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Estudos científicos também mostram que os otimistas vivem mais e têm mais chances de serem saudáveis. No entanto, o viés otimista também acaba fazendo com que indivíduos subestimem riscos. É preciso encontrar a dose certa. Claudia Sampaio comenta.

  • Data :19 Jan, 2017
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19 de janeiro de 2017

Por que o excesso de otimismo pode travar sua carreira

Renuka RayasamDa BBC Capital Quando o empresário dinamarquês Michael Stausholm deixou seu emprego em uma das maiores transportadoras mundiais para abrir sua primeira empresa, há 15 anos, seu sócio projetou um futuro positivo para os dois, com muito sucesso. Stausholm acreditou no parceiro e se sentiu animado. “O pensamento positivo é algo que faz parte do DNA de qualquer empreendedor. Sem ele, você nunca deveria começar um negócio”, afirma. Mas quando a firma começou a ter problemas, o dinamarquês aprendeu uma dura lição. “Só pensar positivo e manter uma atitude otimista não adianta. É preciso misturar tudo com uma boa dose de realismo.” O poder do pensamento positivo tem sido um princípio de líderes do mundo dos negócios ao menos desde 1936. Foi quando Napoleon Hill, assessor de dois presidentes americanos, publicou Quem Pensa Enriquece, com a “receita” do sucesso de alguns dos mais bem-sucedidos empresários de sua geração. Duas décadas depois, Norman Vincent Peale escreveu O Poder do Pensamento Positivo, que vendeu mais de 21 milhões de cópias no mundo. Mais recentemente, O Segredo, de Rhonda Byrne, foi adotado como uma espécie de Bíblia por homens de negócios, com sua promessa de sucesso baseada no otimismo. Segundo essas obras, dúvidas e pensamentos negativos são obstáculos para o sucesso. Mas, na realidade, uma nova leva de pesquisas está descobrindo que o pensamento positivo também tem suas limitações - e armam suas próprias ciladas. Ou seja, o otimismo pode emperrar o sucesso.

O poder irresistível da fantasia Segundo Gabriele Oettingen, professora de Psicologia na Universidade de Nova York e autora de Rethink Positive Thinking: Inside the New Science of Motivation (Repensando o pensamento positivo: por dentro da nova ciência da motivação", em tradução livre), ao começar a estudar o assunto, ela descobriu que os níveis de energia caem quando as pessoas mentalizam fantasias positivas sobre o futuro, como ter um bom emprego ou ganhar bem. “O problema é que quando as pessoas fantasiam sobre seus objetivos elas frequentemente não fazem o esforço necessário para atingi-los”, diz a psicóloga. O estudo de Oettingen revelou que jovens que pensavam positivamente sobre ter um bom emprego, dois anos após deixar a universidade, acabavam ganhando menos e tendo menores chances de contratação do que colegas com mais dúvidas e preocupações. Os mais otimistas também se candidatavam a menos vagas do que os pesssimistas. “Eles criam uma fantasia e já se sentem realizados e relaxados, perdendo a motivação necessária para que as coisas de fato aconteçam”, afirma. Nimita Shah, diretora do grupo The Career Psychologist, com sede em Londres, conta que muitos clientes reclamam da frustração por não conseguirem manifestar seus desejos, e falam da culpa que sentem por serem pessimistas, como se isso fosse parte do problema. “O efeito é o mesmo de fazer uma ‘dieta milagrosa’. Criar uma imagem positiva do futuro pode servir como estímulo imediato, mas a longo prazo só serve para fazer o indivíduo se sentir pior”, afirma Shah.

Otimismo, atitude natural Será, então, que devemos passar a acreditar sempre no pior? Isso pode ser difícil. Segundo Tali Sharot, autora de O Viés Otimista e diretora de um grupo de estudos sobre o efeito das emoções sobre o cérebro, o otimismo está embutido na psique humana. Em seus primeiros experimentos, Sharot pediu a voluntários que imaginassem situações futuras negativas, como perder o emprego ou terminar um relacionamento. Ela observou que as pessoas automaticamente tentavam transformar a experiência em algo positivo - como, por exemplo, separar-se do parceiro e arrumar outro melhor. “Nós temos uma tendência inerente a nos inclinarmos ao otimismo. Estamos sempre imaginando o futuro como algo melhor do que o passado”, diz. Esse viés otimista, que, segundo Sharot, ocorre em cerca de 80% da população, independentemente de sua origem cultural ou nacionalidade, ajuda as pessoas a manter a motivação. Estudos científicos também mostram que os otimistas vivem mais e têm mais chances de serem saudáveis. “O pensamento positivo pode ser tornar uma espécie de profecia auto-realizável. Quem acredita que irá viver melhor pode acabar tendo uma alimentação mais adequada e uma rotina de exercícios apropriada”, afirma Sharot. “O otimismo também ajuda as pessoas a superar circunstâncias difíceis.” No entanto, o viés otimista também acaba fazendo com que indivíduos subestimem riscos.

Equilíbrio certo E para suprimirmos essa inclinação natural a ser positivo, é preciso encontrar a dose certa de negativismo, de forma a compensar fantasias que dificultam uma visão realista. Com base em 20 anos de pesquisas, Oettingen desenvolveu uma ferramenta que batizou de Woop (sigla em inglês para desejo, resultado, obstáculo e planejamento). Lançado em um site e em um aplicativo de smartphone, o Woop oferece ao usuário uma série de exercícios desenvolvidos para ajudar a elaborar estratégias concretas para atingir objetivos de curto e longo prazos, misturando pensamento positivo com atenção para a existência de um lado negativo ou de obstáculos. “Trata-se de uma maneira de fazer com que a pessoa entenda que, no mínimo, ela pode colocar de lado aquela meta sem ter um peso na consciência e sabendo que olhou para o problema a partir de todos os ângulos possíveis”, explica a psicóloga. Voltando ao empresário dinamarquês, a lição aprendida com o excesso de otimismo acabou compensando. Há alguns anos, Stausholm fundou a fabricante de lápis sustentáveis Sprout, tomando o cuidado de colocar seus planos no papel e fazer planos para o caso de tudo acabar mal. Hoje, sua empresa vende mais de 450 mil lápis por mês em 60 países, resultados que surpreenderam o próprio Stausholm, hoje um pessimista convicto. Notícia publicada na BBC Brasil , em 25 de dezembro de 2016.

Claudia Sampaio* comenta Esta reportagem é interessante para nos fazer perceber que em nenhum momento se pode deduzir que o otimista seja um ser passivo, inerte, que nada move para melhorar a situação. O otimista é aquele que percebe que as coisas não estão bem, mas sabe que poderão melhorar, e faz a sua parte. Renuka Rayasam, escritora do texto em questão, foi muito feliz em descrever as inúmeras pesquisas sobre a importância de ser otimista sem perder a visão realista em qualquer situação do nosso cotidiano. Nós que moramos neste planeta Terra sabemos o quanto é complexo viver aqui. O sofrimento impera e isto pode fazer, no plano coletivo, exacerbar o pessimismo. É necessário que os moradores deste planeta tenham esperança na vida. Por isso é que o dicionário Michaelis define o vocábulo Otimismo em duas vertentes: “1. Disposição, natural ou adquirida, para ver as coisas pelo bom lado e esperar sempre uma solução favorável das situações, ainda que as mais difíceis.” e “2. Sistema dos que têm fé no progresso moral e material atuais, na evolução social para o bem e para o ótimo.” Assim, ser otimista é manter o foco, a meta, naquilo que se quer alcançar. É aprender com os erros e confiar que o melhor sempre irá acontecer. É julgar tudo o melhor possível; tendência para achar tudo bem. Mas é também confiar no Bem e no crescimento do ser humano como um ser integral. Acreditar nas promessas de Jesus, feitas no “Sermão da Montanha”, faz qualquer ser humano otimista. E é nos ensinamentos do Cristo que a Doutrina Espírita organiza a visão otimista do destino humano, no entanto é realista e não esconde as muitas dificuldades que ele enfrentará por exercer o seu livre-arbítrio. Para o nosso contentamento, em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, na página 19, nos abranda o coração e nos enche de esperanças ao esclarecer que: “Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem no caminho.” Confiando nisto, podemos passar pelas dificuldades com esperança e a certeza de um amanhã melhor. E isto faz toda a diferença em nosso dia a dia e para aqueles que se relacionam conosco. Afinal, é melhor ficar ao lado de alguém que eleva o seu astral ou que reclama de tudo o que acontece? Portanto, visto que tanto o otimismo quanto o pessimismo são aprendidos ao longo da nossa existência, nunca é tarde para optar pelo otimismo e evoluirmos com maior rapidez. Nunca é tarde para escolher o lado bom da vida, mesmo que as circunstâncias não sejam favoráveis.

Fontes de pesquisa:

http://www.espiritismo.net/noticias/17645 ;
http://michaelis.uol.com.br/busca?id=QwNGx ;
https://livrodosespiritos.wordpress.com/ ;
http://www.emmanuel.org.br/sermaoMontanha.html .

  • Claudia Sampaio é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.