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Os biólogos moleculares Peter Noble e Alex Pozhitkov, cientistas da Universidade de Washington, em Seattle, descobriram que, após a morte, centenas de genes começam a funcionar. E que essa atividade toda continua por pelo menos 48 horas. Jorge Hessen comenta.

  • Data :01 Aug, 2016
  • Categoria :

2 de agosto de 2016

Assim que morremos, genes são ativados no nosso corpo

Denis Russo Burgierman, da Superinteressante

Cientistas da Universidade de Washington, em Seattle, descobriram que, após a morte, centenas de genes começam a funcionar. E que essa atividade toda continua por pelo menos 48 horas.

A pesquisa, conduzida pelos biólogos moleculares Peter Noble e Alex Pozhitkov, e relatada pela revista britânica New Scientist, acompanhou a atividade no núcleo das células de peixes-zebra e camundongos depois que os bichinhos bateram suas metafóricas botas.

Eles mediram a concentração de mRNA, ou RNA mensageiro - o mensageiro do gene para avisar a célula para ligar as máquinas da fábrica de proteínas. Como previam, o mRNA diminuiu progressivamente na imensa maioria dos genes, mas, em algumas centenas deles, houve picos post mortem. Uuuuuuu.

Os cientistas então investigaram que genes eram esses. Descobriram que alguns têm relação com o desenvolvimento do feto, e se desligam em todos nós logo depois do parto.

Em outras palavras: algum processo de antes de nascermos, e que ficou desligado durante toda nossa vida, volta a funcionar assim que morremos.

Outro achado dos pesquisadores foi que, entre os genes que são ativados depois de morrermos, alguns têm relação com câncer. Os cientistas acreditam que essa descoberta pode ser útil para a pesquisa médica sobre transplantes - ajudando a evitar que receptores tenham câncer no órgão transplantado.

Já se sabia que genes ficam vivos após o corpo morrer - e não só os de peixinhos e ratinhos. Uma pesquisa anterior havia revelado que alguns genes humanos estão ativos pelo menos 12 horas após a morte.

Os cientistas acreditam que muitos desses genes estejam envolvidos numa espécie de operação de ressuscitação: eles iniciam processos de cura, como a inflamação e cicatrização, que podem deixar o corpo pronto para abraçar uma oportunidade de reiniciar o motor.

De qualquer maneira, a descoberta deixa ainda mais vaga a definição de “morte”. Cada vez fica mais claro que morrer é um longo processo, que começa bem antes da data na nossa certidão de óbito e termina muito depois dela.

Por mais mórbido que seja pensar nisso, não deixa de ser fascinante pensar que nosso corpo veio dotado de uma equipe que, quando chega a hora de fechar, recolhe os copos e coloca as cadeiras em cima das mesas.

(O crédito desta última frase é da Morte, personagem de HQ de Neil Gaiman.)

Matéria publicada na Revista Exame , em 22 de junho de 2016.

Jorge Hessen comenta*

O fenômeno da morte e/ou desencarnação constitui uma fatalidade do qual nenhum ser humano consegue escapar. A morte sobrevindo a cada instante nas células, que igualmente se revigoram, chega o momento em que a desoxigenação encefálica se incumbe de interromper as funções do tronco cerebral, obstruindo a ocorrência biológica da vida carnal.

No processo da morte, pesquisadores afirmam que genes permanecem vivos nos defuntos. Asseguram que alguns genes humanos estão ativos pelo menos 12 horas após a morte biológica. A descoberta deixa para a academia a definição de “morte física” mais emblemática. Cada vez fica mais claro que desencarnar e/ou “morrer” é um longo processo, que começa bem antes da data da certidão de óbito e termina muito depois dela.

A certeza da vida além-túmulo não elimina as inquietações humanas quanto à morte e/ou desencarnação. Há muitos que temem não precisamente a vida futura, mas o momento da extinção do corpo. Será ele traumático? Em verdade a morte e/ou desencarnação não são iguais para todos, visto que ilimitados são os comportamentos adotados pelos encarnados.

Apesar de utilizarmos como sinônimos os termos morte e desencarnação, a rigor, estes são fenômenos distintos. De fato, é rara a coincidência temporal das durações de ambos os processos. Para alguns, é muito mais frequente o processo de morte propriamente dita ser concluído muito antes da desencarnação.

O desenlace para alguns poucos pode ser rápido, proporcionando uma certa liberdade, até mesmo antes da extinção corporal. E este processo consiste na falência biológica do organismo, ou seja, é a interrupção da vigência das condições mínimas exigidas para que o corpo carnal desenvolva suas manifestações fisiológicas imprescindíveis à manifestação da vida.

Via de regra, a separação da alma é feita de forma gradual, pois o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendem, de forma que as condições de encarnado ou desencarnado, no momento do desenlace, se confundem e se tocam, sem que haja uma linha divisória entre as duas. Porém, observando-se a tranquilidade de alguns moribundos e as comoções assombrosas de outros, pode-se de antemão ajuizar que as impressões experimentadas durante a morte e/ou desencarnação nem sempre são iguais.

Para as pessoas espiritualizadas, a desencarnação se completa antes da morte, ou seja, tendo o corpo ainda vida orgânica, o Espírito já penetra na vida espiritual, ficando apenas ligado à matéria por elo tão tênue que se rompe com o derradeiro pulsar do coração. Porém, nos algemados aos apelos carnais, os laços materiais são vigorosos e, quando a morte se aproxima, o desprendimento demanda contínuos esforços. As convulsões da agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos resistentes e outras vezes se agarra ao cadáver, do qual uma força irresistível o arrebata com violência , molécula por molécula.

No livro “Voltei”, Irmão Jacob (Espírito) descreve como testemunha sobre tais situações, explicando que quando foi “cortado” o chamado “cordão prateado” entre o corpo e seu perispírito durante o seu velório, o impacto que ele sentiu foi tão intenso que achou que “estava morrendo por segunda vez”. E logo após esse processo de rompimento do “cordão prateado”, a deterioração do cadáver se acentuou significativamente, conta “Jacob”.

Os religiosos simplórios, que acreditam comprar o ingresso no Céu à custa de dinheiro (dízimos), serão surpreendidos por uma realidade bem diferente da esperada. Os suicidas, considerando as atenuantes e agravantes do ato, se deparam com a frustração de não lograrem matar a vida e sofrem horrivelmente os efeitos inevitáveis da suprema rebeldia às leis do Criador. Nas mortes violentas, tais como nos acidentes, o desprendimento inicia após a morte biológica e sua consumação não ocorre instantaneamente. O Espírito fica preso ao corpo aturdido, não compreende seu estado, permanecendo na ilusão de que vive materialmente por período mais ou menos longo, conforme seu nível de consciência espiritual.

Em nossa cultura, temos a tendência de ignorar o fato de nossa mortalidade, e é somente quando um amigo próximo ou parente querido está morrendo que nós, sem perceber, reconhecemos nosso próprio e inevitável progresso em direção à morte. Há milhares de anos, esse assunto tem sido uma questão central para o debate filosófico mais do que para a exploração científica e objetiva, mas, como vimos acima, a ciência começou a ampliar a compreensão sobre o que acontece quando morremos, tanto no aspecto genético do cadáver quão do aspecto psicológico da alma enquanto mente humana.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.