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Um garotinho nigeriano de dois anos foi abandonado pela família, que afirmava que a criança era bruxa. Depois de passar oito meses morando na rua, o menino foi resgatado por uma ativista dinamarquesa e, aos poucos, recuperou-se de um avançado estado de desnutrição. Jorge Hessen comenta.

  • Data :12/04/2016
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12 de abril de 2016

Acusada de bruxaria, criança nigeriana é abandonada pelos pais

Hope foi resgatado por uma ativista dinamarquesa, que pagou do próprio bolso o tratamento do garoto por Lucas Alencar* Um garotinho nigeriano de dois anos foi abandonado pela família, que afirmava que a criança era bruxa. Sim, você não leu errado. Depois de passar oito meses morando na rua, o menino foi resgatado por uma ativista dinamarquesa e, aos poucos, recuperou-se de um avançado estado de desnutrição. A recuperação de Hope (esperança, em inglês) demorou dois meses e virou símbolo de uma campanha que tem o objetivo de ajudar milhares de crianças que passam por situações semelhantes no país africano. A ativista dinamarquesa Anja Ringgren Lovén foi a responsável por salvar o garotinho de um fim que já parecia quase certo. Depois de ser abandonado pelos pais, que o acusaram de ser a encarnação de um bruxo, Hope passou a viver em uma barraca de cachorro quente da periferia de Abuja, capital da Nigéria. “Olhem para as bochechas gordas de Hope. Ele está saudável e está ganhando peso. É muito forte e vai ser liberado para que viva com as outras crianças do orfanato”, Lovén escreveu em seu Facebook. A ativista é fundadora da ONG dinamarquesa DINNødhjælp, sigla em dinamarquês para Fundação para Ajuda, Educação e Desenvolvimento de Crianças Africanas. Em reportagem do jornal britânico Mirror, Lovén disse que ela mesma bancou a internação de Hope em um hospital de Abuja, além de ter contribuído financeiramente com todo o tratamento. “Ele ainda não fala, mas isso virá naturalmente quando ele estiver fora do hospital, recomeçando a vida com as outras crianças. Elas se tornam fortes juntas”, escreveu a dinamarquesa. *Com supervisão de Cláudia Fusco Matéria publicada na Revista Galileu , em 1º de abril de 2016.

Jorge Hessen** comenta Uma menina de seis anos, que sofria de albinismo, foi encontrada morta e com seus membros cortados no Burundi, na África. Eis aí um caso de assassinato, segundo autoridade policial local, motivado por rituais de feitiçaria. Acredita-se que os órgãos das pessoas com essa desordem genética são usados para fazer poções mágicas, a fim de garantir a juventude, a riqueza e o poder às pessoas que nela creem. Estamos diante da condição, extremamente, primitiva do ser humano que cultua tais crenças. Anja Ringgren Lovén, ativista dinamarquesa, foi a responsável por salvar Hope, um garotinho africano da Nigéria de dois anos que foi abandonado pela família sob o estigma de ser a encarnação de um “bruxo” (médium!). Depois de passar oito meses morando na rua, Hope foi resgatado por Ringgren e, aos poucos, recuperou-se de um avançado estado de desnutrição. A dinamarquesa fez um magnífico serviço de socorro, sem dúvida, mas analisemos a questão pelo ponto de vista do sortilégio tão temido por diversas família africanas. Na Idade Média, eram santos e santas, quando se afinavam à cartilha religiosa da época, ou então, feiticeiros e bruxas, recomendados à fogueira ou à forca, quando se não ajustavam aos preconceitos do tempo em que nasceram. O Papa João XXII, em 1326, autorizou a perseguição às bruxas sob o disfarce de heresia. O Concílio de Basileia (1431-1449) apelava à supressão de todos os males que pareciam arruinar a Igreja. Em 1484 o Papa Inocêncio VIII promulgou a bula Summis desiderantes affectibus, confirmando a existência da bruxaria. No mesmo ano foi lançado o livro Malleus Maleficarum, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e James Sprenger. Com 28 edições, esse volumoso manual se tornou uma espécie de bíblia da caça às bruxas. Contudo, Benedict Capzov, um fanático luterano, foi responsável pela morte de aproximadamente 20.000 “bruxas”, apoiando-se na “lei” do Êxodo (22,18): “Não deixarás viver a feiticeira”. No Brasil, no mês de outubro de 1890, foi promulgado o Código Penal da República, que, maliciosamente, associa a prática do Espiritismo aos rituais de magia e adivinhações. O texto dizia o seguinte, no Artigo 157: “É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancia (…), inculcar curas de moléstias (…) e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100 a 500 $”. Os espíritas reclamaram com Campos Sales, Ministro da Justiça da época, mas nada adiantou. O relator do Código, João Batista Pinheiro, limitou-se a dizer que o texto se referia à prática do “baixo” Espiritismo, como se existissem dois Espiritismos. Na verdade, os republicanos utilizaram os espíritas como bodes expiatórios para diminuir a oposição católica ao novo regime, causada pelo desatrelamento entre a Igreja e o Estado. Como consequência do Código, vários companheiros foram presos em 1891, no Rio de Janeiro. Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores. Para evitar confusões, muitos centros decidiram fechar, temporariamente. Paulo de Tarso escreveu aos coríntios: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, a fé; e a outro, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os Espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.”(1) Atualmente há médiuns tido como “bruxos”! de todos os matizes, em largas expressões, a saber: psicógrafos, clarividentes, clariaudientes, curadores, poliglotas, psicofônicos, materializadores, intuitivos, etc. Paulo de Tarso foi admirável médium de clarividência e clariaudiência, às portas de Damasco, ao ensejo de seu encontro pessoal com Jesus. Todavia, não podemos esquecer que os subjugados – os doentes mentais e os obsedados de todos os graus – que enxameavam a estrada dos tempos apostólicos, eram também médiuns (“bruxos”!).

Referência: (1) I Cor., 12:1 a 11. ** Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.