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Cansado de dispensar funcionárias que trocavam clientes por um bate-papo no WhatsApp, Gilmar Gomes, de Uberlândia, fez um anúncio com a seguinte frase: “Precisa-se de Vendedora com Experiência (OBS: Sem whatsapp)”. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :13/07/2015
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13 de julho de 2015

Empresário faz anúncio procurando por vendedora sem WhatsApp em MG

Decisão ocorreu depois que 12 candidatas trocaram clientes por bate-papo. Advogado trabalhista alerta para interpretação discriminatória. Fernanda ResendeG1 Triângulo Mineiro Cansado de dispensar funcionárias que trocavam clientes por um bate-papo no WhatsApp, o empresário de Uberlândia Gilmar Gomes fez um anúncio com a seguinte frase: “Precisa-se de Vendedora com Experiência (OBS: Sem whatsapp)”. Gomes disse que a ideia surgiu depois que 12 candidatas foram dispensadas em 15 dias pelo uso excessivo e sem controle do aplicativo. Só depois de tantas tentativas ele conseguiu contratar alguém que não faz uso de internet no trabalho. “Elas vinham e entregavam currículo, mas não passavam no teste. Ao invés de atender as clientes, ficavam com o celular em mãos. Só se ouvia o barulho do aplicativo”, afirmou. O empresário diz que trabalha há 15 anos no mercado de vendas e que atualmente tem encontrado dificuldades para arrumar boas funcionárias. “Eu não sabia mais o que fazer e foi então que surgiu a ideia. Antes de colar o papel na porta da loja, recebia quase 20 currículos por dia. Após o cartaz, em cinco dias não recebi nem dez. As pessoas passavam aqui e fotografavam o anúncio, outras riam e até comentavam as escritas, mas pedir emprego que é bom, nada”, afirmou Gomes.

Críticas O empresário lembrou que quando criou o anúncio chegou a ser criticado e alertado de que não encontraria pessoas com o perfil que estava buscando, pois “o mundo vive conectado”. “Talvez eu tenha colocado as palavras no cartaz de forma rigorosa, mas a intenção era que pelo menos no horário de trabalho o aplicativo fosse deixado de lado. As pessoas sentem falta de um bom atendimento, de um corpo a corpo. Várias empresas já proíbem o uso do aparelho celular no trabalho, mas o anúncio eu não nego que causou confusão”, diz. Ele também justificou que o custo com o funcionário já não é barato e que essa interferência tecnológica acaba atrapalhando a concentração, o foco, a produção e a disponibilidade em certas atividades. “Já disponibilizamos o telefone fixo da loja para assuntos urgentes. Acredito que esperar a hora do almoço, do lanche ou até mesmo da saída para mexer no aparelho não seria nada extraordinário”, acrescentou. Gomes disse ainda que a imagem do anúncio acabou caindo em uma página do Facebook e mais de 400 pessoas compartilharam o post. Várias delas, segundo ele, criticaram a atitude de buscar alguém que não vive conectado. “Quando vi as críticas, não nego que fiquei com muita vergonha, mas essa infelizmente é a nossa realidade. Acabei levando na brincadeira”, disse.

Nova contratada Apesar da repercussão do anúncio, o empresário conseguiu uma funcionária que preenchia o requisito. Aline Souza, de 35 anos, é a nova contratada. Ela contou à reportagem que quando viu o anúncio achou engraçado, mas logo depois percebeu que seria uma oportunidade para retornar ao mercado. “Vi como positivo. Como eu não tenho WhatsApp, pensei ’essa oportunidade é minha’”, afirmou a vendedora. Aline acrescentou que o cartaz foi uma forma de limitar quem realmente tinha interesse na vaga. “Achei legal a ideia, pois acaba economizando tempo e evitando desgaste para o empresário. É complicado toda hora ter que ficar chamando atenção de funcionária por causa disso. Se está no anúncio, o candidato à vaga já deve entrar ciente do que pode ou não pode”, concluiu a contratada.

Visão de especialista Na opinião do advogado especialista em direitos trabalhistas Rafael Garagorry, o anúncio, da forma que foi escrito, dava interpretação discriminatória. “A lei 9029/95 determina que fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego. Assim, entendo que a opção por pessoas que não tenham o referido programa no celular é uma prática discriminatória”, disse. E como o proprietário informou que a intenção da empresa não era discriminar a candidata à vaga por ter o aplicativo, o advogado disse que vale a prática restritiva e punitiva. O dono da empresa só não queria que a vendedora utilizasse o aplicativo no horário de trabalho. “Se a utilização do programa está diminuindo a produção do funcionário, deverá o mesmo ser advertido ou não permitido de utilizar o programa durante o expediente, porém o simples fato de o candidato à vaga possuir o programa não poderá ser empecilho para que seja contratado”, afirmou o advogado.

Concordo x não concordo Usar ou não usar WhatsApp durante o expediente? O G1 foi às ruas saber o que as pessoas acham desta situação. Apesar de o aplicativo ser o queridinho de muitos, dos 15 entrevistados pela reportagem, mais da metade (9) disse ser contra o uso no trabalho. Veja alguns depoimentos abaixo: “Sou contra a proibição, mas acho que a empresa e o funcionário devem manter um diálogo e encontrar o meio termo. Seja a liberação na hora do almoço ou nos intervalos ou o uso consciente. Se não funcionar acho que o funcionário deve ser punido com medidas previstas nas leis trabalhistas.”Luana Roque, jornalista “Acho válida a proibição. O aplicativo é um meio de comunicação que dispersa muito a atenção e pode atrapalhar no ambiente de trabalho.“Eliana da Silva Bezerra, consultora de vendas “Funcionário não deve ficar no aplicativo, a não ser que seja assuntos direcionado a empresa. Eu particularmente vendo muito por WhatsApp, mas confesso que tem horas que prefiro nem abrir o aplicativo. Como sempre, as pessoas têm que aprender a utilizá-lo.“Kalicio Manoel dos Santos, empresário “Dependendo da empresa e das funções do empregado, é mais do que necessária a proibição. Se atrapalha o desenvolvimento do funcionário, acaba prejudicando a empresa.“Hanny Angele de Barros, relações públicas “Desde que não atrapalhe o desempenho das atividades regulares inerentes ao cargo ou tarefa, não tem nada contra”.Maria Inês Tannús Silva, aposentada “O funcionário que fica sem celular fica mais tenso e mais estressado, porque pode deixar de atender algo importante também.“Dara Vila Real de Oliveira Mós, estudante Notícia publicada no Portal G1 , em 23 de março de 2015.

Claudia Cardamone comenta* A paixão desenfreada pelas redes sociais, e em especial pelo whatsapp, faz com que uma ação corriqueira, como um anúncio de emprego, vire notícia. Num mundo globalizado, onde as transformações ocorrem numa velocidade muito rápida a necessidade de estar conectado 24 horas por dia, de saber o que ocorre a todo instante em todos os lugares, fazem com que as pessoas esqueçam de estar no presente onde deveriam estar. Este ritmo alucinante de informações criou no ser humano a sensação de estar perdendo algo, fazendo com que as pessoas busquem algo cada vez mais, mesmo que elas não tenham ideia do que procurar. É também uma forma de fugir de uma realidade difícil, onde existe sofrimento e onde não há um botão de desligar. A doutrina espírita nos orienta que devemos viver esta vida material, mas como espíritos que somos. Muitos criticaram o anúncio, mas se as pessoas não sabem utilizar um instrumento de forma benéfica é necessário regras mais rígidas, como nos explica a questão 796 de O Livro dos Espíritos: 796. A severidade das leis penais não é uma necessidade no estado atual da sociedade? – Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas; infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidade de leis tão rigorosas. Todos podem estar conectados o tempo todo, mas devem aprender que poder estar conectado não é o mesmo que dever estar conectado. Temos que aprender que o whatsapp pode ser um instrumento valioso se for bem utilizado e isto significa compreender com a razão como e quando utilizá-lo.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, pelas FMU, e em Pedagogia, pela UNISUL. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como professora. É espírita e trabalhadora do Grupo União e Amor de Formação Espiritual, em Paulo Lopes/SC.