepção encontrada no Dicionário da Academia Francesa em sua 6ª edição, de 1835, vigente à época da codificação espírita, onde se pode ler: “Momento arriscado ou decisivo de uma atividade”.

Em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XIX, item 223-1, essa palavra está ligada à atividade mediúnica exatamente na significação acima, como uma ocasião decisiva do intercâmbio. Allan Kardec assim questionou os Espíritos: “No momento em que exerce a sua faculdade, está o médium em estado perfeitamente normal?” e recebeu como resposta: “Está, às vezes, num estado, mais ou menos acentuado, de crise. É o que o fadiga e é por isso que necessita de repouso. Porém, habitualmente, seu estado não difere de modo sensível do estado normal (…)”.

Mas o que é essa crise? Por que ela é decisiva? Por que está situada no capítulo que fala da influência do médium? Talvez se alterássemos o vocábulo para um mais atual o entendimento se tornasse mais simples: transe. O transe, ou a crise, de um médium é um estado anímico (do próprio médium, portanto) necessário a que ele se disponha a receber uma comunicação dos Espíritos.

Vivemos, mesmo encarnados, como seres espirituais, ou seja, compartilhamos as percepções espirituais (diminuída pelo “peso” do corpo físico) e as observações sensoriais, como num holograma. A mediunidade propriamente dita, ou ostensiva, é a capacidade de mergulhar um pouco mais no mundo espiritual e expressar as percepções daí advindas de forma materialmente inteligível, seja escrevendo, falando, descrevendo, ouvindo, etc.

Esse “mergulho” no mundo espiritual é exatamente o momento do transe. Quanto mais profundo for o mergulho – transe profundo –, maior o nível de detalhes de captações e menor o controle motor do médium sobre seu próprio corpo, respondendo, portanto, pela mediunidade dita inconsciente ou mecânica. Esses médiuns, raros, são muito bons para orientações espirituais, notícias de entes queridos e recepção de mensagens que necessitem detalhes maiores. Se o estado de transe é mais superficial, o medianeiro, mais capacitado para mensagens gerais e atendimento a Espíritos que necessitem maior presença consciente dele, já que o desligamento deste é menor.

Para um correto aproveitamento do médium é imprescindível que os dirigentes espíritas conheçam, saibam reconhecer, respeitar e aproveitar corretamente o potencial de transe dos médiuns, sem buscar induzi-los nem no sentido do transe profundo nem do superficial. Cada um terá importante papel no trabalho da Casa Espírita, mas, para isso, precisa conhecer-se e ser conhecido enquanto intermediário, já que não existe tipo de “crise” melhor ou pior do que outra, apenas transe mal aproveitado…

…para que a única crise por que o médium passe seja o transe!