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Nicola Thorp, de 27 anos, foi contratada em regime temporário na empresa PwC, e seus empregadores disseram que ela teria de usar sapatos com salto de ‘5 a 10 centímetros’ de altura. Ela se recusou e foi suspensa do trabalho, levantando debates sobre sexismo. Jorge Hessen comenta.

  • Data :01/06/2016
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1º de junho de 2016

Britânica é suspensa do trabalho por se recusar a usar salto alto e gera debate sobre sexismo

Uma recepcionista de Londres foi suspensa do trabalho depois de se recusar a usar saltos altos, levantando debates sobre sexismo. Nicola Thorp, de 27 anos, foi contratada em regime temporário na empresa PwC, e seus empregadores disseram que ela teria de usar sapatos com salto de “5 a 10 centímetros” de altura. Quando ela se recusou a usar salto e reclamou que os funcionários masculinos não tinham obrigações equivalentes, foi mandada de volta para casa sem pagamento. “Disse a eles que consideraria (a exigência) justa se me explicassem por que usar sapatos sem salto prejudicaria a realização do meu trabalho, mas eles não me explicaram”, disse Thorp à BBC. “Eles queriam que eu fizesse um turno de nove horas de pé levando clientes para salas de reuniões. Respondi que simplesmente não conseguiria fazer isso de salto alto.” Quando a britânica perguntou se a empresa esperava que algum homem fizesse o mesmo trabalho de saltos, disse que ouviu risadas. Thorp afirmou também que entende o “direito (da empresa) de ter um código de vestimenta formal”, mas opinou que eles “devem refletir a sociedade, e hoje as mulheres podem ser elegantes e formais e usar sapatos sem salto. Além do fator debilitante, é uma questão de sexismo. Acho que as empresas não deveriam obrigar suas funcionárias a isso”. A Portico, empresa terceirizada que contratou Thorp, disse que ela assinou contrato aceitando as normas, mas de qualquer forma prometeu revisá-las. Já a PwC afirmou que não tem como política recomendar trajes a funcionários.

Escolha X Exigência O incidente ocorreu em dezembro de 2015. Nicola Thorp comentou o que aconteceu com os amigos e, depois de fazer um post no Facebook, percebeu que outras mulheres já tinham passado pela mesma situação. “Eu estava um pouco assustada quanto a falar a respeito, (temendo) alguma reação negativa. Mas percebi que precisava dar uma voz ao que me aconteceu”, afirmou. Nesta semana, Thorp iniciou um abaixo-assinado pedindo mudanças na lei britânica, que dá aos empregadores o direito de demitir funcionários que não acatem códigos de vestuário “razoáveis”. Até agora, ela conseguiu cerca de 20 mil assinaturas. Se o abaixo-assinado receber cem mil assinaturas, há uma chance de os parlamentares discutirem a questão. Um código de vestimenta que exige saltos altos “cheira a sexismo”, na opinião de Frances O’Grady, secretária-geral da União de Sindicatos da Grã-Bretanha, TUC. “Saltos altos devem ser uma escolha, não uma exigência”, acrescentou.

Processo? O incidente com Nicola Thorp levantou questões: uma funcionária obrigada a usar salto alto no trabalho poderia processar a empresa? “Se eles criaram a norma por achar que os saltos fazem a mulher parecer mais sensual, então há um caso (judicial), porque ser sensual não é uma exigência da função”, afirmou Lawrence Davis, diretor do escritório de advocacia britânico Equal Justice Limited. E há ainda um debate em torno do bem-estar dos funcionários. “Para a saúde dos pés, saltos altos são um desastre”, disse Tony Redmond, especialista em biomecânica da Universidade de Leeds. “As articulações do pé podem ficar danificadas pelo uso de saltos altos e isso pode causar algumas formas de artrite.” Redmond também alertou que o uso regular de saltos altos também pode aumentar o desgaste na área da articulação dos joelhos, o que eleva o risco de a pessoa desenvolver osteoartrite. Também aumenta o risco de problemas nas vértebras para pessoas com problemas na região lombar. A organização britânica College of Podiatry, especializada em podologia, também afirma que as empresas não devem obrigar mulheres a usar saltos altos pois eles podem causar joanetes e problemas na coluna, tornozelos e pernas. Há precedentes de polêmicas pelo mundo. No Canadá, as fotos dos pés ensanguentados de uma garçonete - que trabalha em período integral usando saltos altos por exigência do empregador - já foram compartilhadas mais de 10 mil vezes no Facebook. Em 2015, uma empresa aérea israelense, a El Al, estabeleceu que as comissárias de bordo tinham que usar saltos altos até que todos os passageiros estivessem sentados.

‘Sapatos inadequados’ Simon Pratt, diretor-geral da empresa Portico, que contratou Nicola Thorp, afirmou que ela se apresentou no trabalho com “sapatos inadequados”, mesmo tendo aderido “às regras de aparência” pré-estabelecidas em contrato. De acordo com Pratt, tais regras são “práticas comuns no setor de serviços”, mas a companhia pretende revê-las. A PwC, empresa onde Thorp trabalharia como recepcionista, afirmou que a discussão se limita às políticas e práticas da Portico. “A PwC terceiriza os serviços de recepção (…). Soubemos da questão no dia 10 de maio, cerca de cinco meses depois de o problema ter acontecido. A PwC não tem regras de vestuário específicas para funcionários masculinos nem femininos”, disse um porta-voz da empresa. Notícia publicada na BBC Brasil , em 12 de maio de 2016.

Jorge Hessen* comenta Nicola Thorp, uma britânica de 27 anos, foi contratada em regime temporário na empresa PwC, e seus empregadores disseram que ela teria de usar sapatos com salto de “5 a 10 centímetros” de altura. Durante o período de estágio, Nicola se recusou a usar salto e reclamou que os funcionários masculinos não tinham obrigações equivalentes. Além do fator extenuante, é uma questão de sexismo, afirmou. Resultado: foi demitida. Thorp disse que a empresa deveria refletir melhor a sociedade moderna, pois hoje em dia as mulheres podem ser elegantes e formais e usar sapatos sem salto. Na opinião de Frances O’Grady, secretária-geral da União de Sindicatos da Grã-Bretanha, TUC, um código de vestimenta que exige saltos altos “cheira a sexismo”.(1) O Sexismo é um neologismo oriundo do termo inglês sexism, que se refere ao conjunto de ações e ideias que privilegiam determinado gênero ou orientação sexual em detrimento de outro gênero (ou orientação sexual). De maneira geral, o termo é usado como exclusão ou rebaixamento do gênero feminino. Trata de uma posição que pode ser praticada tanto por homens quanto por mulheres, portanto, o sexismo está presente intragêneros tanto quanto intergêneros. Para a Psicologia, o sexismo é um ideário, construído social, cultural e politicamente, em que um gênero ou orientação sexual tenta se sobrepor ao outro. Em relação ao preconceito contra mulheres, diferencia-se do machismo por ser mais consciente e pretensamente racionalizado, ao passo que o machismo é muitas vezes um comportamento de imitação social. O sexismo muitas vezes está ligado à misoginia, que por sua vez, sendo uma palavra que vem da junção de duas palavras gregas, miseó e gyné (ódio e mulher, simultaneamente), se enquadra para designar o desprezo ou ódio pelo gênero feminino e pela feminilidade, ou seja, as características ligadas às mulheres. Está diretamente relacionada à violência contra a mulher, seja de forma física, verbal ou discriminatória, e possui como antônimo a filoginia que é o apreço e admiração pelas mulheres, e pode, em alguns casos, ser considerada como um preconceito benevolente. É verdade! Há pessoas que promovem atitudes sexistas contra seu próprio gênero. A forma como a cultura age no imaginário coletivo permite que seja possível encontrar mulheres que defendam que “lugar de mulher é na cozinha”, ou homens afirmando que “marido que não procura trabalho é vagabundo”, assim como há mulheres e homens que se contrapõem a tais ideários, indistintamente. Apesar das discussões políticas, midiáticas e acadêmicas sobre igualdade de gênero travadas nas últimas décadas, muitas ideias sexistas ainda permeiam a cultura brasileira e explicam parte das diferenças sociais, econômicas, ocupacionais e comportamentais entre os gêneros. Notemos as convenções das seguintes frases: “homem não chora, porém mulher é sentimento”; “homem é livre, porém mulher é dependente”; “homem é provedor, porém mulher é provida”; “homem é cérebro, razão, mas mulher é coração, emoção”; “homem é força, porém mulher é lágrima”; “homem é herói, contudo mulher é mártir”; “homem pensa, todavia mulher sonha”; ou frases mais poéticas como: “homem é oceano, porém mulher é lago”; “homem é águia, e voa, mas mulher é rouxinol, e canta”; “ homem domina o espaço, contudo mulher conquista a alma”, “homem tem consciência, no entanto mulher tem esperança”. Observemos nas frases acima que a poesia de Vitor Hugo está representada. Alcança-se que há aí profunda associação à masculinidade fincada ao poder, saber e força. E que tudo o que se refere à mulher assinala-se pela fraqueza, subordinação e inferioridade. Aparentemente, contrastes sexistas nesses moldes igualam homem e mulher, mas vistos com olhos críticos eles perpetram o desrespeito às diferenças, cravam a desigualdade entre os sexos e imprimem a injustiça nas relações entre homem e mulher. A sociedade institui, regulariza e nutre papéis sociais identificados com os sexos e reveste as crianças nesse ideário como numa camisas-de-força. Estas não são abrigadas pelo que elas são, mas pelo que o adulto quer que elas sejam. Daí a prática sexista, desde a infância. Menino marcha com o pai, joga com o professor e associa-se a grupos de meninos. Menina vive com a mãe, brinca com a professora e convive com meninas. Menino é conquistador, menina é chorona. Menino pega peso, menina lava prato. Menino tem carrinho, menina ganha boneca. Bota é para menino, menina usa sandália. Brinco e cabelo comprido são para ela, eles usam cabelo curto e usam armas para brincar. Aí está: chegamos à raiz da violência, monopólio do homem, que vitimiza a ambos.(2) Se programas de educação não sexista forem implementados na Terra, avançaremos muito para que as diferenças entre homem e mulher não se transformem em desigualdades e em injustiças. Os Benfeitores Espirituais, na época da Codificação, também denunciaram o sexismo, racismo, pena de morte, escravidão e qualquer outra forma de injustiça social e preconceito como sendo contrários às Leis Divinas, e recomendavam liberdade de pensamento, liberdade de consciência, igualdade de tolerância. Observemos que Kardec arguiu os Espíritos se são iguais perante Deus o homem e a mulher e têm os mesmos direitos. Os Mentores afirmaram que Deus outorgou a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir. O Codificador persistiu com os seres do além sobre a origem da desqualificação moral da mulher em alguns países. Os Espíritos elucidaram que era do predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. É resultado do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito.(3) Apostilando ainda sobre o tema, o Codificador questionou sobre a razão da mulher ser mais frágil que o homem, e foi aclarado pelos Benfeitores que justificaram que tal situação é para determinar funções especiais. Para o homem, por ser o mais forte, os trabalhos rudes; para a mulher, os trabalhos leves; para ambos o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor. O professor lionês ainda cogitou se a fraqueza física da mulher a colocaria naturalmente sob a dependência do homem. Os Espíritos exemplificaram que Deus a uns deu a força, para protegerem o fraco e não para o escravizarem. O Criador apropriou a organização de cada ser às funções que lhe cumpre desempenhar. Tendo dado à mulher menor força física, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade em relação com a delicadeza das funções maternais e com a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados.(4) Ora, as funções a que a mulher é destinada pela Natureza têm importância tão grande quanto as deferidas ao homem, e maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida. Kardec garantiu que uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Os Espíritos reforçaram que para ser equitativa, a lei humana deve realmente consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher, porém não das funções. Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. Ocupe-se do exterior o homem e do interior a mulher, cada um de acordo com a sua aptidão. Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos.(5)

Referências bibliográficas: (1) Disponível em htttp://www.bbc.com/portuguese/geral/2016/05/160512_salto_alto_ polemica_fn >, acessado em 15/05/2016; (2) Disponível em https://www.emaze.com/@ALWCTWI/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Feminina >, acessado em 16/05/2016; (3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, pergs. 817 e 818; (4) Idem, pergs. 819 e 820; (5) Idem, pergs. 821 e 822.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.