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Nick Yarris tinha 20 anos quando foi condenado à morte nos Estados Unidos por um crime que não cometeu. Ele passou 23 anos em confinamento solitário e afirma que foi torturado. Há 11 anos ele foi libertado graças a avanços na técnica de identificação por DNA. Sergio Rodrigues comenta.

  • Data :09 Jun, 2016
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9 de junho de 2016

‘Educação é tesouro que levei da cadeia’, diz homem inocentado após 23 anos de prisão

Nick Yarris tinha 20 anos quando foi condenado à morte nos Estados Unidos por um crime que não cometeu. Ele passou 23 anos em confinamento solitário e afirma que foi torturado. Sua vida tornou-se um sofrimento tão grande que chegou a pedir que fosse executado, mesmo sabendo que era inocente. Há 11 anos ele foi libertado graças a avanços na técnica de identificação por DNA – e, agora, diz sentir-se agradecido pela experiência que teve na prisão. Longe de ter ressentimentos, Yarris viaja pelo mundo falando sobre como a passagem pelo sistema carcerário o ajudou a ser uma pessoa melhor. O americano, cujo caso é relatado no documentário Fear of 13 (“Medo do 13”, em tradução livre), falou com o programa Newshour, da BBC. Ele contou como passou os primeiros anos de sua pena preso numa cela solitária, sem poder falar. “Eu não sabia o que era raiva até então. Batia minha cabeça na parede de raiva e frustração”, disse à BBC. Foi só por causa da amabilidade e da compaixão de um carcereiro que me deu alguns livros e me ajudou a ler que mudei tudo e parei de ser amargo ao longo dos anos."

Terapia de palavras Yarris afirma que a educação a que teve acesso na prisão mudou sua vida. Ele era um homem de muito poucos recursos quando entrou na prisão em 1981, acusado de violentar e matar uma jovem no Estado de Pensilvânia. Ele foi preso pela polícia ao dirigir um carro roubado sob o efeito de anfetaminas. Em uma tentativa de escapar da prisão, disse aos policiais que sabia quem tinha matado a jovem, de cuja morte ele ficou sabendo pelos jornais. Mas a estratégia deu errado quando as autoridades descartaram o suposto homem apontado por Harris como suspeito e o acusaram. “(Quando recebi a sentença) era o aniversário de 50 anos da minha mãe, e o juiz não conseguia me olhar nos olhos, porque ia me condenar.” “Isso me deixou com muita raiva. Eu queria que ele me respeitasse. E cometi o erro de mandá-lo ir para o inferno quando ele proferiu a sentença. Os guardas foram brutais comigo”, relembra. Segundo Yarris, sua falta de conhecimento na época limitou suas possibilidades de provar a própria inocência. “Eu tinha um jeito de falar horrível e zombavam de mim. Foi muito difícil me defender sem poder falar bem”, relembra. Por isso, ele acabou usando o tempo na prisão para melhorar sua educação, seu vocabulário e seu domínio da língua – enquanto pensava em uma maneira de sair de lá. O nome do documentário, “Medo do 13”, faz referência à palavra triscaidecafobia – medo irracional do número 13 –, uma das palavras que Yarris aprendeu em seu projeto de educar a si mesmo.

10 mil livros “A estrutura que construí através dos 10 mil livros ou mais que li nos 23 anos que passei em confinamento solitário se tornaram a base de uma fundação que é indestrutível para mim”, diz o ex-condenado, hoje com 53 anos. Da prisão ele também levou outro aprendizado, que diz considerar ainda mais valioso. “O tesouro que eu levei de lá não foi ouro, mas sim o belíssimo conhecimento que adquiri sobre mim mesmo e uma educação maravilhosa.” “Nesses meus 11 anos de liberdade, consegui mais do que jamais sonhei”, afirma, emocionado. Desde que deixou a prisão, ele dá palestras contando sua história, para “deixar uma mensagem para os mais jovens sobre como a educação pode empoderar alguém”. E também pede que as pessoas escrevam cartas para prisioneiros no corredor da morte. Ele escreveu dois livros de memórias e vive na Inglaterra com sua esposa, que conheceu enquanto estava na prisão. Mas Yarris também reconhece que a experiência negativa que viveu o marcou para sempre. “Ainda vivo com 11 ossos quebrados que não se curaram totalmente, dois discos quebrados no pescoço, meu rosto foi destroçado e me falta parte do olho esquerdo. Vivo em agonia física todos os dias da minha vida.” “Não há leis que possam compensar o que fizeram comigo, mas não serei uma vítima disso, porque isso desconsidera as minhas ações.” Notícia publicada na BBC Brasil , em 17 de janeiro de 2016.

Sergio Rodrigues* comenta Este é um exemplo de como se pode extrair algo positivo de uma situação de dificuldade, que traz sofrimento. Revoltado e inconformado de início, por se sentir injustiçado com a condenação por um crime que não cometeu, Nick Yarris transformou essa revolta e esse inconformismo em algo que lhe fez crescer como espírito, saindo dessa situação, como ele próprio reconhece, melhor do que nela entrou. O Espiritismo ensina que as causas da dor e do sofrimento que vivenciamos numa existência podem ser de duas naturezas: efeitos de nossas escolhas equivocadas feitas naquela mesma existência ou em outras, passadas. São as chamadas “expiações”; ou, uma outra hipótese, serem situações que não refletem equívocos nessas escolhas, mas que propiciarão ao espírito oportunidade de se realizar um progresso. São as chamadas “provas”. É claro que não temos como saber qual das hipóteses está motivando o sofrimento que alguém está vivenciando. Mas, no caso em questão, qualquer que tenha sido, é certo que esse espírito saiu vitorioso da prova ou da expiação. Se foi expiação, resgatou os erros passados, soube passar pelo sofrimento e extraiu dele algo útil: aproveitou o tempo em que esteve afastado da vida em sociedade para educar-se, adquirindo conhecimento, tesouro que levará para sempre; se foi uma prova, esta o levou a um progresso, pois aperfeiçoou-se como espírito, passando pela prova e extraindo tudo que ela podia lhe proporcionar para a sua melhora. É um exemplo em que devemos nos mirar quando visitados por circunstâncias como a vivida por este americano.

  • Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.