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Um levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São Paulo aponta que, juntos, os atendimentos espirituais chegam a cerca de 15 mil por semana (60 mil ao mês). A média relatada de atendimentos semanais em cada instituição foi de 261 pessoas. Raphael Vivacqua Carneiro comenta.

  • Data :11/01/2017
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11 de janeiro de 2017

Número de consultas em centros espíritas ultrapassa o de grandes hospitais

Valéria DiasDa Agência USP de Notícias Um levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São Paulo aponta que, juntos, os atendimentos espirituais chegam a cerca de 15 mil por semana (60 mil ao mês). “Este número é muito superior ao atendimento mensal de hospitais como a Santa Casa, que atende cerca de 30 mil pessoas, ou do Hospital das Clínicas, com cerca de 20 mil atendimentos”, destaca o médico psiquiatra Homero Pinto Vallada Filho, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A média relatada de atendimentos semanais em cada instituição foi de 261 pessoas. “Sabemos, por meio de vários estudos, que a abordagem do tema religiosidade ou espiritualidade exerce um efeito bastante positivo na saúde de muitos pacientes. Por isso, podemos considerar a terapia complementar religiosa ou espiritual como uma aliada dos serviços de saúde”, revela, lembrando que, geralmente, o paciente não tem o hábito de falar sobre suas crenças religiosas e muito menos de contar que realiza tratamentos espirituais em centros espíritas. Vallada Filho foi o orientador da dissertação de mestrado Descrição da terapia complementar religiosa em centros espíritas da cidade de São Paulo com ênfase na abordagem sobre problemas de saúde mental, de autoria da médica Alessandra Lamas Granero Lucchetti, apresentada ao Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP em dezembro. A ideia foi mostrar a dimensão do trabalho realizado pelos centros, o grande número de atendimentos prestados e os diferentes serviços oferecidos. Observou-se também que apenas uma pequena minoria realiza cirurgias espirituais, sendo todas sem cortes. Na segunda parte da dissertação, a pesquisadora descreve passo a passo uma terapia complementar espiritual para pacientes com depressão realizada na Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp).

Centros espíritas A autora realizou um levantamento inicial de todos os centros espíritas da capital paulista que possuíam site na internet contendo endereço de contato. A médica chegou ao número de 504 instituições. Neste levantamento, foram considerados apenas centros espíritas “kardecistas”, ou seja, aqueles que seguem a doutrina codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Leon Denizad Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec, e que tem como base as obras O Livro dos Espíritos (publicado na França em 1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). A médica enviou, via Correios, uma carta registrada a cada um dos 504 centros. Destas cartas, 139 voltaram devido a problemas como mudança ou erro no endereço. Das 370 que restaram, apenas 55 foram respondidas. “Se considerarmos que essa média de 60 mil atendimentos mensais representa menos de 15% da totalidade dos centros existentes na cidade, chegaremos a um número total de atendimentos muito superior aos dos 55 que participaram do estudo”, destaca Vallada. Um questionário foi respondido apenas pelo dirigente ou pessoa responsável do centro. O material era bastante extenso e continha perguntas ligadas à identificação e funcionamento do centro, o número de voluntários e de atendimentos, as atividades realizadas e os tipos de tratamentos, quais os motivos levavam as pessoas a buscar ajuda, e como é feita a diferenciação entre mediunidade, obsessão e transtorno psicótico e quais orientações para estes casos, entre outras questões.

Resultados Entre os resultados, foi observado que a maioria são centros já estabelecidos e que têm mais de 25 anos de existência, sendo o mais velho funcionando há 94 anos e o mais jovem com dois anos. Em praticamente quase todos, os usuários são orientados a continuar com o tratamento médico convencional, caso estejam fazendo algum, ou mesmo com as medicações indicadas pelos médicos. Os principais motivos para a procura pelo centro foram os problemas de saúde: depressão (45,1%), câncer (43,1%) e doenças em geral (33,3%). Também foram relatados dependência química, abuso de substâncias e problemas de relacionamento. Entre os tratamentos realizados, a prática mais presente foi a desobsessão (92,7%) e a menos frequente foi a cirurgia espiritual, (5,5%), sendo todas sem uso de cortes. Quanto à diferenciação entre experiência espiritual e doença mental, realizada com base em nove critérios propostos pelos pesquisadores Alexander Moreira Almeida e Adair de Menezes Júnior, da Universidade Federal de Juiz de Fora, a média de acertos foi de 12,4 entre 18 acertos possíveis. Apenas quatro entrevistados (8,3%) tiveram 100% de acertos. Entre esses critérios, estão a integridade do psiquismo; o fato de a mediunidade não trazer prejuízos em nenhuma área da vida; a existência da autocrítica; e a mediunidade sendo vivenciada dentro de uma religião e cultura específicos, entre outros. “Esse levantamento procurou descrever as atividades realizadas nos centros espíritas e salientar não só a grande importância social desempenhada por eles, mas também a grande contribuição ao sistema de saúde como coadjuvante na promoção de saúde, algo que a grande maioria das pessoas desconhece”, finaliza. Notícia publicada no Portal UOL , em 6 de março de 2014.

Raphael Vivacqua Carneiro* comenta O tema “espiritualidade” definitivamente fincou raízes no terreno acadêmico e científico da área da saúde. Vários estudos revelam que a religiosidade ou a espiritualidade, independentemente de qual seja o segmento religioso, exerce um efeito muito positivo na saúde dos enfermos. Por isso, nestes meios o tratamento espiritual é considerado uma terapia complementar, aliada aos processos médicos convencionais. O psiquiatra norte-americano Harold G. Koenig, pesquisador da Duke University e autor do livro “Medicina, Religião e Saúde”, esteve no Brasil em 2005, a convite da Associação Médico-Espírita (AME-Brasil), para apresentar as suas pesquisas. Segundo afirma, duas em cada três universidades norte-americanas possuem em sua grade curricular uma disciplina formal de “Espiritualidade e Medicina”, dada a relevância do assunto para a área médica. Conforme fundamentam as pesquisas, a prática religiosa dos pacientes tem relação profunda com os reflexos em sua saúde e recuperação. A lista inclui: melhor cicatrização após as cirurgias cardíacas, maior número de linfócitos que atacam o vírus da aids, maior número de células que combatem as cancerígenas, menor perda de memória, melhor nível de reatividade vascular. No Brasil, isto também se constata. A prática da “Capelania Hospitalar” vem sendo difundida e estimulada nos grandes hospitais. A terapia espiritual de apoio aos pacientes inclui: visitação, cultos, leituras edificantes e outras atividades conduzidas por vários grupos religiosos. O movimento espírita no Brasil, desde as suas origens, sempre manteve o foco no processo de espiritualização do indivíduo, como forma de aprimoramento do ser, com consequência no seu estado de saúde integral. É conceito comum no corolário espírita que a origem das doenças está nos desequilíbrios da alma. A maioria das instituições espíritas oferece regularmente aos seus frequentadores uma terapia espiritual que inclui: atendimento fraterno por meio de diálogo e palestras edificantes de cunho evangélico, fluidoterapia por meio de passes e água magnetizada, desobsessão espiritual de encarnados e desencarnados. Algumas casas oferecem também “cirurgias espirituais”, embora a prática não seja muito presente. Pesquisa da psiquiatra Alessandra Lucchetti, apresentada em 2013 na Universidade de São Paulo (USP), mostrou a dimensão do trabalho de terapia complementar espiritual realizado pelas instituições espíritas. Numa amostra de 55 centros espíritas da capital paulista, a pesquisa constatou que cerca de 60 mil atendimentos são realizados por mês. Isto é mais do que a quantidade realizada em grandes hospitais, como a Santa Casa e o Hospital das Clínicas. Levando-se em conta que o número total de instituições espíritas da capital paulista é superior a 500, pode-se ter uma ideia da importância social e da grande contribuição à saúde que estes serviços de terapia espiritual representam. “Cada árvore é conhecida pelo seu fruto”, ensinava Jesus. O trabalho espírita em favor do indivíduo, espiritualizando e contribuindo para a sua saúde geral, é reconhecido pelo grande público que o desfruta. Em algumas casas espíritas, este público atendido inclui um grande número de profitentes de outras religiões, o que atesta o valor terapêutico de cunho geral.

  • Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática. É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.