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Num ótimo programa de TV, realizado há anos, uma jornalista integrante da mesa dos debatedores, indagou a uma espírita que participava do programa: “Qual a vantagem que você leva sobre mim, que não acredito em reencarnação?".Com sinceridade posso afirmar que a pergunta fez-me rir. A eterna mania do brasileiro de querer levar vanta­gem em tudo se aplicava, agora, à reencarnação.

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Num ótimo programa de TV, realizado há anos, uma jornalista integrante da mesa dos debatedores, indagou a uma espírita que participava do programa: “Qual a vantagem que você leva sobre mim, que não acredito em reencarnação?”.

Com sinceridade posso afirmar que a pergunta fez-me rir. A eterna mania do brasileiro de querer levar vanta­gem em tudo se aplicava, agora, à reencarnação. Podia deduzir-se, então, de que dependia apenas da capacidade de persuasão da entrevistada a chance de que a jornalista passasse a apoiar a tese reencarnacionista.

Para quem, como eu, que nasceu em um lar espírita, aprendendo desde a mais tenra idade a ver a vida sob a ótica de reencarnação, que direciona o entendimento da criatura para a lei de causa e efeito, fica difícil crer que se possa suportar e entender a existência sem a lógica das vidas sucessivas.

Naquele momento parei para meditar no assunto, procurando situar-me, pela primeira vez, como se adepta fosse da unicidade da existência.

E, claramente, pude perceber o incômodo desse posicionamento. Vi-me, repentinamente, sufocada entre o berço e o túmulo. Estava sem possibilidade de expansão, sem tempo para progredir, aprisionada aos grilhões da hereditariedade e constrangida a valer-me do imperativo do cada um por si…

Num estalar de dedos, a vida assumiu funções amargas, as criaturas em torno de mim escapavam da fraternidade em Deus para representar, de per si, o verdadeiro papel do concorrente a ser expulso da competição.

Fagulhas de ansiedade entrecortaram-me as predisposições, induzindo-me a arrefecer o entusiasmo pelo progresso espiritual, optando pela vitória imediata, ainda que aparente.

Curioso… numa questão de minutos viajei por uma estrada (possivelmente conhecida, pelo meu espírito) que me conduzia a um castelo de ilusões, edificado sobre a areia.

Mas assim mesmo eu prosseguia. Não era isso o que me restava? Afinal de contas a vida era uma só e a morte poderia me surpreender a qualquer momento! Necessário se fazia que eu aproveitasse, a qualquer custo, o tempo que me era dado. Indispensável, porém, não meditar sobre a justeza dos acontecimentos, caso contrário não entenderia Deus… E Jesus? Uma incógnita.

Assim fui me deixando levar numa sucessão de conjectu­ras, que se somavam, cada vez mais rapidamente, provocando-me um sentimento crescente de angústia que explodiu num CHEGA! E, como num passe de mágica, voltei a paz do meu verdadeiro entendimento. E descansei meu espírito ao som confortador do “Meu jugo é leve… Meu fardo é suave”.

Que maravilha é sentir-me eterno! A morte não existe! Numa visão confortadora, as barreiras dos túmulos se esfacelam ante o amor e a justiça de Deus que permitem a todos recomeçar, renascer, reencarnar.

Os semelhantes são meus irmãos novamente e é muito mais fácil exercitar a tolerância e o perdão porque estarei investindo no meu próprio futuro.

Para que mobilizar o orgulho e o egoísmo se responderei por todo sofrimento que provocar no meu semelhante? Muito mais inteligente é tentar combater meus defeitos, preferindo irradiar o bem e a fraternidade porque serei a primeira beneficiada.

Ah! Bendita reencarnação que a todos promove a oportunidade de entender o que Jesus queria que entendessem: Ame seu próximo, ame seus inimigos, perdoe setenta vezes sete vezes; seja perfeito como é nosso Pai… e tantos e tantos ensinamentos para a ciência do bem viver! Quanta sabedoria se torna incoerente e ininteligível, quando não se leva em conta a pluralidade de existências.

Essa pequena mas indelével experiência de sentimentos e sensações tão antagônicas que vivi, como que num clarão de entendimento, mostrou-me porque o mundo não é feliz e a criatura humana tão atormentada. E pude concluir, esperançosa, que a humanidade terá paz quando a reencarnação for para todos, como o é para os espíritas: uma questão líquida e certa.

A cada um de nós resta a exemplificação do Evangelho de Jesus, na dor e na felicidade, a fim de que a tese reencarnacionista volte a ocupar o espaço, que sempre lhe pertenceu. E, relembrando a prezada jornalista, representante de uma fatia da sociedade, prejudicada pelo desvirtuamento dos ensinamentos de Jesus, sou tentada a dizer: - Minha amiga, como é vantajoso ser reencarnacionista!

21 de Setembro de 2015

  • Publicado originalmente no Jornal Tribuna de Minas - Juiz de Fora, na década de 1990